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PARTE I: A capitania de Pernambuco, as instituições do poder central e o reformismo Setecentista

Capítulo 3 A capitania de Pernambuco séculos XVII e XVIII: aspetos políticos e económicos

4.4 As companhias pombalinas e a historiografia

Antes de analisarmos detalhadamente a instalação da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, algumas linhas sobre as companhias pombalinas e a historiografia.

385 Biblioteca Nacional de Portugal. Coleção Pombalina, Cód. 93, fl. 16. 385 Estamos nos referindo a

ingleses e franceses, principalmente. A feitoria inglesa e o embaixador em Lisboa deixaram claros os motivos pelos quais repudiaram as companhias de comércio, como assinalamos. No caso dos franceses, foram frequentes as viagens clandestinas de seus navios ao Maranhão, durante todo o século XVIII, apesar da repressão da Marinha portuguesa. Jorge Borges de MACEDO, A situação económica no tempo

de Pombal…, p. 86.

386 A. CARREIRA, As companhias…, p. 31. Para António Carreira a companhia comercial de Pernambuco

faria concorrência ao comércio dito «livre» da praça da Baía. Os negreiros baianos teriam que concorrer com uma empresa comercial organizada nas praças africanas.

387 Anthony J. RUSSELL-WOOD, Anthony J. RUSSELL-WOOD, «A Dinâmica da presença brasileira no Índico

e no Oriente», Revista Topoi, Rio de Janeiro, PPGH/UFRJ (2001), p. 21.

388

Stuart B. SCHWARTZ, «De ouro a algodão: a economia brasileira no século XVIII» em História da

Expansão… vol. 3, p. 94. Este argumento também foi utilizado por Lúcio de Azevedo nos seus estudos

126 Sobre as companhias pombalinas dispomos de três principais estudos primordiais. O primeiro deles e mais recente é da autoria de Rui de Figueiredo Marcos. Sua análise intitula-se «as companhias pombalinas: contributo para a história das sociedades por acções em Portugal». Trata-se de um trabalho que analisa o conjunto das companhias criadas por Pombal, descrevendo-as como uma sociedade de capital privado com accionistas, com um perfil económico que devia compensar os interesses lucrativos dos sócios. Rui de Figueiredo procurou explicitar os privilégios conferidos pelo soberano a estas instituições, uma vez que, sem eles, não poderiam vingar no Reino e no ultramar. As vantagens ramificavam-se por benesses económicas e jurídicas, as primeiras traduziam-se no monopólio e isenções fiscais, as segundas em tribunais próprios.

Conforme Rui de Figueiredo Marcos, Sebastião José de Carvalho e Melo, ao tornar- se secretário de Estado, mudou o seu conceito sobre as companhias de comércio: o «jogo de interesses forçou-o a transfigurar velhas concepções. Converteu a sociedade privilegiada em instrumento de acção política»389. Era notório o propósito de retirar os estrangeiros de certas rotas negociais, e tal notava-se tanto nas companhias para o Brasil quanto na da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Pombal queria restringir, através das companhias, a influência mercantil estrangeira, sobretudo a britânica.

O segundo estudo é o clássico «Colonização e Monopólio no Nordeste Brasileiro: A Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba (1759-1780)» de José Ribeiro Júnior. Ribeiro Júnior dedicou-se à instituição pombalina estabelecida em Pernambuco, desde a sua criação até à sua extinção. O historiador fez uma análise económica aprimorada, explicitando o contexto político e económico da Europa e da capitania, e de forma mais sucinta, das suas capitanias subordinadas, durante o período de monopólio. O autor, nesta obra, procurou enfatizar o carácter mercantilista e colonialista das companhias no ultramar e procurou descrever as actividades mercantis da companhia, por meio de uma grande base documental390. A seu ver as companhias eram instituições que corporizavam

389 Rui de Figueiredo MARCOS, As companhias pombalinas: contributo para a História das Sociedades por Acções em Portugal (Coimbra: Almedina, 1997), p. 257.

390

O mercantilismo, definido na sua forma mais estrita, descreve uma política pela qual o comércio é regulado, tributado e subsidiado pelo «Estado», com o objectivo de promover a entrada de ouro e prata, para, em termos amplos, alcançar uma balança comercial favorável. Pombal propunha-se a fazer uso das táticas mercantilistas, como a criação das companhias de comércio, regulamentação, tributação e subsídios, de modo a facilitar a acumulação individual de capital por parte de comerciantes portugueses. K. MAXWELL, Chocolates, piratas…, p 226.

127 os mecanismos de colonização e da dependência do Brasil391. Além disso, as reformas pombalinas promoveram uma nova aliança entre os principais homens de negócio de Lisboa e Porto e a Coroa, inserindo-se desta feita alguns elementos representativos da economia colonial: monopólio e exploração colonial392.

Para além da obra de Ribeiro Júnior, destacamos o livro de António Carreira, «as companhias pombalinas», que examinou as duas Companhias criadas para o Brasil no século XVIII: a de Pernambuco e Paraíba e a do Grão-Pará e Maranhão, analisando principalmente a questão do comércio de escravos, quantificando-o durante o período das Companhias e antes delas. António Carreira vai fundamentar a sua explicação no controlo do comércio de escravos. Segundo o autor, era essencial diversificar a mão-de-obra no Norte do Brasil, uma vez que apenas a escravidão indígena não desenvolveria a agricultura no Pará e Maranhão, e por isso, caberia à Coroa criar uma instituição que controlasse e expandisse o tráfico para aquelas capitanias. Na sua obra, nota-se que deu prioridade ao estudo da Companhia do Grão Pará e Maranhão, ao seu funcionamento e a sua extinção.

No que respeita à companhia destinada à capitania Duartina, António Carreira baseia a sua explicação para a fundação da companhia pombalina no comércio directo feito por homens de negócio das praças da Baía e Pernambuco com a Costa da Mina e Angola. Segundo o autor, os próprios homens de negócio já haviam tentado criar companhias de comércio para o comércio de escravos, mas a Coroa até então não havia permitido a sua implementação.

Na análise efetuada por Carreira a Coroa serviu-se do último pedido feito pelos homens de negócio da Baía (em 1757) e criou a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba não para desenvolver o trato negreiro, mas sim para o controlar. Neste ponto o autor - tal como José Ribeiro Júnior -, identifica a companhia de comércio de Pernambuco como sendo uma ferramenta das políticas régias desenvolvidas durante o período

391 José RIBEIRO JÚNIOR, Colonização e monopólio…, p 7. Segundo Falcon, o mercantilismo pode ser

definido como sendo um conjunto de ideias e práticas que caracterizaram a história económica dos Estados europeus durante o período situado entre os séculos XVI e XVIII. Esta doutrina económica tinha sustentação na ideia de que uma nação era rica quanto maiores fossem as suas reservas em metais preciosos. A balança de comércio favorável era o meio através do qual se evitava a saída de metais, ao mesmo tempo que favorecia a entrada deles. Para ter uma balança comercial positiva, providências no setor de produção, privilégios e taxas alfandegárias protecionistas eram essenciais, uma vez que o comércio precisava de novas fontes produtoras de matéria-prima. Francisco J. C. FALCON, A época

pombalina: política económica e monarquia ilustrada (São Paulo: Ática, 1982), p 59O. 392 José RIBEIRO JÚNIOR., Colonização e monopólio…, p 204.

128 pombalino para limitar principalmente a liberdade no comércio de escravos exercida pelos comerciantes da Baía, e secundariamente, pelos de Pernambuco393.

A nosso ver nenhum dos dois autores levou em consideração a força do comércio colonial e as estratégias que as elites mercantis locais teceriam a fim de não perderem espaço no trato negreiro e no comércio do açúcar394. Mais adiante explicaremos como os homens de negócio da praça do Recife continuaram a gerir o comércio colonial através da companhia pombalina, uma instituição «reinol», conforme os estudos de Carreira e Ribeiro Júnior, criada pelo poder central, objectivando em princípio, que os homens de negócio metropolitanos dominassem o comércio de duas das principais capitanias da América portuguesa.

Segundo António Carreira e J. Ribeiro Júnior, as companhias pombalinas foram instaladas em bases determinadas pelas instituições centrais, sob a influência dos mercadores residentes no Reino para incentivar o comércio com Angola e para evitar o comércio dos negociantes coloniais com holandeses e ingleses na Costa da Mina395. O reforço do tráfico com Angola seria um dos objectivos destas empresas comerciais. Haveria uma retração do comércio de escravos realizado com a Costa da Mina, comércio esse que favorecia principalmente aos impérios concorrentes - holandeses, ingleses e franceses -, e as iniciativas privadas, estas, da alçada dos comerciantes negreiros da Baía e de Pernambuco. Com a redução do comércio com a Mina - dominado por outras monarquias -, seriam restituídos à Coroa os recursos desviados por homens de negócio das praças americanas para aquelas nações396.

Subjacente aos dois estudos atrás citados está a tese de que Pernambuco embora ainda fosse uma capitania economicamente relevante, em meados do século XVIII passava por uma grave crise económica, e devido a esta crise, foi alvo de uma das mais importantes medidas que Sebastião José de Carvalho e Melo tomou quando esteve na Secretaria de Estado do Reino (1755-1777). Paralelamente a ideia da «crise económica» na capitania Duartina na década de 1750 pesava na lógica da Coroa a proximidade entre Pernambuco e Baía. Se a Coroa não fundasse mais companhias de monopólio nas

393

António CARREIRA, As companhias pombalinas…, pp. 30-33.

394 João FRAGOSO, «Modelos explicativos da chamada economia colonial e a ideia de Monarquia

Pluricontinental: notas de um ensaio», Revista de História (São Paulo), v.31, n.2, São Paulo: UNESP, (jul/dez 2012), p. 110.

395 José RIBEIRO JÚNIOR, Colonização e monopólio…, pp. 75 e ss. 396 António CARREIRA, As companhias pombalinas…, pp. 220-221.

129 capitanias «de cima», aquela fundada em Pernambuco, teoricamente, minaria os negócios baianos no comércio negreiro. Pressupostos com os quais concordamos parcialmente, tanto no que se refere ao papel de relevância económica que a capitania ainda detinha no Setecentos, quanto na necessidade da Coroa em diminuir as relações comerciais entre homens de negócio coloniais com outras nações na Costa da Mina397.

As obras de José Ribeiro Júnior e António Carreira - que analisaram diligentemente as companhias pombalinas -, evidenciaram a dualidade metrópole-colónia e reforçaram a ideia de que a instituição comercial foi criada para benefício dos comerciantes de Lisboa e Porto.

Para o primeiro, os comerciantes metropolitanos procuravam controlar o comércio de escravos feito com a África Atlântica desde o século XVII e pretendiam dominar o comércio do açúcar, couro e tabaco das capitanias de Pernambuco e da Paraíba. As actividades mercantis da instituição pombalina estariam inseridas na «política colonialista do mercantilismo português» e ilustravam os mecanismos da colonização do Brasil398.

António Carreira, por sua vez, defendeu no seu estudo que o controlo do comércio de captivos das capitanias «de cima» pertencia aos homens de negócio da Baía com uma participação secundária dos de Recife, desde o século XVII. E, com a criação da companhia pombalina, o trato negreiro e o comércio de açúcar de Pernambuco passaram a ser controlados pelos homens de negócio de Lisboa e Porto399.

As análises acima descritas inserem-se nos modelos explicativos da economia colonial formulados, sobretudo, por Caio Prado Júnior e Fernando Novais, nos quais a função das sociedades coloniais se efectivava, grosso modo, na transferência de excedente

397

Concordamos parcialmente porque a diminuição do comércio de baianos e cariocas com a Costa da Mina se deu por conta das guerras internas, da perda de fortalezas portuguesas, da concorrência estrageira que guardava para suas colónias os melhores escravos, das companhias europeias que só permitiam que o trato negreiro fosse feito em praças escolhidas por elas mediante o pagamento de taxas, etc. E não porque as companhias pombalinas cumpriram o seu papel de abastecer de forma ampla o mercado interno das capitanias de cima. Temática que será analisada adiante com mais vagar.

398

José RIBEIRO JÚNIOR, Colonização e monopólio…p. 3.

399Carreira argumenta que 87% das acções da Companhia Geral estavam nas mãos dos comerciantes

[reinóis] destas duas cidades. António CARREIRA, As companhias pombalinas…, p. 217-221. Carreira é contundente ao descrever a Companhia como um instrumento de beneficiamento dos comerciantes de Lisboa e do Porto, atento apenas aos dados referentes ao comércio negreiro como forma de confirmar sua afirmação.

130 de capital para as metrópoles400. Estudos que, na época em que foram desenvolvidos, estavam em perfeita conexão com as linhas de pensamento histórico mais modernas do período401.

Ressaltamos que a obra de Fernando Novais, tal como a de C. Prado Júnior, possuía uma perspectiva inovadora que se enquadrava nos paradigmas históricos da época (as décadas de 1970 e de 1940 respetivamente), algo que Jorge Pedreira assinalou na introdução de Estrutura Industrial e Mercado Colonial ao demonstrar como a teoria marxista influenciou toda uma geração de historiadores402.

Estas leituras sobre o Brasil colonial403, que tinham no modelo dualista «metrópole-colónia» um paradigma único para pensar as relações políticas, e particularmente as económicas, dentro do império português, acabaram por se estender até à actualidade404. Sem retirar mérito aos trabalhos acima mencionados - pelo contrário -, estas representações não consideraram a complexidade da estrutura de governo e de poder em sociedades de Antigo Regime, em que havia uma partilha de poderes dentro

400 Fernando NOVAIS, Portugal e o Brasil na crise do sistema colonial (São Paulo: Hucitec, 1979). O

principal ponto da sua obra consiste no conceito de sistema colonial, o seu funcionamento é justificado pelo acumular primitivo de capital através do comércio dos produtos agrícolas coloniais e da venda para as colónias dos produtos manufacturados oriundos da Metrópole, segundo ele, e baseado em Marx, este sistema entra em crise com o surgimento de novas tecnologias da Revolução Industrial, passando do capitalismo comercial para o capitalismo industrial.

401 Na obra clássica de Caio Prado Júnior, Formação do Brasil Contemporâneo, o historiador defendeu

que a colonização portuguesa não visava, em princípio, criar uma sociedade original na América, mas antes explorar ao máximo a colónia e por isso houve tanto empenho em aperfeiçoar o sistema fiscal. Caio Prado relacionou a centralização administrativa de Lisboa - enquanto ponto principal dos negócios ultramarinos -, com a falta de organização, eficiência e presteza do seu funcionamento. A constituição do Brasil em seus primórdios resultou portanto da exploração económica e da ineficiência administrativa de Lisboa. Quem primeiro comparou os estudos de Caio Prado, Fernando Novais, José Ribeiro Júnior e de António Carreira foi Clara Araújo, a quem agradecemos os textos generosamente facultados. Clara Maria Farias de ARAÚJO, «A Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba e a historiografia», (3º Seminário de História da Historiografia: aprender com a história, Ouro Preto, 2009), p. 4. Caio PRADO JÚNIOR, Formação do Brasil Contemporâneo. 23ª ed. (São Paulo: editora brasiliense, 2008), pp. 301 e 333.

402

Pedreira cita outros autores (Pierre Villar, Maurice Dobb) que nas décadas de 40 a 70 do século XX, a partir da teoria marxista, procuraram explicar o desenvolvimento da Europa e o subdesenvolvimento das regiões periféricas através dos mecanismos da espoliação dos recursos naturais e das trocas desiguais entre metrópoles e colónias. Jorge PEDREIRA, Estrutura industrial…pp. 1-10.

403 Inserem-se numa historiografia que privilegia a análise económica, que dá ênfase - no caso do Brasil -

à teoria da dependência; e no caso de Portugal, à imagem da decadência e do atraso em relação aos países mais desenvolvidos. Jorge PEDREIRA, Estrutura industrial…pp. 13-15. Claro ARAÚJO, «A Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba e a historiografia…» p. 4.

404 No estudo sobre os homens de negócio da praça do Recife, Clara Araújo demonstra que os estudos

sobre a companhia pombalina não levaram em conta o comportamento dos agentes comerciais na colónia, apontaram apenas a classe mercantil de Lisboa e Porto como beneficiária da instituição da companhia pombalina. Cf. Clara ARAÚJO, «A Companhia Geral de Pernambuco…», pp. 4-5.

131 desta sociedade405. Mesmo que, a partir de D. José I, as medidas e acções governativas se tenham encaminhado para uma centralidade política que, por sua vez, indicava a génese do definhamento do sistema sinodal, ainda assim, as relações sociais e políticas entre centro e periferias continuavam a se reger por normas e preceitos de Antigo Regime406. O vínculo existente entre a metrópole e as colónias pode ser explicado não apenas por factores puramente económicos - «exclusivo comercial», «exploração económica metropolitana», «sistema colonial» -, mas também pela integração das periferias dentro do império, através do equilíbrio dos poderes, feito a partir das relações entre as diferentes instâncias de poder e das elites manterem vínculos de comunicação com as instituições centrais e com o rei, por meio de uma monarquia pluricontinental407.

A nosso ver, esta pode ser uma explicação - não a única -, para a compreensão da sociedade colonial brasileira, uma sociedade com traços do Antigo Regime, com uma hierarquia social estamental, uma disciplina católica e com o autogoverno das câmaras408.

Por útimo, e a fim de concluir este ponto, no que respeita à criação das companhias pombalinas, concordamos com a hipótese propagada pelos estudos de António Carreira, José Ribeiro Júnior, Jean B. Nardi e Pierre Verger de que estas instituições também foram criadas para que os homens de negócio de Lisboa e Porto expandissem suas influências no comércio colonial, principalmente no que diz respeito ao «trato negreiro»409.

De 1680 até as primeiras décadas do século XVIII comerciantes da Baía, em sua maioria, e de Pernambuco negociavam directamente na Costa da Mina com nações europeias que competiam no mercado internacional com a Coroa portuguesa. O comércio de escravos estimulava o contrabando, preferencialmente o de ouro em pó, e o trato negreiro que até 1650 era exclusivamente triangular (Lisboa-África-Brasil), retirava dos comerciantes reinóis uma fatia deste relevante negócio colonial. Na época pombalina a

405 Isso aplica-se mesmo na segunda metade do século XVIII quando a pessoa do rei passou a ter uma

maior centralidade política que os demais corpos sociais.

406

José M. SUBTIL, O terramoto político…, p. 59.

407 Mais que o Antigo Sistema Colonial, a nosso ver, o conceito de Monarquia pluricontinental explica

melhor as relações colônia/metrópole na Época Moderna. Nuno Gonçalo MONTEIRO, «Governadores e capitães-mores do Império Atlântico português no século XVIII», Modos de…, pp. 93 e ss.

408 João FRAGOSO, «Modelos explicativos da chamada economia colonial…» pp. 106-115.

409 A. CARREIRA, As companhias pombalinas…; Jean Baptiste NARDI, O fumo brasileiro no período colonial: lavoura, comércio e administração. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996. Pierre VERGER, Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo de Benin e a Baía de Todos os Santos: dos séculos XVII a XIX.

132 Coroa quis travar o contrabando, o comércio (proibido) com nações europeias e a perda de receitas, aspetos que analisaremos com mais vagar no próximo capítulo.

Os estudos dos historiadores acima citados evidenciaram como a Coroa, aquando do reformismo pombalino, conseguiu limitar o comércio de escravos feitos por comerciantes radicados na colónia americana com a Mina. Os ensaios económicos acerca da retração do «tráfico baiano» no período da companhia de Pernambuco e Paraíba demonstram que na década de 1770, dez anos após a institucionalização da Companhia no Recife, entraram em média menos de 2 mil escravos oriundos da Costa da Mina no porto de Salvador, sendo que nas primeiras décadas de Setecentos entraram pelo mesmo porto cerca de 7 mil africanos por ano (em média). Os estudos confirmam que a companhia pombalina que funcionava em Pernambuco contribuiu para uma diminuição de africanos na praça de Salvador. Só a partir de 1780, com o fim das duas companhias, o trato negreiro para a região da Mina voltou a ascender a números que ultrapassaram os 5 mil410.

Contudo, mais do que um controlo evidente no comércio atlântico por parte das companhias pombalinas, intervindo no trato negreiro de outras praças americanas com a Costa da Mina, factores internos em África influenciaram a retração do «comércio de captivos» com a região da Mina.

A hipótese de que o comércio de escravos em Angola, na época da companhia, foi financiado por homens de negócio radicados em Portugal foi formulada, a princípio, por Joseph Miller e retomada recentemente por Max Menz411. Podemos constatar que a forma de organização dos negócios, no que respeita ao tráfico de escravos, reproduzia padrões anteriores. Isto é, em Angola onde a presença portuguesa tinha séculos e onde já existia uma praça mercantil articulada com a de Lisboa foi estabelecida uma administração ligada a Junta da companhia pombalina em Lisboa. Na Costa da Mina, onde o resgate era feito pelos capitães de navios, nem procurador da Companhia havia e o comércio era gerido pela Direcção em Pernambuco. O «resgate» de escravos em Angola mudou o local do principal entreposto comercial do ‘tráfico’. Até 1740 comerciantes de Pernambuco iam

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