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Propostas de companhias para o trato negreiro: as estratégias dos homens de negócio das praças do Recife e de Salvador e as alianças com os representantes

PARTE I: A capitania de Pernambuco, as instituições do poder central e o reformismo Setecentista

Capítulo 5 As redes mercantis, os homens de negócio e a Coroa: propostas de empresas comerciais

5.1 Propostas de companhias para o trato negreiro: as estratégias dos homens de negócio das praças do Recife e de Salvador e as alianças com os representantes

da Coroa

O comércio de Pernambuco em meados de Setecentos não era tão próspero quanto havia sido no século XVII. Contudo, não se pode dizer que estivesse em ruínas. Havia sinais de crise, como a oscilação do preço do açúcar, o elevado custo na compra de mão-de-obra escrava, ou, ainda, os problemas com a produção de tabaco e com as condições climáticas (secas, enchentes). Foram factores que ocorreram em conjunto, pouco antes da implementação da Companhia Geral de Comércio em 1759, e que configuraram uma situação económica preocupante tanto para os moradores da capitania quanto para as rendas da Coroa.

A exploração do ouro na região centro-sul do Brasil ocasionou um grande deslocamento da população das capitanias do litoral, junto com uma grande procura por mão-de-obra, que por sua vez, fez o preço da escravaria aumentar vertiginosamente. Associado ao deslocamento da população para a região centro-sul do Brasil - incluindo-se nesta migração também a população escrava -, em 1763 transferiu-se a capital política do Estado do Brasil de uma capitania do Norte, a Baía, para o Rio de Janeiro - capitania mas próxima da região das minas -, tanto por motivos de defesa, quanto por motivos económicos, com consequências para a economia e para a influência política que usufruíam as capitanias do Norte425.

Defendemos no nosso estudo que mesmo que o comércio da capitania de Pernambuco não alcançasse os valores do século XVII -, conseguiu manter-se em níveis lucrativos no século XVIII muito por conta do trato negreiro, do negócio do Sertão - indicativo de um crescimento do mercado interno - e das tradicionais produções e exportações de açúcar e tabaco. O Recife tinha uma posição estratégica em relação aos portos africanos, a viagem entre o porto de Recife e o de Luanda durava em média 35 dias, enquanto a mesma viagem poderia durar 50 dias, para o caso do Rio de Janeiro, e 40 dias para Salvador. Além disso, o Recife foi um importante centro do comércio de escravos, foi o quinto maior centro do comércio transatlântico de escravos do mundo. Entre os séculos

425 A exploração do ouro e a transferência da capital para o Rio de Janeiro teve influência na economia e

139 XVI e XIX estima-se que desembarcaram quase cinco milhões de escravos no Brasil e mais de 853 mil entraram por Pernambuco426.

Mas não podemos deixar de referir alguns factores que fizeram com que a praça carioca retirasse de Baía e de Pernambuco as posições cimeiras no comércio colonial que até então haviam tido. Em primeiro lugar, desde 1710 que o porto carioca absorvia 20% do total de africanos que entravam na América portuguesa, valores que mais que duplicaram nas décadas finais do século XVIII. Em segundo lugar, desde a década de 20 de Setecentos que o Rio de Janeiro procurava desenvolver sua lavoura do açúcar, e a partir de 1740, o açúcar fluminense contribuiu de forma única para a inclusão da capitania no mercado atlântico. Em terceiro lugar, foi na década de 1730 que o Rio de Janeiro passou a deter o grosso do abastecimento das Minas e, dez anos depois, os dízimos da capitania fluminense ultrapassaram os de Pernambuco427. O significado da descoberta do ouro, para além do valor do metal em si mesmo e o papel que veio a ter na balança comercial portuguesa, foi o de fazer mudanças na estrutura político-administrativa da América portuguesa.

A fim de expormos os motivos pelos quais é preciso reflectir sobre a chamada «decadência» da economia pernambucana na primeira metade do século XVIII, analisaremos em seguida, de forma breve, o comércio de escravos, a cultura do tabaco e o comércio de gado.

Para se ter um entendimento geral do comércio é necessário retornar ao início do século e expor dados acerca do comércio de escravos em Pernambuco, por ser uma das principais actividades económicas que dava sustentação a outras. Pois, como referiu o padre António Vieira em 1648, «sem negros não há Pernambuco e sem Angola não há negros»428. Distintamente da época Seiscentista, no Setecentos esta mão-de-obra escrava não era exclusivamente de Angola, visto que a Costa da Mina assumiu um lugar de destaque enquanto região que municiava o trato negreiro para a capitania Duartina.

426 Débora ALBUQUERQUE; Flávio VERSIANI; José Raimundo VERGOLINO. Financiamento e organização do tráfico de escravos para Pernambuco no século XIX. [Consultado em outubro de 2013]. Disponível

em: http://www.anpec.org.br/revista/aprovados/Escravos.pdf p. 4

427 João FRAGOSO e Manolo FLORENTINO, O arcaísmo como projecto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma sociedade colonial tardia: Rio de Janeiro, c. 1790 - c. 1840 (Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 2001), pp. 76-77.

428 Carta do padre António Vieira ao marquês de Niza em 12 de agosto de 1648 em João Adolfo HANSEN,

140 Conforme o estudo de Gustavo Acioli, no último quartel do século XVII, cresceu o negócio de escravos realizado pela Baía e Pernambuco com os portos africanos. O tabaco foi elemento basilar na formação das vias escravistas das principais praças mercantis do Brasil, como aqui foi dito. Uma vez que foi neste período - final do século XVII -, que a concorrência europeia por africanos atingiu a sua primeira alta, a capacidade dos traficantes do Brasil competirem no mercado da Costa da Mina residiu na oferta de um bem com baixo custo de produção e com boa procura no mercado africano. O tabaco de terceira qualidade reunia essas características429.

Assim, o comércio de escravos da Costa da Mina com Pernambuco foi fundamental para a recuperação económica da capitania após a saída dos flamengos. No final das guerras contra os holandeses (1654), a capitania suportou os custos de reconstrução do sector açucareiro numa conjuntura de declínio dos preços externos das mercadorias coloniais e de aumento da concorrência. A chegada dos escravos da Costa da Mina no final do século XVII contribuiu para refrear o aumento nos custos da produção do açúcar430.

O papel deste comércio é ainda mais relevante após a descoberta das minas, no início do século XVIII, pois passou a existir a necessidade de braços africanos no centro sul do Brasil para a mineração, e Pernambuco tornou-se num abastecedor dessa região, algo que estimulou o comércio dentro da colónia e as exportações internas, ou seja, de uma forma geral, manteve a economia da capitania em equilíbrio. Mas prejudicou o abastecimento interno.

A capitania de Pernambuco tinha a vantagem de contar com duas procedências de fornecimento de mão-de-obra, Angola e a Costa da Mina, e tal foi essencial para acalmar os indícios da chamada «crise açucareira», pelo menos até 1720, pois estimulou o comércio de escravos dentro da colónia. Vitorino Magalhães Godinho declara que a crise comercial do século XVII começa a findar em finais de Seiscentos. Se antes houvera uma quebra nos preços do açúcar, do tabaco e da pimenta, a partir de 1690 o cenário mercantil foi outro. Os preços do açúcar e do tabaco subiram porque os consumos dos dois géneros aumentaram muito, mesmo sem a conquista de novos mercados. Segundo o historiador,

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Gustavo Acioli afirma que desde o final do século XVII o tráfico directo entre Brasil e África não foi interditado pela Coroa e que na primeira metade do século XVIII os homens de negócio da praça do Recife que o praticavam eram na sua maioria naturais de Braga, Porto e Viana do Castelo. Gustavo Acioli LOPES, Negócio da Costa da Mina e Comércio Atlântico…, pp. 231-232.

430 A última batalha deu-se em janeiro de 1654, mas o tratado de Haia onde os holandeses reconheciam

141 os anos de 1690 a 1705 foram de desenvolvimento e prosperidade mercantil para Portugal e seu império431.

Não é por isso de admirar que, no início do século XVIII, os comerciantes de «grosso trato» da praça do Recife revendessem escravos e mercadorias às praças mercantis da Baía e do Rio de Janeiro. Exemplo disso são as dívidas que a família Correia de Sá - do clã mercantil fluminense -, tinha com um destes comerciantes pernambucanos. José Vaz Salgado era homem de negócio, capitão de Infantaria da Ordenança da praça do Recife, proprietário do ofício de selador e feitor da Alfândega do Recife, dono de embarcações, estava envolvido com o comércio de escravos em Angola e na Costa da Mina e com a redistribuição de mercadorias nas capitanias do litoral432. Em meados do século XVIII os irmãos Martim Correia de Sá e Luís José Correia de Sá deviam mais de dois contos de réis, em compra de escravos, à viúva do comerciante pernambucano433.

Segundo o estudo de Breno Almeida Vaz Lisboa, a partir da década de 20 de Setecentos a situação alterou-se e as Câmaras de Olinda e do Recife escreveram ao rei queixando-se da falta de escravos, pois muitos dos que desembarcavam na capitania passavam para a região das Minas e os que ficavam eram vendidos a altos preços. As câmaras pediam uma lei que proibisse a saída dos escravos da capitania: «nem por mar e nem por terra para o Rio de Janeiro»434. Escravos que antes eram vendidos a cinquenta mil réis passaram a ser vendidos a cento e oitenta mil réis com o aumento da procura para a mineração. Se a princípio vender escravos para a região mineira fez prosperar a economia da capitania, a crescente necessidade de mão-de-obra no sul do Brasil, a partir da década

431 Vitorino Magalhães GODINHO, Mito e mercadoria. Utopia e prática de navegar (Lisboa: Difel, 1990),

pp. 485-487.

432Registo Geral de Mercês (RGM). ANTT/RGM/D. João V e D. José I. RGM/D. João V, liv. 25, f.22.

RGM/D. José I, liv. 13, f. 447.

433 Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP). Inventários do século XVIII.

1759 - José Vaz Salgado. Vaz Salgado era natural de Fafe, atualmente integrado ao distrito de Braga, chegou ao Recife no final do século XVII, casou em 1729, fez carreira nos terços militares e alianças com grandes mercadores. Em 1734 há documentos que o relacionam com o trato negreiro. Durante toda a primeira metade do XVIII angariou a sua fortuna. Teresa MARQUES, «José Vaz Salgado: a herança de um militar-mercador no Recife de meados do século XVIII» Textos de História. Revista do Programa de Pós-

graduação em História da UnB. Vol. XV, nº 1 e 2 (2007), pp. 245-247. [Consultado em 2 de junho de

2012]. Disponível em: http://seer.bce.unb.br/index.php/textos/article/view/971/638.

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A Baía também vai sentir uma quebra na produção entre 1710 e 1720, o aumento do preço da arroba do açúcar branco foi de 20%, e o aumento do preço do escravo vendido na praça da Baía foi de 300% e na de Pernambuco de mais de 200%. Breno Almeida Vaz LISBOA, «Uma elite em crise: a açucarocracia

de Pernambuco e a câmara Municipal de Olinda nas primeiras décadas do século XVIII» (dissertação de

mestrado, Recife, Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco, 2011), pp. 78-80.

142 de 20, aumentou a procura e fez disparar os preços da escravaria em Pernambuco, prejudicando as elites produtoras que, para adquirir escravos para suas lavouras, passaram a ter de pagar preços incompatíveis com os géneros que produziam e exportavam.

Outro factor que pode ter contribuído para a chamada «crise» do açúcar, que em meados do século XVIII se tornou mais visível, foi a criação, em Lisboa, na década de 20 de Setecentos, de mais um imposto sobre o açúcar que era vendido na capital, factor que, conjugado com o atraso das frotas e a pouca quantidade delas435, fazia com que o produto, pela demora em chegar ao consumidor final, perdesse qualidade e, previsivelmente, o seu valor no mercado europeu436.

A perda da fortaleza portuguesa de Ajudá, em 1727, e de Jaquim, em 1732 - consequência das guerras africanas feitas pelo rei de Daomé, Agagá -, também contribuiu para a desestabilização do comércio de escravos com a Costa da Mina, diminuindo consequentemente a oferta e reposição da mão-de-obra na capitania, o que inevitavelmente acarretaria o aumento do custo da produção açucareira437. Por isso, no final da década de 1730 os valores mudaram, ocorrendo uma redução nos números de escravos que entraram nas capitanias de Pernambuco, Baía e Rio de Janeiro oriundos da Costa da Mina438.

Se do final do século XVII até as primeiras décadas de Setecentos este comércio esteve em expansão, em virtude da procura por braços africanos na região das minas do Brasil, do alargamento da produção e exportação do tabaco de 3ª qualidade, das sociedades mercantis baianas e pernambucans que realizavam o comércio Atlântico de forma sistemática e lucrativa, a situação mudou em meados do século XVIII439. Outros

435 Neste período chegou a haver apenas uma frota para Pernambuco. Chegava a Lisboa em julho. José

Josbson de Andrade ARRUDA, «A circulação, as finanças e as flutuações económicas» em Nova História

…, p 170.

436 Documentos Históricos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. 99, pp. 85-87. Segundo Vera

Ferlini, «o encarecimento dos custos de produção parece ter gerado a diminuição geral da safra, explicando tanto o declínio da produção, como o aumento relativo dos preços» e foi este aumento que propiciou a criação de mais uma taxa. Vera L. Amaral FERLINI, A civilização do açúcar…, p 119.

437 Jean Baptiste NARDI, O fumo brasileiro no período colonial: lavoura, comércio e administração (São

Paulo: Editora Brasiliense, 1996), p 240.

438 Manolo FLORENTINO et al, «Aspectos comparativos do tráfico de africanos para o Brasil…» p. 89. 439 Uma das preocupações da Coroa era limitar o contrabando de ouro em pó, muito utilizado no

pagamento de taxas na costa africana. O ouro chegava em Salvador e também em Recife através do caminho velho das minas que ligava a região mineradora à Baía e de lá a Pernambuco. Os laços comerciais dos negreiros da Baía e de Pernambuco geraram relações comerciais com a Costa da Mina,

143 factores contribuíram para que o comércio com a Costa da Mina entrasse em declínio. Factores como os conflitos internos naquela região entre os reis africanos, o pagamento de taxas exigido pelos holandeses, o esgotamento da população africana nos lugares habituais do tráfico fizeram com que o número de escravos comercializados com a Costa da Mina estacionasse, só vindo a aumentar no final do século XVIII440.

Quanto ao preço e à produção do açúcar, também declinaram e, em conjunto, todos estes factores concorreram para uma situação de risco para a indústria açucareira em meados do século XVIII441.

Contudo, foi considerável o número de escravos que entrou em Pernambuco durante toda a primeira metade do século XVIII. Gustavo Acioli usou duas informações, baseadas em fontes documentais, para confirmar a relevância do trato negreiro da capitania com a Costa da Mina. A primeira diz respeito aos registos da Junta do Tabaco sobre as exportações de Pernambuco para a África; a segunda refere-se aos valores de arrecadações de impostos sobre escravos. Conforme a conclusão de Acioli:

Entre 1695 e 1750, Pernambuco importou entre 60.000 e 80.000 escravos da Costa da Mina. Este tráfico coube, em boa medida, aos homens de negócio residentes no Recife. Não que os homens de negócio de Lisboa tenham deixado este ramo do tráfico. Ocorreu, sim, uma alteração no segundo trecho do tráfico lisboeta. Se até fins do séc. XVII as embarcações reinóis iam à Baía e a Pernambuco depois de escalarem na Costa da Mina, desde o início do século seguinte o Rio de Janeiro torna-se o seu destino preferencial. Destarte, o tráfico de Salvador e do Recife passa a ser predominantemente realizado pelos homens de negócio destas praças442.

tal proximidade gerou reações da parte de Lisboa descontentes com a liberdade de comércio destes comerciantes com nações estrangeiras. Manolo FLORENTINO et al, «Aspectos comparativos do tráfico de africanos para o Brasil…», p. 84.

440 Os holandeses cobravam 10% aos navios que aportassem em São Jorge da Mina, além de outras

taxas e propinas e proibiam o comércio luso nos melhores portos. As melhores peças estavam guardadas para as suas colónias americanas. AHU, São Tomé, cx. 7, doc. 25.

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Ainda assim, a capitania ainda era a segunda região produtora mais importante do Brasil até fins do Seiscentos, pois perdera o primeiro lugar para a Baía. A partir dos anos 1720, quando os efeitos da queda do preço do açúcar no mercado externo se fizeram sentir na colónia, enquanto no centro-sul a produção nas minas aumentava, Pernambuco passou a ocupar o terceiro lugar na hierarquia económica da América portuguesa.

442 Gustavo Acioli LOPES. «Nas Margens da História: o comércio de escravos e a economia de

Pernambuco no Império Português, 1654-1760». Blogue de História Lusófona, IICT, 2009. [Consultado em 9 de setembro de 2011]. Disponível em: http://www2.iict.pt/?idc=102&idi=13529#_ftnref6. Segundo esta estimativa, entraram em Pernambuco cerca de 1454 escravos anuais vindos apenas da Costa da Mina como comércio livre. Segundo António Carreira no período da Companhia, vindos da Costa da Mina entram apenas 365 escravos em média, por ano, pouco mais de 7.000 escravos. António CARREIRA, As companhias pombalinas…, p 232.

144 Como aqui defendido, o comércio de forma geral não estava em ruína, embora a oscilação dos preços dos produtos coloniais tenha sido uma constante, sendo o açúcar um dos géneros mais afectados. E se o comércio com a Costa da Mina estava em declínio, o mesmo não se pode dizer com Angola443.

Assim, se considerarmos este quadro geral, é possível compreender porque a ideia de se formar uma companhia de comércio para o «resgate» de escravos - com a finalidade de diminuir os custos com a produção da cana-de-açúcar através de uma maior inserção de mão-de-obra -, tenha partido dos próprios moradores da capitania.

Em 18 de maio de 1757 o governador de Pernambuco escreveu à Secretaria de Estado do Reino informando a intenção dos senhores de engenho, lavradores e homens de negócio de estabelecerem uma Companhia para aumentar a entrada de escravos em Pernambuco, transportar géneros produzidos na capitania para o Reino e comercializar têxteis, rouparia da Índia, ferro, missangas e outros géneros, destinando um quarto das acções desta Companhia aos homens de negócio da Corte444.

O relatório do governador ao secretário de Estado do Reino e Mercês, Carvalho e Melo, indiciava uma situação de «crise», algo que, nas palavras do governador se configurava numa «situação de decadência e ruína» para a agricultura regional. E, naquilo que respeitava ao comércio de escravos, informava o governador os problemas da comercialização do tabaco e as dificuldades encontradas para controlar os excessos de oferta nos mercados africanos445. Segundo o relatório do representante da Coroa, o plano da Coroa datado de 1743 para reduzir a oferta de tabaco de 3ª categoria, diminuindo o envio de navios da Baía e Pernambuco para a África, só tinha resultado nos primeiros dez anos. A partir de 1754 foram feitas novas tentativas para reestruturar o sistema comercial entre Pernambuco, Baía e Costa da Mina. A lei de 1756 também não ajudava a expansão

443 Manolo FLORENTINO et al, «Aspectos comparativos do tráfico de africanos para o Brasil…», p. 89.

Neste artigo os autores demonstram que na década de 40 de Setecentos entraram menos de 50 mil africanos oriundos da Costa da Mina ao mesmo tempo que subia para mais de 120 mil peças oriundas de Luanda.

444 AHU, Conselho Ultramarino, Pernambuco. [Ofício do governador da capitania de Pernambuco, Luís

Diogo Lobo da Silva ao secretário de Estado do Reino e Mercês, Sebastião José de Carvalho e Melo, 1757, maio, 18, Recife]. AHU_ACL_CU_015, Cx. 84, D. 6948.

145 do trato negreiro, a provisão determinava que o director da Fortaleza de Ajudá só poderia autorizar o «tráfico» de apenas um navio por vez446.

Porém, tornava-se cada vez mais claro que não se tratava de uma questão de esquemas mercantis - isto é não era diminuindo o número de navios ou de rolos de tabaco que se regularia o comércio de captivos - mas de problemas vinculados à esfera da compra de escravos em África. A preferência dos estrangeiros que dominavam as fortalezas - principalmente os britânicos e os holandeses -, pelo ouro do Brasil, que facilmente

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