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EIxO I A PERCEPÇÃO DE SI ENTRELAÇADA NA PROFISSÃO

5.4 DISCIPLINAS QUE CONTRIBUíRAM PARA A FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

5.4.3 CONTRIBUIÇõES DA DISCIPLINA AVALIAÇÃO DA APRENDIzAGEM

Diferente da disciplina Currículo, a de Avaliação da Aprendizagem – apontada por 13 (26%), professores como a segunda a contribuir para as dimensões pessoais e profissionais – não foi apresentada como algo distante dos professores, visto que, em suas atividades pedagógicas, a avaliação é uma prática corrente e orientadora de suas ações e, até mesmo, caracterizadora do seu perfil como profissional.

Presente no ensino e na aprendizagem desde os primórdios da educação formal e informal, a avaliação é um componente na prática pedagógica de todos os profissionais de educação, especialmente dos professores quando se trata da avaliação do ensino e da aprendizagem, com ênfase na aprendizagem dos alunos.

No curso, a disciplina foi desenvolvida com 60 horas aulas e pretendeu, conforme sua ementa, discutir os seguintes conhecimentos:

Concepções de avaliação. Tipos de avaliação. Instrumentos de avaliação. Relação ensinar-aprender-avaliar. Avaliação e prática docente. Avaliação nos PCNs. A prática da avaliação na formação de professores. Avaliação e retoralimentação da prática docente (PROJETO DE RECONHECIMENTO DO CURSO. Caderno – I, 2007, p. 99).

Nas justificativas apresentadas pelos professores sobre o porquê da indicação da disciplina Avaliação da Aprendizagem como contribuinte de sua formação, em linhas gerais, eles fornecem elementos que indicam que os conhecimentos e objetivos propostos foram desenvolvidos de maneira a mobilizá-los para a reflexão e aquisição de conhecimentos favoráveis à revisão da concepção e da prática de avaliação, favorecendo a construção de novas posturas e sentidos para sua prática pedagógica, desfazendo equívocos e compreendendo a avaliação como uma ação complexa e multifacetada, tal como descritos nos próximos relatos:

Com a disciplina Avaliação da Aprendizagem, vi que o processo de avaliação não era tão simples como eu acreditava anteriormente, até porque, ao avaliarmos, também estamos sendo avaliados, e que diagnosticar não é tarefa apenas para o início do ano letivo e sim deve ser realizado durante todo o decorrer do curso (Prof. Dan, 35 anos).

Com Avaliação da Aprendizagem, aprendi que, antes de realizar a avaliação, tenho que perguntar a serviço do que e de quem ela está. Se estiver a serviço de quem aprende, ela será parte integrante da produção e construção do processo de aprendizagem (Profª. Nelma, 44 anos).

[...] percebi a importância da avaliação para o aluno e para o professor e isso foi crucial para mudança da minha prática porque me levou à visão de avaliação como aquela que passa por todo processo educativo e, caso isso não ocorra, o trabalho fica restrito a uma avaliação quantitativa com responsabilidade apenas do aluno sobre sua aprendizagem. [...] no campo teórico, a avaliação da rede municipal sempre esteve como processual, porém, na prática, ela se dava de duas formas: diagnóstica e quantitativa, o que isentava o professor de rever os seus métodos (Profª. Rosimeire, 46 anos).

A disciplina Avaliação fez com que eu revisse meu conceito e prática de avaliar. Construí um novo olhar sobre meus alunos que, muitas vezes, foram prejudicados pela minha falta de conhecimento (Profª. Silvia, 41 anos).

Com Avaliação da Aprendizagem, tive a oportunidade de ler vários livros e descobri que a avaliação é fundamental no ensino e na aprendizagem e, que, embora seja difícil, é possível avaliar de maneira correta (Profª Eduarda, 43 anos).

Avaliação da Aprendizagem me fez refletir sobre a minha prática

pedagógica e eu pude enxergar nas entrelinhas a verdadeira função do educador e para o que realmente serve a avaliação: é para intervir e promover, não para reprovar, classificar e excluir (Profª. Ana Cristina, 40 anos).

A análise dos relatos sobre a avaliação da aprendizagem encontra base de fundamentação nos estudos dos educadores brasileiros Mizukami (1996); Luckesi (1996) e Hoffman (1998; 2000), exatamente quando o campo de estudos e pesquisa sobre a avaliação ganhava espaço na área da educação, na busca de explicar o importante papel que a prática avaliativa exerce no processo de ensino e de aprendizagem.

Ao relacionar o conteúdo desses relatos com o conteúdo das obras dos autores citados, destacamos aqui a importância e a necessidade de ser buscado, na produção acadêmica brasileira, referencial para a discussão dos problemas que afligem a nossa educação. Nas últimas a atual década, autores brasileiros legaram ao país uma ampla e rica literatura sobre a realidade da nossa educação, cujos textos facilitam a aproximação e compreensão objetiva dessa realidade, uma vez que ela se encontra na maioria das escolas e da prática docente dos professores.

Esta posição não quer negar o importante papel que a literatura estrangeira exerce para os estudos educacionais, mesmo porque muitas delas contribuíram para a fundamentação dos autores brasileiros; apenas sinalizamos para a necessidade de valorização dos trabalhos dos autores que, com a propriedade que lhes cabe, dizer melhor, de maneira a sensibilizar seus leitores a gerar o sentimento de pertença, cumplicidade e possibilidades de mudanças de concepções e de práticas pessoais e profissionais.

Ao considerar que as obras dos autores citados portam discussões consistentes para o conhecimento e a reflexão sobre as causas e as consequências da avaliação praticada nas escolas, no momento e nas décadas anteriores à publicação desses trabalhos, consideramos, também pelos relatos dos professores, que a concepção e a prática da avaliação continuam a ser o “calcanhar do Aquiles” da escola e, por isso, carece de ocupar lugar de preocupações e de ações na formação inicial e, principalmente, na formação continuada dos professores; um convite e um desafio para as instituições e programas de formação de professores!

Questionada em uma entrevista sobre o que o professor deve fazer para desenvolver uma prática de avaliação na perspectiva mediadora, Hoffman (2000) pontua a necessidade de transformações multidimensionais que envolvam dimensões pessoais e profissionais. Hoffman não somente aborda aspectos presentes nos relatos dos professores como confirma a importância do nosso objeto de estudo, quando diz:

Uma grande questão é que avaliar envolve valor, e valor envolve pessoa. Nós somos o que sabemos em múltiplas dimensões. Quando avaliamos uma pessoa, nos envolvemos por inteiro: o que sabemos, o que sentimos, o que conhecemos desta pessoa, a relação que nós temos com ela. [...] Em primeiro lugar, o sentimento de compromisso em relação àquela pessoa com quem está se relacionando. Avaliar é muito mais que conhecer o aluno, é reconhecê-lo como uma pessoa digna de respeito e de interesse. Em segundo lugar, o professor precisa estar preocupado com a aprendizagem desse aluno. Nesse sentido, o professor se torna um aprendiz do processo, pois se aprofunda nas estratégias de pensamento do aluno, nas formas como ele age, pensa e realiza essas atividades educativas. Só assim o professor pode intervir, ajudar e orientar esse aluno. É um comprometimento do professor com a sua aprendizagem tornar-se um permanente aprendiz. Aprendiz da sua disciplina e dos próprios processos de aprendizagem. Por isso a avaliação é um terreno bastante arenoso, complexo e difícil. Eu mudo como pessoa quando passo a perceber o

enorme comprometimento que tenho como educador ao avaliar um aluno. (dn.senai, 2010).

A partir deste excerto, concluímos a análise das contribuições da disciplina Avaliação da Aprendizagem que incidiram nas dimensões pessoais e profissionais dos professores ao verificarem que os mesmos refletiram, e na possibilidade: a) encontraram e revisaram suas concepções de avaliação e das

práticas avaliativas aplicadas no ensino e na aprendizagem dos alunos; b) refletiram sobre a complexidade da avaliação e; c) identificaram a necessária avaliação para os professores e alunos; d) identificaram a avaliação como processo; e) defenderam a possibilidade de concretização da avaliação tal como teoricamente defendida; f) anunciaram entender a educação como uma tomada de posição pessoal e profissional.