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PARTE I: A capitania de Pernambuco, as instituições do poder central e o reformismo Setecentista

Capítulo 6 A instalação da companhia pombalina em Pernambuco

[…] O certo é que todos receberam com

desagrado a ereção da Companhia por os separar dos antigos interesses, que estavam habituados a fazer na forma e regularidade que lhes parecia […] porém o tempo os irá reduzindo ao justo acerto 532

.

A Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba foi proposta formalmente em 30 de julho de 1759 - pelos homens de negócio da praça de Lisboa e pelo conde de Oeiras533 -, e

o alvará de confirmação foi passado a 13 de agosto do mesmo ano534. O diploma régio

aprovou e confirmou os estatutos da Companhia. Assim, de acordo com o alvará, a sua sede foi estabelecida em Lisboa e tinha como órgãos de decisão uma Junta, na Capital, composta por um provedor, dez deputados, três conselheiros. Tinha também duas direcções - uma na cidade do Porto e outra em Pernambuco -, compostas por um intendente e seis deputados, a primeira; e um intendente e oito deputados, a segunda. Haveria dois administradores da Companhia na Paraíba, outros dois em Angola, e representantes na Baía, Rio de Janeiro, Faial, São Miguel, Ilha Terceira, Londres, S. Sebastian da Biscaia, Hamburgo, Amesterdão e Marselha.

Os componentes da Junta em Lisboa - que foram nomeados pelo rei para os três primeiros anos de funcionamento da Companhia -, foram os mesmos homens de negócio lisboetas que elaboraram os estatutos a solicitar a criação de uma companhia mercantil para Pernambuco. Companhia essa que era em tudo semelhante à do Grão-Pará e Maranhão.

532AHU, Conselho Ultramarino, Pernambuco. [Ofício do governador de 1761, fevereiro, 4, Recife].

AHU_ACL_CU_015, Cx. 94, D. 7481.

533 Comerciantes de grosso trato ligados aos contratos do tabaco, dos diamantes e ao negócio do açúcar

em Pernambuco. Embora os estatutos propostos ao rei indiquem que foram os homens de negócio das praças de Lisboa, Porto e Pernambuco. Ver Estatutos e alvará de instituição da Companhia pombalina

para Pernambuco, p. 3. [Consultado em 11 de novembro de 2011]. Disponível em:

http://www.archive.org/stream/instituiadac00comp#page/n3/mode/2up.

534

Estatutos e alvará de instituição da Companhia pombalina para Pernambuco, p. 31. [Consultado em

11 de novembro de 2011]. Disponível em:

177 Os estatutos da nova companhia de comércio foram confirmados com a assinatura do conde de Oeiras, seguida das assinaturas de:

José Rodrigues Bandeira - provedor da Junta do Comércio e dono de uma das maiores casas de exportação de tabaco; José Rodrigues Esteves; Policarpo José Machado; Manuel Dantas Amorim; Manuel António Pereira; Inácio Pedro Quintela - contratador do Tabaco, sócio do contrato do sal do Brasil, caixa e administrador da Companhia de Pesca da Baleia do Brasil; Anselmo José da Cruz - administrador da Junta do Tabaco e membro da Companhia do Grão-Pará e Maranhão; João Xavier Teles; José da Silva Leque; João Henriques Martins - com ligações ao negócio do açúcar de Pernambuco; Manuel Pereira de Faria - com ligações ao negócio do açúcar de Pernambuco 535.

Em 1762, por falecimento de dois componentes desta junta, foram nomeados para os lugares vagos José Francisco da Cruz - homem de negócio, sócio no contrato do Tabaco e um dos autores dos Estatutos da Aula do Comércio-, com o cargo de vice-provedor, e João Félix Teixeira de Matos536.

A empresa comercial gozaria de foro próprio com tribunais privativos, presididos por juízes conservadores, estando um primeiro tribunal estabelecido em Lisboa, outro no Porto e um terceiro em Pernambuco. A Companhia teria o privilégio da exclusividade da navegação, do comércio por grosso - excepto de vinhos -, e do trato negreiro com as capitanias de Pernambuco e Paraíba, com exclusão dos distritos do sertão, Alagoas e rio de São Francisco, que permaneceriam livres do monopólio comercial. O monopólio seria de vinte anos, contados a partir da expedição da primeira frota. Frota que partiu do porto do Recife em 8 de agosto de 1760.

As frotas transportavam para o Brasil produtos manufacturados, ferramentas, utensílios, alguns géneros alimentícios, medicamentos e escravos. Para o Reino, os navios levavam açúcar, cacau, especiarias, madeiras, algodão, matérias corantes, tabaco, couro e

535 Com exceção do conde de Oeiras que não fez parte da Junta em Lisboa. Na primeira composição da

Junta, o provedor nomeado foi José Rodrigues Bandeira e o secretário Teotónio Gomes de Carvalho. As nomeações de indivíduos destinados à Junta da Companhia em Lisboa encontram-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo [ANTT], Arquivo Histórico do Ministério das Finanças (AHMF). ANTT/AHMF/Livros 403 e 404 (termos de posse e livro de patentes). ANTT/AHMF/Livro dos termos de posse, nº 403. [Consultado em 2 de junho de 2012]. Disponível em: http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=4618145.

178 atanados. Os postos mais importantes de estabelecimento e trocas eram Bissau, Cacheu, Cabo Verde, Costa da Mina, Angola, Madeira, Açores e alguns portos da Índia e da Ásia537.

É de destacar que a área de actuação da Companhia Geral abrangia não apenas o território actual do Estado de Pernambuco, mas também o de Alagoas, comarca de Pernambuco até 1817, e o das capitanias que possuíam um governo subordinado ao de Pernambuco, como era o caso da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Figura 5: A área de influência da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba

Fonte: José Ribeiro Júnior538.

No momento da instauração da companhia pombalina houve poucas reacções por parte dos moradores. O ouvidor de Pernambuco, Bernardo Coelho da Gama Casco, em ofício enviado a Carvalho e Melo, no ano de 1759, atestou a recepção de uma publicação

537António CARREIRA, As Companhias pombalinas…, pp. 282-302.

179 da Junta do Comércio da Corte e cidade de Lisboa, onde são de realçar informações que auxiliam na compreensão do processo de instalação da Companhia na capitania.

Em Pernambuco, os moradores tomaram conhecimento do projecto da companhia de comércio por meio da correspondência que o ouvidor recebera do Secretário de Estado do Reino e Mercês. No ofício o secretário expunha a disposição régia de criar uma nova empresa mercantil na América portuguesa, convidando a todos os homens de negócio e moradores para serem accionistas da nova instituição, podendo a compra das acções da Companhia efectivar-se com dinheiro em moeda corrente, com o valor correspondente em géneros ou com navios539.

Aos primeiros accionistas, também chamados de «accionistas originários», foram concedidos graças e privilégios540. Citamos aqui os mais relevantes: o de habilitarem-se

sem dispensa para receberem os hábitos das ordens militares541, beneficiarem de

aposentadoria activa542.

Fernanda Olival, em artigo conhecido, afirma que na segunda metade de Setecentos diversos factores interligados possibilitaram «nobilitar a riqueza», entre eles, o desenvolvimento de um mercado de hábitos em Lisboa; a progressiva valorização do comércio de «grosso trato» e as vantagens oferecidas aos accionistas das companhias de monopólio. Abaixo assinalaremos aqueles que sendo homens de «grosso trato» beneficiaram da dispensa prevista no estatuto da Companhia para adquirirem hábitos das ordens militares, distinguiremos quem era accionista e quem era deputado, pois os

539AHU, Conselho Ultramarino, Pernambuco. [1759, março, 15, Recife]. AHU_ACL_CU_015, Cx. 90, D.

7230. Sobre a publicação do edital da criação de uma Companhia de Comércio na capitania de Pernambuco.

540 Fernanda OLIVAL, «O Brasil, as companhias pombalinas e a nobilitação…», p. 97.

541 A entrada na Ordem de Cristo era um adorno social bastante procurado pelas elites e garantia foros

privilegiados em questões jurídicas. Os pré-requisitos de pureza de sangue, ausência de defeitos mecânicos eram primordiais, mas na América portuguesa, a prestação de serviços podia auxiliar a apagar uma mancha no currículo do candidato ou de seus antepassados. Com as reformas pombalinas as exigências foram mitigadas. George F. C. de SOUZA, Tratos & mofratas…, p. 184. Manuel Gomes dos Santos, por exemplo, apesar do defeito mecânico, foi cavaleiro da Ordem de Cristo após ser deputado da Companhia Geral.

542

Estatutos e Alvará da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba. [Consultado em 5 de dezembro de

2011]. Disponível em: http://archive.org/stream/instituiadac00comp#page/22/mode/2up - Artigo 43: «todas as pessoas que fizerem parte desta Companhia…» designando-os como accionistas originários; e artigo 44: ao provedor, secretário, intendente, directores, vossa Majestade concede… em qualquer parte destes Reinos, e seus domínios…» Os artigos não fazem distinção entre os accionistas originais, sejam eles moradores em Portugal ou no Brasil.

180 últimos eram os verdadeiros administradores do comércio colonial e integravam a Direcção da Companhia 543:

• António da Silva Pereira (10 acções), natural de Barcelos, morador em Igaraçu (e lá capitão-mor). Hábito em 1770. accionista, mas nunca deputado.

• António Francisco Monteiro (10 acções), natural de Barcelos, morador no Recife. Hábito em 1768. Deputado da 1ª Direcção.

• António José Souto (10 acções), natural de Lisboa, morador no Recife. Hábito em 1768.

Deputado da 1ª Direcção.

• Francisco Carneiro de Sampaio (10 acções), natural do Porto, morador no Recife. Hábito em 1768. Deputado na década de 1770.

• Henrique Martins (10 acções), natural de Oeiras, morador no Recife. Hábito em 1762.

Deputado da 1ª Direcção.

• João da Cunha Neves (10 acções), natural de Guimarães. Hábito em 1764.

• Luís Pereira Viana (10 acções), natural de Barcelos, morador no Recife. Hábito em 1764.

Deputado na década de 1770.

• Manuel Gomes dos Santos (20 acções), natural de Lisboa, morador no Recife. Hábito em 1761. Deputado da 1ª Direcção.

• Tomé Correia de Araújo (10 acções), natural do Recife, morador no Recife. Hábito em 1772. Filho do deputado da 1ª Direcção e accionista originário Manuel Correia de Araújo.

A Direcção da Companhia, o braço local da instituição pombalina e que geria de forma efectiva o comércio colonial da capitania com o Reino, com o atlântico e com outras capitanias, era formada por um intendente e seis deputados. A primeira Direcção foi escolhida pelo governador dentre os accionistas originários, os que primeiro compraram acções da instituição de comércio. Cada Direcção deveria ter a duração de três anos. As composições seguintes seriam eleitas por votos dos accionistas. Na prática toda a gerência do comércio de Pernambuco ficaria entregue ao «braço local» da Companhia, isto é, o

543 Grifo nosso. Fernanda OLIVAL, «O Brasil, as companhias pombalinas…», pp. 96-97. Ver também Ana

Isabel LÓPEZ-SALAZAR, Fernanda OLIVAL, João FIGUEIROA-REGO, orgs. Honra e sociedade no mundo

ibérico ultramarino, inquisição e ordens militares, séculos XVI-XIX. Lisboa, Évora: CHAM/CIDEHUS, 2013,

181 intendente e os deputados seriam os únicos administradores, com o apoio da Coroa, de todas os negócios feitos a partir de Pernambuco.

Todos os que assinalámos atrás estavam radicados no Recife havia décadas, eram homens de «grosso trato», todos envolvidos no trato negreiro e no comércio com o sertão, e com interesses estabelecidos na praça do Recife. As únicas excepções entre os nomes que assinalámos foram António da Silva Pereira - que deve ter chegado ainda no século XVII -, pois era capitão-mor na década de 1720 e João da Cunha Neves, que aparentemente não morava na praça do Recife e sim na Colónia do Sacramento544.

Assinalámos ainda que Domingos da Costa Monteiro, filho de Luís da Costa Monteiro - deputado da primeira Direcção - beneficiou das acções compradas por seu pai e se habilitou em 1763, em virtude das dispensas permitidas aos accionistas. No mesmo ano que foi admitido na Ordem de Cristo tornou-se também familiar do Santo Ofício545.

As vantagens previstas no estatuto não discriminavam os «metropolitanos» dos «coloniais»546. Além destas primazias, concedidas aos primeiros accionistas, os que tivessem entrado na recente companhia de comércio com acções superiores a dez mil cruzados, os homens de negócio da praça do Recife solicitaram ao rei outros privilégios relacionados com o facto de fazerem parte da primeira composição da Direcção da companhia pombalina547.

Primeiramente estes homens de negócio - na qualidade de accionistas originários ou primeiros accionistas -, queriam ser nomeados pelo governador como administradores da Companhia, a começar pelos mais «antigos e inteligentes» para regularem as primeiras três frotas548. Assim, restringiriam o acesso à gerência dos capitais da Companhia de outros homens de negócio que posteriormente entrassem na empresa comercial.

544 António José Souto chegou ao Recife em 1726, por exemplo. Veio trabalhar com o tio, que já morava

no Recife na virada do século. AHU, Conselho Ultramarino, Pernambuco. AHU_ACL_CU_015, Cx. 39, D. 3529. Cunha Neves em 1758 recebeu a confirmação da patente de capitão da Ilha de Sola, distrito da Nova Colónia do Sacramento. ANTT, Registo Geral de Mercês de D. José I, liv. 13, f. 75. Mas como existia uma relação comercial entre homens de negócio da praça do Recife com Sacramento não é de estranhar que este indivíduo tenha comprado acções da Companhia instalada em Pernambuco.

545 George F. C. de SOUZA, «Elite y ejercicio…», p. 359. 546

Realçamos este ponto porque a Real Companhia da Venezuela, criada no âmbito das reformas bourbónicas, fazia distinção entre os nascidos na América e os peninsulares.

547 AHU, Conselho Ultramarino, Pernambuco. [Ofício do governador da capitania de Pernambuco, Luís

Diogo Lobo da Silva, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costa Corte Real. 1759, março, 12]. AHU_ACL_CU_015, Cx. 90, D. 7214.

182 Sugeriam ainda que a primeira Direcção fosse composta por treze indivíduos - seis a mais que o estabelecido nos estatutos -, caso compreendesse também os negócios da Costa da Mina, Angola e «sertão», para além dos de Lisboa. E, por último, solicitavam para os que tivessem entrado na Companhia com acções no valor de 10 mil cruzados ou com um montante maior, que fosse permitido mandar vir todo o necessário para suas casas, livre de impostos (mobília, fazendas, tecidos),como era feito com os religiosos, com o Bispo, o governador e com outros ministros549.

Aqueles que compraram acções da Companhia em 1759 - os mesmos homens de negócio da praça do Recife que haviam proposto duas companhias de comércio no ano de 1757 -, compreenderam a relevância de entrarem na instituição pombalina naquele ano, pois assim poderiam pleitear junto ao monarca o acesso directo à Direcção e mais privilégios. Só assim se explica a representação que enviaram ao Conselho Ultramarino, pedindo mais mercês do que aquelas configuradas no estatuto. Embora restringidos pelos capítulos do estatuto que instituíam os limites dos ganhos dos accionistas, os que fizeram parte da primeira Direcção cedo criaram estratégias, nem sempre legais, para fazer crescer os seus lucros, como será analisado ainda neste capítulo.

Ressaltamos que somente uma parte das elites mercantis da capitania comprou acções e fez parte da primeira Direcção da Companhia. O governador Luís Diogo Lobo da Silva nas suas missivas às instituições centrais informou ter encontrado dificuldades em convencer a outra parte das elites - formada por comerciantes, funcionários da Coroa e senhores de engenho -, a quem classificou de os «mais ricos de Pernambuco», a comprar acções da instituição criada pelo secretário de Estado do Reino550.

Embora o argumento do governador tenha-se pautado principalmente pela resistência dos homens de negócio da praça de Pernambuco, também informava a entrada voluntária do ex-ouvidor da capitania, João Bernardo Gonzaga, do juiz de Fora João Rodrigues Colaço, e de alguns dos principais homens de negócio da capitania, João de Oliveira Gouvim, Manuel Correia de Araújo, Luís Pereira Viana, Henrique Martins, Luís da

549 AHU, Conselho Ultramarino, Pernambuco. AHU_ACL_CU_015, Cx. 90, D. 7214.

183 Costa Monteiro, Manuel Gomes dos Santos, José Vaz Salgado, Luís Ferreira Moura e António Álvares551.

Todos estes faziam partes das elites mercantis da capitania, um exemplo disso é o homem de negócio José Vaz Salgado - um dos mais «multifacetados empreendedores do Recife no século XVIII» -, que pouco antes de falecer comprou dez acções da Companhia. acções que foram herdadas por José Vaz Salgado, o filho, que era natural do Recife. Este Vaz Salgado foi militar, homem de negócio, senhor de engenho, familiar do Santo Ofício, cavaleiro da Ordem de Cristo, e no final da década de 1770, oficial da Câmara do Recife. E mesmo tendo um genitor tão respeitável e uma carreira tão multifacetada como a do seu pai, nunca fez parte do braço local da companhia pombalina552.

O grande número de privilégios que os accionistas passariam a ter foram, no início, suficientes para convencer uma parte da elite da capitania a comprar acções - principalmente os homens de «grosso trato» - mas não num número tão expressivo que justificasse o sucesso da fundação da Companhia na perspectiva do governador553. Era

importante para a Companhia recém-criada que todos os segmentos das elites (agrárias, mercantis, militares, servidores da Coroa), bem como “sectores intermédios da sociedade” (boticários, cirurgiões, escrivães, serventuários de ofícios) participassem dela e abonassem a medida pombalina, aliando-se à Coroa na concretização desta medida554.

Assim, em 1759, o governador escreveu ao secretário de Estado da Marinha e Ultramar informando sobre «as pessoas de mais distinta qualidade e negócio» que

551 Cf. Clara F. de ARAÚJO, «A Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba e o monopólio

do comércio» em História…, v. VI, 2010, p. 28.

552

A fortuna deixada por seu pai passava de 316 contos de réis, coube ao Vaz Salgado uma herança de vinte contos de réis, mais um engenho e escravos. Bem como, era o administrador dos bens de sua mãe, cujo valor rondava os 150 contos de réis. Teresa MARQUES, «José Vaz Salgado: a herança de um militar- mercador no Recife…» pp. 250-253.

553 AHU, Conselho Ultramarino, Pernambuco. AHU_CU_015, Cx. 90, D. 7214. Elite composta na sua

maioria por homens de negócio da praça do Recife, militares de alta patente, proprietários de ofícios, e senhores de engenho.

554 Maria Beatreiz Nizza da Silva afirma que entre os mecânicos e os nobres havia uma «classe» de

pessoas que não pode chamar-se de nobre, pois não havia nesta classe intermédia nobreza civil, política ou hereditária. Caso dos boticários, pintores, cirurgiões, etc… andam a cavalo, possuem criados e escravos mas não são considerados «nobreza da terra». Antes fazem parte de um sector intermédio da sociedade. Cf. Maria Beatriz Nizza da SILVA, Ser nobre na colónia, (São Paulo: UNESP, 2005), pp. 21-22

184 efectivamente entraram na companhia pombalina e aquelas que sendo ricas e abonadas não quiseram entrar555.

Dois factores sobressaem na comunicação política do governador com a Secretaria de Estado, o primeiro tem a ver com a compra de acções pelos homens de «grosso trato» da praça do Recife; o segundo liga-se com a ausência do grupo social formado pelos senhores de engenho e lavradores de açúcar. As elites açucareiras não compareceram ao chamamento do governador para comprar acções da nova empresa.

Assinala-se no quadro abaixo aqueles que compraram acções e que fizeram parte da primeira Direcção da instituição pombalina. Todos eram reconhecidos como homens de negócio mas tinham outras actividades: dois eram contratadores, três eram militares com alta patente, um era familiar do Santo Ofício e outros três possuíam a propriedade de ofícios na Justiça e na Alfândega. Todos os que fizeram parte da primeira Direcção eram comerciantes de «grosso trato», isto é, possuíam um grande património e estavam envolvidos no comércio negreiro e no comércio com o sertão556.

Tabela 2: «As pessoas de mais distinta em qualidade e negócio» e os montantes com os quais entraram na Companhia de Comércio557.

MONTANTE COM QUE «OS HOMENS MAIS DISTINTOS DA PRAÇA DO RECIFE ENTRARAM NA COMPANHIA GERAL DE PERNAMBUCO E PARAÍBA»

ACCIONISTAS MONTANTE

Desembargador João Bernardo Gonzaga. Não fez parte da Direcção da Companhia. Ouvidor da capitania de Pernambuco desde 1752 e presidente da Mesa da Inspecção (1752-1755)558.

10 Mil cruzados (4 contos de réis). Funcionário régio.

555 O governador informou ao secretário que todos os que entraram eram homens de negócio da praça

do Recife, compraram 33 acções no valor de 120 contos e 400 mil réis. Apenas 3 dos que assinaram a representação a pedir uma companhia para ir buscar gado no sertão não compraram acções da companhia neste primeiro momento. E todos aqueles que pagaram acima de 10 mil cruzados fizeram

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