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G. Poggi (1965), The British Journal of Sociology, Dec.

3. As Teorias Subjacentes ao Programa: Uma Reedição do Ideário Positivista

3.2. Caracterizações de Teoria Subjacente ao Programa

Bickman define a teoria subjacente ao programa como "a construção de um

modelo plausível e equilibrado da forma como é suposto o programa funcionar"

(Bickman, 1987, p. 5 - tradução do autor) face ao problema que lhe deu origem. Reynolds & Walberg (1990, p. 21 - tradução do autor), referem que a

"teoria subjacente ao programa é uma concepção de como e porquê um programa funciona. Embora seja frequentemente implícita na avaliação pelas suposições que um gestor ou um avaliador do programa possuem, a teoria subjacente ao programa refere-se geralmente à formulação explícita da forma pela qual o programa opera. "

Conrad & Miller (1987) usam o termo «filosofia do programa» para significar o sistema de crenças, de teorias e de valores que definem e influenciam a estrutura, população a que se dirige, processo e resultados que promove. Assumem, numa perspectiva dedutiva, que a filosofia é anterior às manifestações físicas e comportamentais do programa e acreditam que esta perspectiva facilita o uso de métodos experimentais através do levantamento de hipóteses que seriam posteriormente testadas e comparadas com outras avaliações.

Para Scheirer (1987, p. 60 e 61- tradução do autor), a teoria subjacente ao programa consiste em uum ou mais conjuntos de suposições causais, ou

relações de causa e efeito, que proporcionam o racional para a avaliação do programa. Tais teorias podem basear-se simplesmente em noções do senso comum acerca das formas como os actores relevantes se comportam. Preferencialmente, as teorias são derivadas da base empírica dos estudos científicos cujo domínio é relevante para o conteúdo dos componentes do programa a ser desenvolvido."

Esta autora (Scheirer, 1987, p.61 - tradução do autor) distingue a teoria subjacente ao programa da teoria subjacente ao processo de implementação. Esta é definida como "o corpo de conhecimentos acerca das relações de causa

e efeito que ajudam a explicar porquê uma componente observada da implementação foi realizada." Digamos que a teoria subjacente ao programa

ajuda a especificar em que é que consiste o programa, enquanto que a teoria subjacente ao processo de implementação ajuda os avaliadores e os gestores do programa a compreender porquê foi ou não executado como estava previsto.

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De acordo com McClintock (1987) a teoria subjacente ao programa é composta por explicações científicas, teorias implícitas, modelos de inputs, de processos e de outputs, assim como por enunciados das políticas que se pretendem implementar.

Wholey (1987, p. 77 - tradução do autor) considera que a teoria subjacente ao programa "inclui a medição da performance do programa (recursos gastos,

actividades do programa e resultados do programa) e o testar das suposições causais que fazem a ligação entre os recursos, actividades e resultados do programa. "

Para Shadish (1987, p.93 - tradução do autor) "a teoria subjacente ao

programa dá informação e facilita a mudança de duas formas complementares e mutuamente dependentes:

• a microteoria subjacente ao programa descreve a estrutura e

características do que está a ser avaliado em suficiente pormenor para proporcionar infonvação sobre a natureza geral do projecto ou programa, do seu funcionamento e (quando é evidente que o conjunto não pode ser alterado) das partes das suas componentes alteráveis;

• a macroteoria subjacente ao programa pormenoriza os factores sociais,

psicológicos, políticos, organizacionais e económicos que facilitam ou constrangem a mudança no interior ou no exterior dos programas. "

Apesar da importância da complementaridade e da dependência mútua entre a macro e micro teorias, a maior parte dos teóricos da avaliação concentram-se quase exclusivamente na microteoria. O facto de os avaliadores de programas sociais defenderem frequentemente que as melhorias de curto prazo constituem um dos seus objectivos prioritários e a constatação dos sistemas sociais serem marcadamente resistentes a mudanças sociais importantes, podem constituir possíveis explicações para esta escassa atenção dada à problemática da mudança social que contextualiza a avaliação de programas e que constitui o objecto de estudo da macroteoria que lhes está subjacente. (Shadish, 1987).

Qualquer que seja a sua definição, a teoria subjacente ao programa é especificada em relação a propósitos ou meios, tal como são definidos pelos conceptores e avaliadores, com o objectivo de clarificar o que pode ser esperado

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do programa e como um referencial que pode guiar a selecção das medidas destinadas a avaliar inputs, processos e outputs (Reynolds & Walberg, 1990).

Podemos concluir que todos os programas têm teorias subjacentes mesmo que implícitas, fragmentadas e inadequadamente conceptualizadas. São constituídas por conjuntos de importantes suposições que podem incluir constructos básicos como a concepção sobre a natureza humana, suposições acerca da natureza do problema, da população-alvo e das fronteiras do programa, ou das suas condições limitadoras. A estas suposições são adicionadas suposições acerca das ligações causais dentro do programa, articulando as múltiplas e complexas inter-relações entre os seus componentes. (Bickman, 1987).

No contexto da teoria subjacente ao programa é importante constatar o sentido em que é entendido o conceito de teoria. A forma como "os conceptores

e implementadores de programas utilizam o termo teoria é para significar uma vaga noção ou palpite, habitualmente não baseados nos conhecimentos das ciências sociais." (Bickman, 1987, p.6 - tradução do autor).

Em grande parte das situções "os responsáveis pela definição de politicas

e os conceptores de programas não são cientistas sociais e as suas teorias (se tiverem alguma) é provável que sejam simplesmente o folclore corrente dos meios de comunicação social mais intelectualizados." (Chen & Rossi, 1983,

p.285 - tradução do autor).

Por vezes, também os objectivos e as teorias subjacentes ao programa podem ser definidas de forma intencionalmente ambígua por razões políticas ou tácticas como, por exemplo, para obter a adesão dos diferentes actores com interesses investidos no programa. Por estas razões é muito frequente que as teorias subjacentes ao programa sejam definidas de forma não explícita ou que não sejam adequadas ou plausíveis, tendo em conta a forma como agem ou afectam o problema que esteve na sua origem. Daqui pode decorrer que, quando os avaliadores procuram circunscrever a sua operacionalização junto das pessoas que o desenvolveram ou executaram, elas não sejam muito inteligíveis de imediato ou não sejam mais do que suposições vagas sobre a forma como concebem o funcionamento do programa. Torna-se, assim, importante que os avaliadores procurem desenvolver redes causais mais elaboradas e plausíveis sobre a concepção e implementação do programa, em

da explicação à co mp re e n sã o

vez de confiarem nestas intuições e suposições. (Bickman, 1987 e Chen & Rossi, 1983).

Enfim, os responsáveis pela definição das politicas e os demais actores envolvidos no programa podem possuir teorias diferentes entre si ou em oposição directa com os conhecimentos disponíveis nas ciências sociais. Nestas circunstâncias é importante referir que, segundo Bickman (1987, p.14 - tradução do autor), reportando-se a investigações na psicologia social: uas teorias sociais

que as pessoas têm acerca dos eventos são em larga medida baseadas em explicações causais da forma como as variáveis sociais se inter-relacionam. " e

que existem evidências "[...] que as pessoas que possuem crenças extremadas

acerca da natureza causal dos eventos sociais não se tornam apenas enviesadas na fornia como interpretam novas informações, como se tornam mais polarizadas quando expostas a infomiações que contrariam a sua teoria inicial."

De acordo com estas formas de conceber a avaliação de programas, Bickman (1987) sugere que grandes potencialidade se podem abrir à avaliação com a utilização desta abordagem que se destacam no ponto seguinte.