• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 DO MEU SER, SABER E FAZER AO OBJETO DE PESQUISA

1.1 PRIMEIRAS REFERêNCIAS

1.1.2 O DESPERTAR PARA A PRESENÇA DO SER E FAzER DO PROFESSOR

Em 1970, meus pais, sem preocupação com o período de retorno à cidade de origem, logo após início do ano letivo, me tiraram da escola em – São José dos Campos – SP. Em Itabuna-BA, somente depois de muitas idas e vindas a uma escola pública, minha mãe conseguiu matricular os três filhos mais velhos, os quais foram submetidos a testes para verificar em qual série poderiam ingressar. Eu fui para a 2ª série, na qual tive o prazer de ser aluna da professora Maria da Paz com a qual cursei até a 4ª série. Dessa professora, guardo as melhores lembranças da relação professor-aluno; a doçura, as exigências, as atitudes de incentivo e especialmente da proteção aos alunos para evitar os castigos da feroz diretora. Pelo

educacionais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 4.025/1961; a Lei nº 5.540/1968, que fixou normas e reformulou o ensino superior e os pareceres 251 e 252/1969, que reformularam os currículos dos cursos de Pedagogia. Nesse período, o cenário da educação brasileira se caracterizava por acordos americano-brasileiros, firmados com a intencionalidade de qualificar mão de obra a atender ao acelerado desenvolvimento econômico da época. Esse cenário contribuiu para o acesso da classe popular à escola.

2 vizinha à cidade de Ilhéus, a cidade de Itabuna, na década de 1960, gozava de desenvolvimento

promovido pelo cultivo e comercialização nacional e internacional do cacau. Foi o período dos anos dourados da região cacaueira – fortemente retratada nos romances do escritor Jorge Amado. Comandada pelos coronéis do cacau, apesar de rica a cidade se caracterizava por dois cenários – riqueza de poucos e pobreza de muitos. Desprovida de escolas e instituições superiores, a educação era precária, promovida por instituições confessionais e poucas escolas públicas. Com a identificação do fungo, vassoura-de-bruxa na agricultura cacaueira, trouxe prejuízos para os agricultores, digam-se coronéis do cacau e os impactos repercutiram na sociedade itabunense, ampliando a pobreza e o baixo desenvolvimento da sociocultural da região, repercutidos nos atuais dias. Hoje, um dos referenciais da cidade é a Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, com a oferta de 22 cursos de Bacharelado e 11 de Licenciatura.

contato irregular com as professoras anteriores, por questão de senso de justiça e de reconhecimento, dedico à professora Maria da Paz a descoberta da presença do

ser professor em minha vida.

Nesse período, para facilitar meu acesso à escola, no decorrer da semana eu ficava menos em nossa casa e mais na casa dos meus padrinhos. A filha deles, minha prima Maria José, era professora de História e Geografia de 5ª a 8ª séries. Por ela, fui muito estimulada para os estudos, mais que isso, eu tive a oportunidade de conviver com uma professora preocupada com o desempenho de seus alunos. Ficava encantada ao observá-la corrigir provas, organizar aulas e adorava ouvi-la contar as situações vivenciadas em sala de aula com os alunos. Passei a desejar ser sua aluna e, para o futuro, sonhava fazer o que ela fazia.

Hoje tenho convicção de haver encontrado nas Professoras Maria da Paz e Maria José a referência inicial da profissão de professora

Já na vigência da Lei de Reforma do Ensino de 1º e 2º graus, nº. 5692/713, conclui a 4ª série e não precisei cursar o 5º ano, nem prestar o que, à época, era denominado Exame de Admissão do Ginásio4 (vestibular); ingressei na 5ª série do então Ensino Fundamental II de oito anos.

Cursei da 5ª à 8ª séries em uma mesma escola pública. Bem diferente da maioria dos adolescentes de hoje, cursei todas as séries sem maiores preocupações, simplesmente estudei e – além dos conhecimentos adquiridos nos livros didáticos e conhecimentos transmitidos pelos diferentes professores – desfrutei da saudável convivência com os colegas, com os quais aprendi e troquei os conhecimentos da vida, muitos nem sempre abordados na escola e quase sempre proibidos no ambiente familiar.

Com o Ensino Fundamental concluído, em 1978, enfrentei a dificuldade para encontrar vaga na escola pública e ingressar no ensino médio. À época, favorecida por melhores condições econômicas da família, cursei o ensino de 2º

3 Lei que organizou e direcionou a educação fundamental e média em todo o período da ditadura

militar. Sua característica maior foi a introdução do caráter profissionalizante na educação, com vistas ao preparo de mão de obra qualificada, para atendimento ao desenvolvimento industrial. Os cursos denominados colegiais foram chamados de 2º grau com habilitação técnica em diferentes áreas. O Curso Normal, até então responsável pela formação de professores para os anos iniciais, passou a ser denominado Curso de magistério para o ensino de 1ª a 4ª séries, transformando-se, então, em um curso técnico.

4 Criado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 4.024/ 61, conforme Art. 36. “O

ingresso na primeira série do ciclo de ensino médio, depende da aprovação em exame de admissão, em que fique demonstrada satisfatória educação primária.”

grau (1978-1980) em uma escola confessional, administrada pelas Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição, denominada Colégio Ação Fraternal de Itabuna – AFI, na qual realizei o curso Técnico em Laboratório de Análises Clínicas. Todo o curso foi realizado sem a atual pressão para realização do vestibular e escolha profissional. Como nas séries anteriores, estudei e fui feliz!

Mesmo sem contar com incentivo dos meus pais, que não apresentavam preparo suficiente para compreender a necessidade para que eu continuasse meus estudos, o amadurecimento pessoal e o partilhar das expectativas futuras com os colegas, criaram em mim o desejo de ingressar no ensino superior.