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A identidade nacional e a literatura

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 52-61)

2. Construção político-identitária

2.2. Relações entre identidade e alteridade

2.2.1. A identidade nacional e a literatura

Ao fazer um levantamento das abordagens possíveis para se estudar uma obra, não se pode negligenciar uma categorização canônica nos estudos literários que são as literaturas nacionais. Em alguns contextos, essa classificação não causa nenhum estranhamento e serve, com muita frequência, de referência para a abordagem literária, como é caso da literatura francesa. No entanto, quando se trata de nações que foram produtos da colonização, essa classificação se torna extremamente complexa, uma vez que o conceito de nação abarca diversas questões históricas, políticas e, inclusive, discursivas, que estão ligadas a um contexto cujas origens remontam ao período posterior à Idade Média, com os diversos movimentos de conquista dos bárbaros sobre o Império Romano.

Evidentemente, as nações não se concretizaram subitamente; ao contrário, foram necessários séculos até que se formassem as nações europeias tal como as conhecemos hoje. Pode-se dizer, portanto, que as nações não surgiram de um único gesto, uma única guerra, uma única revolução: elas foram fruto de um longo processo histórico que teve de ser legitimado para poder vigorar. Nas chamadas nações africanas, esses processos históricos e de legitimação ocorreram de forma tão diversa, que o próprio sentido do vocábulo “nação” poderia ser questionado.

Em uma antologia de textos relativos à temática da nacionalidade, intitulado “Escrever a nação: literatura de nacionalidade”, o organizador da obra, Carlos Manuel Ferreira da Cunha, reflete sobre a legitimação da nação, que está intimamente associada ao sentimento de identidade nacional. De acordo com Cunha, esse processo envolve diversos fatores: a invenção de um patrimônio comum; a revisão do passado histórico, isto é, a promoção de uma determinada visão do passado que ponha em relevo eventos que estejam a favor de certas ideologias, em detrimento de outras; a literatura, que cumpre a função de criar uma coesão sociocultural em torno de uma língua específica (CUNHA, 2001).

Assim como Cunha, Anne-Marie Thiesse, ao escrever também sobre as questões nacionais, aposta em uma íntima relação entre a identidade nacional e a literatura. Segundo a pesquisadora, subjaz à formação de uma nação uma atividade criadora que visa a substituir a ideia de identidade religiosa, étnica, cultural, para sobrepor a elas a identidade nacional; além disso, é imprescindível, para esse processo, o trabalho pedagógico para que esse reconhecimento identitário seja passado também às gerações seguintes.

Será necessário mais de um século de intensa atividade criadora para construir a identidade nacional dos alemães, dos italianos, dos franceses e de todos os seus homólogos europeus. Isto implica, senão abolir as identidades preexistentes baseadas no estatuto social, na religião ou no fato de fazerem parte de uma comunidade local restrita, implica, no mínimo, redefini-las como características secundárias, subordinadas à identidade nacional. (THIESSE, 2002, p. 8)

Como afirma Thiesse, o processo de construção das nações europeias não ocorreu subitamente e foi necessário um esforço criador e pedagógico para que a noção de identidade nacional pudesse se sobrepor a outras noções identitárias. Na África, o modelo europeu de nação foi adotado, sem que houvesse o tempo e as condições necessárias para que ele fosse consolidado.

Como vimos através de exemplos do romance de Kourouma, a identidade coletiva dos povos africanos é pautada, em grande parte, pelas etnias. Em um artigo da obra “Histoire Générale de l’Afrique”, J. Isawa Elaigwu reflete sobre a construção nacional, admitindo que, no contexto europeu, a edificação da nação estava intimamente ligada a uma tendência à homogeneidade cultural. Segundo o pesquisador, no continente africano, a edificação da nação não deveria consistir no abandono de outras instâncias identitárias, como, por exemplo, a etnia: “para nós, o processo implica não

uma transferência, mas um alargamento do horizonte até que os grupos restritos reconheçam sua própria identidade, a ponto de englobar entidades mais vastas, tais como o Estado”. 45

Para que se consolide o processo de edificação da nação, de acordo com Elaigwu, são necessárias duas dimensões da identidade: a dimensão vertical e a dimensão horizontal. A primeira consiste em promover a edificação de um Estado, isto é, um poder político unificado; no entanto, a mera existência de um Estado não é suficiente, pois é indispensável que ele seja reconhecido pelos cidadãos, para que tenha legitimidade:

Trata-se da dimensão vertical da edificação da nação, o que significa que não somente exista um Estado, mas também que as pessoas aceitem a sua autoridade (e não simplesmente o seu poder de coerção) e vejam no seu governo o símbolo de sua comunidade política. 46

Além da dimensão vertical, ligada à legitimidade do poder do Estado, é necessário também o movimento horizontal, isto é, aquele que diz respeito a todos os membros pertencentes à nação. A aceitação da igualdade de todos aqueles que compartilham um território, é fundamental para gerar um sentimento de pertença a uma única comunidade política.

No sentido horizontal, a edificação da nação implica que cada um aceite a igualdade dos outros membros do corpo cívico enquanto membros de uma nação juridicamente constituída – o que significa que cada um reconheça os direitos de dividir a história comum, os recursos, os valores morais e os outros aspectos do Estado. 47

J. Isawa Elaigwu prossegue as suas reflexões afirmando que a edificação do Estado e a edificação da nação são, pois, dois processos diferentes, embora estejam intimamente ligados. No contexto europeu, esses processos se deram de forma lenta e não simultânea, pois foi preciso criar primeiramente um sentimento de pertença nacional para que o poder do Estado pudesse se legitimar. No continente africano, na maioria dos casos, ocorreu o contrário: primeiramente, foi consolidado o Estado, sem

45“Pour nous, le processus implique non pas un transfert mais l’élargissement de l’horizon jusqu’auquel

les groupes restreints reconnaissent leur propre identité, au point d’englober des entités plus vastes telles

que l’État” (ELAIGWU, 1998, p. 465).

46“Il s’agit là de la dimension verticale de l’édification de la nation, c’est-à-dire que non seulement il y a

un État mais aussi que les gens acceptent son autorité (et pas simplement sa puissance de coercition) et voient dans son gouvernement le symbole de leur communauté politique” (ELAIGWU, 1998, p. 465).

47“Dans le sens horizontal, l’édification de la nation implique que chacun accepte l’égalité des autres

membres du corps civique en tant que membres d’une nation juridiquement constituée – c’est-à-dire que chacun reconnaisse aux autres le droit à partager l’histoire commune, les ressources, les valeurs morales et les autres aspects de l’État” (ELAIGWU, 1998, p. 466).

que antes houvesse uma unidade nacional. Esse Estado constituído através de força e mediado pela dominação estrangeira não promoveu o sentimento de identidade nacional, tão necessário para legitimar a edificação da nação.

Para muitos Estados africanos anteriormente colonizados, o Estado precedeu a nação. Os povos foram arbitrariamente agrupados no seio de uma unidade territorial que formou em seguida uma entidade geopolítica denominada Estado. Dentre os povos incorporados a esses Estados, muitos não identificavam o Estado enquanto símbolo de um povo ou de uma comunidade política. 48

Os povos africanos foram agrupados de modo arbitrário, sem levar em conta características culturais e linguísticas, elementos favoráveis a um sentimento de pertença, de unidade e de identidade coletiva. Assim, tornou-se difícil realizar os dois movimentos identitários de que fala J. Isawa Elaigwu, o que resultou em territórios divididos sob o nome de nações, porém com identidades nacionais fragmentadas. A falta de legitimidade do poder do Estado e o não reconhecimento da igualdade de todos os cidadãos dentro de um território comum estão na base da instabilidade política vivida por tantos países africanos. Como veremos, a ausência da autoridade política gerou uma série de golpes de Estado, e a falta de um sentimento de identidade coletiva levou ao massacre de muitos povos, mergulhando inúmeros países em sangrentas guerras civis, na segunda metade do século XX.

Como se pode concluir, a implantação das nações africanas se deu de forma diversa do modelo europeu e é polêmica por si só. Certamente, a chamada literatura nacional dessas nações também será operada de um modo diferente. Como observa Anne-Marie Thiesse, há um check-list identitário que “é a matriz de todas as representações de uma nação”; dela fazem parte elementos como “ancestrais fundadores, uma história que estabeleça a continuidade da nação através das vicissitudes da história, uma galeria de heróis, uma língua, monumentos culturais e históricos, lugares de memória, uma paisagem típica, um folclore” (THIESSE, 2002, pp. 8-9).

Através dessa lista, é possível notar que muitos desses fatores estão ligados a formas discursivas a serviço de um processo histórico e social. A literatura opera, portanto, um papel central na construção do imaginário nacional, com o objetivo de

48 “Pour beaucoup d’États africains antérieurement colonisés, l’État a précédé la nation. Des peuples

furent arbitrairement regroupés au sein d’une unité territoriale qui forma ensuite une entité géopolitique dénommée État. Parmi les peuples incorporés à de tels États, nombreux étaient ceux chez qui n’existait aucune identification à l’État en tant que symbole d’un peuple ou d’une communauté politique”

criar um sentimento de pertença comum entre grupos que, muitas vezes, apresentam traços de distinção. A literatura e a nacionalidade, durante muitos anos, estiveram estreitamente vinculadas uma à outra, de modo que diversos movimentos literários tiveram como importante característica “a missão patriótica de fundarem uma literatura e uma cultura centradas na nação” (CUNHA, 2001, p. 13), como é o caso emblemático do Romantismo. Ao longo do século XIX, “foi a vinculação da história literária à problemática da identidade nacional que definiu o objectivo desta disciplina” (CUNHA, 2001, p. 14), o que fez com que os movimentos literários europeus viessem a ter sentido quando compreendidos em conjunto com a história da nação.

Conforme salienta ainda Thiesse, no início do século XIX, por falta de uma historiografia da nação, o romance, “um gênero literário tão jovem quanto a ideia de nação, servirá, ao mesmo tempo, de modelo narrativo para as primeiras elaborações eruditas de escrita nacional e de vetor de difusão de uma nova visão do passado” (THIESSE, 2002, p. 12). Consequentemente, a literatura se põe a serviço da nação, tendo a função de buscar uma origem comum, exercendo um papel fundamental na promoção da “unidade da nação como ser coletivo” (idem).

Essa função literária muito se assemelha com a função das epopeias clássicas, que têm como característica central a fundação de uma comunidade, criando as bases de sua origem comum, sua filiação, seu território. De acordo com Eric Havelock, que se consagrou às literaturas clássicas, as sociedades pré-letradas embasam a sua identidade e sua consciência social através da “composição de narrativas poéticas que servem também como enciclopédias de conduta (...) que são continuamente recitadas e constituem um apanhado – uma reafirmação – do éthos comunitário, e também uma recomendação de observá-lo” (HAVELOCK, 1996, p. 164). Essa identidade, portanto, é manifestada através de narrativas que são transmitidas de geração em geração por meio da oralidade, e conta, necessariamente, com estratégias de memorização inerentes à estrutura das narrativas orais.

Como foi observado anteriormente, a tematização da questão da origem, fundamental para a promoção da identidade nacional, sempre foi, no contexto africano, particularmente problemática e conflituosa. Evidentemente, a literatura não produz o mesmo efeito que tivera na fundação das nações europeias: a literatura de inúmeros

autores africanos não exultou as glórias da fundação de suas nações, mas, ao contrário, refletiu sobre o seu impacto no destino de seu continente.

Em sua tese, o pesquisador Diandue investiga o modo como Kourouma encena diversos episódios da história da África em suas obras. A divisão do continente africano pelas mãos dos europeus – “le partage de l’Afrique” – também foi abordada por Kourouma, sobretudo em seus romances En attendant le vote des bêtes sauvages (1994) e Monnè, outrages et défis (1990) obras que têm como momento histórico a dominação europeia no continente africano (cf. DIANDUE, 2003, pp. 29-40).

No primeiro romance citado acima, Kourouma faz alusão às conferências internacionais promovidas pelos europeus com o intuito de legitimar a colonização africana e discutir a divisão do continente, como se observa no fragmento a seguir:

Sous l’égide de Paul II, le 12 septembre 1876, s’ouvrit dans la capitale du Royaume la Conférence géographique internationale. La Conférence créa

l’Association Internationale Africaine. L’association décida de planter définitivement l’étendard de la civilisation dans le coeur de la forêt (E, p. 228).

De acordo com a pesquisa de Diandue, Kourouma teria se inspirado no livro de Henri Brunschwig intitulado “Le Partage de l’Afrique”, o que aponta novamente para um recurso a fontes históricas na construção das obras ficcionais do autor marfinense. Em outro trecho do mesmo romance, Kourouma faz referência à Conferência de Berlim, marco histórico da ocupação europeia no continente africano, conforme afirma Diandue:

Foi, pois, em Berlim que se “despedaçou” a África no sentido compreendido

por Marcel Amondji49. O termo “despedaçar” empregado por ele faz parte do

léxico do açougue ou da charcutaria. Ele apresenta a África como uma

“presa”, uma “comida” ou uma “vítima” que a Europa açougueira havia

matado, despedaçado e distribuído.50

Essa leitura de Diandue revela a profunda violência intrínseca à divisão territorial da África em nações, decisão que foi tomada por povos alheios aos habitantes locais, por meio da força e da imposição. Na referência que Kourouma faz à Conferência de Berlim, no romance En attendant le vote des bêtes sauvages, nota-se a tomada de posição do autor com relação a esse evento histórico: “Dans le partage de

49 Cf. Marcel Amondji, Houphouët-Boigny et la Côte d’Ivoire, l’envers d’une légende, Paris : Karthala,

1984.

50“C’est donc à Berlin qu’on a "dépecé" l’Afrique au sens où l’entend Marcel Amondji. Le terme «

dépecé » qu’il emploie relève du lexique de la boucherie ou de la charcuterie. Il présente l’Afrique comme un "gibier", une "nourriture" et une "victime" que l’Europe charcutière avait tuée, dépecée et

l’Afrique décidé par les Etats chrétiens à la conférence de Berlin en 1885, le territoire des deux fleuves est dévolu au Coq gaulois” (E, p. 211). Ao descrever a divisão de uma região, Kourouma deixa clara a arbitrariedade da decisão dos países europeus, que dividiu um território de outros povos, sem nem consultá-los; sem nenhum critério, a região dos dois rios foi dedicada ao “coq gaulois”, isto é, à França.

No romance Monnè, outrages et défis, Kourouma encena os movimentos contrários à dominação europeia no continente africano, convocando inúmeros personagens históricos que se convertem em heróis por sua luta e resistência diante da dominação estrangeira. Esse é o caso, por exemplo, de Samory Touré, que é valorizado e idealizado por sua coragem e sabedoria para encontrar os meios de vencer os Franceses que haviam se instalado em seu território: “Samory Touré, l’Almamy, le « Fa », était le plus valeureux du Mandingue ; il avait le savoir, la stratégie et les moyens de vaincre les Français et les avait défaits sur plusieurs fronts” (M, p. 24).

Os heróis, nesse caso, não são aqueles que fundaram a nação, mas aqueles que se opuseram ao modo de divisão política pautada em modelos estrangeiros. Esse fato revela a crítica e o descontentamento diante da dominação colonial e da adoção de um modelo político europeu que não levou em consideração elementos identitários africanos para a demarcação geográfica do território. O fragmento a seguir ilustra a recusa de alguns povos diante da conquista ocidental e a consequente luta para evitar que as populações africanas fossem obrigadas a se curvar diante das nações europeias:

L’Almamy Samory commande à tous les rois du Mandingue de se replier sur le Djimini. Face à certains affronts venant d’incirconcis, il faut comme le bélier, reculer avant d’asséner le coup définitif. Tous nos peuples doivent déménager, tous : Sénoufos, Bambaras, Malinkés. Les toits seront incendiés, les murs abattus. Ces païens d’incirconcis conquerront les terres sans vie, sans grains, sans eaux, sans le plus petit duvet d’un petit poussin et sauront que nous sommes une race sur la croupe de laquelle jamais ne sera portée une main étrangère (M, p. 31).

Esses fragmentos retirados de obras de Kourouma revelam a complexa problemática em torno da fundação das nações africanas, que foi realizada contra a sua vontade; assim, não existem as bases para a identidade nacional tão necessária para o processo de legitimação e edificação de uma nação. A literatura de Kourouma problematiza, pois, a construção das nações africanas, revelando que a identidade africana é marcada por outras instâncias diferentes da identidade nacional.

Os trechos supracitados revelam uma releitura dos eventos históricos realizados por Kourouma nos anos de 1990, isto é, em uma época posterior aos acontecimentos sobre os quais ele reflete. No momento da imposição colonial, entretanto, a literatura produzida na Costa do Marfim não refletiu esses questionamentos, reproduzindo um modo de fazer literatura importado diretamente dos modelos europeus.

Através das investigações do professor Bruno Gnaoulé-Oupoh, em sua obra “Littérature Ivoirienne”, temos um panorama da formação da literatura na Costa do Marfim. O pesquisador analisa as primeiras manifestações literárias no país, refletindo sobre o seu contexto de produção. Segundo a sua pesquisa, os primeiros registros de literatura escrita, de 1932, são principalmente peças de teatros, que foram produzidas por estudantes das escolas superiores instaladas na colônia pela metrópole francesa. O objetivo da instalação dessas escolas era compor uma elite de africanos letrados que dominassem bem o idioma francês para servirem de exemplo no processo civilizatório, visando a atingir não apenas as cidades, mas também os territórios mais afastados da administração colonial (GNAOULÉ-OUPOH, 2000). A estratégia consistiu em não negligenciar pura e simplesmente a cultura africana, mas em conhecê-la melhor para poder também combatê-la. Daí remontam as origens da chamada “cultura franco- africana”, que serviu de inspiração para as primeiras peças teatrais produzidas na Costa do Marfim.

É nesse contexto ideológico e político, no qual se havia tido o cuidado de preparar as mentes para o reconhecimento dos benefícios da civilização francesa e para rejeitar as culturas e costumes africanos considerados bárbaros, que o inspetor geral Charton vai propor aos alunos da Escola William Ponty que componham e encenem peças de teatro inspiradas na vida aborígene.51

A consequência foi que a cultura franco-africana, da qual provêm os primeiros registros literários escritos na Costa do Marfim, apesar de tratar de temas relativos aos costumes e hábitos dos povos africanos, veicula a ideia de que a cultura francesa era superior à sua.

As primeiras manifestações literárias no continente foram pautadas pela ideologia atrelada ao processo de colonização, como a explicita, por exemplo, o ministro das Colônias, Paul Reynaud, em sua seguinte afirmação: “Nós levamos a luz às

51 « C’est dans ce contexte idéologique et politique, où l’on avait pris soin de préparer les esprits à la

reconnaissance des bienfaits de la civilisation française et à rejeter les cultures et moeurs africains jugées

barbares, que l’inspecteur général Charton va proposer aux élèves de l’École William Ponty de composer

trevas (...) Este é o significado da colonização francesa”.52 Essa afirmação, que torna clara a ótica da superioridade das nações europeias em relação aos povos estrangeiros, foi proferida na ocasião da inauguração da Exposição Colonial de Paris, de 1931, que contou com mais de oito milhões de visitantes. As exposições coloniais, ocorridas em diversos países da Europa, ao longo da primeira metade do século XX, revelam o modo como se concebia a alteridade, o universo não ocidental, até então, muito pouco conhecido pela maioria dos europeus. Essas exposições tinham o objetivo de promover a potência das nações europeias, cujos territórios não se limitavam à Europa, mas se estendiam ao mundo inteiro. Contando com a presença de homens trazidos das colônias para ilustrar suas atividades, seus hábitos e danças, as exposições veiculavam um modo

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 52-61)