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O homem toma consciência de si próprio e dos outros, o pensamento global reveste-se da necessidade de novas formas de agir a partir local. «O dever de agir, local e individualmente, assume por isso, uma responsabilidade densa e alargada, porque tomada perante um todo desmesuradamente ampliado»373. O local já não pode olhar apenas para si próprio, há um contexto

mais vasto com o qual interage, se deixa influenciar e é influenciado. Mas a coesão destes espaços geográficos são mais que simples clusters, em abstracto representam «arenas urbanas» 374

interligadas com o espaço global. Esta interpretação significa que estes espaços não são a produção e recriação de um simples processo de globalização, representam uma dimensão supra-municipal com coesão interna capaz de responder aos desafios globais.

Acresce que a crescente incidência dos processos de globalização implicaram um alargamento da escala geográfica de referência.375 A consolidação do nível central da União Europeia relativiza o

nível nacional dos Estados Membros e os respectivos níveis regional e local.376 É neste contexto

que a importância de agir a partir do local, mas tendo em conta da dimensão supra-municipal, tem sido reforçada em variados projectos de intervenção territorial. Mais recentemente, ao nível da gestão de centros urbanos, os níveis regionais/metropolitano são considerados fundamentais «na

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Fainstein, S. (1996), p. 183. Não deve porém confundir-se com a situação indesejada de ser o poder central a decidir. Neste caso inibe a capacidade de intervenção dos restantes agentes que agem sobre o território e torna ambígua a definição de responsabilidades dos diferentes poderes políticos.

373 Garcia, G. (2000), p. 101. 374 Derudder, B. et al. (2003), pp. 879 e ss. 375 Ferrão, J. et al. (1997), p. 18. 376

No Tratado de Roma, que estabeleceu a Comunidade Económica Europeia em 1958, as questões de ordenamento espacial não tinham lugar. Andreas Faludi e Bas Waterhout chamam a atenção para a o especial relevo que as políticas espaciais assumem hoje no seio da União Europeia designadamente no que respeita à política ambiental, aos fundos estruturais e às redes trans-europeias a elas associadas (Faludi, A., Waterhout, B. (2002), p. 4. As questões locais têm hoje um peso relativo diferente porque subiu-se um nível – o da escala europeia.

medida em que potenciam e credibilizam coordenações territoriais que levam à maximização de recursos»377. A este nível merecem especial destaque a criação e coordenação de políticas regionais

de desenvolvimento comercial, com particular ênfase em termos de conteúdo de plano para a criação de cartas regionais de ordenamento comercial à escala metropolitana. Iniciativas análogas podem ser tomadas com vista à integração conjunta de recursos naturais, da rede viária, de zonamentos compatíveis, entre outras variáveis que não faça sentido o tratamento estanque a determinada unidade territorial.

As delimitações administrativas não podem ser um constrangimento ao ordenamento do território, designadamente no seu tratamento como um todo. Assim, a execução de muitos projectos, definida nos PDM, só fará sentido quando integrada em estratégias conjuntas com os municípios vizinhos. É neste sentido que Paulo Correia considera existir uma clivagem entre as tarefas do poder central e os objectivos e orientações locais, assumindo especial importância as áreas metropolitanas378 que

possibilitem um planeamento, programação e gestão à escala regional ou sub-regional.379 Para que

algumas das estratégias e dos projectos previstos nos Instrumentos de Gestão Territorial tenham coerência entre si, têm que ser concebidos e implementados numa lógica supra-municipal. Veja-se, por exemplo, a localização de áreas industriais, de equipamentos para controlo da poluição, gestão e protecção de recursos naturais, de coordenação de redes de transportes adequados a movimentos pendulares que, pensados a uma escala local, traduzem deficiências de implementações e dificilmente serão geridos com eficiência.

Na definição da composição da Comissão Mista de Coordenação (CMC), está prevista a faculdade dos municípios vizinhos se fazerem representar. Esta novidade introduzida pela Portaria n.º 290/2003 de 5 de Abril, a qual define a composição, competências e funcionamento da CMC, evidencia a preocupação de integrar, além de técnicos da Administração directa e indirecta do Estado, outros interesses à escala regional que se mostrem relevantes na elaboração dos instrumentos de planeamento, incluindo a participação de representantes de municípios vizinhos. Há projectos que faz todo o sentido não serem pensados na estrita lógica do âmbito municipal, a gestão de resíduos por exemplo, em que pode haver uma economia de recursos e uma resolução mais fácil dos problemas se forem tratados conjuntamente. É na lógica de simplificação dos procedimentos e gestão integrada de projectos que Vítor Campos sugere a cooperação inter- municipal na regulamentação urbanística. Entre as principais vantagens destaca-se o ultrapassar de

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Balsas, C. (2002), pp. 134-135.

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As áreas metropolitanas representam um claro enfoque na importância da dimensão regional e sub- regional.

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problemas difíceis de resolver à escala do município, partilha de conhecimentos e regras uniformes na parte regulamentar dos planos nos municípios envolvidos.380 A actuação partir da mobilização

local mas considerando projectos de âmbito supra-municipal é determinante para um correcto ordenamento do território e coerência dos instrumentos de planeamento.

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4 – CONCLUSÃO

Na presente conclusão efectua-se uma síntese conclusiva que procura ir mais além na reflexão das temáticas abordadas e na sua relevância para a concretização dos Planos Municipais de Ordenamento do Território (PMOT). Pretende-se, em simultâneo, abrir perspectivas para campos de investigação futura.

Perante o ritmo acelerado de mudança, os novos desafios que se levantam ao desenvolvimento territorial, designadamente no que respeita aos fenómenos de globalização aliados à fragmentação das sociedades, fazem emergir a importância do local, uma vez que é neste nível que as políticas globais se concretizem e adquirem significado.381

Todavia, o futuro é incerto e feito de ciclos, rupturas ou acontecimentos inesperados. Neste contexto, as previsões perdem eficácia e os modelos de referência tradicionais já não se ajustam aos processos de transformação actual. Há necessidade de passar à prática os instrumentos de planeamento, mas, em ambiente de desregulação e de forte competitividade, impõem-se exigências de organização territorial com novas formas e que respondam às necessidades de estruturação. Num contexto onde se processa a passagem de um planeamento tecnocrático para concepções mais participadas, cada vez mais se reconhece e reivindica a necessidade de intervenções operativas e planeadas. A esfera pública e muito em particular os municípios assumem um papel determinante nesta matéria. Neste sentido, tendo em atenção as necessidades de planeamento territorial que se fazem sentir no nosso país e os desafios de desenvolvimento que se colocam (segunda parte), defende-se a importância dos PMOT serem concebidos de forma a proporcionarem a sua efectiva execução, o que exige a compreensão do planeamento como um processo contínuo.

Dos factores que intervêm neste processo destacam-se, como determinantes na concretização dos PMOT, a discricionariedade na actividade de planeamento, a participação pública, a flexibilização e a política fundiária municipal. Exige-se um esforço no aperfeiçoamento do conteúdo normativo, bem como novas formas de actuação no âmbito das diferentes escalas dos PMOT. Em simultâneo, assiste-se a uma intervenção estatal menos directa, num ambiente que requer uma postura mais operativa, responsabilizada e cooperante por parte da Administração.

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4.1 – A EMERGÊNCIA DA EXECUÇÃO DOS PMOT NUM

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