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CONTRIBUIÇõES DA DISCIPLINA POLíTICAS PúBLICAS E LEGISLAÇÃO

EIxO I A PERCEPÇÃO DE SI ENTRELAÇADA NA PROFISSÃO

5.4 DISCIPLINAS QUE CONTRIBUíRAM PARA A FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

5.4.4 CONTRIBUIÇõES DA DISCIPLINA POLíTICAS PúBLICAS E LEGISLAÇÃO

A análise dos dados apontados pelos 12 (24%) professores que indicaram a disciplina Políticas Públicas e Legislação da Educação como a quarta disciplina a contribuir para sua formação, verificamos que ela ofereceu conhecimentos que mobilizaram os professores para compreensão do papel das políticas públicas e educativas como definidoras dos processos e de ações relacionadas ao seu campo de atuação pessoal e profissional, e os aproximou da concepção de educação progressista e emancipatória, conforme defende o grande educador Paulo Freire em grande parte da sua obra.

A referida disciplina, também ministrada no III módulo do curso, com carga horária de 45 horas-aula, teve a proposta de oferecer aos professores-alunos os conhecimentos estabelecidos em sua ementa, a saber:

Concepções teóricas de Estado. Evolução dos sistemas de ensino. A educação como política pública de Estado. Políticas educacionais e legislação de ensino. O público e o privado nas questões educacionais. Gestão participativa, educação e cidadania. Políticas educacionais e realidade social (PROJETO DE RECONHECIMENTO DO CURSO, Caderno – I, 2007, p. 94).

Na perspectiva de discutir os dados apresentados pelos professores, tal como para a disciplina Currículo, recorremos à origem da inserção da disciplina Políticas Públicas e Legislação da Educação ofertada no curso Pedagogia-

PROAÇÃO e verificamos que a mesma surgiu no mesmo contexto – pós-golpe militar e concepção de educação – comportamentalista e tecnicista – de origem da disciplina Currículo, amparada pelas seguintes Leis: Reforma do Ensino Superior nº 5.540/86; pelo Parecer do Conselho Federal nº 252/69, que reformulou os cursos de Pedagogia; e pela Lei de Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus de nº 5692/71, citadas no capítulo II (SAvIANI, 2008). Com a denominação de Estrutura e Funcionamento do Ensino, a disciplina passou a compor o mapa curricular dos cursos de licenciatura e do curso de magistério médio.

Como fruto de reformulações e acordos, como MEC/USAID, em todo o decorrer da década de 1970, a educação foi orientada e desenvolvida em uma perspectiva técnica e economicista e, por isso, couberam cursos de formação dos profissionais para garantir, através das disciplinas que caracterizaram o ensino na perspectiva técnico-aplicativo, o qual perdurou por quase 20 anos. Primeiro com a denominação de Estrutura e funcionamento do Ensino e, em seguida, como Estrutura do Ensino e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus e concebida como a responsável por transmitir aos professores a legislação que orientava a organização e o funcionamento do ensino da educação básica. Somente no decorrer dos últimos anos da década de 1980, com o processo de redemocratização da sociedade e democratização da educação e da escola, a disciplina passou a ser reformulada em sua nomenclatura, conteúdo e funções formativas.

Com vistas a reconstituir a trajetória dessa disciplina no contexto dos cursos de formação dos profissionais de educação, Oliveira (1988) afirmou que, em seu desenvolvimento, o conteúdo por ela veiculado estava diretamente relacionado e influenciado pelo “contexto social, político e econômico” de cada época (p. 6) e, nesse sentido, diz que

[...] a reconstituição histórica do conteúdo não é linear, se dá num “entremeado” social, político, econômico e cultural onde se confrontam coma a teoria e a prática pedagógica, constituindo-se assim em propostas de programas que tendem a responder, em suas linhas gerais, às opções (teóricas e político-pedagógicas) dos professores, conforme as tendências políticas governamentais, dos movimentos dos profissionais da educação e da produção intelectual na área (OLIvEIRA, 2008, p. 6).

Ante os posicionamentos da autora, é mister reconhecer que, por longos anos, a disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino foi compreendida

pelos profissionais de educação, inclusive pela autora deste estudo, como a que se encarregava de ensinar/transmitir sobre as leis que regulamentavam o ensino superior e básico e, em linhas gerais, não precisava se incumbir de referencial teórico e da criticidade necessária sobre as referidas leis, pois, por si só, elas se bastavam com os conteúdos de cunho legal, sem a assunção do papel de instrumento de reflexão e posicionamentos, por parte dos alunos, para os rumos dados à educação e ao ensino delas decorrentes.

Tal como para a nomenclatura de sua origem, Políticas Públicas e Legislação da Educação, ela se insere no currículo do curso Pedagogia-PROAÇÃO como fruto das mudanças no contexto social político, econômico e cultural dos últimos anos, perspectivando fornecer aos professores-alunos não apenas o conhecimento das leis educacionais, mas também, ofertar, conforme objetivos verificados no Programa da disciplina (2003), conhecimentos que incidam na compreensão crítico-reflexiva sobre papel do Estado na definição das políticas públicas e educativas, referentes aos processos de gestão democrática, educação pública e gratuita e garantia dos princípios de participação dos profissionais nos processos decisórios em seu campo de formação e atuação.

A relação entre os pontos abordados, a ementa e os objetivos da disciplina com o conteúdo presente nos relatos dos professores revela que as aprendizagens e contribuições da disciplina responderam pela aquisição de conhecimentos para além do domínio dos aspectos legais da educação diferenciando-se das aprendizagens quando ministradas na perspectiva da concepção de educação tecnicista e reprodutivista.

A análise acima não pretende avaliar o desenvolvimento da disciplina, mas refletir sobre os conhecimentos que possibilitaram ser construídos pelos professores, analisados como fruto do contexto sociopolítico-cultural característico do momento de desenvolvimento da disciplina em questão. vale considerar que esse contexto se apresentava mobilizado por mudanças no campo da educação, oriundas da legislação vigentes, como a magna-LDBEN e as complementares – impelindo para interferências no seio dos debates educacionais e também nos processos de formação de professores por toda a área do conhecimento, especialmente as que, com mais especificidade, tratam de discutir as políticas e a legislação de ensino – a exemplo das Políticas Públicas, História da Educação,

Gestão da Educação e Currículo. vejamos, pelos professores, as contribuições da disciplina em discussão:

A disciplina Políticas Públicas me mostrou que a escola é feita de regras e leis que precisam interagir com o fazer pedagógico para que a escola melhore e o respeito ao profissional da educação se estabeleça de fato (Profª. Simone, 40 anos).

[...] adquirir conhecimento sobre as leis que garantem os direitos dos Trabalhadores da Educação e os recursos que devem ser aplicados para a sua melhoria da educação (Profª. Rosa, 41 anos).

Políticas Públicas: foi possível perceber o quanto é complexa a

“máquina” chamada educação, as leis e os recursos direcionados para a mesma, assim como os empecilhos que surgem frente à mesma (Prof. Alci, 33 anos).

[...] abriu meus olhos para a prática da política Educacional do país e do meu município (Prof. Nayanna, 28 anos).

Políticas Públicas despertou muito interesse, passei a entender

melhor a política educacional do meu país e principalmente do meu município. [...] passei a cobrar o porquê da merenda oferecida na escola etc. De tanto questionar, o prefeito me excluiu da Comissão Investigativa [...], disse que, depois que fui para a UESC, estava muito “sabidinha”. É preciso ter conhecimento para defender e procurar valer nossos direitos e deveres (Profª. Gene Carlas, 39 anos)

[...] proporcionou conhecimentos consideráveis para entender melhor as políticas educacionais do país e do meu município. Consigo questionar a aplicação da verba do FUNDEB (Profª. Maria Luiza, 53 anos).

Na síntese da análise e discussão sobre as contribuições da disciplina Políticas Públicas e Legislação da Educação, afirmamos que a mesma possibilitou aos professores aquisição de conhecimentos significativos à dimensão pessoal e profissional elevando a compreensão da legislação e das políticas educacionais como instrumentos: a) diretamente relacionados à educação, aos seus profissionais,

à escola e à ação docente; b) de garantia dos direitos e deveres dos profissionais de ensino; c) de estímulo à reflexão e tomada de decisões; d) de incentivo à participação e de não alheamento às diretrizes que interferem na sua formação e atuação pessoal e profissional. Compreende-se, inclusive, que o alcance de um

saber crítico sobre estas podem trazer consequências nem sempre positivas para os professores, a exemplo da punição citada pela professora Gene Carlas.

Por fim, verificamos que a disciplina Políticas Públicas e Legislação da Educação vem passando por sucessivas modificações e por isso contribui para que os professores começam a conceituá-la e interpretá-la para além do ensino das leis.