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Doutrina das informações equivalentes

2 RECAPITULAÇÃO TEÓRICA

2.1 Delimitação Audiovisual

2.4.4 Fenômeno da Multissensorialidade

2.4.4.1 Doutrina das informações equivalentes

Esta perspectiva se baseia em uma corrente filosófica que acredita que o conceito de percepção supõe que os objetos em si encerram propriedades que se assemelham e se diferenciam solicitando ora a união ora a separação dos sentidos.

Para ser mais específico, certas propriedades inerentes do mundo físico – as qualidades primárias dos objetos tais como sua forma, tamanho, número, movimento – tem o poder de acionar os sentidos produzindo atributos perceptuais que se assemelham às propriedades físicas. Outras propriedades inerentes dos objetos – as qualidades secundárias – agem produzindo atributos perceptuais que não se assemelham a suas causas (MARKS, 1978, p. 38). Segundo Caznok, em Marks essa visão está calcada no conceito aristotélico de

sensus communis segundo a qual “[...] haveria uma função perceptiva cuja tarefa seria a apreensão dos atributos sensíveis comuns” (CAZNOK, 2003, p. 115). Esse conceito foi também discutida por John Locke. Marks interpreta a posição de Locke como a seguinte:

“Deixe-me recolocar a posição de Locke em trajes modernos: existe um mundo externo de matéria e movimento (na qual pode ser descrito em termos físicos). Qualquer que seja isto que saibamos do mundo [...] vem ultimamente através dos sentidos”

(MARKS, 1978, p. 37-38). Segundo Marks, a separação ou a união dos sentidos seria decorrência do que Locke chamou de Qualidades primárias e Qualidades secundárias.

Qualidades primárias são aquelas características ou propriedades das coisas, como seu tamanho e sua forma, que são totalmente inseparáveis delas e que são percebidos como inseparáveis. Perceptos das qualidades primárias, de acordo com Locke, se assemelham às próprias qualidades físicas. (MARKS, 1978, p. 13) Estas qualidades foram divididas por Locke em: solidez, tamanho, forma, movimento ou repouso, e número (MARKS, 1978). Estas qualidades podem se apresentar a mais de um ou todos os sentidos. Ao final desta parte destacaremos as qualidades que o autor considera como pertencentes aos sentidos da visão e da audição, que são o foco de nosso trabalho, às quais ele acrescenta mais uma à lista de Locke, o tempo.

Já as qualidades secundárias não apresentariam uma correspondência exata entre o evento físico e sua percepção, mas ambas são pertencentes a propriedades dos objetos.

“Perceptos das qualidades secundárias não parecem corresponder às qualidades físicas. Um modernizado exemplo de Locke é a falta de semelhança entre os comprimentos de ondas de luz refletidas por um objeto e a cor que é percebida” (MARKS, 1978, p. 13).

Outros exemplos correspondem à separação em cor, altura do som, calor, frio, gosto, odor, etc. (MARKS, 1978, p. 13).

Entretanto tanto as qualidades primárias quanto secundárias se referem às propriedades dos objetos [...] a distinção é baseada na pressuposta relação entre as qualidades e o modo como as qualidades são percebidas. (MARKS, 1978, p. 13)

No entanto esta posição é questionada, segundo Marks por David Hume que considera que não temos acesso ao evento físico, mas somente às nossas sensações:

Há alguns séculos atrás o filósofo escocês David Hume (1739) argumentou que nós não podemos aprender o que é o mundo real, ou se de fato há um; tudo o que temos são sensações. Nunca podemos saber o que esta por trás ou o que causa nossas sensações, porque não importa onde nós olhamos ou escutamos ou sentimos, tudo o que obtemos são mais sensações. (MARKS, 1978, p. 37)

Isso questiona a própria idéia de separação entre qualidades primárias e secundárias, pois não há como saber, objetivamente, se as qualidades perceptivas são qualidades do próprio objeto ou de nossas sensações.

De acordo com Hume, é impossível ir além da sensação aos objetos e eventos em si; portanto não existe nenhuma justificação para distinguir qualidades primárias de secundárias, visto que não há meios independentes para determinar se uma qualidade perceptiva dada são qualidades dos objetos como tal ou qualidades dos sentidos. (MARKS, 1978, p. 14)

No entanto, independente desta discussão, o que é mais relevante nesta postura, segundo Marks “[...] é que cada uma das qualidades secundárias percebidas é limitada a um único sentido, enquanto qualidades primárias podem ser percebidas através de vários ou de todos [...]” (MARKS, 1978, p. 13).

Uma destas características comuns, ou qualidades primárias, que estão presentes na relação entre o visual e o sonoro, é a idéia de movimento.

O movimento segundo o autor “[...] consiste em uma mudança na posição espacial através do tempo” (MARKS, 1978, p. 34). Assim, movimento visual e movimento sonoro advêm de variações que ocorrem a partir do movimento de um objeto emissor de som. Como exemplo, descreveremos o trecho onde o Marks relaciona o movimento tanto sonoro quanto visual de um carro de polícia ou ambulância.

Considere a maneira na qual percebemos um carro de polícia ou ambulância vindo em nossa direção, com suas luzes piscando e sua sirene soando. A imagem visual aparece e, opticamente, o ângulo visual proposto pelo carro aumenta ao se aproximar. Nossa percepção do tamanho do carro não aumenta proporcionalmente, mas permanece relativamente constante, esse fenômeno é chamado

constância de tamanho. [...] Uma vez que o carro passa, a imagem óptica agora começa a diminuir de tamanho – embora ainda permaneça aproximadamente constante, até finalmente o carro desaparecer. A aproximação do carro é marcada pelo aumento tanto da amplitude quanto da altura da sirene. Amplitude aumenta porque depende da energia do som, a qual por sua vez, depende da distância da fonte [...] altura aumenta porque depende da freqüência do som, que por sua vez, aumenta proporcional ao objeto emissor do som se mover para próximo – a relação entre freqüência e movimento é conhecida como efeito Doppler. Uma vez que o carro passa e afasta-se, ambos, amplitude e altura diminuem [...] estas sistemáticas mudanças nos estímulos sonoro e visual servem como fontes de informação comum sobre o movimento de objetos no ambiente. (MARKS, 1978, p. 34)

Marks propõe a idéia de movimento como sendo um atributo comum a ambos os domínios. O autor considera o movimento como uma mudança que ocorre no espaço em um determinado tempo.

Em seu exemplo, um carro de polícia se aproxima e se distância de um observador. Desta forma há mudanças em propriedades visuais tais como a distância e a variação do tamanho do objeto-carro e também em propriedades sonoras tais como a variação da amplitude e da altura do som emitido pela sirene.

Imaginemos agora o mesmo exemplo, mas no qual estamos apenas diante do fenômeno sonoro, e que, por algum motivo não estamos vendo o carro. Podemos constatar duas possibilidades.

A primeira é reconhecer as variações que ocorrem nas propriedades sonoras (amplitude e altura) e relacioná-las a um possível objeto visual (o carro) que está se

movimentando no espaço. No entanto, não vemos o carro. A relação que se estabelece ocorre em função de uma memória. Um aprendizado no qual alguma vez já experimentamos escutar um som que se modifica quando o objeto produtor deste som passa por nós.

Outra é nos atentarmos às características do som por si só. Ou seja, há um som cuja particularidade é um crescendo-decrescendo de intensidade em sua macro-forma e que possui em um determinado momento uma mudança em sua altura, entre outras características. Se este som for gravado e reproduzido sem uma distribuição espacial através de caixas de som dispostas em uma sala, por exemplo, estas características se destacam ainda mais, pois não há realmente um objeto visual a ser visto. Desta forma, não há um equivalente espacial para o sonoro a não ser como uma metáfora ou uma lembrança de um fenômeno percebido em nosso cotidiano.

Agora consideremos este exemplo fixado, ou seja, a gravação de um carro em movimento e do som que este produz. A imagem fixada do carro apresenta uma variação dentro da tela. O objeto visual, se gravado em todo o seu percurso, aparece inicialmente como muito pequeno, aumenta de tamanho e depois diminui. Se gravado em parte de seu percurso, apenas aparece e desaparece repentinamente. Desta forma, a característica de mudança espacial em um determinado tempo, pode ser interpretada a partir do espaço da própria tela, e não apenas como um espaço representado, onde há a semelhança ou simulação de nosso espaço cotidiano.

Se inserirmos o som neste evento gravado, mesmo que ele seja reproduzido em um único auto-falante, surge uma outra percepção. O som fixado parece seguir e emanar do objeto visual fixado. Esta é a característica que Michel Chion denomina de aimantation

spaciale25.

[...] quando nós situamos visualmente uma fonte sonora [...] dentro de certo ponto do espaço e que, por diversas razões (o som é amplificado eletricamente, se produz através de reflexões sobre a parede) o som que lhe é associado vem majoritariamente de uma outra direção, nós ‘escutamos’ este som vir de lá onde nós vemos sua fonte. (CHION, 2004, p. 224)

O som é um fenômeno que se propaga, ou seja, mesmo ele tendo origem de um lugar específico – um objeto emissor de som – seu alcance se dá pela propagação no ambiente em função dos aspectos de reverberação, refração e absorção das superfícies nas quais as ondas sonoras entram em contato, o que tornaria difícil determinar a localização exata deste som. No entanto, somos extremamente influenciados pelo aspecto visual que nos faz creditar à localização do som a localização deste evento visual.

Ou seja, podemos reconhecer a localização de um som pelo local real onde está seu emissor, mas esta localização é redirecionada se há algum evento visual ao qual creditamos esta emissão.

[...] a re-projeção em direção à fonte, se tratando do som, só é parcial; o som não esta ancorado em sua fonte tão solidamente quanto com sua re-projeção visual. O movimento é duplo. [...] há o processo que denominamos aimantation spatiale26, observável no caso do cinema, mas também in situ, e sob o qual nós projetamos o som não lá onde nós o escutamos vir, mas lá onde nós vemos a fonte.” (CHION, 2004, p. 110)

E isto ocorre em nosso ambiente cotidiano, mas principalmente quando há reprodução audiovisual através de aparatos eletro-eletrônicos. No caso do cinema, por exemplo, onde o emissor sonoro corresponde às caixas de som dispostas em diversas localizações, mas percebemos o som como vindo dos eventos visuais localizados na projeção da própria tela.

Chion descreve esta propriedade através de uma possível cena de filme: “[...] um ruído de passos e o personagem que caminha atravessa a tela, os sons de seus passos parecem seguir a imagem, mesmo que no espaço real da sala saiam de um mesmo alto- falante fixo” (CHION, 1993, p. 72).

Destacamos também que esta característica é melhor estabelecida quando se trata de eventos sonoros e visuais sincronizados como afirma Chion (2004, p. 225) e não diz respeito somente a eventos figurativos, mas a qualquer evento audiovisual como podemos observar no caso da obra Dots (1940), de Norman McLaren, citada na introdução. Os pontos visuais de Dots possuem um determinado comportamento temporal. Percebemos uma sincronia com o evento sonoro na medida em que o ponto visual parece ir de encontro à tela. Ou seja, não são síncronos em todo o seu percurso, mas sim no momento em que re- projetamos o som a uma possível causa visual.

Assim, compreendemos que a idéia de “Movimento”, observada conforme Marks, não se constitui como uma propriedade que se destina as percepções sonora e visual se observada através do contrato audiovisual, pois corresponde a uma idéia abstrata que pode ser preenchida com elementos ou eventos e fazem emergir propriedades que se direcionam diferentemente aos sentidos em específicos. Além disso, o que esta por trás desta idéia corresponde às propriedades de aimantation spaciale e sincronização.

Outra qualidade que Marks apresenta também como sendo uma propriedade do objeto, mas que é acessada por mais de um sentido em específico, neste caso novamente os sentidos da visão e da audição, é a idéia de tempo.

- Este tempo pode ser o intervalo de tempo entre dois eventos sonoros ou entre dois eventos visuais cujos “[...] intervalos entre escutas parecem ser maiores que intervalos entre visões em uma duração real igual” (MARKS, 1978, p. 32).

- Pode ser também o tempo da duração dos eventos: onde “[...] a habilidade para detectar pequenas diferenças na duração visual é idêntica a habilidade de detectar pequenas diferenças na duração escutada; portanto o mecanismo mediador pode ser similar, talvez idêntico, nas duas modalidades” (MARKS, 1978, p. 33).

Na primeira interpretação observamos que Marks destaca a identificação da diferença de tempo entre dois eventos sonoros e dois eventos visuais e não entre um evento sonoro e um visual. O autor conclui desta forma que, a identificação da diferença de tempo entre eventos sonoros é percebida como sendo maior que a diferença entre eventos visuais, mesmo se o tempo objetivo, medido pelo cronômetro fosse o mesmo.

Esta diferença pode ser interpretada em função de que “[...] o ouvido, grosso

modo, analisa, trabalha e sintetiza mais rapidamente que a vista” (CHION, 1993, p. 21). Uma das principais razões para que isso ocorra é que em um primeiro contato com uma mensagem audiovisual a vista direciona e se ocupa primeiramente da questão espacial enquanto que o ouvido se direciona a questão temporal (CHION, 1993, p. 21). Desta forma, em função desta maior velocidade de síntese do ouvido pode-se supor que a diferença entre dois eventos sonoros seja maior, mas isso depende e é influenciado também por outros fatores tais como a complexidade dos eventos, a distância do observador, o tempo de exposição, entre outros.

No entanto, como veremos também com outras propriedades tomadas como não pertencentes a um sentido em específico, o que interessa em nossa pesquisa é pensar na influência que ocorre entre o sonoro e o visual. Ou seja, discutir qual é a diferença de tempo entre eventos sonoros e a diferença de tempo entre eventos visuais não é tão importante quanto discutir a diferença de tempo entre eventos sonoros e eventos visuais.

Desta forma, se considerarmos a identificação da diferença de tempo entre um evento sonoro e um evento visual, a questão básica que se colocará é se percebemos alguma diferença de tempo entre os eventos ou se eles são percebidos como sendo produzidos ao

mesmo tempo. Isto nos remete a idéia já mencionada acima de “sincronia” e “não- sincronia” audiovisual, ou conforme o termo de Chion na idéia de synchrèse27.

Synchrèse é um termo criado por Michel Chion que corresponde a uma união das palavras sincronismo e síntese e é definida como:

[...] um fenômeno psico-fisiológico espontâneo e reflexo, dependendo de nossas conexões nervosas e musculares, e que consiste em perceber como um único e mesmo fenômeno se manifestando ao mesmo tempo visualmente e acusticamente a concomitância de um evento sonoro pontual e de um evento visual pontual, a partir do instante onde eles se produzem simultaneamente, e a esta única condição necessária e suficiente. (CHION, 2004, p. 224)

Desta forma a idéia de synchrèse é necessariamente audiovisual e implica alterações mútuas entre os eventos sonoros e visuais, ou seja, a princípio, qualquer som sobreposto - em um determinado espaço de tempo limite - a uma imagem é percebido como sincronizado a esta, pois buscamos qualquer ponto que se destaque e configure uma sincronização.

Sobre esta característica Chion destaca uma experiência simples de reproduzir que “[...] consiste em criar uma superposição áudio-visual aleatória executando ao mesmo tempo uma música qualquer tocada sobre um disco, e uma seqüência visual qualquer [...]” onde esta experiência “[...] ilustra bem como nós somos ‘ávidos de sincronização’, procurando os menores pontos de sincronização, fossem eles absurdos, e os fabricando sob qualquer pretexto” (CHION, 2004, p. 231).

Ou seja:

Este fenômeno, literalmente incontrolável, leva, portanto a estabelecer instantaneamente uma relação estreita de interdependência e a relacionar uma origem comum, mesmo se eles são de natureza, forma e de fontes totalmente diferentes, de sons e de imagens que possuem, sobretudo, pouca relação dentro da realidade. (CHION, 2004, p. 224)

Além disso, Marks considera o tempo na segunda interpretação como sendo o tempo da duração dos eventos sonoros e visuais, mas considerando nossa capacidade de detectar pequenas diferenças na duração percebida.

Duas considerações devem ser realizadas nesta interpretação do tempo-duração como atributo comum a ambos os domínios segundo nossa abordagem. Uma corresponde a não se pensar a idéia de tempo-duração no audiovisual, mas sim em uma idéia de tempo- duração que é aplicada ao evento sonoro e uma que é aplicada ao evento visual. Ou seja, nossa percepção possui uma característica de identificar alterações de tempo-duração, mas essa característica não pressupõe a influência que ocorre quando há sobreposição de eventos sonoros e visuais.

Chion, conforme destacamos, mostrou que nossa percepção da duração de eventos sonoros é mais rápida do que a percepção de eventos visuais, pois sintetiza mais rapidamente a informação. O autor destaca como exemplo:

Tomemos um movimento visual rápido – um gesto de mão – e comparemos com um trajeto sonoro brusco de mesma duração. O movimento visual brusco não formará uma figura nítida, não será memorizado como um trajeto preciso. Ao mesmo tempo, o trajeto sonoro poderá desenhar uma forma nítida e consolidada, individualizada, reconhecível entre todas. (CHION, 1993, p. 21) No entanto, quando ocorre a sobreposição entre um som e uma imagem, esta duração é alterada. As “[...] diferenças de velocidade e de análise não são percebidas como

tal pelo espectador na medida em que intervém o valor acrescentado28” (CHION, 1993, p. 22).

Para exemplificar esta posição, Chion utiliza os filmes de artes marciais:

Por que, por exemplo, os movimentos visuais rápidos que se acumulam ns filmes de Kung-Fu ou dos efeitos especiais não criam uma impressão confusa? Porque são ajudados e ‘articulados’ por meio de pontuações sonoras rápidas (gemidos, gritos, choques e tilintados) que marcam perceptivamente certos momentos e imprimem na memória uma marca audiovisual forte. (CHION, 1993, p. 22)

Destacamos também que esta característica está presente em outras obras audiovisuais e não somente no cinema. Tomemos novamente a obra Dots de Normam McLaren. Nela, pontos irregulares são sincronizados com sons sintetizados de uma característica e uma granularidade própria. Se notarmos no início da obra, os pontos visuais possuem um comportamento que é semelhante a um movimento que faz com que este ponto saia do fundo da tela, entre em contato com a tela e retorne ao fundo até desaparecer. O som, por sua vez, possui uma característica pontual, sendo sincronizado apenas no momento onde o ponto visual parece “trombar” com a tela. Desta maneira, dá se a impressão de durações pontuais e semelhantes entre o som e a imagem, mas que na verdade possuem certa diferença.

Desta forma, acreditamos que a duração dos eventos audiovisuais está submetida mais às propriedades de synchrèse e de aimantation spaciale do que a própria questão da duração, pois é influenciada tanto pela sincronia que há entre os eventos quanto pela projeção espacial que atribuímos ao evento sonoro.

2.4.4.2 Doutrina dos atributos sensoriais e qualidades análogas

Segundo Marks, “A doutrina das correspondências entre atributos sensoriais coloca que certas dimensões da experiência sensorial são similares ou mesmo idênticas nestas diferentes modalidades” (MARKS, 1978, p. 50).

Desta maneira, Caznok nos diz que as correspondências entre os sentidos não seriam referentes às propriedades dos objetos que são externos a nós, mas sim um atributo do aparelho perceptivo. Os parâmetros comuns, de acordo com esta tendência, poderiam ser resumidos em extensão, intensidade, claridade e qualidade (CAZNOK, 2003, p. 116).

De acordo com este esquema, todas as sensações possuem algum grau de intensidade, do fraco através do moderado ao forte; possui alguma qualidade, que seja vermelho ou verde, azul ou amarelo, altura definida alta ou baixa, salgado, doce, azedo ou amargo, pungente, perfumado ou rançoso, macio ou duro, quente ou frio; possui algum espaço de tempo, do curto ao longo. (MARKS, 1978, p. 51)

a-) Extensão ou tamanho:

Seria o correspondente a todos os sentidos de possuírem a possibilidade de distinguir o tamanho do objeto – evento- através de sua extensão espacial, semelhante ao que ocorre com a visão e o tato, que percorrem e distinguem o tamanho ou extensão do objeto de maneira muito semelhante.