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95 são capazes, e em que ja estiveram em tempo dos antigos reis Meus Predecessores

No documento O carvão numa economia nacional (páginas 41-48)

1 2 DA CRIAÇÃO DA INTENDÊNCIA GERAL DAS MINAS E METAES DO REINO AO DECRETO DE 25 DE NOVEMBRO

95 são capazes, e em que ja estiveram em tempo dos antigos reis Meus Predecessores

D e facto, n ã o t e m o s dúvidas q u a n t o aos objectivos d o governo, t o m a n d o c o m o referência o estado de a b a n d o n o em q u e se e n c o n t r a v a m as minas. Neste sentido, o

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Ibidem.

Carta Régia de 18 de Maio de 1801. 96

Em 1779, aquando da criação da Academia das Ciências, as minas viviam, de facto, uma situação crítica: "todas as providências reais sobre elas eram dadas em separado, sem continuidade, não havia

norma administrativa, nem direcção técnica, nem mesmo estudo científico'''. Luis de Menezes Acciaiuoli

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governo começa por revelar um interesse particular pela sua administração e uma grande preocupação com os conhecimentos necessários a esta actividade, nomeando, para o efeito, uma personalidade a quem reconhecia as capacidades necessárias:

... E tendo igualmente em consideração, que o Bacharel em Leis, e Filosofia José Bonifacio de Andrade ... viajou por ordem, e escolha da Rainha Minha Senhora e Mãi, pela maior parte dos paizes da Europa, por espaço de dez annos, e visitou todos os seus Estabelecimentos montanisticos, e metallurgicos, instruindo-se assim theorica, como praticamente em todos so seus respectivos trabalhos ... como também na administração publica, e economia particular dos mesmos, voltando a Portugal com todas as luzes e conhecimentos necessários e próprios...

José Bonifáco de Andrade tornava-se não só intendente geral, "Que o mesmo ... seja um hum dos Membros do dito novo Estabellecimento, com o cargo, e Titulo de Intendente Geral das Minas e Metaes do Reino", como era ainda nomeado para a direcção e administração das "Minas e Fundições de Ferro de Figueiró dos Vinhos... assim como da abertura das de Carvão de

Pedra".98

A oito de Julho de 1801, o Presidente do Real Erário, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, vinha a ser nomeado inspector geral das minas, "Que o Presidente do Real Erário...tenha daqui por diante a Suprema Inspecção sobre todas as Minas, e Metaes do Reino" e José Bonifácio de Andrade, investido já como Intendente Geral das Minas, era cumulado com a direcção de todas as minas, incluindo a administração da mina de carvão de pedra de Buarcos: "Que ao Intendente Geral das Minas, e Metaes do Reino pertença a immediata Direcção de semelhantes objectos... que desde já entre na Administração da Mina de Carvão de

Ciências, em sessão de 16 de Junho de 1949 - Tomo V, 1950.

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Carta Régia de 18 de Maio de 1801. Op. cit.

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Pedra de Buarcos...". A nomeação de Bonifácio de Andrade parece estar relacionada com a morte do Tenente Bartolomeu da Costa, que dirigia a mina, circunstância também aproveitada para que o Presidente do Real Erário, Conde de Linhares, passasse a ser o "senhor absoluto de todos os negócios mineiros".

O Alvará de 30 de Janeiro de 1802 que regulamentou o funcionamento da própria Intendência, talvez bem mais do que a própria indústria mineira, refere que se tivesse havido "hum melhor sistema de Administração,...maior es luzes, melhor direcção, e economia...", não se teriam parado os trabalhos das Minas e Ferrarias de Figueiró dos Vinhos no ano de

1759.

As minas encontravam-se, na verdade, num estado de abandono total. As razões prendem-se com a nossa própria história. "A memória dos homens é curta" e, nesta perspectiva, temos de ir mais longe procurar na imensa noite do tempo histórico as razões estruturais de tal estagnação.

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PORTUGAL. Leis, Decretos, etc. Decreto de 8 de Julho de 1801.

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CARVALHO, J. Silva - Apontamentos sobre Minas de Portugal. O Pejão, Ano VIII, n° 86, (Out. 1955). p. 7

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Cremos que M. Rodrigues Júnior, Op. cit., p. 113, por lapso, se enganou ao apresentar o Alvará de 1802, "organizou a lavra do Estado" com a data de 18 de Maio, quando, na verdade, se trata do Alvará de 30 de Janeiro. A data de 18 de Maio prende-se com a Carta Régia de 18 de Maio de 1801 dirigida pelo Príncipe Regente ao Bispo-Conde D. Francisco Lemos de Faria Pereira Coutinho, Bispo Reitor e Reformador da Universidade de Coimbra que cria a Intendência, consoante já referimos. Possível lapso é, também, a referência à nomeação de J. B. de Andrade para a Int. Geral de Minas em 1802, na pág. 6, Op. cit., quando, na realidade, o foi pela Carta Régia de 1801, "Que o bacharel em leis (... ) seja seja um dos membros...com o cargo e título de Intendente Geral das Minas e Metaes do Reino". Carta Régia de 1801.

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Se nos primeiros séculos é conhecida a mineração e nas épocas posteriores a legislação mineira nos dá sinais de continuidade e até mesmo de algum desenvolvimento, nunca foram as minas uma actividade marcante na nossa estrutura económica. A exploração mineira foi sempre irregular, variando ao som das conjunturas sem nunca se tornar consistente. A história predestinara-nos "outros mundos". Da euforia marroquina aos oiros da África, do comércio do Oriente às riquezas brasileiras, tudo nos foi impedindo um olhar atento sobre o território nacional, de modo a que não só das terras mas também das indústrias nos fossemos esquecendo.

Nos princípios do século XIX, Acúrcio das Neves responsabilizava as minas do Brasil pela estagnação mineira e, permitindo-se apresentar este sector como uma oportunidade para revitalizar a economia, alvitrava:

Por toda a parte onde se têm descoberto as veias metálicas, nas partes mais agrestes das cordilheiras, e nas campinas mais desertas e solitárias, a lavra das minas, bem longe de prejudicar á cultura da terra, a tem singularmente favorecido.

A primeira tentativa jurídica para o fomento mineiro do século XIX surgiu então com a publicação do Alvará de 30 de Janeiro de 1802 que regulava o funcionamento da Intendência e sobretudo chamava à sua responsabilidade tudo o que se relacionasse com minas. A o Intendente Geral, o alvará conferia poderes quase magestáticos:

ALLAN, John C. e outros - A mineração em Portugal na Antiguidade. Boletim de Minas. Vol. 2, n° 3 (Jul/Set. 1965). p. 139-175..

NEVES, Acúrsio - Variedades, sobre Objectos Relativos ás Artes, Commercio, e Manufacturas, Consideradas segundo os Princípios da Economia Politica citado por SERRÃO, Joaquim Veríssimo - História de Portugal. Vol. VII. Lisboa: Editorial Verbo, p. 297.

O Intendente Geral ( além de possuir todos os conhecimentos práticos Metalúrgicos, deverá ser sempre graduado em Filosofia e Leis) terá Jurisdição Privativa, Económica, Policial, Civel e Criminal em todas as matérias, causas e crimes cometidos, que tiverem relação necessária com a Concessão, Registo, Administração e Policia das Minas, Fundições e Fábricas Minerais, tanto Reais como das Companhias que houvessem de formar-se.

O Estado chamava a si, através da Intendência Geral, tudo o que respeitasse a minas. Sob a direcção de José Bonifácio, foram iniciadas em todas as regiões do país explorações mineiras de ferro, carvão, antimónio e chumbo, tendo-se restaurado, como dissemos já, as ferrarias da Foz do Alge, conhecidas como minas de Figueiró, ao mesmo tempo que se incrementava "com bastante actividade" as minas de Carvão de Buarcos (Cabo Mondego) e S. Pedro da Cova.

Nada parecia faltar à Intendência para que se iniciasse uma verdadeira revolução no sector mineiro, sendo de admirar por que é que em 1832 se encontravam as minas totalmente paradas, a que segue a sua extinção em 1836. De facto, o Alvará de 30 de Janeiro de 1802 não esquecia nada que pudesse, aparentemente, pôr em causa o sucesso da

lavra mineira.

A Intendência tornava-se um verdadeiro organismo estatal e centralizador de tudo quanto dissesse respeito às minas e ferrarias do Reino. Depois de traçar os poderes do

Alvará de 30 de Janeiro de 1802, artigo III, tit I.

Tendo presente a finalidade a que nos propomos neste Io capítulo, uma apreciação e um novo olhar sobre

os artigos que se debruçam sobre a matéria da propriedade e da concessão de minas e, por conseguinte, sobre a legislação, salientamos que o alvará, embora considerando " como direito subsidiário o Direito Público Metálico da Alemanha " e enquanto não se criasse regulamentação adequada, determinava que se procedesse conforme a legislação em vigor.

Diário das Sessões, Op. cit.

"Em 1832 apenas subsistem, e com vida inglória, as ferrarias da Foz do Alge, e as explorações da adiça edeS. Pedro da Cova. Em 1836 aparalização é completa", Vide JÚNIOR, J. R. - Op. cit., p. 9.

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Intendente, de quem as minas passavam a depender na sua totalidade, e de referir as funções atribuídas ao Inspector Geral de todas as minas, cargo inerente ao Presidente do Real Erário, o Alvará, podemos considerar, contemplava todos os parâmetros para que a lavra das minas, sob a administração directa do Estado, granjeasse melhores resultados do que os verificados meia dúzia de anos depois.

Nada, como dissemos, faltava. Desde as preocupações com o estudo dos jazigos de minérios ao pagamento dos salários dos "indivíduos empregados nas ditas Minas e Ferrarias"; do interesse pelas "Madeiras, Lenhas e Carvão", matérias sem as quais aem abastança não

poderão as Ferrarias trabalhar aturadamente" ao estudo "da natureza mineral dos terrenos"; das vias de comunicação "assim como os caminhos e meios de condução ...e o preço dos transportes" à situação dos operários e suas famílias para o que foi criada a "Arca de Piedade, ou Caixa Pia de Esmolas e Pensões", no sentido de acudir a todos os "que por inválidos, ou justamente

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inhabilitados não puderem mais servir neste Estabelecimento; e de suas Viuvas e Órfãos". E ainda, sem pretendermos fazer uma análise detalhada deste organismo, não nos podemos esquecer da relevância atribuída ao inspector de minas que tinha não só funções de fiscalização sobre as minas que "visitará e descerá a todas as minas do seu districto ao menos huma vez cada quinze dias", mas que também deveria "lavrar as Minas segundo as Regras da Arte, e Economia Montanística", obrigando-se a fazer mapas mensais e trimestrais de "Receita e Despeza Pecuniária, e de Entrada e Sahida Material". De entre as suas competências, julgamos ainda oportuno salientar o poder de mandar trabalhar para além do horário estabelecido para que nunca "falte o Mineral preciso ao consumo das ditas Fabricas; e não

Alvará de 30 de Janeiro de 1802, TITULO XII. Ibidem, Titulo VI.

cesse o trabalho regular e sucessivo das Fundições e Officinas; nem possão as Minas, pelo seu abandono temporário, deteriorar-se ou arruinar-se de todo". Interessante, pelo facto de nos evidenciar já uma preocupação pelas matérias-primas necessárias às indústrias.

Por último e depois de considerar as atribuições dos Mestres Mineiros a quem era assacada a responsabilidade de dirigir as diversas "Tarefas e Empreitadas... com intelligencia e actividade" nas suas respetivas áreas, o Alvará não descurava os trabalhadores mineiros que incentivava através de um conjunto de benefícios, aliás, também extensivos às respectivas famílias. Para além da Caixa da Piedade, cujo fundo deveria ser constituído pelas quotas dos operários, multas e um subsídio anual dado pela Caixa da Arrecadação e Economia Geral, não faltaram as dispensas de obrigação de serviço militar, mesmo em tempo de guerra, como não podiam ser presos, a não ser com o consentimento do Intendente Geral ou em flagrante delito, dispondo ainda da garantia de não poderem ser despedidos: "Ordeno...que não possão ser tirados dos seus Empregos e Occupações".

Concluindo: "O Alvará era um repositório de doutrina e de bons preceitos para as coveniencias florestáes, ligadas com a laboração das minas e com as operações metalúrgicas''.

trabalhem o tempo necessário, isto he, doze horas por dia", Titulo XI, Op. cit.

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Ibidem, Título VI. § VII.

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Órgão criado para custear as despesas e investimentos nas ferrarias e minas e ainda contribuir "ao menos com cem mil reis cada ano". Ibidem, TITULO XIII.

112 Ibidem, TITULO XII, § III.

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RIBEIRO, José Silvestre - A Intendência Geral das Minas e Metaes do Reino. Resoluções Do Conselho de Estado, Op. cit. p. 288.

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