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G. Poggi (1965), The British Journal of Sociology, Dec.

2. Contexto da Investigação

2.2. Alterações no Sistema Financeiro Português

Antes de descrever o contexto interno em que, no Banco, ocorreram as referidas reestruturações e o programa formativo que originaram, que constitui o objecto deste estudo de caso, poderá ser importante, para uma melhor compreensão do que então se passou, caracterizar o contexto do sistema financeiro português dessa altura, marcado pelas profundas alterações que nele se produziram durante a década que se seguiu à abertura do sector bancário à iniciativa privada.

A legislação publicada em 1983/ 4 que possibilitou a liberalização do acesso da iniciativa privada aos sectores bancário e segurador e a intensificação dos processos de desregulamentação e de inovação financeira que daí decorreram, a crescente abertura e internacionalização da economia e das actividades financeiras, sobretudo dinamizadas pela adesão à União

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Europeia que acarretou a transposição de directivas e outras disposições no âmbito da construção do Mercado Interno Europeu dos Serviços Financeiros e da criação da União Económica e Monetária, provocaram profundas alterações no sistema financeiro português, alterando substancialmente o seu enquadramento jurídico, operacional e concorrencial (Fernandes &

Portela, 1994).

Referindo-se ao período de dez anos iniciados com a legislação de 1983/4, Fernandes & Portela (idem, p.7) caracterizam da seguinte forma o sistema financeiro nacional: "De um sistema dominado pelo sector público,

estreitamente regulamentado e controlado pelas autoridades monetárias, passou-se para um sistema aberto e competitivo, com predomínio da iniciativa privada e auto-regulado pelo mercado."

Os mesmos autores {idem, pp.7-9) caracterizam as mudanças ocorridas no sistema financeiro português durante o referido período salientando as seguintes transformações:

. "liberalização e desregulamentação financeira seguida do

estabelecimento gradual, em harmonia com as disposições comunitárias, de novas regras prudenciais visando prevenir o sistema dos riscos acrescidos daí resultantes (fundos próprios, rácio de solvabilidade controlo dos grandes riscos, supervisão bancária em base consolidada e sistema de garantia de depósitos);

. inovação e diversificação financeira, traduzida na criação de novos

bancos e proliferação de novas instituições de crédito e sociedades financeiras, na reforma e desenvolvimento dos mercados monetário, cambial e de capitais e na multiplicação dos instrumentos financeiros oferecidos aos clientes;

. desintermediação progressiva da actividade bancária tradicional

acompanhando o desenvolvimento do mercado de títulos, como forma alternativa de aplicação de poupanças e de financiamento das

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empresas, com o consequente incremento do fenómeno da «titularização»;

• substituição do controlo directo do crédito por um sistema de gestão

da política monetária baseada no controlo indirecto da liquidez e das taxas de juro (e por essa via das taxas de câmbio) através da intervenção do Banco Central nos mercados interbancários em operações que se aproximam das que caracterizam a actuação «em mercado aberto»;

• liberalização dos movimentos de capitais e participação no mecanismo cambial do SME;

• independência crescente do Banco Central na execução da política monetário-cambial, no quadro da nova lei orgânica que rege a sua actividade, e alteração do modo de funcionamento do Estado, que passou a fazer-se quase em exclusivo através de instrumentos de mercado financeiro e nas condições aí prevalecentes;

• criação de dois grupos financeiros do Estado, liderados, respectivamente, pela Caixa Geral de Depósitos e pelo Banco de Fomento Exterior, e privatização total ou de parte substancial do capital das restantes instituições de crédito e outras instituições financeiras, com a consequente estruturação de novos grupos financeiros privados;

• globalização financeira, facilitada pelo desenvolvimento das novas

estruturas de grupo de tipo conglomerado financeiro, no sentido de que os bancos, por si ou através das suas participadas, procuram oferecer aos clientes todos os produtos e serviços financeiros de que eles necessitam, contribuindo assim para o aumento da competitividade e para a fidelização da clientela;

• modernização das instituições de crédito, nomeadamente, através do

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transmissão de dados e de prestação de serviços financeiros automatizados, aproveitando o desenvolvimento nas transmissões e nos sistemas de informação, com a consequente utilização de tecnologias mais capital intensivas, mas relativamente economizadoras de mão-de-obra. É de referir que os efectivos das instituições de crédito, nos últimos 10 anos, cresceram menos de 10%, enquanto os serviços se multiplicaram e o grau de «bancarízação» se expandiu de forma assinalável, a avaliar pelo alargamento da rede de balcões, a qual mais que duplicou no mesmo período;

• internacionalização crescente da actividade financeira, com a

implantação de bancos estrangeiros em Portugal e a expansão dos principais bancos nacionais em Espanha e em outros países comunitários com os quais Portugal possui maiores afinidades ou mantém relações económicas e financeiras mais intensas;

• desenvolvimento, pelos bancos, de estratégias de marketing,

baseadas na segmentação da clientela e no aproveitamento de vantagens competitivas vocacionais ou entretanto adquiridas em nichos de mercado especializados;

• melhoria significativa da qualidade e produtividade dos recursos

humanos, traduzida, nomeadamente, na evolução do valor dos activos e passivos por trabalhador e dos efectivos por agência, com o consequente encurtamento das diferenças que ainda separam a banca portuguesa dos rácios médios europeus;

• liberalização das taxas de juro e o progressivo abandono dos

indexantes estabelecidos por via administrativa e sua substituição por indicadores formados em mercado; peso crescente dos factores de risco na determinação das taxas de juro dos financiamentos, também facilitada pela introdução de prime rates e pela atribuição de notações de rating;

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• reforço dos capitais próprios da generalidade das instituições de

crédito, com a consequente melhoria dos rácios de solvabilidade global e ponderada em função dos riscos dos activos;

• publicação, em finais de 1992, da nova Lei-Quadro das instituições de

crédito e das sociedades financeiras, incorporando os princípios da «licença bancária única», do reconhecimento mútuo e do controlo pelas autoridades de supervisão do país de origem, consagrados na 2a

Directiva de Coordenação Bancária e nas Directivas ou Recomendações complementares.

Neste quadro, foi adoptado, em consonância com o modelo preconizado na referida 2a Directiva, o conceito de banco universal, culminando, aliás, um

movimento de prática bancária no sentido da polivalência crescente das suas actividades que vinha já da década anterior. Deste modo, a especialização dos bancos passou a resultar, não de uma imposição legal, mas a ser consequência apenas das opções da respectiva gestão.

• aumento da concorrência interbancária e entre os diversos segme ntos

do sistema financeiro, nomeadamente, nas áreas de captação de recursos e da concessão de crédito, com a consequente redução das taxas de juro e das margens de intermediação. Tal facto motiva os bancos a incrementar e a diversificar a prestação de serviços, por forma a aumentar o contributo dos proveitos desta origem para o produto bancário, procurando compensar, deste modo, a diminuição relativa das margens de intermediação, a exemplo do que sucede na generalidade dos restantes países da União Europeia."

Em síntese, este período de 1983 a 1993 é caracterizado por profundas alterações no sistema bancário português. Verifica-se um crescimento muito significativo do número de instituições de crédito e de sociedades financeiras nacionais e estrangeiras e um aumento da importância dos bancos na nossa economia - o produto bancário, medido pela percentagem que representa no

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PIB, aumentou de 5,4% em 1980 para 8,6% em 1991, valor só suplantado pelo Luxemburgo no conjunto dos países da União Europeia (v. Fernandes & Portela, 1994, p.10). Iniciou-se também neste período o processo de privatização com a reestruturação e redimensionamento de várias instituições, a integração na Comunidade Europeia, a dinamização das Bolsas, o desenvolvimento dos mercados monetário, financeiro e cambial e o processo de desregulamentação e de inovação que acarretaram mudanças substanciais no contexto jurídico e concorrencial deste sector.

Foi durante este período turbulento para a Banca que ocorreram as reestruturações que deram origem ao programa estudado. No ponto seguinte procura-se caracterizar o contexto organizacional em que se verificaram e as mudanças que produziram.