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CAPÍTULO 3 DO CONTEXTO E DO TEXTO LEGAL AOS PRESSUPOSTOS TEÓRICO-

3.3 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM SERVIÇO: TExTO E CONTExTO

Para pensar as questões relacionadas aos cursos de formação inicial em serviço, nos reportamos a dois pontos: ao texto do artigo nº 62 da LDBEN e às discussões feitas nos capítulos anteriores. A análise conjunta desses dois pontos nos remete a considerar que o texto legal não pode ser entendido por ele mesmo, mas como fato decorrente de mobilizações sociais, de contextos de mudanças e, principalmente, dos estudos e pesquisas que – ao longo dos últimos trinta anos têm

persistido na defesa da formação de todos os professores, para todos os níveis, com a qualidade que merecem – elegem a universidade como locus de excelência dessa formação. No aspecto referente ao locus da formação, o texto da Lei contraria essa defesa ao determinar que a referida formação possa ocorrer em “universidades e institutos superiores de educação”, seja para professores em serviço ou para os ingressantes nos cursos de licenciatura, que, como iniciantes na universidade, não têm experiência alguma no âmbito da educação. Essa determinação gera debates, críticas e configura o contexto para oferta por diferentes instituições e modalidades de formação de professores.

A discussão sobre a legalização dos institutos superiores com espaços de formação de professores é visto, conforme afirma SHEIBE (2006) a imposição de um modelo de formação que

[...] embora vinculada ao ensino superior, é desvinculada do ensino universitário, passando a constituir-se numa preparação voltada para a preparação técnico-profissionalizante de nível superior. [...] a proposta dos Institutos Superiores de Educação se diferenciam dos parâmetros que orientam uma formação universitária, esta necessariamente vinculada à pesquisa e produção de conhecimento (p. 54-55).

Para a autora, o modelo dos Institutos Superiores de Educação-ISEs, criado por políticas que, formalmente, diferencia o ensino superior, diz respeito à forma encontrada pelos organismos interessados para diminuir os custos e exigências pressupostas pela formação ofertada por instituições universitárias.

No referente ao objeto de estudo – formação superior em serviço – os estudos têm mostrado que, em sua maioria, vêm sendo ofertados por instituições universitárias e de caráter público. O estudo realizado por BELLO (2008) apresenta 52 instituições superiores67

, que, entre os anos de 1997-2006, ofertaram cursos superiores para professores em serviço. Desse total 23(44,2%) são instituições federais, 17(32,7%), estaduais e 12 privadas. Se acrescentarmos aos dados da autora, os dados das quatro universidades estaduais da Bahia, o número aumenta para 56 instituições públicas a ofertar a formação de professores em serviço. O número de instituições privadas que oferecem a formação em serviço está concentrado na região sudeste, especificamente no Estado de Minas Gerais, no

67

Os dados não apresentam os programas desenvolvidos pelas universidades Estaduais da Bahia – UESC, UESB, UEFS e UNEB.

qual, de um total de 18 instituições (públicas e privadas), em pareceria, ofertou o curso Normal Superior, na modalidade à distância, através do Projeto veredas (p. 64-67).

O estudo da autora revela, também, que os cursos ofertados receberam nomenclaturas diferenciadas. A maioria deles – vinte e dois cursos– receberam a denominação de curso de licenciatura em Pedagogia, seis, Normal superior e os demais, nomenclaturas correspondentes ao nome do próprio programa68, como o da Universidade Federal da Bahia, Licenciatura em ensino

fundamental multidisciplinar.

Do levantamento realizado nas quatro universidades estaduais da Bahia, obtivemos das coordenações dos programas, os dados69

apresentados nos quadros que se seguem:

QUADRO 1 - Formação de Professores em serviço pela UESC

68 Não foi possível identificar se no diploma do curso, conferido aos professores; a nomenclatura

permanece com o nome do programa ou Licenciatura em Pedagogia ou Normal Superior.

69 O coordenador de programa de formação de professores da Universidade Estadual de Feira de

Santana - UEFS, na data da coleta de dados, informou não disponibilizar da sistematização dos dados solicitados. Núcleo Turmas PROCESSO SELETIVO ALUNOS MATRICU LADOS CONCLUINTES INÍCIO CONvêNIO/ MUNICÍPIOS CANDI DATOS INSCRITOS vAGA ANO % UESC (Proação- I) Maio 2003 037/02 - 14 828 200 200 194 2007 97 UESC (Proação- II) Setem bro 2006 011/06 - 10 338 200 200 194 2007 97 Camacã Março 2003 019/02 - 06 403 150 150 143 2007 95 P. Seguro Março 2003 018/02 - 01 116 50 50 45 2007 90 Total - 04 – 31 1685 600 600 576 - -

QUADRO 2 - Formação de Professores em serviço pela UESB

QUADRO 3 - Formação de Professores em serviço pela UNEB Turmas PROCESSO SELETIVO ALUNOS MATRICU LADOS CONCLUINTES INÍCIO CONvêNIO/ MUNICÍ PIOS CANDI DATOS INSCRITOS vAGA ANO % 1ª 2004.1 049/2003/* -* - 76 67 2006.2 88,15 2ª 2004.2 049/2003/* - - 79 70 2007.1 88,6 1ª 2004.2 040/2004/* 400 400 260 226 2009.2 87 3ª 2005.1 049/2003/* - - 47 38 2007.2 80,85 4ª 2005.2 049/2003/* - - 55 50 2008.1 90,9 1ª 2005.2 030/2005/* - 50 48 46 2008.1 95,83 2ª 2006.1 030/2005/* - 50 48 46 2008.2 95.83 3ª 2006.2 030/2005/* - 50 44 44 2009.1 100 4ª 2007.1 030/2005/* - 50 40 38 2009.2 95 1ª 009/2006/* 103 - 96 - 793 625 - -

Fonte: Coordenação de Programa Especiais UESB– 2010

*Dados não fornecidos

Rede UNEB Pedagogia

PROCESSO SELETIVO ALUNO

S MATRI CU LADOS CONCLUINTES INÍCIO CONvêN IO/ MUNICÍ PIOS CANDI DATOS INSCRITO S vAGA ANO % 1ª Dezembro 1998 21 / 21 3.824 2.050 1.920 1.813 2001 94,43 2ª Julho/199 9 16 / 22 3.246 1.600 1.551 1.421 2001 91,62 3ª Abril/2000 20 / 23 4.945 2.000 1.974 1.714 2002 86,82 4ª Setembro 2002 35 / 42 10.800 3.500 3.456 3.219 2007 93,15 5ª Junho/200 3 18 / 29 4.446 2.050 2.013 1.778 2007 88,32 6ª Julho/2004 06 / 08 1.468 800 798 620 2008 77,69 7ª Fevereiro/ 2006 17 / 17 2.541 1.600 1.588 1084 2009 Faltam concluir 4 municíp ios 8ª Dezembro / 2006 11 / 11 1.190 1.100 1.004 236 2010 - 9ª Setembro/ 2007 05 / 07 642 500 447 - 2010 149 / 181 33.102 15.200 14.781 11.885 - - Fonte: Coordenação de Programas Especiais da UNEB – 2010

A análise dos dados dos quadros acima indicam que a UNEB, a primeira universidade a iniciar, em 1998, a formação de professores em serviço, já ofertou nove turmas, abriu 15.200 vagas, matriculou 14.781 professores-alunos e diplomou, com a conclusão de sete turmas, 11. 885 professores. Entre as três instituições apresentadas, a UESC com o curso iniciado em 2003, foi a que atendeu o menor número de professores, diplomando 576 professores.

Dos dados dos quadros 1 e 3, dois aspectos mereceram destaque. O primeiro refere-se ao número de municípios atendidos, especialmente pela UNEB. O segundo, incluindo dados do quadro 2, diz respeito ao percentual – superior a 87% – de professores que concluíram o curso. A permanência no curso é, do nosso entendimento, um dado que merece estudos específicos.

Os cursos dessas instituições foram ofertados na modalidade presencial, desenvolvidos nos municípios conveniados ou nos espaços das universidades, como é o caso do PROAÇÃO/UESC, objeto de estudo desta tese.

O total de professores atendidos por essas universidades, no período de 1998-2009, atingiu a soma de 13.086 professores. Esse número, apesar de representativo, não é suficientemente significativo se considerarmos o grande número de professores no Estado da Bahia que não apresentam formação em nível Superior. Segundo o Censo Escolar do MEC/INEP de 2007/2009, na Bahia, 35% do quadro da rede estadual e 76% das redes municipais é de professores que atuam sem a formação exigida, conforme tabela 3, a seguir:

TABELA 3 - Número de Professores da Educação Básica por Dependência Administrativa e Escolaridade, Bahia 2007/09

Ano

Professores da Educação Básica Dependência Administrativa

Estadual Municipal

Total Com nível

superior

Sem nível superior

Total Com nível

superior Sem nível superior Nº % Nº % % Nº % 2007 34.110 20.941 61,4 13.169 38,6 93.272 14.447 15,5 78.825 84,5 2009 36.360 23.433 64,4 12.927 35,6 97.458 22.924 23,5 74.534 76,5

Fonte: SEC, MEC/INEP. Elaboração: CIE, SUPAv/CAI

Notas:O total de professores não corresponde com a soma das demais colunas, pois:

1. Existe professores atuando em mais de um município do Estado da Bahia 2. Existe professores atuando em mais de uma dependência administrativa 3. Existe professores atuando em mais de uma localização

4. Existe professores atuando em mais de uma Etapa e/ou Modalidade de ensino 5. Educação Infantil - Inclui professores de Educação Infantil Unificada

Diante desse cenário, a Secretaria Estadual de Educação do Estado da Bahia – SE-BA tem divulgado a realização de um Programa Especial, em parceria como Ministério de Educação (MEC), com o objetivo de zerar esse déficit de formação. O Programa será desenvolvido em seis anos, contará com o investimento de 400 milhões do governo federal e de 84 milhões do tesouro estadual e ofertará 60 mil vagas para os professores sem formação superior.

A proposta é que o curso seja desenvolvido com o apoio das instituições superiores, especialmente as públicas. Para atender às condições dos professores, o curso será ofertado na modalidade presencial, 40 mil vagas, e à distância, 20 mil vagas. Segundo a SE-BA, como auxílio à realização do curso, os professores participantes receberão bolsa de no máximo R$ 500,00 (quinhentos reais). Ofertado na modalidade em serviço, o curso será gratuito, duração de três anos e utilizará a experiência do professor em sala de aula para desenvolver o processo de formação e de reflexão da prática.

Conforme informações da Assessoria de Comunicação da SEC-BA, o referido programa tem sido considerado pelo Secretário de Educação do Estado, Osvaldo Barreto, como o mais arrojado do país e visa o cumprir a determinação da Lei 9.394/96 de que todo professor deve ser licenciado para o ensino da educação básica. Para ele, o Programa “É um ato de respeito com os professores e de reconhecimento do quanto são fundamentais para educar a nossa juventude” (2010).

Com a apresentação de aspectos da formação para professores em serviço, delineamos o contexto dessa formação, instalada no âmbito da educação superior, cujo atendimento ao perfil dos que nele ingressam, precisa lançar mão dos parâmetros de formação apontados pelos autores que fundamentam este estudo no que se refere aos saberes, crenças, valores, experiências e cultura, passando a exigir uma formação que integre as dimensões pessoais e profissionais dos novos professores-alunos, tal como será discutido no capítulo v, da análise de dados.

Outro aspecto referente ao contexto da formação em serviço é encontrado na emblemática relação da agência de formação com a escola básica. Se, até então, as instituições superiores, em sua maioria não conseguiram efetivar uma relação colaborativa com a escola, a formação em serviço, se apresenta como instrumento-meio para trazer, os professores-alunos e a escola básica a essas instituições, uma vez que acreditamos não ser possível reunir quarenta ou cinqüenta

professores-alunos em uma sala de aula, sem constituí-la em um espaço objetivo da representação do contexto escolar.

Assim, forçosamente, a instituição de formação e os seus formadores terão acesso ao contexto real da educação básica e, portanto, precisarão refletir e atuar sobre as questões voluntária e involuntariamente trazidas pelos professores, transformando-as em requisitos para a construção do conhecimento acadêmico voltado à qualificação dos professores e, conseqüentemente, como instrumento de melhoria do trabalho pedagógico e das relações destes com a escola, como os alunos, pares e comunidade.

Com base em todas as discussões feitas até este capítulo, fundamentamos não apenas o estudo proposto, mas, também, os motivos que nos mobilizaram para sua realização, justificados pela experiência possibilitada com o envolvimento no processo de elaboração e desenvolvimento curricular do curso de Pedagogia do PROAÇÃO-UESC – cujas características revelaram caminhos possíveis para o preparo de professores com respeito às dimensões pessoais e profissionais dos que abraçam a profissão-professor.