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PARTE I: A capitania de Pernambuco, as instituições do poder central e o reformismo Setecentista

Capítulo 1 – As relações políticas entre a Coroa e a capitania de Pernambuco na segunda metade do século X

1.1 Os limites cronológicos do estudo (1774-1804): de José César de Meneses às juntas interinas do início do século

O presente estudo dedica uma especial atenção ao período de 1774 a 180464. Trata-se de uma fase para a qual existe um número pouco significativo de trabalhos. E tal sucede, apesar de dispormos de uma abundante documentação produzida a partir da década de 70 de Setecentos, pelos agentes da Coroa, câmaras, vassalos na capitania e instituições centrais.

O ano de 1774 foi escolhido como início da presente análise, por ser a data em que José César de Meneses - nomeado governador da capitania durante o reinado josefino -, foi enviado para Pernambuco, tomando posse a 31 de agosto de 1774. Filho de um vice-rei do Estado do Brasil, Vasco César de Meneses, era um homem instruído, como demonstram as suas cartas às Secretarias de Estado65. Foi nomeado para a capitania num período crítico: segmentos das elites locais ligados ao açúcar afrontavam a companhia pombalina, chegando ao ponto de intentarem um «motim»66.

Medidas apaziguadoras tomadas por este agente da Coroa, relatadas na ampla correspondência para o Conselho Ultramarino - em forma de cartas enviadas ao rei e de

64 Embora, em muitos momentos, tenhamos recuado até a década de 50 de Setecentos, por conta das

reformas implementadas no reinado de D. José I, principalmente a da criação da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba.

65 Rodolfo GARCIA, «A capitania de Pernambuco no governo de José César de Meneses (1774-1787)» em Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 84, Rio de Janeiro: IHGB, 1918, p. 535. J. César de

Meneses era filho de Vasco Fernandes C. de Meneses mas não de sua esposa D. Juliana de Lencastre, como refere o artigo de Rodolfo Garcia. Meneses era filho natural do vice-rei, visto que sua esposa não se deslocou para a Baía, e o futuro governador de Pernambuco nasceu em terras baianas.

66 O governador defendeu o interesse das elites - especialmente as relacionadas com a produção de

açúcar e tabaco -, criticando as práticas comerciais da Companhia. Rodolfo GARCIA, «A capitania de Pernambuco no governo de José César de Meneses…», p. 541. Contudo, César de Meneses defendia também a restante população livre, que nas suas missivas define como «moradores». Isto é, para além das elites, que estavam no topo da pirâmide social, havia uma massa de população livre, composta por funcionários subalternos, soldados, pequenos comerciantes, taberneiros, vendeiros e artesãos. Também estes - que estavam no meio da estrutura social em Pernambuco -, precisavam da Companhia para comprarem géneros «secos» e «molhados», vindos do Reino, nas embarcações da empresa comercial. Não apenas as elites ficaram a dever grandes somas à companhia pombalina, também esta faixa da população livre consta nas listas de devedores da empresa comercial no final de Setecentos. Dívidas e devedores que serão analisados no capítulo 10. Kalina Vanderlei SILVA, Nas solidões vastas e

assustadoras: a conquista do sertão de Pernambuco pelas vilas açucareiras nos séculos XVII e XVIII,

(Recife: CEPE, 2010), p. 43. A autora defende que a estrutura social em Pernambuco - que começou a definir-se no século XVI -, possuía três níveis no século XVIII, os dois que acima apontamos, e o último - a base da pirâmide social - composta por escravos e vagabundos livres.

26 ofícios para o secretário de Estado67 -, demonstraram que o governador no seu parecer apoiou uma parte das elites que solicitava o retorno do comércio livre por considerar que seria mais rentável para a Coroa e mais benéfico na resolução dos conflitos instalados entre grupos dominantes locais.

E, a seu ver, a companhia de comércio não inovava, nem produzia resultados significativos, muito por conta da forma como a Direcção conduzia o comércio dos géneros coloniais, respaldada pela conivência da Junta em Lisboa no que concernia às directrizes implementadas pelo «braço local» da Companhia.

Considera-se, assim, que o ano de entrada em funções deste governador é uma baliza pertinente para este estudo. Neste caso específico, porque o seu governo se estendeu durante um período invulgarmente longo -13 anos -, sendo sua permanência na administração da capitania sob D. Maria I uma das muitas continuidades das directrizes pombalinas durante esse reinado. Bem como, porque foi durante o seu governo que o monopólio a Companhia pombalina não foi renovado.

Para Anthony J. R. Russell-Wood, os governadores eram o «rosto humano da administração portuguesa» na sociedade colonial68. Este mesmo historiador afirma que, teoricamente, esta administração teria uma estrutura altamente centralizada e dependente de Lisboa, com Goa, Salvador ou Rio de Janeiro a actuarem como centros

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Estamos nos referindo ao ofício enquanto missivas e não ao ofício enquanto um cargo ou função atribuída a um vassalo em remuneração de serviços, por compra ou mercê régia, em forma de serventia ou propriedade. O ofício é um documento não diplomático e de correspondência. De uma forma geral os ofícios são missivas dirigidas aos secretários de Estado ou entre autoridades delegadas entre si, de governador para governador por exemplo. Propagam-se e uniformizam-se na segunda metade de Setecentos. O ofício era o meio pelo qual as autoridades nas periferias (governadores, provedores, bispos, etc.) prestavam contas às Secretarias de Estado, encaminhavam mapas, relatórios e pareceres de requerimentos e de matérias específicas. A lei de tratamento de 1739 ao estipular que nos ofícios aos secretários de Estado seriam tratados não por senhoria, diminuindo a sua importância, e sim por Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor, findou por formalizar o ofício. Até então não tinham um formato oficializado como passam a ter a partir da década de 40 de Setecentos. Isto é, possuem um protocolo inicial, que é o tratamento dado ao destinatário - «Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor» -, segue-se o teor da missiva, e terminam com um protocolo final que os distingue das cartas e requerimentos: «Deus Guarde a Vossa Excelência». Usualmente à esquerda tem o nome do destinatário e abaixo e à direita o do autor. Érika S. de Almeida C. DIAS, «Informação e memória: o Projecto Resgate e a administração do Brasil colonial no século XVIII» em Revista Íris - Informação, memória e tecnologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, Vol. 1, nº1, jul-dez. 2012, p. 54. Sobre a lei de 1739 ver Júlia P. KOROBTCHENKO, «A Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra: a instituição, os instrumentos e os homens (1736-1756)» (dissertação de mestrado, Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2011), p. 34.

68Anthony J. R. RUSSELL-WOOD, «Governantes e Agentes» em História da Expansão…, vol. III, pp. 169 -

27 subordinados e com todas as nomeações a serem realizadas pela Coroa. No entanto, por detrás dessa imagem de centralidade, ocorria uma vasta descentralização da autoridade, devido a vários factores: a distância era um deles, e um outro era a falta de clareza relativamente às áreas de jurisdição dos agentes, que nem sempre eram evidentes nos regimentos ou instruções que traziam de Lisboa. Apesar de ostentar o estatuto de capital do Estado do Brasil, Salvador nem sempre funcionou como tal, por vontade política dos próprios governadores-gerais, os quais, nas primeiras décadas do século XVII, preferiam residir em Olinda e não na Baía69. O mesmo Russell-Wood assinala, a propósito do factor distância, que o raio de alcance efectivo da autoridade de vice-reis, governadores, magistrados ou eclesiásticos, mostrava sinais de enfraquecimento a menos de 100 quilómetros de distância do assento da autoridade em questão70.

A avaliação de Russell-Wood é acertada também para o último quartel do século XVIII. Com efeito, durante o período de governação de José César de Meneses, poucas foram as cartas que este escreveu para o vice-rei do Estado do Brasil. O governador correspondia-se, na maioria das vezes, directamente com os secretários de Estado e os tribunais do centro da monarquia. Ressalte-se que esta «independência» dos governadores da capitania face à autoridade do governador-geral vem em continuidade com o que ocorria desde o século XVI, não sendo exclusiva do consulado pombalino.

Para o caso de Pernambuco, o estudo de Vera Acioli já assinalava esta «autonomia governativa» em relação ao governador-geral ou vice-rei, tanto na Baía quanto no Rio de Janeiro. A citada historiadora chegou a esta conclusão quando analisou os conflitos entre o governo-geral e o donatário da capitania, Duarte Coelho, mas também ao estudar os confrontos registados após a restauração pernambucana em 1654, com o governador de Pernambuco, André Vidal de Negreiros71.

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Até D. João IV era comum o rei não morar em apenas uma cidade, mas no final do terceiro quartel de Seiscentos a mudança foi radical, todos os titulares, a maioria dos senhores de terras e comendadores, deveriam residir em Lisboa, próximos do rei. Nuno Gonçalo MONTEIRO, D. José..., p. 30.

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Anthony J. R. RUSSELL-WOOD, «Governantes e Agentes» …, vol. III, pp. 169 - 192. A situação agravava- se ainda mais quando o governador-geral não residia na capital do Estado do Brasil. Algo que ocorreu, de forma intermitente, entre 1602 e 1625. Diogo Botelho tomou posse do governo-geral do Brasil, em 1602, na vila de Olinda e lá permaneceu até 1603. Em 1620, Filipe II por alvará declarou formalmente que, sendo a Baía a sede governamental, o representante maior da Coroa não deveria sair de lá sem expressa ordem régia. Também determinou, posteriormente, que os governadores-gerais nomeados partissem de Lisboa para Salvador «sem tocar em Pernambuco». F. A. Pereira da COSTA, Anais

Pernambucanos 1740-1794, (Recife: Governo do Estado de Pernambuco, 1985, vol. II): p. 197 e p. 372. 71 Vera Lúcia ACIOLI, Jurisdição e conflito…, pp. 81-83.

28 Como é sabido, os conflitos de jurisdição entre o governo-geral e os capitães- generais ocorreram desde a chegada de Tomé de Sousa em 1549, sobretudo porque o governo-geral foi sobreposto ao sistema de capitanias, colidindo forais com regimentos. Já em 1550 a Coroa resolveu que o governador-geral Tomé de Sousa não deveria interferir na jurisdição do donatário Duarte Coelho, no que diz respeito à aplicação da Justiça, decisão que contrariou o representante máximo da Coroa mas que foi mantida72. Em 1654, com a nova divisão do Estado do Brasil, os conflitos de jurisdição entre os governadores-gerais do Estado do Brasil e os governadores da capitania de Pernambuco acirraram-se73, especialmente porque estes proclamavam que as capitanias do Norte do Brasil eram da sua alçada74.

Para além da capitania de Pernambuco, o governador-geral, até 1763, tinha problemas em impor a sua jurisdição ao governo do Rio de Janeiro. No regimento de Roque da Costa Barreto a Coroa procurou limitar o alargamento de poderes e o aumento de jurisdição por parte daqueles governadores, bem como consolidar as determinações estabelecidas nos seus regimentos, que confirmavam a supremacia do governador-geral na administração das capitanias75. Mas nem assim esta supremacia parece ter sido efectivada76.

72 Em 1550 o conflito ocorre por conta da negativa do donatário em deixar um oficial da Justiça,

nomeado pelo governador-geral, entrar nas suas terras. O regimento do governador previa a sua ampla autonomia em todas as capitanias do Estado do Brasil, mas os privilégios do donatário mostravam o contrário, e a Coroa decide em favor do donatário. Vera ACIOLI, Jurisdição e conflitos…, p. 23.

73 A parte sul com sede no Rio de Janeiro; o governo da Baía, “cidade cabeça dele”, a quem deveriam

obedecer Sergipe d’El Rei, Ilhéus, Porto Seguro; o governo de Pernambuco que se estenderia desde o Rio de São Francisco até o Rio Grande [do Norte] e o último governo deveria ser o do Maranhão. O despacho régio é de 20 de julho de 1654. Vera ACIOLI, Jurisdição e conflito…, p. 61

74 Francis Dutra assinala outros conflitos entre o governo-geral e Matias de Albuquerque. Ver Francis

DUTRA, «Matias de Albuquerque, capitão-mor de Pernambuco e governador-geral do Brasil», Recife: RIAP, vol. 48, 1976. Um dos casos mais descritos pela historiografia regional é o da mudança da sede do governo de Recife para Olinda em 1657. O governador-geral Francisco Barreto enviou uma provisão proibindo que os ministros que moravam no Recife, inclusive o agente da governação, saíssem dali para Olinda, considerada mais vulnerável em caso de ataques estrangeiros. André Vidal de Negreiros, havendo já mudado, resolveu não sair de Olinda nem consentir que os ministros o fizessem sem expressa ordem régia. Arquivo Histórico Ultramarino, Conselho Ultramarino, códices. AHU_ACL_CU_Consultas mistas, Cód. 25, fl. 296v e ss.

75 O regimento foi elaborado em 1663, ampliado em 1677 na regência de D. Pedro, mas a instrução

sobre a subordinação dos governadores de Pernambuco e Rio de Janeiro era antiga, vinha desde Gaspar de Sousa governador-geral do Estado do Brasil entre 1613 a 1617. Francisco Carlos COSENTINO,

Governadores-gerais do Estado do Brasil (séculos XVI-XVII) - ofícios, regimentos, governação e trajetórias, São Paulo: Annablume, (Belo Horizonte: FAPEMIG, 2009), p. 257.

76 Francisco Carlos COSENTINO, Governadores-gerais…, 257-261. A própria documentação colonial do

29 Já no século XVIII, D. João V ordenou, em vários alvarás promulgados entre 1714 e 1724, que os agentes da governação de Pernambuco obedecessem às ordens dos governadores-gerais ou vice-reis do Estado do Brasil.

Os conflitos de jurisdição eram comuns, pois a vida política, ao menos até o final do século XVIII, podia ser compreendida por meio de um prisma em que vários polos de poder autónomos e autorregulados, cada um com uma identidade e um espaço de acção singular, eram definidos pela jurisdição privativa de cada um. No que concerne a Pernambuco, foram cinco os governadores que exerceram funções até 1730 e, para cada um, D. João V procurou revalidar a instrução que determinava a subordinação do Governo de Pernambuco ao Governo-Geral da Baía, que vinha declarada nos regimentos dos governadores-gerais desde o início do século XVII77. Como oportunamente se verá, muitos dos conflitos que irão ser analisados na segunda parte do presente estudo foram motivados pela autonomia efectiva desfrutada pelos governadores de Pernambuco.

Ainda relativamente às balizas cronológicas deste estudo, assinala-se como data limite o ano de 1804, ano no qual finda a administração das Juntas Governativas. Junta formada por três governadores interinos, que tomou posse depois que o último governador setecentista, D. Tomás José de Mello, foi preso e devassado por práticas administrativas consideradas irregulares pela administração central78. O nosso estudo findará poucos anos antes da partida da Corte para o Brasil, em 1807, acontecimento que acabou por transformar irreversivelmente as relações entre «centro» e «periferia», de certa forma, invertendo-as79.

confirma a ideia de que os governadores das capitanias escreviam primordialmente para o centro. Encontrámos uma correspondência insignificante destes oficiais régios para os governadores-gerais ou vice-reis na Baía ou no Rio de Janeiro. E esta surge quase sempre em períodos de necessidade: por conta da defesa (repelir ataques estrangeiros) ou por falta de mantimentos (farinha, carnes). O Projecto África Atlântica, também no Arquivo Histórico Ultramarino, ainda no início, demonstra o mesmo para a Guiné. Os seus capitães-mores estão subordinados aos governadores de Cabo Verde e em todo o século XVII não foi encontrada nenhuma carta do capitão-mor para aquele governador, todas as questões, dúvidas, queixas e problemas com abastecimento, defesa e comércio eram dirigidos ao Conselho Ultramarino.

77 Códice da Academia das Ciências de Lisboa (ACL), Documentos e notícias referentes à capitania de Pernambuco, pp. 6-20.

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F. A. Pereira da COSTA, «Governadores e capitães generais de Pernambuco» em Revista do IAHGP, Vol. X, Recife: Tipografia do Jornal do Recife, 1902, pp. 566-574.A junta foi composta conforme o alvará de 1770 que retirou da Câmara do Recife o direito de substituir o governador na sua ausência. A última junta foi composta pelo deão de Olinda, D. Manuel Xavier Carneiro da Cunha, pelo coronel D. Jorge Eugénio de Lócio e pelo ouvidor João de Freitas de Albuquerque.

30 Pela primeira vez um monarca europeu cruzava o oceano para conhecer, visitar e residir nas suas terras no Novo Mundo. A transferência da Corte para o Brasil, fruto das invasões francesas em terras lusas e do bloqueio marítimo da aliada Grã-Bretanha, foi um facto único na história dos impérios europeus e trouxe consequências para o Brasil e para Portugal, ao mudar o centro decisório e de poder, antes situado na Europa, para uma das suas colónias. Stuart B. Schwartz afirma que «a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro deu origem a uma nova situação […] os “brasileiros” puderam sentir o orgulho adveniente do facto de a sua terra ter passado a ser o novo centro do império e ter adquirido instituições de governo próprio»80.

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Por ser a principal mudança que ocorreu na capitania de Pernambuco na segunda metade do século XVIII, este estudo incide sobre a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, desde a sua fundação, passando por alguns aspetos da sua actuacção como gestora do comércio até o seu complexo processo de extinção. O estudo assenta na convicção de que a criação deste órgão comercial foi a principal reforma pombalina para a capitania, pois transformou significativamente as relações entre governantes e governados, no que diz respeito à administração e à economia de Pernambuco, no período em destaque81.

Para uma compreensão da dinâmica político-administrativa da capitania de Pernambuco, entre 1774 e 1804, e as relações políticas com a Coroa tornou-se necessário conhecer as instituições criadas pela administração central e situadas na capitania de Pernambuco. Estamos a referir-nos à Mesa da Inspecção do Açúcar e do Tabaco, e à Direcção da Companhia de Comércio em Pernambuco, o «braço local» da instituição pombalina. As tensões que envolveram as relações oficiais entre estas duas instituições, por conta dos conflitos de jurisdição entre uma e outra, primordialmente no que toca ao preço do açúcar, são tangíveis na correspondência trocada entre ambas e remetida às

80 Stuart B. SCHWARTZ, Da América Portuguesa ao Brasil, Lisboa: Difel, 2003, p. 270.

81 A corroborar esta ideia, José Luís Cardoso afirma que, em 1742, quando Sebastião José de Carvalho e

Melo era enviado extraordinário em Londres, apresentou ao Cardeal da Mota uma proposta para a criação de uma companhia de comércio, primeiramente para o Oriente. Era o sinal do que viria a ser uma das mais emblemáticas medidas do seu ministério no reinado de D. José I. Ver sobre a questão em Arquivo Histórico Ultramarino, Conselho Ultramarino, Reino. AHU_CU_Reino, Cx. 287, pasta 12. José Luís CARDOSO, «Política Económica» em História Económica de Portugal (1700-2000), orgs. Pedro LAINS e Álvaro Ferreira da SILVA, vol. I. O século XVIII (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005), p. 358.

31 instituições do poder central. Tensões estas que foram relevantes para entendermos os conflitos que ocorreram nos anos em que vigorou a Companhia. Num segundo plano, e devido a estas tensões, foi possível compreender os circuitos da informação e a função que a comunicação política teve para que os diversos agentes da Coroa, grupos em disputa e instituições situadas em Pernambuco cumprissem ou negociassem as directrizes emanadas das instituições do poder central durante e após o consulado pombalino.

Boa parte das medidas económicas implementadas durante o consulado pombalino tinha um carácter mercantilista, o monopólio mercantil por parte das empresas comerciais comprovam-no82. No entanto, salienta-se que as companhias não foram simplesmente instrumentos de exploração económica reinóis regulados pela Coroa como referido por Ribeiro Júnior na obra clássica acerca da Companhia Geral de Pernambuco. José Ribeiro Júnior, ao analisar o impacto da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba na economia da capitania, concordou com K. Maxwell, haja vista o facto de ambos defenderem a ideia de que as companhias monopolistas foram criadas como um instrumento que beneficiava apenas os comerciantes metropolitanos83.

As companhias pombalinas, principalmente no que se refere ao «trato negreiro», de facto beneficiaram os homens de negócio de Lisboa e Porto. Um dos primeiros a estudar a precedência dos homens de negócio que compunham a Junta da Companhia em Lisboa no comércio Atlântico de captivos para a América portuguesa foi Joseph Miller84. No entanto, os estudos sobre a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, de uma forma generalizada, quase nunca têm em conta o papel exercido pelos comerciantes radicados na praça do Recife e a forma como geriram o comércio colonial. Forma esta que gerou conflitos, tensões políticas e a formação de «partidos» contra e a favor da instituição pombalina.

No que respeita à distribuição geográfica das companhias criadas durante o

82 Kenneth Maxwell afirma que, apesar de Pombal ter sido influenciado pela teoria e prática

mercantilista clássica - tanto a de origem britânica quanto a francesa -, é preciso usar o termo com

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