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Os Tratados Internacionais de desarmamento durante a presidência Putin-

Capítulo 4. O pragmatismo e o multivetorialismo na política externa Putin-Medvede

4.3. Enquadramento das Relações Russo-Americanas no século XXI

4.3.3. Os Tratados Internacionais de desarmamento durante a presidência Putin-

Desde os tempos soviéticos que a questão da redução das armas nucleares têm levado a Rússia a cooperar pragmaticamente com os Estados Unidos, contudo, na presente sessão iremos nos concentrar nos tratados de desarmamento assinados pelas partes desde a chegada de Putin a presidência da Rússia. De igual modo, ainda na sessão, analisa-se alguns casos que demostram a presente competição e/confrontação nas relações russo- americanas, bem como procura-se analisar quais seriam os possíveis resultados de um confronto direto envolvendo as duas maiores, e mais poderosas potências militares do mundo.

“O início da presidência de Putin foi marcada pela ratificação do START pelo Parlamento russo em 2000. Era uma forma de Putin mostrar o seu compromisso com a questão do desarmamento e, também, de pressionar os Estados Unidos a não abandonarem o Tratado sobre os Mísseis Antibalísticos (Anti Ballistic Missile Treaty-

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ABM […]). O ABM, assinado pela URSS e pelos Estados Unidos em 1972, previa forte limitação dos dispositivos antimíssil de ambos os países. O problema é que os Estados Unidos estavam cada vez menos dispostos a respeitá-lo, querendo começar a desenvolver um verdadeiro escudo antimíssil para proteger o seu território. Em 2001, o então presidente Bush anunciou oficialmente a saída unilateral dos Estados Unidos do ABM, que se tornou efetiva em 2002, o que provocou a rejeição do START II por parte da Rússia” (Mazat e Serrano, 2012: 29). Na opinião de Putin, a decisão dos Estados Unidos de se retirar do ABM constituía um “erro”, mas que não representava qualquer ameaça à segurança nacional da Federação Russa (Tsygankov, 2013: 146). Contudo, a questão da manutenção do ABM era importante para os russos porque a Rússia, não tinha o menor interesse em começar uma nova corrida armamentista de alta tecnologia contra os Estados Unidos (Mazat e Serrano, 2012: 29). Porém, receando o surgimento de uma grande assimetria entre a capacidade bélica dos dois países, o Kremlin anunciou a adopção de uma doutrina militar “preemptiva”94

seguindo os passos e a linguagem de Washington, bem como o desenvolvimento de um novo sistema de mísseis nucleares como garantia da segurança russa (Freire, 2011: 171).

Mas, apesar da saída unilateral dos EUA do ABM, ainda em 2002 a Rússia e os Estados Unidos iniciaram novas negociações para o desarmamento, e nesse mesmo ano foi assinado o SORT (Tratado sobre a Redução de Armas Estratégicas Ofensivas). De acordo com Stuermer, o SORT […] estipula que “a Rússia e os Estados Unidos reduzam o seu arsenal a 1700 e 2200 ogivas nucleares respetivamente até 31 de Dezembro de 2012. Ao observador externo, isso poderá parecer relativamente irrelevante, uma questão de somenos importância, no entanto, [como já mencionado], tendo em conta a psicologia do povo russo e, em especial, dos militares, o equilíbrio estratégico com os Estados Unidos é uma questão prioritária” (2009: 141).

“Quando Barack Obama tornou-se presidente, iniciando uma política menos confrontadora com a Rússia que a imediatamente anterior de George W. Bush, os resultados não demoraram: a assinatura dos acordos de redução dos arsenais nucleares ([…] New START) entre os Estados Unidos e a Federação Russa, em Abril de 2010” (Segrillo, 2011: 143). O New START assinado pelos presidentes Obama e Medvedev, visava substituir o START I, que expirou em 2009. Previa uma diminuição ainda maior

94 O doutrina militar enfatizava que a ameaça de agressão direta contra a Rússia e seus aliados só poderia ser “dissuadida através da condução de uma política externa ativa e pela manutenção da alta disposição das forças convencionais e nucleares” (Tsygankov, 2013: 111).

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do número de ogivas nucleares, que teria a redução de 1,5 mil na Rússia e nos Estados Unidos nos próximos anos (Mazat e Serrano, 2012: 30). “A chave para essa reaproximação parece ser um entendimento por parte do Ocidente de que a Rússia recuperada dos anos 2000 deve ser tratada não como no período de exceção dos anos 1990, e sim como a grande potência que sempre foi95” (Segrillo, 2011: 143).

Se por um lado a cooperação russa com os Estados Unidos é assente no pragmatismo, por outro o seu ceticismo acaba em competição e/confrontação. De acordo com Starr et al, tanto o presidente da Rússia como o dos EUA esta sempre acompanhado por um oficial militar que transporta um dispositivo de comunicação chamado cheget na Rússia e the nuclear football nos EUA. Este dispositivo que se assemelha a um computador laptop, permite que tanto o presidente da Rússia, como o dos Estados Unidos ordene o lançamento de armas nucleares em menos de um minuto (2012: 1). Este cenário revela o constante ambiente de competição e o nível de ameaça que estes estados percebem um do outro.

Outro aspeto que realça o constante ambiente de competição entre a Rússia e os Estados Unidos é o desenvolvimento do míssil balístico intercontinental Bulava (SS- NX-30) por parte da Rússia. Segundo Defesa Aérea & Naval, desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia Térmica de Moscovo, o míssil Bulava pode transportar até dez ogivas MIRV (Mísseis de Reentrada Múltipla Independentemente Direcionados ou apenas nucleares), com um alcance de mais de 8.000km. Por sua vez, o submarino nuclear estratégico da Classe Borei, Yuri Dolgoruky, pode carregar até 16 mísseis Bulava (2015).

Como outro exemplo do reforço das forças armadas, no presente caso das Forças Estratégicas Nucleares russas tem que ver com os 8 submarinos de propulsão nuclear que a marinha russa recebera até 2018, sendo quatro para a Frota do Norte e quatro para a Frota do Pacífico. Assim, a potencial força de dissuasão nuclear russa, que já era bastante poderosa, será impulsionada ainda mais com os novos submarinos. Em termos de investimento, o governo russo alocou 20 triliões de rublos, cerca de 700 mil milhões de dólares para substituir os antigos sistemas de mísseis por novos e modernos até 2020 (The Voice of Russia, 2012).

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Ver a Tabela 3 em anexo. Nela se encontram todos os tratados de desarmamento assinados entre a Rússia e os Estados Unidos desde o colapso da União Soviética.