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Pessoas que vivem unicamente dos rendimentos 69

No documento O carvão numa economia nacional (páginas 161-170)

Trabalhos domésticos

39.297

Improdutivos

114.251

Fonte: Censo de 1911 - (cit. por JUNIOR, M. R. - Op. cit. p. 48.)

estes das minas de combustíveis), dizem respeito às minas em lavra activa, uma vez que se considerássemos os operários que trabalhavam em pesquisas e outros "trabalhos de minas que estão em processo de concessão, o número total elevar-se-ía a mais de 12.000". (Op. cit.)

18 ,

A INDÚSTRIA MINEIRA NA RIQUEZA NACIONAL 161

A indústria mineira, quando comparada com os outros sectores de actividade, não desempenhava um lugar de relevo no cômputo da economia nacional. Dos dados fornecidos pelo censo de 1911, conclui-se que a população mineira "representava 0,15% da população total do país, 0,39% da população ocupada na indústria em geral, e 0,63% da que se

entrega a trabalhos agrícolas""9 Importante, sim, apenas porque num país com dificuldades

de industrialização.

E já que falamos desta questão, perfilhamos das achegas que têm sido dadas por autores mais recentes na explicação do atraso industrial do país na segunda metade do século passado. Destacamos Jaime Reis'5' para quem "há factores importantes do atraso

económico português que até aqui têm sido despreZados(...). São eles a dotação de recursos naturais,

a dimensão da economia, a sua localização geográfica e a configuração do mercado internacional»™ Uma explicação mais cabal começa, de facto, a ganhar consistência quando se confrontam várias "teses", que Jaime Reis considera quando postas em coexistência.

Para explicar este fracasso têm sido apresentadas (...)•• D a perda das colónias, a devastação causada pelas invasões napoleónicas e a agitação provocada pelas guerras civis no início do século; 2) a concorrência estrangeira resultante de barreiras alfandegárias baixas; 3) um mercado interno de pequenas dimensões baseado numa economia agrária atrasada; 4) uma burguesia débil e dividida e, como tal,

149

Idem. Ibidem.

150 Cfr. CABRAL, Manuel Villaverde - Op. cit. p. 51-58 e 87-94.

151 REIS, Jaime - A industrialização num país de desenvolvimento e tardio: Portugal, 1870-1913. Análise

Social, Vol. XXIII, n° 969. 1987-2°, p. 207-227. Vide Os limites do Crescimento Industrial. Op. cit., p. 217.

152 J. REIS, Jaime - O atraso económico português em perspectiva histórica: 1860 -1913. Análise Social,

concorrência incapaz de promover os seus interesses ao nível do Estado;5) uma escassez de capital, em geral,

153

e, particularmente, para fins industriais; 6) a deficiência de ensino ao nível elementar e técnico.

E m b o r a a discussão sobre este p r o b l e m a d a industrialização n a segunda m e t a d e d o século XIX se m a n t e n h a , fazendo u n s , a defesa da existência de u m desenvolvimento

154

industrial t e n d o e m c o n t a a i m p o r t a ç ã o de matérias-primas e m a q u i n a n a , e outros, a

155 . . i

defesa de q u e a agricultura foi o sector mais d i n â m i c o d a economia, assistindo-se m e s m o a u m a "desindustrialização"^ u m factor c o n t i n u a a ser relevante nesta discussão sobre a história d o "industrialismo" n a segunda m e t a d e de século - o livre-câmbio q u e , desde 52, ao ser estabelecido, impediu, o u pelo m e n o s dificultou, o crescimento da burguesia industrial:

O livre-câmbio veio impedir o pleno desenvolvimento do capitalismo industrial. Surgiu assim uma sociedade capitalista «subdesenvolvida» e dependente do capitalismo estrangeiro, sobretudo britânico. Desprovida de meios para defender da concorrência estrangeira a economia nacional no seu conjunto, a classe dirigente cede cada vez mais às pressões externas de estabelecimento de direitos preferenciais para produtos

157

industriais estrangeiros.

153 REIS, Jaime - O Atraso Económico Português em perspectiva histórica: 1860-1913. Análise Social,

Vol.XX, n° 80. (1984) - Io, p.7-28; MÓNICA, Maria Filomena - Capitalistas e Industriais:1870-1914.

Análise Social. Vol. XXIII, n°99, (1987)-5°, p. 819-863.

154 CABRAL, Manuel Villaverde - O Desenvolvimento em Portugal no séc.XIX. Porto: S.n., 1976. Idem -

Portugal na alvorada do século XX. Lisboa: Editorial Presença, 1979.

155 PEREIRA, Miriam Halpen - Um crescimento Agrícola sem Industrialização. Política e Economia,

Portugal nos séculos XIX e XX. Lisboa: Livros Horizonte, 1980. Idem. Ibidem, p.71-72.

A INDÚSTRIA MINEIRA NA RIQUEZA NACIONAL 163

Não podemos deixar de considerar as achegas de todos'58 quantos têm contribuído

para a clarificação das «teses clássicas" que atribuem o nosso atraso industrial, desde meados do século passado a princípios do nosso, à pauta de 52, tida como responsável pela instituição do livre-cambismo. Em todos estes autores é manifesto um certo «pudor" e mesmo recusa em aceitar a «tese da dependência" em absoluto, defendendo a ideia de que nunca deixou de se verificar proteccionismo com o regime aduaneiro de 52. As razões terão de ser encontradas num conjunto de factores e não na sobrevalorização livre-cambista. Jaime Reis,

citando Paul Bairoch,'59 dá-nos a conhecer que «tanto em 1875 como em 1895, as tarifas

160

portuguesas sobre certas manufacturas significativas eram das mais altas da Europa."

Continuávamos a não marcar presença no panorama mineiro nacional, não obstante o seu franco desenvolvimento quando comparado com os dados de meados do

século passado. Esta evolução, que se não traduzia num acréscimo significativo ao produto

interno bruto, criava em Azeredo Perdigão,'6' nos princípios do século, uma convicção,

8 Entre outros, destacamos: REIS, Jaime - O atraso económico português em perspectiva histórica: 1860 -

1913. Análise Social. Vol. XX, n° 80, (1984) .1°. p. 7-28; A industrialização num país de desenvolvimento lento e tardio: Portugal, 1870-1913. Análise Social, Vol. XXIII, n°96, (1987>2°. p. 207- 227; LAINS, Pedro - O proteccionismo em Portugal 1842 - 1913: um caso mal sucedido de industrialização «concorrencial". Análise Social, Vol. XXIII, n° 97. (1987)-3°.p. 481-503; Exportações portuguesas, 1850-1913: a tese da dependência revisitada. Análise Social Vol. XXII, n°91. (1986) - 2o. p.

381-419. JUSTINO, David - A Formação do Espaço Económico Nacional, Portugal 1810-1913, dissertação de doutoramento apresentada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. 1986; BONIFÁCIO, Fátima - 1834-1842: a Inglaterra perante a evolução política portuguesa. Análise Social. Vol. XX. n.° 83. p. 467-488.

BAIROCH, Paul - Commerce Extérieur et Dévellopement Économique, p. 80. REIS, Jaime - O atraso Económico português... Op. cit. p. 12-13.

REIS, Jaime - O atraso económico..., p. 12. PERDIGÃO, J. A. - Op. cit. p. 19.

159

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quiçá demasiado optimisma, não obstante reconhecer os problemas que há muito se ventilavam:

o nosso subsolo é riquíssimo e se presta a alimentar grandes indústrias. Hoje, infelizmente, a maior parte desses filões encontra-se por explorar em virtude do retraimento dos capitais, da ausência de linhas

162.

férreas próximas e de especulações de toda a ordem, não só de nacionais mas também de estrangeiros.

Era essa, também, alguns anos antes, a ideia do nosso "Portugal mineiro":

Portugal possue uma immensa e valiosa riqueza mineira de que só, ha relativamente pouco tempo, se procura fazer a exploração regular (...) A exploração mineira do paiz podia tomar maior incremento se não fosse a difficuldade de transportes, por falta de vias de communicação accesstveis, nos portos onde existem os maiores e mais importantes jazigos mineiros, e a falta de capitães, que se arreceiam de se abalançar a

163 emprezas arriscadas e aleatórias, como, em geral, são as que se ligam a negócios de minas.

O maior ou menor optimismo com que se encarava a riqueza mineira esteve sempre na razão directa das nossas crises económicas, exaltando-se sempre que o nosso nacionalismo era ferido, uma vez que éramos obrigados a olhar, por necessidade, para dentro do país. E se em 1916, Azeredo Perdigão afirmava que "muito podemos esperar da exploração dos nossos jazigos...contribuindo assim para resolver um dos aspectos mais difíceis do

nosso problema económico\m cinquenta anos depois, as minas apresentavam-se, mais uma

vez, como recurso sempre optimista para a crise económica que o país atravessava:

Idem. Ibidem, p. 18.

163 Catálolo official da Secção Portuguesa, Exposição Nacional do Rio de Janeiro. Lisboa: Typ " A

Editora", 1906. p. 320.

164

A INDÚSTRIA MINEIRA NA RIQUEZA NACIONAL

165

No período que o País atravessa, com milhares de sentinelas destacadas a defender as fronteiras das províncias ultramarinas/65 a Nação precisa de fazer apelo a todos os seus recursos. Os que saem da

indústria extractiva já são relevantes, mas podem ser muito ampliados se a este sector se der um vigoroso 166

impulso. Não devemos, por isso, adiar esta oportunidade de robustecer a nossa economia.

Não bastava a um país ter minérios para se considerar rico. Pior ainda se acreditava, mais por optimismo e por necessidade do que por estudos efectuados,'67 nessa

riqueza. Os lucros que as minas podiam proporcionar dependiam de muitos factores, não sendo a sua pobreza ou riqueza, por si só determinantes. Os mercados externos, para um país como o nosso que não tratava os minérios e porque não era o que se pode chamar industrializado, eram sempre responsáveis pela maior ou menor procura, variando em função desta o próprio desenvolvimento mineiro. Assim se compreende que em épocas de conflito armado, como as que decorrem da Ia e 2a Guerras Mundiais e depois com a da

5 Referência à guerra colonial travada nas -províncias ultramarinas" de Angola, Moçambique e Guiné

entre 61/74.

16 Intervenção do deputado Eng.° Pereira e Cruz na sessão da Assembleia Nacional de 14.1.1965. As

indústrias Extractivas Na Assembleia Nacional, Aviso prévio/Debate/Conclusões. Op. cit. p.100. Diário das Sessões n.° 173 de 14. 1. 1965.

" Em 1965, continuava a aceitar-se a tese de que o nosso país deveria ser efectivamente rico em minérios, quanto mais não fosse, pelo facto de que "A certeza de que Portugal não é um país de subsolo rico não foi ainda demonstrada por falta de elementos de estudo e prospecção mineira" - intervenção do deputado

Santos Cunha na sessão da A. Nacional de 15.1.65. As Indústrias Extractivas na Assembleia Nacional...,Op. cit. p. 114. A acreditarmos na voz do regime, concluios que não se tinha ainda verdadeiro

conhecimento das nossas potencialidades mineiras. "A afirmação longínqua de que o subsolo português, pelo menos na parte metropolitana, é pobre, não pode nem deve aceitar-se (...). E não pode, nem deve

aceitar-se, primeiro porque não conhecemos, de facto, em toda a sua extensão e profundidade...todos os valores ocultos que possuímos", intervenção do deputado Gamboa de Vasconcelos em 20. 1. 65. Op. cit. p. 162. O autor defendia que mais do que a pobreza real, há que encontrar a pobreza na técnica rudimentar e no pouco interesse "co/n que temos olhado e servido semelhante património"(Op. cit. p.

Coreia (51-52), tenha a nossa produção mineira atingido "picos" elevados de produção, . 168

embora nem todos os minérios tenham influído da mesma forma, pois a procura, em circunstâncias de conflito armado, torna-se bastante mais "selectiva" em função das necessidades específicas que uma conjuntura militar acarreta. Assim, por exemplo, o período da segunda guerra mundial é particularmente marcado pela incremento da produção do volfrâmio e do estanho, embora este em menor escala, seguido do carvão, não

que nos fosse procurado pelos mercados externos, mas antes pela necessidade surgida com as dificuldades da sua importação. O ferro, só a partir da década de 50, é que merece ser considerado no âmbito da mineração contemporânea. Os gráficos n°s 5, 6, 7, 8 e 9 sao exemplos do que acabamos de afirmar.

68 A título de exemplo referimos que no período das duas guerras mundiais as minas de cobre de Aljustrel

foram seriamente abaladas, tendo quase paralisado durante a 2." devido ao enceramento dos mercados externos e às dificuldades de transporte internacional, bem como à concorrência de outras minas, como as espanholas, nos mercados britânicos, para além do abastecimento proveniente das minas de S. Domingos. A situação trouxe como consequência o desemprego de 1548 empregados. A crise desta empresa fora já sentida por volta da 1" Guerra Mundial, impossibilitada da exportação por causa da guerra. Cfr. GUIMARÃES, Paulo - Op. cit. p. 59-69.

69 Ministério da Economia, Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro, Vol.XIII - Fases.

3-4, 1959. Não pretendemos, de modo algum, relegar para segundo plano a importância que tivemos nas ferrarias, até porque desde os primórdios da nação estivemos ligados à arte mineira e metalúrgica, nomeadamente com o cobre, o ouro, o ferro e o estanho. A afirmação tem fundamentalmente a ver com "o apatia perante os jazigos de ferro" em que nos encontrávamos em meados do nosso século, de que as razões mais importantes "hão-de relacionar-se com os seguintes factos: inferior qualidade dos minérios; Má situação dos principais jazigos; Insuficiência de bons carvões e de energia hidroeléctrica; Insuficiente nível industrial dopais". (Op. cit. p. 97).

170

A INDÚSTRIA MINEIRA NA RIQUEZA NACIONAL 167

Gráfico n ° 5

Produção e valor do volfrâmio: 1939-1945

100 90 - 80 -I 70 60

V O L F R Â M I O

VALORES CUMULADOS 5 000

r'

/ / ( -\—Í—J- / / / / / " • / « PRODUÇÃO DE CONCENTRADOS VALOR À BOCA DA MINA

4P00

3 000

1000

| I ["-■■

Fonte: Ministério da Economia, Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro, Vol.Xm ­ Fases. 3­4, 1959.

90 -

Gráfico n ° 6

Produção e valor do estanho a partir de 1939

100

E S T A N H O

V A L O R E S C U M U L A D O S . 2000 SO 70 60 -

y

/

y

y

y

/

V

50 - / 1000 40 30 20 / / / / / PRODUÇÃO DE CONCENTRADOS VALOR À BOCA DA MINA

Fonte: Ministério da Economia, Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento

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Gráfico IIo 7

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