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A INDÚSTRIA MINEIRA NA RIQUEZA NACIONAL U

No documento O carvão numa economia nacional (páginas 120-123)

1 AS MINAS NAS PREOCUPAÇÕES DO LIBERALISMO

A INDÚSTRIA MINEIRA NA RIQUEZA NACIONAL U

Não está provado que seja rico em minérios o nosso subsolo, antes a convicção geral das pessoas que têm encarado o assunto é a de que, sendo ele pobre em minérios (...) a verdade é que falta ainda um

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reconhecimento geral das nossas possibilidades mineiras.

Concluía-se ainda q u e , se tivesse h a v i d o meios para o c u m p r i m e n t o efectivo d o decreto de 31 de D e z e m b r o de 1852, teríamos u m a carta geológica d o país e as próprias cartas distritais seriam b e m mais rigorosas.9 C u r i o s o será de salientar a importância que se

atribui à legislação de 52,'° m a s que, por ela própria, n ã o b a s t o u , u m a vez que os capitais necessários ao i n v e s t i m e n t o e r a m c h a m a d o s para sectores mais atractivos, de m e n o r risco, de lucro mais fácil e rápido, c o m o o comércio, a especulação e a usura, decorrentes da Regeneração.

A s dificuldades eram vistas, deste m o d o , e m m e a d o s d o século passado:

É que a industria mineira não depende só dos conhecimentos adquiridos acerca da existência dos mineraes pela simples apparição dos jazigos á superficie. Estes conhecimentos, indispensáveis mas não sufficientes, precedem quasi sempre de longe o seu aproveitamento; porque entre a descoberta e a lavra medeiam obstáculos numerosos e de grande monta(...) Não basta conhecer a existência dos depósitos mineraes; é preciso assegurar-se da sua riqueza: e esta segurança não se obtém, na maior parte dos casos, senão por meio de trabalhos difficeis, cujos gastos e êxito não se podem fixar de antemão. É um calculo de probabilidades, cujos elementos complicados exigem muita experiência e circunspecção. A terra não deixa rasgar o seu duro seio, para penetrar até aos seus ocultos thesouros, senão áquelles que levam o condão da força e da preseverança, precedido do pharol da mtelligência.(...) Diante d'esta difficuldade immensa,

acompanhada da incerteza inhérente á industria subterrânea, o capital, de sua natureza medroso, recua espavorido, e prefere á brilhante perspectiva de uma súbita fortuna os lucros modestos mas seguros de uma

u industria conhecida.

8 Preâmbulo do Decreto-lei n°. 29 725 de 25 de Junho de 1939. 9 SOLA, Luís de Castro e - Op. cit. p. 41.

Decreto de 31 de Dezembro de 1852.

U Relatório Annual da Inspecção de Minas, 1860 - 1861. Boletim do M.O.P.C.I., Io. Vol. , (Abr. 1862). p.

O interesse pela indústria mineira deste m e a d o d o século era, antes de mais, o resultado d o clima da industrialização europeia e d o desenvolvimento capitalista que, pela m ã o d o liberalismo oitocentista, faziam a sua e n t r a d a em Portugal e de q u e m n o s t o r n á v a m o s d e p e n d e n t e s , quer dos mercados quer dos respectivos investimentos.

Dissemos já q u e antes dos governos liberais se colocou a preocupação pela indústria mineira, v i n d o a ser criada nessa sequência, n o s princípios d o século, a

"Intendência Geral das Minas e Uetaes do Reino"11 e n o m e a d o para o respectivo cargo, antes

m e s m o d a sua regulamentação, José Bonifácio de A n d r a d e , bacharel em leis e filosofia, qualificações q u e foram, c o m certeza, d e t e r m i n a n t e s n a sua escolha, "encarregado de dirigir e

administrar as Minas de Figueiró dos Vinhos; e de ProPor-me todas as providencias, e regulamentos

que julgar necessários".13 T o d a v i a , foi a sua condição de sábio "naturalista" e q u e à custa d o

governo visitara os "melhores estabelecimentos montanísticos e metalúrgicos da Europa,

instruindo-se teórica e praticamente nos trabalhos, manipulações, administração e economia"" o

q u e mais deve ter influenciado a decisão d a sua escolha. A confiança e a credibilidade de q u e gozava levou o governo a criar n a U n i v e r s i d a d e de C o i m b r a a cadeira de metalurgia

12Cfr. Cap. 1- Da criação da Intendência Geral das Minas e Metaes do Reino ao Decreto e 25 de Agosto de

1836. Sobre a criação da Intendência Geral de Minas, Cfr. RIBEIRO, José Silvestre - Resoluções do

Conselho de Estado, na secção do Contencioso Administrativo, seguidas de um Estudo Histórico Administrativo sobre as Minas em Portugal. Tomo XV. Lisboa: Imp. Nacional, 1868; DINIS, Pedro Joyce

- Subsídios para a História da Montanística. Ministério do Comércio e Indústria, Dir. Ger. de Minas, anexo ao Boi. de Minas de 1937.

13 Carta Régia de 18 de Maio 1801. Refira-se que, primeiramente, por esta carta régia, se criou o cargo de

Intendente Geral e só mais tarde, pelo Alvará de 30 de Janeiro de 1802, se regulamentou a Intendência Geral das Minas e Metais do Reino. Cfr. Cap. 1. Da criação da Intendência Geral das Minas e Metaes do

Reino ao Decreto de de 25 de Novembro de 1836.

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sob a sua responsabilidade, para que desse modo se formassem indivíduos capazes de servir

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a organização .

O país desconhecia, de facto, as suas características mineralógicas e geológicas e assim continuaria, a tal ponto que, em 1856, o engenheiro e geólogo Sidney Droz, ao serviço do M.O.P.C.I., incumbido de fazer o levantamento dos jazigos para que os seus minérios se fizessem transportar pelos caminhos de ferro e assim justificar os investimentos ferroviários, "tendo a meu cargo examinar os jazigos, cujos productos actuais ou futuros podessem alimentar o trafico dos caminhos de ferro projectados no paiz", deixa transparecer essa situação:

As minas descobertas em Portugal até hoje estão geralmente situadas nas províncias da Extremadura e Beira; as reconhecidas no Minho e em Traz-os-Montes consistem principalmente em minas de estanho, algumas das quaes pareciam mostrar importância; indícios de minérios de cobre foram encontrados em Aljustrel, no Alemtejo e também no Algarve. Muitos d'elles ( jazigos) têem dado logar a serias pesquizas, e têem feito objecto de concessões; outros nunca foram atacados, como são os jazigos de ferro das visinhanças de Leiria; outros enfim têem sido objecto de trabalhos puramente superficiaes, consistindo em galerias pouco profundas abertas no jazigo. Apenas sobre as minas ( e são bem poucas) que têem feito objecto de pesquizas aturadas ou foram lavradas ha muito tempo, pude eu emitir uma opinião mais segura e precisa.

As vias de comunicação que, sob a orientação de Fontes Pereira de Melo, eram projectadas, tornavam-se já um estímulo para uma procura mais cuidadosa dos

Ibidem.

DROZ, Sidney - Viagem em Portugal, desde 11 de Fevereiro até 19 de Abril de 1856. Boletim do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria. (Ago. 1857). Tomo XV. p. 256.; RIBEIRO, José Silvestre - As Minas em Portugal. Resoluções do Conselho de Estado, na secção do Contencioso Administrativo. Tomo XV. p. 190. Lisboa: Imp. Nacional, 1868.

combustíveis minerais. É assim que o nosso viajante olha já para as minas de combustíveis, diga-se carvão de pedra da Figueira da Foz e de S. Pedro da Cova, como uma

fonte de riqueza pelas "applicações à metallurgia, como pelo lado do partido que das mesmas podia tirar-se para os caminhos de ferro", realçando que as antracites do Porto, sendo de boa qualidade, podiam ser "queimadas no estado de mistura, no foco das locomotivas, ou empregadas vantajosamente na metallurgia do ferro".

Queremos aproveitar, desde já, a circunstância de, independentemente das razões subjacentes ao empreendimento ferroviário fontista, registar uma delas por constituir um estímulo ao desenvolvimento mineiro:

Os caminhos de ferro projectados em Portugal, ligando, tanto quanto o permitte o terreno, as différentes minas que fazem objecto deste relatório, desenvolveriam a sua lavra, em geral estacionaria pela falta de vias de communicação, ou pelo preço elevado dos transportes; motivariam pesquizas em pontos inexplorados; numa palavra, imprimiriam á indústria mineira uma impulsão, cujos bons effeitos seriam os

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