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3.7.1 – A IMPORTÂNCIA DA CAPACIDADE RELACIONAL E DAS RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

A capacidade relacional dos agentes que intervêm no território é determinante na construção de uma visão partilhada e de um clima de confiança. A Administração desempenha um papel decisivo nesta matéria, cabendo-lhe a ponderação dos diversos interesses envolvidos, para que as soluções do plano sejam o resultado de concertações e consensos e como tal mais operativas.

Neste contexto, é fundamental que os diferentes organismos da Administração trabalhem em cooperação. O isolamento das instituições pode constituir uma limitação tão grande como a inexistência de recursos. Deste modo, é importante concentrar esforços na capacidade institucional já instalada, através da promoção e do estabelecimento de projectos comuns, que possibilitem a eficiente formação de perfis profissionais e cadeias inter-relacionais mais dinâmicas, que actuem numa lógica de execução das propostas de plano formuladas.

A institucionalização de relações de coordenação e cooperação pressupõe uma mudança na forma sectorial de actuação entre os diferentes níveis da Administração, de modo a evitar que existam formas de actuação díspares no relacionamento com as diferentes entidades administrativas. Neste sentido Marques Oliveira sugere um diploma que estabeleça o regime geral das formas de relacionamento inter-administrativo.365

Trata-se de evitar a concorrência de políticas públicas e incentivar novos tipos de relacionamento nas relações inter-administrativas, promovendo no âmbito do ordenamento do território formas conjuntas de elaboração e execução de planos. É fundamental evitar a justaposição de planos, que elaborados de forma sectorial não contemplam a necessária articulação com os restantes instrumentos de ordenamento.

O relacionamento das diversas entidades na Administração assume particular relevância na actividade de planeamento, porque o município não actua sozinho mas com o acompanhamento de representantes dos diversos interesses a salvaguardar no âmbito do plano, sendo determinante a coordenação366 e concertação367 entre as diferentes entidades e sectores da Administração

envolvidos.

365

Oliveira, M. (2003a), p. 13.

366

A Comissão Mista de Coordenação constituída para efeitos de elaboração dos PDM é um exemplo de coordenação entre as diferentes instituições da Administração.

367

O RJIGT prevê a concertação de interesses na elaboração dos PMOT. Para tal a Câmara Municipal realiza reuniões com as entidades que tenham apresentado discordância à proposta do plano, tendo em vista a obtenção de uma solução concertada.

É exigida à Administração, em matéria de planeamento, uma responsabilidade acrescida que resulta da concertação de soluções entre as várias entidades com interesses no plano, bem como uma maior vinculação dos seus intervenientes.368 A tradicional relação de hierarquia entre os diferentes níveis de Administração revela-se insuficiente face à complexidade de interesses envolvidos (alguns dos quais inconciliáveis ou antagónicos), aos diferentes instrumentos de ordenamento existentes, bem como à variabilidade de funções, objectivos e finalidades dos variados sectores da Administração. A perspectiva unilateral de cada entidade encarar os seus interesses tem, no âmbito da elaboração e implementação de planos, de dar lugar a uma lógica de articulação de pontos de vista onde as diferentes colectividades públicas se revejam.

Um elemento fundamental para que exista maior capacidade relacional entre os diferentes agentes e instituições é o que Putnam designa de capital social. Segundo o autor «Social capital refers to features of social organization, such as networks, norms, and trust for mutual benefit»369 A ausência

de coordenação e credibilidade no compromisso mútuo reflecte-se na dificuldade de implementar as soluções previstas nos planos.

Uma das formas de facilitar a comunicação do cidadão com a Administração no sentido de promover intercâmbios de soluções para o território é tirar partido das potencialidades das novas tecnologias da informação e da comunicação,370 de forma a facilitar a transmissão de informação,

designadamente no que diz respeito à divulgação e participação através da Internet e disponibilização de instrumentos de planeamento através, por exemplo, de sistemas de informação geográfica. As tecnologias possibilitam um canal de comunicação entre os cidadãos e a Administração que permite expressar a suas vontades e sugestões, particularmente relevante em matérias de consulta e participação de planos, capitalizando o potencial proporcionado pelas novas tecnologias.

O território deve ser o produto da capacidade de intervenção da sociedade civil e dos actores locais, integrando a valorização de recursos endógenos e a capacidade de ser competitivo e coeso. A execução das propostas previstas nos planos requer a sua internalização pelas comunidades locais e a integração em consensos alargados.371 No limite, à Administração cabe um papel apenas de negociação e regulação de conflitos. Pode dizer-se que a abertura do sector público à iniciativa privada e à cooperação inter-organizacional do aparelho administrativo revela-se fundamental na

368

Para mais desenvolvimentos sobre os princípios da coordenação e da cooperação veja-se Oliveira, M. (2003a).

369

Putnam, R. (1993), p. 35.

370

Para mais desenvolvimentos sobre a importância das novas tecnologias na Administração Pública veja-se Magnusson, A., Olrich, T., Gudmundsson, G. (1999).

371

João Cabral chama a atenção para a necessidade de articulação entre políticas e planos, e da importância crescente de projectos de desenvolvimento versus processos de planeamento.

afirmação do crescimento local. Susan Fainstein alerta para a necessidade destas iniciativas serem acompanhadas de um suporte nacional mais lato, para que as iniciativas locais não fiquem bloqueadas por instâncias governamentais de nível superior.372 No quadro dos instrumentos de gestão territorial, assume particular importância a definição do programa nacional da política de ordenamento do território, enquanto instrumento definidor de linhas orientadoras que servirão de matriz à actuação dos âmbitos nacional, regional e municipal. Esta orientação é também determinante na definição de uma estrutura orientadora de actuação que potencie o empreendorismo local, desenvolvendo a capacidade de cooperação entre os sectores público e privado.

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