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119 perda do tempo, e dos ordenados que se devião continuar a pagar aos empregados.

No documento O carvão numa economia nacional (páginas 50-72)

esta matéria dissesse respeito:

119 perda do tempo, e dos ordenados que se devião continuar a pagar aos empregados.

Parece-nos, de facto, haver intrigas q u e impediam o f u n c i o n a m e n t o desse organismo mineiro. D e imediato, surgiram novas m u d a n ç a s n o a n o de 1804 e, t u d o a p o n t a nesse sentido, o objectivo era "desmanchar as intrigas ministeriaes contra a Administração das

Minas", o q u e levou a q u e as funções de inspecção, lugar q u e cabia ao Presidente d o

Erário, passassem para o Ministério d o Reino e a "fiscalização especial á Direcção da Real

Fabrica das sedas e Agoas livres, que devia fornecer os fundos para as despezas, ficando

igualmente com voto sobre as deliberações do Intendente...".

Em 1802, nomeado J. B. de Andrade Intendente Geral, "mandárão-se vir diretores, mineiros, e

fundidores d' Alemanha: principiando-se logo em 1802 com a maior actividade os trabalhos, na antiga e arruinada Fabrica de ferro de Foz d' Alge, e na Mina de carvão de pedra de Buarcos". Vede Memoria sobre a Historia Moderna da Administração das Minas em Portugal pelo Barão D'Eschwege. Lisboa:

Typ. da Academia Real das Sciencias, 1838. p.10 19

Ibidem, p. 11-12.

20

ESCHWEGE, Barão d' - Op. cit. p. 12.

21

Não se sabe, concretamente, a causa do Decreto de 4 de Maio de 1804. Vide Subsídios para a História

da Montanística de Pedro Joyce. (Anexo ao Boletim de Minas de 1937). p. 21-23.

22

Os poderes do Intendente eram substancialmente reduzidos pois praticamente ficava sem autonomia, "não podendo d'qui em diante o Intendente Geral dar concessoens de Minas a Particulares nem organizar Companhias, sem hir de acordo e com approvação da mesma Direcção". De referir que, sob a Direcção da Fabrica das Sedas, a Intendência perdia, logo a seguir, toda a sua autonomia na concessão de minas futuras e via caducar todas as que concedera anteriormente:

Em reprezentâção que me fêz a mesma Direcção me foi prezente terem obtido alguns particulares Consessoens e licenças(...) Resultando não somente o prejuízo da minha Real Fazenda, mas também o do Estado, por não se acharem taes Estabellecimentos nas circonstancias de poderem ser empreehendidas por particulares, em quanto não houvesse pessoas instruídas naquella sciencia, de quem se podesse confiar, que virão a Resultar fins úteis e proveitosos a quelles mesmos que os pretendião appropriar: E tendo atenção a sobredita Representação, e a ser este objecto hum Direito real ...E cujas mercês não devem continuar em quanto Eu não determinar as condiçõens, pelas quaes somente se podem confiar dos particulares taes estabellecimentos. Sou servido haver por suspensas quaes quer Mercês e Graças concedidas a Particulares,

124 para trabalharem Minas de Metaes, e Carvão de Pedra nas Províncias deste Reyno.

Entendemos realçar este decreto porque nos evidencia, claramente, a concepção monopolista do Estado sobre as minas e assim podermos perceber o preâmbulo do Decreto de 1836. O Estado chamava a si todas as explorações mineiras e, deste modo, eram vedadas aos particulares as explorações mineiras.

Instruções que se devem observar pela Direcção da Real Fabrica das Sedas na Administração das Minas. Vide JOYCE, Pedro. Op. cit. p. 26.

Decreto de 28 de Novembro de 1804. Vide Pedro Joyce. Op cit. p. 37 Cfr. p. 27 do presente capítulo.

AS GRANDES Q U E S T Õ E S MINEIRAS 51

E n t r e t a n t o , verificou-se a r e t o m a dos trabalhos mineiros e iniciou-se a lavra da m i n a de carvão d e p e d r a de S. Pedro d a C o v a a par d o r e c r u t a m e n t o "de mestres fundidores,

refinadores, e mineiros d'Alemanha, cujos trabalhos começarão no principio de 1806".

A p e s a r d e s u b o r d i n a d o à Direcção da Fábrica das Sedas, a a u t o n o m i a d e José Bonifácio manteve-se pelo facto de T o m a z A n t ó n i o V i l a n o v a Portugal, seu "amigo intimo", ter sido n o m e a d o "para tratar... de todos os assuntos mineiros... na sua qualidade de Director

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da Fábrica das Sedas," o q u e lhe permitiu gozar de a u t o n o m i a administrativa. A situação

só se alterou com a saída de T o m a z V i l a n o v a q u e a c o m p a n h o u a retirada d a Família Real p a r a o Brasil e m 1807, n a sequência da chegada dos invasores franceses a A b r a n t e s .

T u d o foi efémero, u m a vez q u e vários azares se foram a b a t e n d o sobre a N a ç ã o : mas baldadas forão estas esperanças pela desastrosa invasão dos Francezes, e pela partida da Família Real para o Brasil no fim do anno de 1807, cessando todos os trabalhos até ao principio de 1812, trabalhando apenas, e com grandes intervalos a Mina de carvão de S. Pedro da Cova, que dahi por diante sustentava com os seus lucros os outros estabelecimentos, de maneira que pelo menos se podia cuidar na sua conservação para não se arruinarem de todo; mas por infortúnio maior, foi também roubado pelos Francezes o cofre das Minas no Porto (...) Temos por tanto outros quatro annos perdidos para os progressos das Minas.

E isto, para além dos problemas inerentes ao f u n c i o n a m e n t o d a Intendência. 130

126

ESCHWEGE, Barão d' - Op. cit. p. 13.

127

JOYCE, Pedro - Op. cit. p. 48.

128

A referência a este órgão prende-se à publicação do Decreto de 4 de Maio de 1804 que criou um cofre para que, através dele, a Direcção da Fábrica das Sedas custeasse as despesas com a Administração das Minas, e "que sirva de fundo para o mesmo cofre a importância do que nestes dois annos de mil

oiticentos e quatro e mil oitocentos e cinco, vender a mesma Fabrica para a Minha Caza Rear.

129

Idem, Op. cit., p. 14.

130

Assim, independentemente destes factores de ordem externa, há aqueles que foram mais comumente aceites para justificar o estado de abandono a que tinham chegado as minas e cujas razões dizem respeito à própria orgânica do funcionamento da administração das minas.

Retomaram-se os trabalhos na "Fabrica de ferro, onde se fabricavão então muitos instrumentos de agricultura, que foram repartidos pelos lavradores pobres, que padecerão pela invasão dos franceses; assim como os trabalhos na Mina de Buarcos...na lavra de ouro d'Adiça" e abriu-se aNo anno seguinte (1817) também a Mina de galena de chumbo ao pé de Ventozelo em

Tras-os-Montes, e mandárão-se fazer pesquizas metallicas na Serra de Vallongo, ...sendo satisfeitas todas as despezas dos lucros provenientes da venda do carvão da Mina de S. Pedro da Cova". Somos levados a pensar que de nada valeu o esforço. Ninguém estava à altura de ajudar o Intendente, o ainda Dr José Bonifácio de Andrade, quer nos trabalhos de direcção dos estabelecimentos, quer no exercício da montanística e da ciência metalúrgica.

Então, não tinham vindo técnicos estrangeiros, nomeadamente alemães, entre os quais se destacou o próprio Barão d'Eschwege? Bom, o que conseguinmos descobrir, tomando como fonte o próprio Barão d'Eschewge, nomeado intendente Geral das Minas em Julho de 1824, foi que:

' ESCHWEGE, Barão d' - Op. cit. p. 17. 2

Ibidem. 3

Idem, Ibidem 4

"Julgando muito necessário Nomear pessoa, que succéda no lugar de Intendente...que exercia... Joze Bonifacio de Andrade e Silva(...)E tendo em consideração que o coronel do Real Corpo de Engenheiros, Guilherme Barão d'Eschwge...Heipor bem Nomea-lopara o dito Lugar de Intendente Geral...". Decreto de 12 de Julho de 1824.

Guilherme d'Eschwege era já em 1804 Director dos Fornos e Inspector das Minas Da Real Fábrica de Ferro da Foz d'Alge, tendo sido encarregado, nesse mesmo ano, por procuração de 15 de Junho de 1804 e

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os principaes directores e mestres, que tinhão vindo da Alemanha, forão chamados para o Brasil no fim do anno de 1809, e outros tinhão morrido, de sorte que o Intendente se vio obrigado a empregar nos estabelecimentos pessoas, que, com excepção da vontade que tinhão para servir bem, não possuião conhecimentos alguns mintanisticos nem metallurgicos; por tanto não era de admirar que os estabelecimentos fossem mal dirigidos, não obstante as instrucções as mais circumspectas do intendente.

A angústia pela falta de apoio e sobretudo as constantes intrigas que contra si eram movidas pelos Directores da Real Fabrica das Sedas e Agoas livres, numa "guerra da ignorância contra o saber", no dizer do autor citado, a que por vezes se aliava, mesmo que tacitamente, a própria regência que não prestava o apoio necessário, fizeram com que José Bonifácio se ausentasse para o Brasil em 1819 e ficasse a administração das minas confiada interinamente ao "Ajudante da Intendência das Minas Alexandre António Vandelli, e o Escrivão Secretario da mesma, Vicente Pinto de Miranda". E, daqui para a frente, a indústria mineira foi de mal a pior. Com os novos administradores, "não tendo nunca feito os estudos próprios, nem theoricos nem práticos", e a manterem-se as más relações com a Direcção da Real Fábrica das Sedas, foram praticamente encerrados todos os trabalhos mineiros entre 1822 e

1824,'38 ano em que foi nomeado Intendente Geral o próprio Barão de Eschwege, em

simultâneo com a exoneração da Direcção da Real Fabrica das Sedas do poder de

respectivas Instrucções, passada pelos Directores da Real Fabrica das Sedas, de contractar pessoal alemão para as minas e ferrarias. ESCHWEGE, Barão d' - Op. cit, p. 43.

' ESCHWEGE, Barão d' - Op. cit., p. 17. Idem, Ibidem, p. 19.

i

Idem, Ibidem, p.20.

Apenas se manteve em funcionamento a mina de carvão de pedra de S. Pedro da Cova " que continuava pela sua natureza a dar avultados lucros", Op. cit. p. 22.

fiscalização das minas. Estávamos condenados ao fracasso. Retomados os trabalhos nas minas que entretanto foram paralisadas, não viu, o novo administrador, materialisados os seus objectivos. Agora, por falta de boas vias de comunicação que assegurassem a barateza dos transportes ou pela falta de clientes nacionais, nomeadamente os "Arsenaes Reaes", que continuavam a preferir o ferro importado, ou mesmo pela concorrência às minas de chumbo de Ventozelo feita pela Espanha, vieram as minas a decair, com uma ressalva para as minas de carvão de pedra que, "por um Decreto de Agosto de 2825", foram arrendadas a uma companhia "de quatro négociantes" por um período de vinte anos, "pelo preço de dez contos de réis annuaes". Tinha sido, praticamente, dado o golpe mortal na exploração das minas uma vez que a Adminstração precisava não só das suas receitas para prover às despesas com as outras minas, como receava que a companhia formada viesse a deixar de pagar, o que aliás se veio a verificar. Refira-se que nesse decreto se incluía a mina de S. Pedro da Cova, tida por "Mina de Carvão de Pedra da Cidade do Porto" que, por portaria de 24 de Abril de 1821, deveria custear, com o seu rendimento, as despesas das outras minas: "E por quanto o rendimento da Mina de Carvão de Pedra da Cidade do Porto, se julga sufficiente para supprir a despeza das outras Minas".

Decreto de 12 de Julho de 1824 e Alterações do Alvará de 30 de Janeiro de 1802 quanto ás

Junções do Lugar de Intendente Geral das Minas, e Metaes, íll"A administração das Minas ficará

portanto daqui em diante desligada da Direcção da Real Fábrica das Sedas (...) ". JOYCE, Pedro - Op. cit. p. 87. A partir desta data, a Intendência Geral das Minas deixa de estar dependente da Secretaria de

Estado dos Negócios da Fazenda e volta para a Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.

Diário da Câmara dos Deputados, Sessão em 21 de Maio de 1850, N.° 15. A afirmação é incorrecta, pois não foi "por um Decreto de Agosto de 1825''' mas pelo "Alvará n" 126 de 4 de Julho de 1825" que Valerá como Carta de LeF.Gazeta de Lisboa. n° 172, de 25 de Julho de 1825.

11 ESCHWEGE, Barão d' - Op. cit, p. 29-30.

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O Estado passa à alienação de minas. Porquê? Para além dos problemas que temos vindo a referir, digamos que pairava já a dúvida sobre a rentabilidade das minas sob

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a administração ou exploração por conta do Estado. Competindo à Fábrica das Sedas arcar com as custas necessárias à administração das minas e, como as receitas se mostrassem escassas para fazer face às despesas da Intendência por motivo da Ia. invasão

francesa, com a consequente saída não só da Família Real mas também daquele que tinha sido o seu organizador e protector, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, acompanhado por Tomás António Vilanova Portugal, produziu-se um vazio no cofre das minas e metais, uma vez que os fornecimentos de seda para a Casa Real, ao deixarem de se efectuar, impediram a Intendência dos meios necessários para continuar. É nesse sentido que a Direcção da Fábrica das Sedas, em "Reprezentação de 8 de Janeiro de 1808" dirigida ao Príncipe Regente, acaba por defender a entrega da exploração mineira a particulares desde que não se descurassem os interesses do Estado. Como achamos relevante esta questão do monopólio estatal para a compreensão da lei de 1836, transcrevemos :

O trabalho das minas em Portugal foi sempre ruinozo, e o seu estado hoje he deplorável. O Governo querendo tomar a si este ramo, estabeleceo por alvará ...huma lntendencia(...)0 Inspector do Erário, que foi Creador da Empreza, fez sahir delle as primeiras sommas necessárias ao seu estabelecimento, e mantença, mas o seu Sucessor Luis de Vasconcelos, conhecendo o mao estado do negocio quiz acaba-lo, e

Cap. 2, "Do alvará de 4 de Julho de 1825 à criação da primeira companhia mineira de carvão".

"Tendo encarregado a Administração das Minas do Reino à Direcção da Fabrica das Sedas e mandado estabelecer um cofre com a importância do que nestes dois annos de mil oitocentos e quatro e mil oitocentos e cinco, vender a mesma fabrica para a Minha Coza ReaT\ Decreto de 4 de Maio de 1804. JOYCE, Pedro - Op. cit., p. 2. O tempo estabelecido foi prorrogado por mais quatro anos pelo Decreto de 30 de Junho de 1806.

cuidou conseguilo, negando-lhe todo o socorro do Erario(...)Parece indispensável cometer este trabalho a particulares, conciliando os seu interesses com os do Estado. Havia pretendentes a isso(...).

Ora, temos de concordar que, não sendo positivos os resultados da lavra das minas por conta do Estado, se reclame a liberalização do sector, o que aliás se admitiu também numa "Portaria da Regência de 24 de Abril de 1821" que, ao determinar um "exame sobre todas as minas que pertencem à Nação", considerava a possibilidade de arrendamento, "...examinar qual convirá mais, se o arrendamento, e quais as Condições para huma e outra

i »146

hypotese .

Em 1826 continuávamos ainda a assistir à problemática sobre o carácter da exploração mineira, isto é, se deviam as minas ser exploradas por conta do Estado ou por meio de companhias particulares. Nesse sentido defendia-se:

As minas que o Estado explorava - devião continuar a ser exploradas pelo Estado, a fim de que servissem de escola de mineiros (...) - Todas as demais minas, porém, devião ser exploradas e lavradas por

149 companhias particulares, sob a inspecção e fiscalização da Intendência Geral respectiva.

Aliás, já antes, em 1824,' aquando da nomeação do Barão d'Eschwege para o cargo de Intendente Geral, se passou a defender a exploração das minas por particulares, "O Intendente procurará para que com preferência, as Minas de novo descobertas, de quaesquer

Idem, Ibidem, p. 76.

Relatório abreviado sobre o estado actual das minas de Portugal pelo Barão d'Eschwege. Lisboa: S.n., 1836. Cit. por RIBEIRO, José Silvestre. A Intendência Geral das Minas e Metaes do Reino. Resoluções do Conselho de Estado. Vol XV. p. 279.

Vide nota 15, Cap. 2 ( Sobre a Escola Prática de Mineiros ...), p.l 19. Cit. RIBEIRO, José Silvestre - Op. cit., p. 279.

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que forem, sejão trabalhadas por Companhias ou por Particulares", o que nos demonstra o estado caótico que caracterizava esta indústria.

O novo intendente, Barão de d'Eschwege, defendia a fiscalização pelo governo para que não se assistisse ao exemplo das minas de S. Pedro da Cova que, ao serem arrendadas, permitiam que os trabalhos de lavra corresssem o risco de se fazerem à revelia das normas exigidas pela montanística, para além dos prejuízos que advinham da situação abstencionista a que o governo se votava. E não se coibiu mesmo de apresentar um projecto de regimento mineiro sobre o qual nunca foi feito qualquer observação.

A explicação não pode ser atribuída, unicamente, à incúria ou ao desleixo da Administração da Intendência, como se faz por vezes crer, mas a toda a conjuntura política e social vivida a partir das invasões francesas, onde a instabilidade governativa

durante a quase Ia metade do século XIX, com implicações em todos os sectores da vida

económica, impedia o natural consolidar dos projectos económicos. Evidentemente que não queremos desculpar os resultados negativos a que a lavra das minas por conta do Estado chegou depois de trinta e quatro anos sob a sua directa responsabilidade. Apenas tentamos perceber que não podemos aceitar, pacificamente, as razões que, por vezes, são aduzidas por indivíduos que de uma forma ou de outra, foram, também autores ou co- autores nesta matéria.

Com serenidade política, sem as convulsões militares e político-partidárias que feriram toda a primeira metade do século de oitocentos, estamos convencidos que os resultados, mesmo com a legislação referida, que mais não era do que um conjunto de intenções, porque sem regulamentação adequada, poderiam ter atingido níveis diferentes

de exploração mineira. De certeza, salientamos os permanentes atritos entre as administrações da Intendência e a Direcção da Fábrica das Sedas que em 1824 teceu as mais duras críticas, não só ao administrador actual, mas também a toda a administração anterior. Ninguém escapou. Acusados, eram de imediato os dois anteriores administradores, Bonifácio de Andrade e Alexandre Vandelli, de nunca terem cumprido as determinações do Decreto de 4 de Maio de 1804 nem quaisquer outras que se lhe seguiram "á cerca da dita Administração, persistindo sempre em administrallas como elles querido...sem nunca darem contas". E, do mesmo, era agora acusado o novo administrador a quem refutavam a acusação de ter a Intendência das Minas ficado "de mãos atadas por causa da authoridade que esta Direcção tem querido exercer e procurava de extender sobre ellas que o seu

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antecessor e depois o ajudante...experimentarão impedimentos e opposições deste lado1'. Na

mesma "consulta", podemos testemunhar as más relações existentes entre os dois organismos, pelo que a par de factores externos há, assim, os internos, uns e outros responsáveis pelo atraso mineiro desta primeira metade do século. Façamos uma pequena ideia desse relacionamento:

Consulta de 3 de Novembro de 1824 dirigida ao Rei, D. João VI, pela Direcção da Fábrica das Sedas, onde, entre várias queixas e acusações sobre as administrações passadas, acusa veementemente o novo Intendente, o Barão d' Eschwege, por não lhe apresentar as contas do organismo a que preside

e continuar a recusá-lo fazer, conforme o Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Reyno de 7 de Agosto de 1824, organismo de quem passou a depender a administração mineira: "...Ordenou Vossa Magestade ao dito Intendente, que no fim de cada trez mezes desse as suas contas nesta Direcção á qual ...havia por bem incumbir desta fiscalização". JOYCE, Pedro - Op. cit. p. 91. Refira-se que por um diploma de 21 de Julho de 1824, a administração das Minas deixou de estar dependente da Direcção da Real Fábrica das Sedas e Obras das Águas Livres e transitou para a Secretaria dos Negócios do Reino. Guilherme Barão d'Eschwege.

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Não basta ser mentiroso para falar assim, he necessário também ser imprudente. O Intendente passado e o seu digno Ajudante sempre tiveram soltas as mãos e os pez na Administração e manejo das Minas: forâo eles os que, sem nunca fazerem caso dos Decretos de Vossa Magestade e Ordens do Governo, redizirão esta Direcção a uma perfeita nullidade; abrirão as mãos, e as algibeiras para receber mais de tresentos mil cruzados que forão levados dos cofres desta Direcção até o anno de 1819: guardarão os rendimentos das minas de que nunca deram contas, e, se as davão, que apareção elas. Até que o Intendente passado quando o Governo o apertava pelas contas, abalou para o Brazil, com o favor dos seus amigos.

N a sequência d o interregno liberal e m 1828, o i n t e n d e n t e , Barão d'Eschewge, foi d e m i t i d o , sem q u e se conseguisse n o t a r q u a l q u e r sinal n o restabelecimento da indústria mineira.

O q u e restava desta indústria ia paralisando. A falta de gente competente, a carência d e meios financeiros, já q u e a "Companhia de Carvão1' se atrasava n o s p a g a m e n t o s ,

a demissão de empregados q u e n ã o m o s t r a r a m simpatias pelo administrador q u e fora responsável pelo fabrico de projecteis n a fábrica d e ferro para os exércitos de D . Miguel e a c o n s e q u e n t e substituição p o r empregados "que nada entendiãon, fizeram com que o Barão

d'Eschwege, regresssado à I n t e n d ê n c i a em 1835, apresentasse a demissão:

... e visto que todas as minhas representações ficarão sem serem arttendidas, e mesmo sem resposta a memoria extensa, e o novo projecto da lei das Minas que em Maio de 1835 enviei á Secretaria de estado dos Negócios do Reino ( onde actualmente dizem que não se acha), julguei então impróprio continuar a ser chefe de huma Administração moribunda, e não desejando que ella morresse nos meus braços, pedi alguns

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mezes depois da minha entrada nella, a minha demissão.

Referência a J. Bonifácio de Andrade e ao seu Sucessor Alexandre Vandelli.

No documento O carvão numa economia nacional (páginas 50-72)