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19 mesmos caminhos de ferro os primeiros a sentir.

No documento O carvão numa economia nacional (páginas 123-130)

1 AS MINAS NAS PREOCUPAÇÕES DO LIBERALISMO

19 mesmos caminhos de ferro os primeiros a sentir.

Nos finais do século XVIII, Adam Smith chamava já a atenção para a questão da rentabilidade das minas que dependia, necessariamente, da localização das respectivas jazidas e dos gastos com o transporte dos minérios, o que influenciava os lucros e o valor das rendas, embora afirmasse que este factor afectava muito mais as minas de carvão do que a dos metais, uma vez que nestas, o valor "depende mais da sua riqueza e menos da

Ibidem. Idem. Ibidem.

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localização", e n q u a n t o q u e "é normal que o valor de uma mina de carvão para o respectivo

proprietário dependa tanto da sua localização como da riqueza". E a justificação era clara:

Os metais inferiores, e mais ainda os preciosos quando separados do minério são de tal modo valiosos que podem, em geral, suportar o custo do transporte a uma distancia bastante grande por terra, e a qualquer distância por mar.

Para o autor, n ã o havia dúvidas q u a n t o às condicionantes q u e interferiam n a viabilidade d a exploração das m i n a s e, d e s t a c a n d o as de carvão, afirmava:

Algumas minas de carvão vantajosamente situadas não são susceptíveis de ser exploradas devido à sua pobreza. A produção não paga as despesas. Não proporcionam nem lucro nem renda. (...) Outras minas de carvão do mesmo país, ainda que suficientemente ricas, não podem ser exploradas devido à sua localização. Seria possível extrair da mina, com o trabalho normal, ou até com menos uma quantidade de minério suficiente para remunerar as respectivas despesas de exploração; mas, num país interior, esparsamente povoado e onde não existem boas estradas nem vias aquáticas, seria impossível vender essa quantidade.

D a q u i se c o m p r e e n d e q u e t o d a s as discussões subjacentes à exploração mineira, particularmente a d o carvão, quer n o século XIX quer n o século XX, e m Portugal, c o n t i n u a s s e m a considerar esta questão, aliás sempre merecedora da maior p o n d e r a ç ã o .

SMITH, Adam - Dos produtos da Terra que umas vezes proporcionam renda, e outras vezes não. A

Riqueza das Nações. 3a edição. Lisboa: Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p. 345.

Idem. Ibidem. Idem. Ibidem.

i

A preocupação por este ramo da indústria e a sua importância crescente levou o governo a conceber um "conselho de minas"" junto do ministério então criado. As razões aduzidas para a sua criação estão bem explícitas na proposta governamental:

As medidas que tenho a honra de propor á approvação de Vossa Magestade resumem-se na creação de um conselho de minas junto ao ministério(...). O serviço de minas tão especial e tão diverso dos outros serviços d'esté ministério, clama a particular atenção do governo, em um paiz cujo solo as indicações de sciencia e alguns factos de observação recente denunciam abundante de riquezas mineraes. A sua exploração pode vir a constituir um dos ramos importantes da nossa industria.

Desde meados de oitocentos que a indústria mineira começa a merecer, de maneira preocupante e sobretudo mais científica, a devida atenção dos governos liberais. Consolidava-se, mesmo que lentamente, o princípio de que o país não se desenvolveria, muito menos se poderia esperar dele uma verdadeira industrialização, sem o recurso às riquezas do subsolo.

Nesse sentido, fora promulgada a lei mineira de 25 de Julho de 50, criado o

M.O.P.C.I.27 e, em 52, o decreto de 31 de Dezembro28 substituía a legislação mineira

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anterior.

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Autorizado pela Carta de Lei de 6 de Junho de 1859.

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Ministério das Obras Públicas Comércio e Indústria.

26 Parte Official, Direcção Geral das Obras Públicas e Minas. Boletim do M.O.P.C.I. Novembro de 1859.

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Decreto de 30 de Agosto de 1852.

28 Uma vez que nesta data foram publicados vários decretos, este diz respeito ao "Decreto Com Força De

Lei De 31 De Dezembro De 1852, Sobre Pesquiza, Exploração, Concessão E Inspecção Das Minas".

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A t r a v é s dos órgãos oficiais e de publicações diversas, b e m c o m o pela voz de conceituados académicos e geólogos multiplicavam-se os debates e os apelos à riqueza d o subsolo nacional:

As industrias extractivas representaram em todas as epochas um grande papel na economia politica dos povos.

Destacamos, Gazeta de Lisboa, Diário do Governo, Boletim do Ministério das Obras Públicas Comércio

e Industria, Revista das Obras Púbicas Comércio e Industria, Revista Peninsular.

Não podemos deixar de referir que com a criação da Academia das Ciências em 2 de Maio de 1787, as questões mineiras começaram a ser afloradas com mais acuidade. Entre os seus autores, destacamos desde já, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, conde de Linhares e Presidente do Real Erário, que em 1789

pronunciou um "Discurso sobre a verdadeira influência das minas dos metais preciosos na indústria das

Nações que as possuem e especialmente da Portuguesa". Em sessão da Academia de 2 de Maio de 1787

tinham sido já apresentadas "Memórias sobre duas minas da Província de Trás-os-Montes". Em 1789, o académico João Botelho de Lucena Almeida Brandão, apresentou a "Memoria sobre a mina de chumbo

do rio Pisco". Em 1790, as Memórias Económicas publicavam: PESSOA, José Martins da Cunha - Memoria Sobre as Fabricas de Ferro de Figueiró. Tomo II; CAMARÁ, Manuel Ferreira da - Observações feitas por ordem da Academia das Ciências de Lisboa acerca do carvão de pedra que se encontra na freguesia de Carvoeira. Tomo II; VANDELLI, Domingos - Memoria sobre o modo de se aproveitar o carvão de pedra, e os paus betuminosos deste Reino. Tomo II; Idem - Memoria Sobre as Produções Naturaes do Reino, e das Suas conquistas, primeiras matérias de différentes Fabricas ou Manufacturas. Tomo II. Na sessão de 10 de Outubro de 1792, "o Dr Vicente Coelho Seabra indicou o resultado de uma análise de chumbo da mina da Coja e a 22 de Novembro do mesmo ano, Domingos Vandelli leu uma Memoria sobre as minas de ouro, e o Dr. José Inácio P. Pinto, outra, acerca das minas de carvão de pedra do distrito de Sesimbrd\ cit. por Luiz de Menezes Acciaiuoli, Comunicação à Classe de Ciências, em sessão de 16 de Junho de 1949. Aspectos da evolução dos serviços encarregados do

estudo geológico de Portugal. Memórias da Academia das ciências de Lisboa, classe de ciências, Tomo V (1950),. p. 290.

A "arte de minas" ou "a exploração das minas" considerava-se "na serie das artes comprehendidas pela industria agrícola, porque efectivamente a arte do mineiro se limita a extrahir os produtos do solo; e todos avaliarão de certo a influencia que podem exercer sobre a prosperidade geral de um paiz a pesquiza e a lavra de minas".

Não podemos deixar de referir que todos estes princípios eram o reflexo das

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preocupações manifestadas nas universidades europeias. Aliás, as preocupações por este ramo de actividade começaram, desde cedo, a ganhar consistência nos académicos da recém-criada Academia Real das Ciências nos fins do século XVIII e continuariam no primeiro quartel do século XIX, na sequência da criação da Intendência Geral das Minas e Metaes do Reino em 1801 e da sua respectiva organização, sem nunca mais parar, excepção feita para o período de 1836 a 1850, período que medeia entre a extinção da Intendência Geral e a criação do M.O.P.C.I. Não podemos omitir a contratação de técnicos mineiros estrangeiros, entre os quais o Barão d'Eschwege, mais tarde tornado sócio da Academia e nomeado director dos fornos e inspector das minas da fábrica de ferro da Foz dAlge a 15 de Junho de 1803 pelos Directores da Fábrica das Sedas, os académicos

Ibidem.

Cfr. MACARAL, M. - Cours d'Administration et de Droit Administratif professé à la Faculté de Droit

de Paris. 2a edição. Paris: S.n., 1852. Tomo 3 - cit. por RIBEIRO, J. Silvestre - Op. cit. p. 11.

Carta Régia de 18 de Maio de 1801. Cfr. Cap.l. Alvará de 30 Janeiro de 1802. Vide Cap.l.

>

ESCHWEGE, Barão d' - Relatório abreviado sobre o estado actual das minas de Portugal. Lisboa: : Typ. da Academia Real das Sciencias, 1836; Idem - Memoria sobre a história moderna da administração das minas em Portugal. LISBOA: Typ. da Academia Real das Sciencias, 1838. Cfr. DINIS, Pedro Joyce - Guilherme, Barão de Echwege. Subsídios para a História da Montanística. Ministério do Comércio e Indústria, Dir. Ger. de Minas, anexo ao boi. de minas de 1939. Vol. II. p. 173.

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D o m i n g o s Vandelli e T o m á s de Villa N o v a Portugal. C o r r e n d o o risco de alguma ingratidão p o r n ã o n o s referirmos a todos os q u e se distinguiram neste sector, omitindo-os somente pelas limitações q u e se p õ e m a u m t r a b a l h o desta natureza, aproveitamos o m o m e n t o para evidenciarmos d u a s das mais célebres figuras nas preocupações mineiras d o princípio d o século. U m a é o académico D r . José Bonifácio de A n d r a d e3' que, dez anos

antes de ter sido n o m e a d o i n t e n d e n t e geral das minas e metais d o reino,40 viajara por

muitos países d a Europa, c o m o naturalista e metalurgista, a expensas d o governo q u e considerou a p r o p o s t a da A c a d e m i a Real das Ciências nesse sentido, de q u e m já se t i n h a t o r n a d o sócio c o m o apoio d o D u q u e de Lafões.

A s viagens te-lo-ão t o r n a d o , com certeza, n u m h o m e m de ciência:

No mez de Junho de 1790 sahío de Portugal, para dar começo ás suas viagens. (...) Coube-lhe depois a fortuna de ouvir as lições de Werner, Jussieu, Lavoisier e outros sábios (...) Percorreu uma parte da França, da Allemanha, da Bélgica, da Hollanda, da Dinamarca e da Turquia. Examinou diversos Estabelecimentos metallurgicos da Europa; e em todos os paizes diligenciou inteirar-se do estado das

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sciencias naturaes.

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Entre as obras que publicou, destacamos: "Memória Histórica das Minas em Portugal apresentada em sessão da Academia de 29 de outubro de 1809; "Memória sobre a Mina do Príncipe Regente", apresentada em sessão de 31 de Maio de 1815; memória "Sobre a minerografia da Serra que decorre do

Monte de Santa Justa, no termo de Valongo e Província do Minho até Santa Comba, distrito este muito rico em metais de antimónio, cobalto, zinco, ferro e prata..." na sessão de 24 de Julho do mesmo ano;

Memória Histórica e minerográfica sobre a nova mina de ouro que fica no meio da enseada da Trafaria até ao Cabo Espichel. A Academia das Ciências e as Minas do Império até meados do século XIX. Op. cit, p. 312-315.

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Cfr. Carta Régia de 18 de Maio de 1801. 41

A Intendência Geral Das Minas e Metaes Do Reino. Resoluções do Conselho de Estado..., Vol. XV, p. 301-302.

A outra era o próprio ministro do reino, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, sócio da 42 Academia, presidente do Real Erário e "Inspector Geral das Minas e Metais do Reino", pessoa que muito deve ter sensibilizado o governo para as questões mineiras, tendo, na qualidade de académico, apresentado já a "Memoria sobre a verdadeira influencia das minas de metais preciosos na Industria das Nações, especialmente na Portuguesa" na qual aludia às vantagens da indústria mineira na economia dos povos.

Nos meados do século, é de salientar, também, o precioso contributo do engenheiro e geólogo Carlos Ribeiro que, ao serviço do M.O.P.C.I., dedicou às "minas" todo o saber, consciente da sua importância no desenvolvimento industrial do país. São dele as seguintes palavras:

Por maiores que sejam os desejos de iniciar, ou desenvolver a industria fabril em um paiz, que preciza das ditas matérias, a industria nunca será senão uma existência ephemera e improductiva, ou estéril,

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e a sua duração será muito limitada, embora se façam os maiores sacrifícios para a conservar.

Mas, se as referências às matérias extractivas nos permitem concluir que elas próprias constituíam, por excelência, um elemento primordial para o nosso desenvolvimento, não podemos deixar de evidenciar a visão que os colaboradores,

Alvará de Regimento com força de Lei de 30 de Janeiro de 1802 43

RIBEIRO, José Silvestre - Ao principe regente inculcou D. Rodrigo de Sousa Coutinho a necessidade e vantagens da creação de uma Intendência, destinada a dirigir a Casa da Moeda, as minas do reino... Ensino das Sciencias Mineralógicas, Metalúrgicas e Montanísticas Em Lisboa. Lisboa: Typ. da Academia Real de Sciencias, 1873. Vol. III. p. 211.

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Memorias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa. Tomo II.

RIBEIRO, Carlos - Revista Peninsular. Março de 1857. Artigo citado, também, no Bol. M.O.P.C.I. n°6 de 1857.

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funcionários e engenheiros do ministério criado em 52, tinham acerca de outros factores intervenientes para o sucesso da indústria mineira e progresso do país, mostrando a necessidade de se vencerem outras dificuldades:

Buscar portanto o carvão e o ferro não é menos necessário para a prosperidade de uma nação, do que procurar a instrução do povo, dotar o paiz de bellas vias de comunicação, ou de outra qualquer medida

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