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CAPÍTULO 2 ASPECTOS HISTORICOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES, EM NÍVEL

2.1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: BRASIL 1930-1996

A observação de fatos, situações, aprendizagens e experiências descritas no capítulo anterior, todos referentes ao meu processo de formação, atuação e desenvolvimento profissional, acredito ter explicitado o meu reconhecimento sobre a importância de se recorrer à história para discutir e tentar explicar o presente. Nesse sentido, considero não ser possível iniciar qualquer discussão relacionada ao objeto deste estudo – formação inicial de professores em serviço – sem recorrer aos conhecimentos construídos sobre a formação de professores ao longo desse processo, muitos dos quais se encontram direta ou indiretamente a ele vinculados.

Assim, pelo fato de o ensino superior ser o referencial-base deste estudo, neste capítulo, intencionamos estruturar um breve panorama sobre este ensino, fundamentando-nos em alguns aspectos da história e das políticas voltadas para a formação de professores em nível superior no contexto educacional brasileiro.

Ao assumir a posição de recorrer à história para explicar situações do tempo presente, elegi o período correspondente ao da década de 1930 do último século, como ponto de corte para iniciar a abordagem da temática, conforme descrita no título acima.

A decisão por escolher essa década encontra justificativa nos conhecimentos adquiridos via estudos realizados ao longo da formação, no exercício profissional e, agora, no aprofundamento do tema para a elaboração deste trabalho. Por fim, identifiquei esse período como de fundamental importância para o processo

de análise histórica sobre os caminhos e descaminhos da educação brasileira nos últimos 70 anos e suas relações com o sistema educacional nos tempos hodiernos.

A literatura38 que apresenta e discute a história da educação brasileira, de modo geral, refere-se à década de 30 como período emblemático para o nosso sistema educacional e, com as devidas críticas e ressalvas, pode ser compreendido como o divisor de águas, no qual, de um lado, se encontram as chamadas práticas da Velha Escola e, do outro, as proposições dos intelectuais da época, para a superação destas práticas, em um vislumbre do surgimento da Escola Nova39.

Assim, essa década configura um momento importante da história da educação brasileira – o denominado período Escola Nova pode ser analisado como o resultado do início de movimentos sociais, políticos e culturais, desencadeados por intelectuais liberais que, à época, eram representantes de um novo ideário social para a nação e defensores de uma educação para a sociedade brasileira como um todo.

Alicerçados nas práticas e educação praticada, os intelectuais criticavam a educação e a entendiam como elitista, excludente e não profissionalizante e, para ocupar o seu lugar, propuseram uma educação nova, capaz de responder/contribuir para as mudanças que se faziam urgentes em todos os campos da sociedade a exemplo da qualificação para o trabalho. Entre as críticas à escola e à educação da época, o despreparo dos profissionais da educação destacava-se como um dos pontos merecedores de atenção e de efetivas mudanças.

Novamente justifico a opção pela década anteriormente citada, em decorrência da não haver identificação de políticas educacionais anteriores (primórdios do descobrimento ao século XIX), que possibilitassem maior articulação com o objeto de pesquisa. Isto porque, por aproximadamente 400 anos, o Brasil – descaracterizado em sua população – não formulou políticas educacionais capazes

38 Saviani (2005; 2008); Ianni (1963; 1966); Beisiegel (2003); Freitas (2002); Cury (1984); Gatti (1997;

2009); Mendonça (2000); Ribeiro (1979); Azevedo (1964;1976); Teixeira (1953).

39 O movimento brasileiro da Escola Nova sofreu influências do filósofo norte americano John Dewey

(1859-1952), para o qual a educação deve preparar as pessoas para atuar e responder às necessidades sociais. Como movimento de renovação dos processos de ensino realizado na no Brasil na primeira metade do século passado (XX), os pensamentos e ações advindo da Escola Nova contribuiu para desenvolver, no Brasil, impactos e transformações de caráter sócio-político e cultural, cujos princípios se firmavam no pragmatismo. No caso da educação, na utilidade do ensino proferido e aprendizagem adquirida. ver obras de Dewey: vida e Educação (1965) e Experiência e Educação (1971).

de organizar um sistema de ensino que assegurasse a oferta de uma educação coerente com os interesses e as necessidades da nação e do seu povo. De modo geral, a educação praticada destinava-se ao atendimento dos interesses das elites formadas pelos que se denominaram os descobridores e donos da nossa terra. Portanto, evidencia-se que a preocupação com a formação de professores para atuar junto à população brasileira não fazia parte dos interesses da coroa nem dos seus descendentes, mesmo porque a educação básica era destinada aos privilegiados; e a educação superior, iniciada em 1808, estava a serviço, proteção e atendimento do reino e sua execução era realizada por professores vindos de Portugal ou por brasileiros formados naquele país, conforme afirmam Mendonça (2000) e Shwartzman (2005).

No decorrer da década de 30, a educação começou a ser defendida como um bem social e, por isso, era necessário ser ofertada, sob a tutela do Estado, com qualidade e intencionalidade para todas as pessoas, independente40 da condição socioeconômica e da classe social de pertença (AZEvEDO, 1932). Considerando que essa oferta se concretizaria (e se concretiza) pela ação dos seus profissionais, a formação deles começou a ser pensada e idealizada pelos intelectuais da época.

Quanto ao ensino superior e à formação de professores para esse grau escolar, praticamente inexistente no país nas décadas discutidas, passaram a ser defendidas pelos intelectuais como instrumentos capazes de alavancar o progresso e o desenvolvimento nacional, sem o qual a nação não alcançaria/produziria os requisitos necessários para participar da chamada era da modernidade (AZEvEDO, 1932); MENDONÇA, 2000).

Com vistas à organicidade deste capítulo, ele foi estruturado em três

pontos interligados por conteúdos e conhecimentos que, embora apresentados de forma sucinta, abordam aspectos da história da educação que ajudarão a explicar o objeto de estudo que originou este trabalho. Como primeiro ponto, serão discutidos aspectos da história das instituições de ensino e sua relação com a formação de professores; o segundo, tratada a formação de professores após a atual LDB e, o

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O texto do Manifesto dos Pioneiros é por muitos estudiosos, internamente analisado e criticado em seus termos, indicações e possibilidades de ação. Dentre estes estudiosos, citamos o sociólogo Octavio Ianni (1963), que, em sua análise, tece críticas ao documento, quando anuncia para a sociedade contraditória da época, a oferta de uma educação para todos e independente da condição socioeconômica.

terceiro discute a formação inicial de professores em serviço, cuja proposta é vislumbrar, apresentar e situar no tempo e no contexto o objeto de pesquisa.