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G. Poggi (1965), The British Journal of Sociology, Dec.

2. A Abordagem Dominante na Avaliação de

2.1. A Lógica da Avaliação de Programas Formativos

Nas organizações o processo formativo é encarado como "a sistemática

aquisição de atitudes, conceitos, conhecimentos, regras, e competências que

x Muitas vezes referida na gíria técnica como avaliação e validação da formação.

da e xp li ca g âo à co mp re e n são

resultam em melhorias de desempenho no trabalho." (Goldstein, 1991, p.508 -

tradução do autor). Quer se realize nos locais de trabalho (como no caso da formação "on-the-job"), quer se realize noutros locais (como no exemplo da formação em sala), a formação consiste num "contexto de aprendizagem

sistematicamente planificado baseado num cuidadoso diagnóstico de necessidades das exigências do trabalho e das capacidades dos formandos." (idem).

Para evidenciar os componentes do processo e o seu funcionamento, poderá ser útil analisar um sistema formativo, tal como é habitualmente conceptualisado (v. figura 1). Neste modelo, o ponto de partida é o diagnóstico de necessidades "necessário para estabelecer, quer o programa de formação,

quero modelo de avaliação." {idem, p. 514). No diagnóstico de necessidades a

análise organizacional é utilizada para estudar os vários subsistemas da organização de modo a verificar se a formação é necessária, se uma intervenção formativa pode originar comportamentos que sejam transferíveis para a organização e se as aprendizagens no contexto formativo são congruentes com a cultura e o clima da organização. Depois da análise organizacional é necessário determinar as tarefas requeridas pela função e os conhecimentos, competências e aptidões (KSA22) que são necessárias para as

desempenhar. Na última etapa do diagnóstico de necessidades, através da análise das pessoas, determinam-se quais são as pessoas da organização que precisam de formação e que tipo de formação precisam.

22 A designação KSA está bastante difundida na literatura anglo-saxónica e designa Knowledge, Skills e Abilities.

da explicação à co mp re e n sã o

Diagnóstico de Necessidades a. análise organizacional b. análise das tarefas e KSA c. análise das pessoas

Figura 1

Um sistema Formativo

(Goldstein, 1991, p. 515)

objectivos formativos desenvolvimentOTT*" de critérios selecção e concepção de programas formativos formação uso de modelos | de avaliação validação da ■]♦• formação validação da transferência validação intra- organizacional validação inter- organizacional

A partir das informações obtidas no diagnóstico de necessidades são elaborados os objectivos formativos que descrevem as KSAs a serem alcançadas no final da execução do programa. A partir dos objectivos são concebidos, quer os programas de formação, quer os critérios de sucesso que serão usados para julgar a sua adequação.

A etapa seguinte consiste na configuração do conjunto de condições que favorecem a consecução dos objectivos (condições de aprendizagem, selecção de meios, técnicas e métodos pedagógicos adequados às tarefas que é suposto os formandos virem a desempenhar).

Finalmente, o processo de avaliação envolve dois procedimentos: estabelecimento de medidas de sucesso (critérios) e utilização de dispositivos de experimentação para determinar que mudanças ocorreram durante a formação e na transposição dessas mudanças para a organização. Os critérios devem ser estabelecidos para avaliar os formandos no final do programa de

da explicação à co mp re e n s3 o

formação e para avaliar o seu desempenho no posto de trabalho (validade da formação e validade da transposição ou da transferência). Para realizar a validação intra-organizacional e inter-organizacional o processo avaliativo deve recorrer a modelos de avaliação, como por exemplo aos planos pré- experimentais, experimentais e quase-experimentais.

Segundo Goldstein (1991, p.57 - tradução do autor), "a avaliação é a

recolha sistemática de informações descritivas e de julgamento necessárias à efectiva tomada de decisão relacionada com a selecção, aceitação, valor e modificação de várias actividades de formação. Os programas de formação reflectem diversos objectivos que vão do progresso dos formandos às finalidades da organização. Desta perspectiva, a avaliação é uma técnica de recolha de informações que possibilita a revisão dos programas para alcançar os múltiplos objectivos formativos."

Para ilustrar as questões que esta abordagem deve enfrentar na avaliação de programas, Golstein (1991) sugere que se analisem as seguintes queixas:

• "A queixa do formando. Houve uma conspiração. Acabei de frequentar

o meu programa de formação. Realizei mesmo um pré-teste e um pós- teste. O meu resultado no pós-teste era significativamente melhor que os resultados dos meus vmigos do grupo de controlo no posto de trabalho. Contudo, acabei de perder o meu trabalho porque não consegui desempenhara actividade.

• A queixa do formador. Houve uma conspiração. Toda a gente elogiou

o nosso programa de formação. Disseram que era o melhor programa que alguma vez frequentaram. Os formandos tiveram mesmo hipótese de se divertirem um pouco. Agora, os formandos disseram-me que os gestores não os deixaram desempenhara função tal como os treinamos.

• A queixa da organização. Houve uma conspiração. Os meus

concorrentes usaram o programa de formação e para eles funcionou. Economizaram um milhão. Implantei-o estritamente a partir dos manuais deles e os meus trabalhadores continuam a não ser capazes de realizar o trabalho. " (pp.570-571 - tradução do autor).

Estas preocupações revelam algumas das questões fundamentais que estão subjacentes à avaliação tal como é concebida nesta abordagem. Para a

da explicação à co mp re e n sã o

sua realização, os avaliadores deveriam ser capazes de responder às seguintes questões:

• "O exame dos vários critérios indica que ocorreu uma mudança? • As mudanças podem ser atribuídas ao programa?

• É possível que mudanças similares ocorram com novos participantes

do mesmo programa?

• Ê possível que mudanças idênticas ocorram com participantes diferentes do mesmo programa numa outra organização?" (Goldstein,

1991, p.571 - tradução do autor).

Em síntese, pode considerar-se que esta lógica de avaliação de programas é claramente tributária de um posicionamento epistemológico de tipo objectivista e quantitativo em que os programas, apesar de enquadrados em processo de mudança, e considerados eles próprios como mudanças, são avaliados como se fossem produtos estáticos cuja natureza e funcionamento supostamente obedecem a leis de causalidade. Outro aspecto interessante na análise desta lógica é a concepção do sistema social de tipo orgânico que subjaz a este tipo de abordagem, em que a funcionalidade do sistema preside a toda a lógica do processo formativo, como se pormenorizará no ponto 4 deste capítulo.

No sentido de reflectir sobre formas alternativas de equacionar e realizar a avaliação, no ponto seguinte caracteriza-se a abordagem das teorias subjacentes aos programas. A opção por esta abordagem foi determinada pela sua utilização na estruturação do trabalho de campo e por constituir uma reacção às debilidades das práticas inspiradas no modelo experimental.

3. As Teorias Subjacentes ao Programa: