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Synchrèse em Facture, Overlapping e Density

2 RECAPITULAÇÃO TEÓRICA

3.4 Avaliação do “Estudo dos Objetos Audiovisuais Vol I” segundo as propriedades de Synchrèse, Aimantation spaciale e Ritmo

3.4.1 Synchrèse em Facture, Overlapping e Density

A synchrèse no ínico de Facture aparece intrinsicamente ligada à idéia de

aimantation spaciale. No início da primeira parte, gotas de água que se desprendem da torneira (00’00” à 02’15) inferem uma sincronia que não está presente na relação entre o evento sonoro e o evento visual presente na tela. O que percebemos enquanto sincronia é a suposição de que a gota encontra em algum momento uma superfície que faz soar seu som característico.

No entanto, com o processo de defasagem surge uma ambigüidade na percepção desta sincronia, pois parece que a superfície que faz soar o som foi deslocada e não há mais o mesmo tempo de duração entre o evento sonoro e o possível choque do evento visual.

Podemos interpretar (assim como faremos a seguir no tópico “Aimantation

spaciale em Facture”) esta sequência como dois momentos33 separados cada um com uma

disposição específica de synchrèse e aimantation spaciale.

Esta forma de sincronia é semelhante aquela da obra Dots de McLaren, apresentada acima, exceto pelo fato de que na obra de McLaren o choque com a superfície é apresentado visualmente na tela.

Desta forma, o que é considerado como sincronia é na verdade um ponto – ou pontos - de sincronia entre um evento visual – ou alguma parte deste - e um evento sonoro

33 Apresentamos estes momentos no CD de exemplos que se encontra em anexo. Os dois momentos

correspondem aos tempos 00’26” a 00’31” e 01’35” a 01’41” do estudo, e são denominados de “Exemplo 1” e “Exemplo 2”.

– ou alguma característica que se destaca deste - e não necessariamente uma mesma duração entre um evento sonoro sobreposto a um evento visual.

Podemos observar essa característica em alguns momentos de Facture, como na terceira parte onde há sobreposição de imagens e sons contínuos de pedras e areia (aproximadamente de 06’20” à 08’00”). As pequenas variações que ocorrem dentro da continuidade destes eventos geram pontos de sincronização mais ou menos irregulares, assim como ocorre na primeira parte de “Density” durante o enquadramento da torcida e em seguida na apresentação dos pequenos quadros (00’00” a 02’52”).

Outra possibilidade ao se trabalhar com eventos sonoros e eventos visuais gravados é considerar a apresentação de um plano (enquadramento) como um evento visual. A sobreposição de um evento sonoro qualquer a este enquadramento pode estabelecer uma relação de synchrèse. Neste sentido a duração do evento sonoro e do evento visual (plano) é considerada importante para este estabelecimento (o que difere da outra característica da synchrèse que apresentamos acima na qual o que se considerava eram os pontos de sincronização).

Encontramos esta forma de utilização em alguns eventos que ocorrem na primeira e segunda parte de “Facture” (respectivamente “Exemplo 3” e “Exemplo 4” no CD de exemplos), na parte central de “Overlapping” (“Exemplo 5” do CD) e na segunda parte de “Density” (“Exemplo 6”).

A partir destas características, acreditamos que, em determinadas situações, não haveria uma diferença e uma delimitação exata do que seria uma relação audiovisual sincronizada e uma não-sincronizada. O que ocorre é o estabelecimento de uma sobreposição entre algum ponto de um evento sonoro e de um evento visual que consideramos como sincronizados (evento A). A alteração deste ponto de sincronização dentro de um espaço de tempo curto, faz com que consideremos este outro ponto de sincronização como não-sincronizado (evento B).

Se invertêssemos a ordem de apresentação destes dois momentos, perceberíamos o evento B (considerado não-sincronizado na proposta anterior) agora como sincronizado de alguma forma, e o evento A (antes sincronizado) como não-sincronizado em relação ao evento B.

Mas isto ocorreria, como dissemos, em determinadas situações. Eventos claramente figurativos apresentam pontos de sincronia bem estabelecidos como por exemplo perceber um som de caixa de bateira sincronizado ao momento em que o instrumentista realiza o choque da baqueta à pele do instrumento. Ou então, em estudos e testes que buscam um limite de separação temporal entre um flash de luz e um som de senóide, na tentativa de estabelecer qual é o tempo máximo de sepação que pode haver entre estes dois eventos para que estes sejam percebidos como não-sincronizados34. 3.4.2 Aimantation spaciale em “Facture”

Este critério pode ser encontrado no início de “Facture”, mais precisamente na relação entre a imagem da torneira somada a gota que se desprende dela e um som de gota de água. O que ocorre neste momento é a passagem entre duas propostas da relação de

aimantation spaciale.

Esta relação ocorre por um estabelecimento de uma sincronia entre um suposto choque da gota de água em alguma superfície. Consideramos esta relação como um suposto, pois não vemos o local onde esta gota se choca e a sincronia entre o som e a imagem ocorre após o desaparecimento da imagem da gota da tela.

Na medida em que há uma defasagem gradual entre o sonoro e a imagem ocorre um estranhamento da relação de aimantation spaciale inicialmente proposta e se estabelece

34 Citamos como exemplo deste tipo de estudo o artigo When Is Now? Perception of Simultaneity de

uma outra relação de aimantation spaciale em função de outra duração entre o evento sonoro e o evento visual. Esta dupla relação pode ser verificada pelos exemplos do CD, “Exemplo 1” e “Exemplo 2” que correspondem a dois momentos que se diferenciaram em função da defasagem.

Se considerássemos estes dois momentos separadamente, perceberíamos duas propostas de aimantation spaciale diferentes. Dois tipos de localização e de relação entre um evento sonoro e um evento visual, no que se poderia deduzir que a gota (imagem) percorreu um espaço físico maior no segundo momento o que ocasionou um tempo de duração maior entre o evento visual e o evento sonoro. No entanto, a seqüência como um todo torna difícil esta percepção, pois o processo de defasagem se sobressai.

Na terceira parte (03’50” até aproximadamente 08’06”) e na última parte (08’06” até o final) de “Facture”, há uma preponderância da idéia de aimantation spaciale. A regularidade e a sincronização dos eventos sonoros e visuais, além da forte relação entre o som e sua fonte emissora, fazem com que reconheçamos uma relação direta entre o evento sonoro e o evento visual.

Nestas duas seqüências o que ocorre basicamente são eventos visuais e eventos sonoros contínuos ambos possuindo pequenas variações internas, como as imagens e os sons das águas das torneiras (“Exemplo 7”), das pedras (“Exemplo 8”), da areia (“Exemplo 9”), das várias imagens e sons que compõe o final do estudo (“Exemplo 10”).

Nestas seqüências, pequenos pontos de sincronização entre as pequenas variações dos eventos sonoros sobrepostos as pequenas variações dos eventos visuais fazem com que reconheçamos uma localidade e uma relação entre o evento sonoro e o evento visual.