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197 como thesouros encerrados para que não havia chave.

No documento O carvão numa economia nacional (páginas 72-84)

esta matéria dissesse respeito:

197 como thesouros encerrados para que não havia chave.

Nesta conformidade, todas as grandes questões mineiras, como a descoberta e a pesquisa, a exploração e a propriedade, passando pelo direito de indemnização ao proprietário da superfície, passaram a merecer a atenção de todos os países europeus, muitos dos quais viriam a ser influenciados por essa lei de 1810.

As razões que decorriam do princípio da utilidade pública tornavam-se, assim, o fundamento jurídico dos Estados, ao reservarem para si o direito de disporem da propriedade das minas. Foi o que se passou em Portugal e na maior parte dos países europeus. Porém, não obstante esse princípio, a importância capital dessa lei traduzia-se num acto de concessão que instituía uma autêntica propriedade não estatal e, por este motivo, razão determinante para que o concessionário pudesse empreender os investimentos necessários porque lhe era dada a garantia plena da propriedade sobre a mina e de todo o complexo que ela envolvia.

Ibidem, (Set. 1858), p. 228.

Quer em França quer em Portugal, este princípio foi, de resto, uma prática dos monarcas, pois considerando as minas como direito real, sempre as concessões se subordinaram às exigências da utilidade pública.

Substituída a Lei de 32 pelo Decreto de 36 que, defendendo a liberdade de 199

pesquisa, "todos podem fazer pesquizas de Minas sem licença prévia", apresentava já restrições quanto à liberdade de exploração, o que faltava agora, para que este merecesse ser tão contestado aquando da apreciação do seu projecto pela Câmara dos Deputados?

O Decreto de 25 de Novembro de 36, prosseguindo o princípio da acessão estabelecido no decreto de 32, consagrava já algumas clausulas que tentavam impedir os receios das actividades de mineração prejudiciais à riqueza nacional. São evidentes as condições que são impostas aos interessados na lavra, fossem ou não os donos da

f . 202 superfície :

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Art. 3.°

Referimo-nos à discussão do projecto que serviu de base à Lei de Minas de 25 de Julho de 1850. O Projecto de lei de minas teve origem na Proposta de Lei n° 5 - L do governo e foi submetido a discussão na Câmara dos Deputados com o n.° 36. Está publicado no Diário das Sessões do mês de Maio de 1850, tendo a sua discussão ocupado as sessões dos dias 13,14, 15,17,18,20,22 e 24 do respectivo mês. Foi sancionado pela Carta de Lei de 25 de Julho de 1850. Vide Diário do Governo n.° 180 de 1850.

O subsolo era indissociável da superfície e, portanto, pertença do proprietário do solo, tal como consagrava o art.0 17.° da lei de 32. Cfr. p. 67 (nota 223), 70, 71 e 72 deste capítulo.

"Tanto o artigo 17. °, do Decreto de 13 de Agosto, como o pensamento Geral que domina o Decreto de 25 de Novembro, o qual significa já a transição da illimtada liberdade, estabelecida em these, para regras mais estreitas, aceitaram o principio de que as minas eram inhérentes á propriedade e fazia

parte d'ella". Decreto com força de Lei de 31 de Dezembro de 1852..., Op. cit., (Dez. 1857), p. 63. Cfr. Sessões de 14, 18 e20 de Maio, respectivamente p. 180, 193 e218. Diário da Camará dos Deputados, 3." Sessão Ordinária da 3." legislatura. Vol. 4. (Maio 1850). Lisboa: Imprensa Nacional, 1850.

02 A este respeito convém dizer que o Artigo 3.° "a lavra das minas é permitida francamente (...) e na

propriedade particular o é também por convenção com o seu dono, e em conformidade com o capitulo único, Artigo primeiro ...da Constituição Politica da Monorchia", que diz expressamente: "A

Constituição Política da Nação Portuguesa tem por objecto manter a liberdade, segurança propriedade de todos os Portugueses", mostra-nos o quanto a propriedade do subsolo estava ligada à da superfície.

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...apresentando os emprehendedores á Secretaria d'Estado dos Negócios do Reino: 1.° Amostras do mineral que pretendem extrahir...a descrição da Mina(...). 2.° Declaração dos fundos, e as condições da empreza; 3.° Um documento d'aptidâo da pessoa que ha de dirigir o serviço da Mina, para que esta se faça

, 2 0 3 segundo as regras da arte; 4.° Prestação de fiança idónea ao direito estabelecido.

Estes requisitos constituíam, juntamente com o art. 7.°, "satisfeitos os requisitos do Art. l.° e obtida a licença para minar...", uma limitação ao direito da propriedade absoluta

sobre as minas. Só se podia "minar" depois de obtida uma licença, uma espécie de concessão do governo, o que constituía assim um entrave ao direito de propriedade do Art. 17.° da lei de 13 de Agosto de 32, tornando-se o próprio Estado no árbitro das concessões e do prazo para cada mina. As concessões eram, deste modo, reguladas, não se esquecendo a lei de providenciar as indemnizações por danos causados nas propriedades alheias. Os interesses do Estado não eram esquecidos, uma vez que a lei obrigava ao pagamento de 5% do produto extraído. A lei, na tentativa de ressuscitar esta actividade, fazia caducar a concessão se, passados três meses após a demarcação, não se tivessem iniciado os trabalhos, pelo que "será por abandonada, e livre para se prover em outros

pretendentes1'™ E nem as preocupações com o ensino mineiro deixavam de ser

consideradas, pois a própria lei, no art. 15.°, previa a criação de "Escholas de Mineiros" em minas que ao governo mais lhe parecessem adequadas.

Art.°l. Art.° 8.°.

1.4 - O F I M D A L I B E R D A D E I L I M I T A D A D A P R O P R I E D A D E M I N E I R A - D O D E C R E T O D E 2 5 D E N O V E M B R O D E 1 8 3 6 À LEI D E 2 5 D E J U L H O D E 1 8 5 0

Que razões seriam invocadas para a alteração do decreto mineiro em 1850?

Em que medida a Lei de 25 de Julho de 1850 introduz alterações no regime de propriedade, nos direitos sobre a pesquisa e nos que assistem aos descobridores, bem como nas formas de concessão, de forma a incrementar bastante mais a actividade mineira? Que problemas se colocam?

Sabemos que, pelo decreto de 36, as explorações passaram a ser feitas por entidades particulares205 e que, se nesta data, apesar da publicação do decreto de 32, só

existiam em actividade as ferrarias da Foz do Alge, as explorações de ouro da Adiça e de carvão de pedra de S. Pedro da Cova, até 52 instituíram-se 35 concessões, sem que a lavra correspondente fosse significativa.

Referiremos com mais relevância a lei de 50, não obstante ter sido breve no tempo, porque, embora tenha sido substituída pelo Decreto de 31 de Dezembro de 52, este,

. . . . 207

com todas as alterações pontuais, manteve na sua doutnna os princípios essenciais.

As primeiras concessões datam de 1836, considerando-se a concessão da mina de chumbo do Braçal feita em 6 de Agosto do mesmo ano a 1 .a a ser efectuada, já com a Intendência extinta, tendo sido

confirmada a concessão pelo Decreto de 25 de Novembro de 1836. Estatística Mineira: Armo de 1892, p.10.

O Decreto de 25 Novembro de 1836 passava a autorizar a exploração das minas por particulares.

206 ,

JUNIOR, Manuel Rodrigues - Op. cit. p. 9. 207 ,

JUNIOR, Manuel Rodrigues - Op. cit. p. 114.

Em 31 de Dezembro de 1852, é publicado um decreto (regulamentado em 1853) que, refundindo a lei de 1850 e inspirado na lei francesa de 1810 e no direito alemão, vai ser o nosso estatuto mineiro durante quase toda a segunda metade do século XDÍ. Vide JÚNIOR, Manuel Rodrigues - Op. cit. p. 9.

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Sabemos também que, de 1852 a 1874, foram concedidas definitivamente 246 minas,208 pelo

que temos de explicar este progresso, pois, embora a conjuntura política interna e europeia tenha sido favorável, o incremento verificado não teria sido possível sem uma legislação capaz de atrair o interesse e os capitais nacionais e estrangeiros.

A quem pertencia a propriedade das minas pela lei de 1850? De que modo eram os interesses e direitos do proprietário da superfície melhor salvaguardados? Os descobridores passavam a ter mais direitos? Por que meio eram reconhecidas as suas descobertas? Tornavam-se as concessões mais fáceis de adquirir? E o Estado era prejudicado ou, pelo contrário, via os seus direitos salvaguardados?

A aprovação da Lei de 25 de Julho de 1850 não foi pacífica e revelou as preocupações doutrinárias da época. Da análise do que se passou nas sessões em que decorreu a discussão do projecto Lei n.° 36 que lhe deu origem, concluímos que, ao longo de todo esse tempo, o tema mais problemático da conflitualidade doutrinária estabelecida na Câmara, residiu essencialmente nas questões dos direitos de propriedade que envolveram os capítulos III, IV e V, para só depois se evidenciarem outras

preocupações.

As razões manifestadas pelos deputados para a revogação da lei anterior não são tão evidentes como julgamos, a menos que as reduzamos à simples questão do direito de

Idem, Ibidem, p. 27. Cfr. PERY, G.- Geografia estatística geral de Portugal e colónias, p. 172. Com relevância para os Capítulos III, IV, V., "Dos direitos dos descobridores das Minas", "Da concessão das minas", "Dos direitos e obrigações dos proprietários dos terrenos", respectivamente, Sessões de 15, 17,18 e 20 de Maio.

propriedade do subsolo. Em resumo, se a propriedade se dividia em duas - a da superfície e a do subsolo, ou, se pelo contrário, tal não se poderia efectuar e, a ser assim, as duas partes constituiriam direitos do proprietário do solo.

Não podemos deixar de referir a discussão sobre a criação da "Comissão consultiva de Minas" que nos revela as preocupações dos legisladores para com as questões de ordem científica, de modo a que a exploração mineira fosse estimulada pelos conhecimentos técnicos da comunidade académica. Logo na primeira sessão se passou à sua discussão que, embora merecedora de um consenso geral pelo reconhecimento da sua utilidade e necessidade, sofreu a oposição daqueles que entendiam que o seu funcionamento, tal como era defendido, acarretaria imensas despesas, sobretudo com remunerações:

(...) não me opponho pois ás despesas necessárias, a que me opponho é a que se estabeleça uma gratificação ou ordenado permanente aos que nunca hão de sair de Lisboa: e entendo que a Commissão pôde ser composta de Militares e Empregados que tenham soldos ou recebam ordenados do Estado, e que o serviço que não for feito sobre o terreno, não é por incompativel com algum outro. Daqui a pouco se se fizer a Lei das Estradas também se ha de pertender crear outra Commissão com gratificações ou ordenados para aconselhar e coadjuvar o Governo...e as somas que devem ser destinadas para os melhoramentos materiaes

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serão consumidos com o pessoal dessas repartições, vindo a faltar para os jornaes dos operários.

Tivemos já ocasião de afirmar que o decreto de 36 constituía o início da limitação à liberdade absoluta do direito de propriedade consagrado na lei anterior sobre minas, ao condicionar a sua exploração a uma licença do governo, situação que não se verificava para

Sessão de 13 de Maio. Diário da Câmara dos Deputados, 3" Sessão Ordinária da 3." legislatura. Vol. 4. (Abr. 1850). Lisboa: Imprensa Nacional, 1850.

Sessão de 14 de Maio, discussão do Cap. 1.°, intervenção do deputado por "Traz-os-Montes", Ferreira Pontes. Op. cit. p. 138.

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as pesquisas que "todos podem fazer sem licença prévia"™ do governo e mesmo sem a autorização do proprietário da superfície.2'3 Todavia, esta liberdade absoluta de pesquisa em

quaisquer terrenos não era aplicável à exploração, uma vez que a liberdade da lavra em terrenos alheios, para além da dita licença governamental, só seria possível com o consentimento do proprietário, o que contrariava o princípio de liberdade traduzido no Artigo 1.° : "Todas as Minas ... já descobertas e que de novo se vão descobrindo podem ser cultivadas por Emprezas particulares de nacionaes ou estrangeiros para si, seus herdeiros, e sucessores, administradores e cessionários, por tempo de seus contratos, apresentando os emprehendedores (...)". Nos terrenos da Nação a exploração também não era livre, uma vez que só se poderia fazer depois de obtida a concessão do Governo.

Os direitos do proprietário, eram, em parte, diminuídos, na medida em que ele próprio carecia sempre de autorização governativa para iniciar a sua exploração. Por outro lado, todo o indivíduo que quisesse levar a cabo uma exploração num terreno particular, só o poderia fazer depois de obtida a anuência do proprietário, como já referimos. Nesta circunstância, a força do Estado, fosse a que título fosse, mesmo para fazer valer os interesses de utilidade pública e colocar o subsolo nas mãos daqueles que melhores garantias apresentassem para o desenvolvimento das riquezas minerais, não se fazia ainda

, „ 215 sentir efectivamente porque era entravada pela necessidade "de convenção com o seu dono . Apenas se reservava o direito de estabelecer a duração do contrato para a exploração de cada mina e de considerar a autorização caducada se, após três meses de obtida a licença,

212

Art.° 3.°.

213

JÚNIOR, Manuel Rodrigues - Op. cit. p. 113.

214

Idem, Ibidem.

215

não se tivessem iniciado os trabalhos, pelo que se considerava "abandonada e livre" para se confiar a outros pretendentes e sujeitos às mesmas condições. O Decreto de 25 de Agosto

de 36 mantinha o princípio da acessão,2'6 ou seja, as minas continuavam a ser do

proprietário da superfície. Todavia, era apenas um princípio muito teórico, uma vez que na prática, a liberdade de o proprietário da superfície poder dispor delas à sua vontade, estava coartada e sentia-se o peso do Estado. Quando muito, porque não era instituída uma propriedade que pudesse ser comercializada livremente por aquele que a explorava, que não

o dono da superfície.

Bom, na realidade entendemos que se dava já um passo para o progresso mineiro. Tentava-se obviar a algumas das consequências nefastas resultantes da lavra ou da sua entrega a indivíduos e a empresas sem o mínimo de condições,2" não era esquecido o fisco

que arrecadava 5% sobre o produto líquido da exploração^e garantia-se o pagamento dos prejuízos causados na propriedade alheia.2'9 E, nem sequer o Estado era contemplado com

quaisquer direitos ou privilégios de preferência na sua exploração dado ser considerado o

220

responsável pelo estado de abandono a que tinham chegado as minas.

Então o que faltava? Tomamos a liberdade de, não fazendo quaisquer comentários, responder:

216 JÚNIOR, Manuel Rodrigues - Op. cit. p. 113 217 . Art. 1.° 218 Art." 2.° 219 Art." 8 "...pagando-opreviamente."

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Se não tocou logo toda a perfeição não é isso de estranhar, porque vemos pela história que os verdadeiros progressos em cousas d'esta indole nunca se conquistaram de uma vez nem de repente. zzi

mineira arrisca

Boa desculpa! Se pensarmos que o interesse e o investimento na actividade dependem, de entre os muitos factores, da segurança dada ao explorador que sempre capitais avultados, concluimos que não era esta a legislação capaz de atrair quer os capitais nacionais quer os estrangeiros. Não se instituía uma propriedade mineira, no sentido de passar a constituir uma propriedade de direito comum, valorizada pelos investimentos entretanto feitos e passível de ser comercializada como qualquer outra. A propriedade mineira só se vai instituir com a lei de 50 que acaba com as concessões temporárias previstas na lei anterior2" e em que o Estado apenas cedia o seu usufruto

temporário.223 Ora, se a Lei de 36 era já um estatuto mineiro, consagrando princípios por

221 222

Decreto com força de lei... parte histórica. - Op.cií. (Dez 1857).

Art.6.° "As operações das empresas de mineração abrangerão todos os produtos inorgânicos, excepto aqueles que o governo já tiver concedido; findo porém o tempo do contrato, que sobre eles actualmente existe, serão considerados como todos os mais, em estado de serem cultivadas as suas minas por quem

para isso se habilitar".

Se aceitarmos que o Estado cedia o usufruto, por um tempo limitado e arbitrado por si, não se arrogava já, mesmo que tacitamente, no direito de dispor dos bens públicos, como se fosse seu proprietário? A resposta não pode ser, obviamente, dada de imediato, não só porque não é demasiado evidente, mas porque constituiu um dos argumentos usados na sessão de 17 de Maio aquando da discussão dos Capítulos, III "Dos Direitos dos descobridores das Minas" e IV "Da concessão das minas" do projecto n.° 36. Na sequência da intervenção do deputado Silva Cabral (p. 183, Op. cit.) que dissertava sobre a dificuldade em conciliar o direito de propriedade com o direito do Estado sobre Minas, apontando como exemplo a França que, pela lei de 21 de Abril de 1810, conciliou os interesses decorrentes do princípio da utilidade pública com os direitos do proprietário da superfície a quem salvaguardava pela via da indemnização, acabou por concluir que no Decreto de 36 estava subjacente "o domínio eminente do Estado" ao tornar "dependentes do governo as concessões das Minas, ficou restabelecida a única jurisprudência admissível, revogando-se, como se revogou, por aquele ultimo Decreto toda a

que se devia reger a exploração mineira, e teve o condão de "abolir o privilégio que o Estado

se arrogava de laborar as minas",224 a lei de 50, tornava-se, efectivamente, uma lei capaz de

permitir dar o verdadeiro salto, ao criar as condições mais atractivas para este ramo da economia. Não havia qualquer dúvida sobre a necessidade de se reformular a lei de minas. O próprio ministro do reino, o Conde de Tomar, na sessão de 14 de Maio na Câmara dos Deputados, manifestou essa preocupação e alegando que, sendo o país "bastante abundante

em MÍTUXS", com 74 concessões pedidas e de que só 24 foram iniciadas, parte delas numa

situação de quase abandono,225 apontava como causas a falta de legislação adequada.

Entre os factores necessários para a mudança, "elegemos", na Lei de 50, a instituição da propriedade mineira, os direitos dos descobridores, a salvaguarda dos direitos da propriedade e os direitos do Estado.

A propriedade mineira constituiu, sem dúvida, a questão mais acalorada da discussão na Câmara dos Deputados aquando da apreciação do projecto n.° 36 que lhe deu origem. Tudo em nome de se considerar, ou não, o subsolo propriedade distinta da propriedade da superfície e, em caso afirmativo, de constituir um atentado aos direitos de

Na sessão de 18 de Maio, o deputado Pereira de Melo, a propósito das minas de carvão de S. Pedro da Cova e de Buarcos afirmava: "...eu sou um daquelles que entendo que a propriedade das Minas não pode deixar de pertencer ao Estado (...) Eu tenho para mim, e estou inteiramente convencido que o decreto de 25 de Novembro de 1836 revogou o art. 17 do Decreto de 13 de Agosto de 1832 em relação ás Minas; que as Minas são do Estado; e se o nobre Deputado tem alguma duvida nisto, queira olhar para os artigos 13 e 15 desse mesmo Decreto de 25 de Novembro de 1836".

M CABRAL, José Agusto César das Neves - Estatística Mineira: Anno de 1882. Lisboa: S.n., 1886. p. 10 25 Referia como excepção as minas de Buarcos e S. Pedro da Cova, "...apenas ha duas muito importantes

que são de combustível ...das quaes se tem tirado grande vantagem"

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propriedade ao ser desligada do proprietário do solo. O u então, a defesa de que, ao considerar as suas riquezas, "bens da nação", se deveria atribuir a sua propriedade ao Estado, instituição sobre quem deveria recair o direito de concessão, a sua gestão e fiscalização.

Tratava-se de uma luta entre o interesse individual e o interesse público. Aliás, ainda mal a Câmara se tinha reunido para apreciar e votar na generalidade o projecto de lei n.° 36, propôs-se logo que se resolvesse, "se as minas pertencem ao Estado, ou ao proprietário do terreno »™ considerando que o projecto partia "ainda do mesmo principio, que as Minas são propriedade do Estado, e por isso em algumas delias se não respeita como convém a propriedade particular»™ O orador invocava não só o Direito Romano e as leis inglesas,

mas sobretudo o Decreto de 36 "que garante melhor o direito da propriedade, dando mais liberdade ao proprietário, e decretando a indemnisação previa quando seja obrigado a soffrer a expropriação»™ O problema que se colocava era considerasse o proprietário, sem qualquer preferência, "na mesma situação que um estranho».

Sintetizando, e ainda acerca da questão da propriedade, tomamos a liberdade de transcrever uma situação bastante elucidativa de como esta questão se punha:

Observo que alguns Oradores distinctes, preoccupando-se demasiado com o direito individual esquecem o interesse commum, e a razão de utilidade publica.(...) Por ventura quer alguém ainda voltar ao principio absoluto do art. 17.° do Decreto de 13 de Agosto de 1832, que abolindo o direito real...declarou que as Minas eram inhérentes â propriedade, e faziam parte deite, sem fixar uma só regra, sem prever uma só das dificuldades invencíveis.

Ferreira Pontes, deputado, Sessão de 20 de Fevereiro de 1850. Op. cit. p. 129. Idem, Ibidem.

Idem, Ibidem. Idem, Ibidem.

231 Sessão de 18 de Maio, Op. cit. - O deputado Rebelo da Silva faz a defesa do projecto e considera as

minas propriedade do Estado.

227 228 229 230

Defensor intransigente do direito do Estado sobre a propriedade mineira, para

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