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2 RECAPITULAÇÃO TEÓRICA

2.1 Delimitação Audiovisual

2.3.3 A imagem em nosso trabalho

A imagem a qual nos referimos em nosso trabalho será, portanto:

a-) Aquela que aparece na e pela tela, que possui uma determinada duração objetiva, mas cuja percepção desta duração dependerá da quantidade de informação apresentada e da relação com o sonoro. Esta duração é determinada tanto pela figura(s) quanto pelo fundo(s):

A maioria dos eventos gravados para nosso trabalho é diferenciada na sua localização, o que direciona a diferentes planos, seja com relação à cor ou a alguma característica da localidade onde foi gravado seja com relação à maneira como os objetos se apresentam ou de suas características próprias. Esta alternância e variação entre os diversos fundos e as diversas figuras estabelecem uma duração à imagem.

Percebe-se claramente esta característica na alternância de planos e objetos nos três estudos. Em “Facture” há imagens de uma torneira e gotas sobre um determinado fundo. Estas imagens são alternadas com imagens de martelo apresentadas sobre outro fundo e também com imagens de uma roda sobre outro fundo diferente das anteriores. Esta seqüência ocorre a partir do começo até aproximadamente 05’30”. Na seqüência que vai de 06’00” a aproximadamente 08’00”, as imagens de gotas dão lugar a imagens de pedras que por sua vez dão lugar a imagem de areia. Na última parte, a partir de 08’15”, várias imagens são apresentadas e podem ser observadas tanto como várias imagens independentes justapostas quanto como uma só na forma de “textura” ou plano.

No início de “Overlapping” até aproximadamente 01’20”, há uma imagem caracterizada por pessoas que percorrem um centro comercial. Esta imagem cede lugar à outra imagem constituída por árvores. Essas duas imagens aparecem sobrepostas e transparentes na seqüência que vai de 02’20” até 03’25”. Há também momentos onde as imagens não possuem uma referência clara a um lugar, pois se apresentam como mais abstratas. Estas são apresentadas aproximadamente de 01’20” até 02’20” e de 03’25” até 04”25.

Em “Density” há imagens mais referenciais no início do estudo e mais abstratas na última parte (a partir de 06’00”) que possuem uma característica de plano ou “textura”. Há também imagens como em “Facture” onde se alternam imagens de carros que atravessam uma rodovia, imagens de pessoas sobre uma calçada, imagens de uma mesa de

sinuca, entre outras. Estas imagens são justapostas e sobrepostas durante o período que vai de 02’54” até aproximadamente 06’00”.

b-) A imagem possui figura(s) que pode(m) apresentar algum tipo de variação ou permanecer(em) a mesma(s) e o fundo permanecer o mesmo ou ser alterado:

Na primeira e segunda parte de “Facture” principalmente, há a duração das gotas que caem uma a uma, mas também há a duração do fundo que vai aumentando o tamanho de sua duração no início do estudo sendo que este processo é entrecortado por diferentes imagens (martelo, sinuca, relógio). Todas essas imagens apresentam uma duração seja com relação ao próprio objeto que possui um determinado tempo de apresentação quanto em relação ao próprio fundo que também se alterna. Os objetos podem apresentar ou não algum tipo de variação juntamente com sua duração como é o caso da gota, do martelo, ou então apresentar uma duração, mas permanecerem “estáticos” como é o caso do sinal de televisão fora de ar e do relógio.

Na segunda parte de “Density”, de 02’54” até aproximadamente 06’00”, encontramos imagens semelhantes que possuem algum tipo de duração. Há o evento que possui uma duração e uma variação dentro do plano (carros, pessoas, sinuca) e há a idéia de duração do próprio plano que é observada através da variação dos fundos no qual os eventos se apresentam.

c-) A imagem se apresenta também em forma de algum plano ou “textura” visual, onde não se percebe claramente a alternância entre diferentes imagens, mas pequenas variações dentro de uma única:

Isto ocorre principalmente no início da primeira parte de “Density”, onde há uma imagem de multidão fechada sobre um único plano e cuja movimentação interna das pessoas apresenta uma característica de pequenas flutuações ou variações a esta imagem. Essa textura é transformada lentamente em outra que se constitui de pequenas imagens

justapostas. No final (a partir de 06’00”) há característica semelhante, onde há uma textura que é composta por luzes e faixas que se transformam.

Essa característica também ocorre nos outros dois estudos. Na terceira parte de “Facture”, de 06’00” a aproximadamente 08’00”, podemos destacar as texturas formadas pelas imagens de pedras substituídas pela textura da imagem da areia, assim como nas texturas abstratas encontradas em “Overlapping” aproximadamente de 01’20” até 02’20” e de 03’25” até 04”25”.

Assim propomos a percepção de eventos sonoros e visuais em nosso trabalho a partir de uma intenção perceptiva que, por um instante coloca de lado outras tantas possíveis referências, e se direcionem as suas próprias qualidades.

Da proposta de utilizar a descrição do sonoro e do visual, através da utilização de uma espécie de “escuta reduzida e visão reduzida” como meio para se direcionar à suas próprias qualidades e características, surge a necessidade de se estabelecer quais seriam essas qualidades, ou seja, os parâmetros de descrição.

Poderíamos utilizar a tipo-morfologia de Schaeffer que, como já destacamos, foi um dos primeiros a estabelecer uma classificação através de um sistema descritivo. Há também Denis Smalley e sua “Spectro-morphology”, assim como outros no domínio sonoro. Poderíamos recorrer a Arnheim e suas descrições relacionando a percepção visual à arte. Ou mesmo nos apoiarmos nas sintaxes plásticas propostas por Kandinsky e Paul Klee.

De certa forma, utilizaremos todas essas abordagens, mas em busca de parâmetros de descrição que não sejam sonoros e visuais, mas sim, audiovisuais. Isto em função de nos apoiarmos em conceitos nos quais há parâmetros que se direcionam à percepção do sonoro e do visual em separado (sendo que eles podem, de alguma maneira ser intercambiáveis) e parâmetros que se direcionam à percepção audiovisual, como veremos em seguida.

2.4 Audiovisual

Utilizamos em nosso trabalho a idéia, que parece óbvia, de que audiovisual corresponde a som + imagem. Ou seja, na obra há necessariamente sons e imagens, seja sobrepostos ou justapostos, sincronizados ou não, ao contrário do que propõe a idéia de sinestesia.

A sinestesia propõe percepções e relações audiovisuais nas quais o visual pode ser acompanhada ou não de som, e reciprocamente. Desta forma, o sonoro ou o visual são apenas evocados, lembrados, imitados, não estão dispostos em um mesmo tempo-espaço. Colocados desta forma, condicionam a relação audiovisual a característica de não consideração das influências que ocorrem da sobreposição dos dois domínios. Por isso é necessário que façamos algumas considerações a respeito deste tema no tópico seguinte, pois não pretendemos sugerir uma influência qualquer de um meio sobre o outro sem que ambos os domínios estejam presentes.