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CAPÍTULO 1 DO MEU SER, SABER E FAZER AO OBJETO DE PESQUISA

1.1 PRIMEIRAS REFERêNCIAS

1.1.3 EM BUSCA DE UMA PROFISSÃO

Desprovida das condições necessárias para continuar os estudos fora do local de residência e na área do ensino médio, em 1981, prestei vestibular e logrei aprovação para o curso de Economia na única instituição, à época, de ensino superior da região sul da Bahia, denominada Federação das Escolas Superiores de Itabuna e Ilhéus - FESPI5, hoje Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC6. Cursei um ano de Economia e logo entendi, mediante a realidade socioeconômica local, que não encontraria campo de trabalho.

Nessa ocasião, considerei a área de educação como possibilidade imediata de trabalho e, orientada por minha prima, a professora de História e Geografia, matriculei-me em disciplinas ofertadas em curso de férias e, no ano seguinte, ingressei no segundo ano do curso Pedagogia.

Uma vez definida a profissão de professora, tive a primeira experiência de magistério no terceiro ano do curso de Pedagogia ao assumir a substituição de uma professora, em uma escola pública na classe de Educação de Jovens e Adultos, turno noturno. Deparei-me então, sem o devido preparo, com o desafio de ensinar a mais de 40 jovens e adultos – muitos com idade para serem meus pais – reunidos em uma classe multisseriada. Nesse ano, passei pela dor de perder a grande referência da minha vida – minha mãe – e precisei assumir com meu pai a responsabilidade de auxiliar na orientação e nos cuidados dos irmãos mais novos.

5 Criada em 1972, através da união da Faculdade de Direito de Ilhéus e da Faculdade de Filosofia de

Ciências Econômicas de Itabuna.

6 Assim passou a ser denominada ao se tornar instituição pública pela Lei 6.344 de 06 de dezembro

A falta de preparo e conhecimentos necessários para trabalhar com jovens e adultos foi compensada pela empolgação de ser professora e possuir um trabalho. Dediquei-me a ensinar de maneira a atender aos desejos dos alunos. Reconheço agora que, naquele instante, a maioria precisava muito mais do que lhes ofertei como conhecimento, mas, reconheço também, que com aquele meu jeito de ser e agir, diferente do que eles estavam acostumados, lhes ofertei possibilidades para outros conhecimentos, muito úteis para a vida. Somente hoje é que percebo ter sido naquele espaço – recheado de sonhos, saberes, dores, experiências, solidariedade, cansaços, morte e vida – que encontrei os alicerces para a construção da relação professor-aluno e que achei, para sempre, a confirmação da minha crença na escola e na universidade como espaços de possibilidades e de transformações de pessoas e de contextos. Acredito que ali ficou evidente, se não a minha vocação, pelo menos o compromisso com a profissão escolhida e, de certa forma, o início da compreensão sobre a importância da pesquisa e da reflexão da própria prática.

Quase dois anos depois que eu assumira a substituição, a professora retornou e, além de desempregada, também fui destituída da alegria de ver o crescimento dos alunos e a saída de muitos para séries mais adiantadas. De professora novata, como fui inicialmente identificada pelos colegas, ao deixar a escola tinha denominação de Rose (apelido que ganhei nessa experiência), a professora que conseguiu o sucesso de muitos alunos que se encontravam em situação de fracasso escolar. Esse apelido eu o adotei, quase inconscientemente, mas é provável que eu o tenha aceitado por ter sido essa uma fase muito importante na minha vida pessoal e profissional.

Como eu precisava trabalhar para me manter e auxiliar nas despesas de casa, em 1983, com o auxílio de um professor da faculdade, também diretor de escola pública de uma cidade vizinha, fui lecionar em turmas do curso de magistério, turno noturno. Esse trabalho durou apenas um ano; mas, apesar do pouco tempo, foi também outra experiência marcante que me levou a reflexões importantes, representadas pela descoberta do distanciamento entre o aprendido na universidade e o ensinado nos espaços da prática desse aprendizado.

Como atividade comumente esperada por todos os alunos dos cursos de licenciatura, em uma escola de ensino fundamental e médio, realizei o estágio das Matérias Pedagógicas na disciplina Psicologia da Aprendizagem e o da

habilitação em Orientação Educacional. Em ambos os estágios, no que se refere ao espaço de formação, senti o sabor e o dissabor de desenvolver uma ação de tamanha responsabilidade sem as necessárias assistência e orientações.

O estágio em Psicologia foi desenvolvido por aproximadamente, 45 dias, em uma unidade didática para o qual contei com o apoio e atenção da professora regente. A partir de uma lista de conteúdos e com as poucas experiências de ensino construídas nas vivências profissionais anteriormente citadas, organizei-me tal como em um ritual: planejamento de aulas, seleção de técnicas para dinamizar as referidas aulas e preparação de atividades avaliativas.

Assim, pude desenvolver um estágio7 sem problemas, baseado no bom

relacionamento com as mais de 45 alunas do 2º ano do curso de magistério médio. O estágio em Orientação Educacional foi tranquilo. Durante 180 horas, convivi com o grupo do Serviço de Orientação Educacional - SOE. A função maior desse setor estava voltada para o atendimento àqueles alunos – e respectivos pais – que tivessem problemas de indisciplina e notas abaixo da média, realização de reunião de pais e o conselho de classe realizado ao final de cada unidade didática.

Com o bom acolhimento e a supervisão das orientadoras da escola, além de cumprir as determinações do estágio, também participei, ativamente, de muitas das funções por elas desenvolvidas.

Ao rememorar sentimentos e vivências proporcionados pelos estágios, recordo momentos que oscilam entre ansiedades, angústias, inseguranças, desejos, amizades e aprendizagens e me deparo também com os muitos e diferentes questionamentos levados a efeito no silêncio das minhas reflexões. Isto porque, quando dos acontecimentos, em nome da ética e do respeito ao lugar – e escola e aos seus profissionais, eu fora limitada de perguntas, discussões e de expressar ou registrar no relatório de estágio muitas das observações e reflexões realizadas. Hoje não critico o silenciamento dos questionamentos, entendo que o distanciamento

7 Realizado em 1984, período em que as políticas públicas e educacionais se firmavam pela defesa

da expansão do público ensino para todos; os cursos de magistérios não só se expandiram pelo país, como passaram a ser considerados eminentemente femininos, procurados, em sua maioria, por mulheres e jovens da classe popular, as quais viam no curso a possibilidade de dividir as obrigações femininas como a prática profissional e também, contribuir com as responsabilidades familiares, uma vez que a crise econômica, não mais garantia que o homem assumisse integralmente a família (WERLE, 2005); (CHAMON, 2006).

entre a agência de formação e a escola básica8 não permitiam críticas dos que apenas utilizavam o espaço dessa escola para referendar a formação prática. Sem maiores fundamentos e orientações para nos conduzirmos no estágio, restava-nos o cumprimento dos aspectos legais, instrucionais e institucionais – passaporte - para obtenção do diploma.

Concluí o curso de Pedagogia em 19849, o qual me conferiu a

habilitação para o ensino de matérias pedagógicas no curso médio e exercício da orientação educacional nas escolas fundamental e média.

1.1.4 Em atuação, o encontro com a escola e o (des)encontro com a