EIxO I A PERCEPÇÃO DE SI ENTRELAÇADA NA PROFISSÃO
5.1 MOTIVAÇÃO E INFLUêNCIAS
No referente à motivação encontrada para ingressar no curso, os professores forneceram relatos que possibilitaram as seguintes sínteses: a) Sonho
de estudar na UESC (09); b) Realização pessoal/sonho de acesso ao ensino superior (13); c) Crescimento profissional e melhoria da prática pedagógica (11); d) Exigência da lei, desejo e melhorar a prática pedagógica e sonho de estudar na UESC (14). Três professores não responderam este subitem.
A motivação aqui apresentada responde pelos estudos da psicologia da educação WOOLFOLK (2000), que a concebe como um estado que se processa no interior das pessoas, impulsionando-as e orientando-as para a apresentação de um comportamento/sentimento que as fazem justificar suas escolhas, na mobilização ou não para o alcance de um objetivo. Essa justificativa pode ser explicada por situações internas e externas como necessidades, incentivos, expectativas de vida, pressão social, valores, interesses e outros.
Nos relatos dos professores, as motivações indicadas podem ser justificadas como resultado da necessidade gerada pela pressão social, diga-se legal, a qual despertou motivações nesses professores, vez que, naquele momento, a formação apresentada não mais correspondia ao solicitado pela sociedade, o que fazia com que eles se sentissem diminuídos perante a classe profissional pertencente. Nesse sentido, de modo externo, o PROAÇÃO, conforme os relatos que seguem, passou a ser instrumento de motivações internas a favor da realização do sonho de acesso ao ensino superior.
[...] sonhava com a minha qualificação superior e felizmente, surgiu na cidade a notícia da seletiva do Proação, a partir daquele momento não tive nenhuma dúvida de que aquela era a minha grande chance. Antes da seleção, a secretaria de educação da época, professora Josefina Castro, realizou uma reunião com os professores da rede municipal e passou todas as informações a respeito do curso. Parecia um sonho, mas aquele era um momento de realizar meu sonho, então pensei: é agora ou nunca... (Profª. Alci).
[...] sobretudo, pela “pressão” que estava sendo feita com relação aos professores que não possuíam curso universitário. A informação foi através da própria SEDUC, que solicitou aos diretores que nos comunicassem. Um grande “amigo irmão” me motivou bastante a participar do processo seletivo, até porque líamos bastante, em revistas educativas sobre a proposta do governo, na época: estimular os professores a realizar curso universitário, para isso, seriam desenvolvido projetos nesse nível. Também tive influência, da própria UESC, quando participei da Primeira Semana de Educação, e foi comunicado sobre a proposta da Universidade em realizar tais projetos (Prof. Dan, 35 anos).
A imposição da Lei que dizia “sem formação acadêmica superior não poderia continuar atuando em sala de aula” (Profª. Amanda, 41 anos).
O estímulo que está na base da motivação que mobilizou a minha disposição para fazer o vestibular foi a oportunidade que chegou para mim mediante a participação do município no programa (Prof. Jojó, 40 anos).
O sonho de cursar uma faculdade foi o que me impulsionou a participar do processo seletivo do Proação [...]. Não houve influência de ninguém, apenas o desejo de melhorar profissionalmente (Profª. Maria Dalva, 44 anos).
Foram diversos fatores, entre eles a necessidade de um aperfeiçoamento profissional e a exigência da nova LDB, lei n°9394/96, que destacava a formação do professor em curso superior. Fui influenciada pelo meu marido, também professor e pelo desejo de adquirir um curso de nível superior e mudar a prática pedagógica (Profª. Edineuza, 35 anos).
O motivo maior foi o desejo de estudar, fiquei sabendo do curso através da SEC, meu marido me influenciou a participar, ele queria que eu estudasse. Oportunidade de estudar na UESC foi um fator decisivo na minha participação (Profª. Eduarda, 43 anos).
O subitem que questionou a influência recebida de terceiros para o ingresso no curso obteve a resposta positiva de mais de 90% dos professores.
Conforme relatos anteriores, os professores indicaram ter recebido influência de
familiares, dos amigos, dos pares e do(a) secretário(a) de educação do município. A
maioria indicou ser a família o segmento que mais influenciou a decisão para ingresso no curso. Apenas três professores indicaram não ter recebido influência de terceiros e justificaram que a maior influência foi o próprio sonho de ingressar em um
curso superior.
A motivação e a influência recebida de terceiros são aqui refletidas a partir do fato de o reconhecimento da estreita relação entre a pessoa (sua subjetividade/individualidade) e o profissional (subjetividade e objetividades) que ele é, conforme apontam estudos de Nóvoa (1992), Moita (2000) e Goodson (2000). Estes autores contribuem para a compreensão da importância de se valorizar, no processo formativo, as várias dimensões presentes no atual ou futuro profissional da educação, principalmente a sua individualidade, para assim possibilitar “que cada pessoa, permanecendo ela própria e reconhecendo-se a mesma ao longo da sua história, se forma se transforma em interação” (MOITA, 2000, p. 115).
A motivação e a influência podem ainda ser analisadas como o resultado não somente da possibilidade de realizar o sonho ou cumprimento da exigência legal do curso superior, mas como resultado da percepção de uma necessidade da vida cotidiana pessoal e profissional que foi “[...] transformada em uma construção interpessoal e social que exprime, pela linguagem, a percepção da falta e a tensão para superá-la” (MELUCCI, 2004, p.39). Para este autor, cada vez que nos deparamos com uma necessidade, passamos a estabelecer uma ponte entre a experiência subjetiva profunda, principalmente sensorial, e uma rede de relações sociais à qual pertencemos e na qual buscamos as palavras para dar nome àquilo que nos acontece (MELUCCI, 2004).
Um aspecto que chamou atenção foi o fato de nenhum dos professores indicarem a melhoria salarial como motivação para realização do curso, dada a existência da relação direta entre estes dois fatores – formação e salário. Sem desejar aprofundamento no assunto, inferimos que, naquele momento, a necessidade de melhor qualificação perante a sociedade e consigo mesmo superou outras motivações e, portanto, não relacionou a motivação às expectativas salariais, mesmo diante da percepção de valores incompatíveis à nobre função exercida. Outro aspecto a ser considerado é o pouco desconhecimento dos planos de carreira
ou ainda a descrença de melhoria, considerando as péssimas condições e falta de respeito dispensado aos professores em nosso país.