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G. Poggi (1965), The British Journal of Sociology, Dec.

4. rigor A avaliação deve descrever com clareza o objecto na sua evolução e no seu contexto Deve revelar as potencialidades e os limites

1.4. A Geração Respondente Construtivista

Para definirem esta sua abordagem avaliativa, Guba & Lincoln, 1989, partem da consideração que, embora cada uma das três anteriores gerações representem uma evolução para a conceptualização e nível de sofisticação da avaliação, todas possuem certas falhas ou defeitos que necessitam de sérias correcções, ou mesmo reconstruções completas. As falhas e defeitos que particularmente salientam são uma grande tendência para o clientelismo, falhanço na conciliação do pluralismo de valores e um excessivo comprometimento com o paradigma científico da investigação.

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adjudicação, financiamento, patrocínio ou outros marcados interesses no processo de avaliação, tradicionalmente condescendem na definição dos parâmetros e limites das intervenções avaliativas e nas relações que aí têm de estabelecer com as pessoas a quem reportam. Esta tradicional dependência entre os clientes e os avaliadores raramente é questionada, pelas consequências indesejáveis que tal procedimento acarretaria, e produz um conjunto de consequências das quais se salientam:

• os clientes responsáveis pela avaliação ficam protegidos "a são e salvo". As suas capacidades e práticas gestionárias não podem ser questionadas nem relacionadas com os julgamentos negativos eventualmente produzidos no processo avaliativo. Se houver falhas, a avaliação deve procurar justificá-las com outras "causas";

• o processo avaliativo fica limitado em termos de poder e autonomia e pode tornar-se injusto porque o cliente fica com a possibilidade de determinar as questões a que a avaliação deve responder, como será efectuada a recolha e interpretação da informação e a quem serão divulgadas as conclusões;

• na publicação das conclusões da avaliação, os direitos dos avaliadores e dos potencias interessados no acesso a esses resultados são muitas vezes limitados porque os clientes frequentemente detêm, contratualmente, o direito de determinar se as conclusões serão ou não difundidas e, em caso afirmativo, a quem e como;

• dada esta tradicional relação entre o avaliador e o seu cliente, a avaliação pode adquirir a configuração de um conluio destinado a garantir ou proteger os interesses e posições de poder do cliente. Dadas as vantagens em conseguir novos contratos e os benefícios materiais envolvidos, o avaliador pode ficar numa posição de grande vulnerabilidade que eventualmente limita a sua possibilidade de resistir em ceder na determinação da forma de realizar a avaliação imposta pelo cliente (Guba & Lincoln, 1989, p.33).

Quanto ao falhanço na conciliação do pluralismo de valores, as concepções de objectividade e de isenção características das metodologias de cariz "científico" dominantes na avaliação concorrem para que as suas conclusões sejam percepcionadas como traduzindo "factos" que descrevem a

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"realidade" tal como ela é. Contudo, os autores referenciados (idem, p.35 - tradução do autor) defendem que "a asserção que a ciência é isenta de valores

pode ser claramente questionada. Se a ciência não é isenta de valores, então as conclusões são susceptíveis de várias interpretações, assim como os próprios 'factos' são determinados na interacção com o sistema de valores que o avaliador (provavelmente de forma desconhecida) utiliza. Assim, todo o acto de avaliação é um acto político."

Esta suposição da isenção de valores bastante difundida na avaliação potencia a tendência para o clientelismo anteriormente caracterizado devido à convicção de que não havendo interferência de valores, as conclusões avaliativas traduzem a "realidade" e constituem "verdades objectivas".

No que concerne ao excessivo comprometimento com o paradigma científico da investigação, aparentemente as três gerações avaliativas referenciadas (com muito poucas excepções) utilizaram-no para orientar o seu trabalho metodológico, seguindo a tendência de adoptar nas ciências sociais o método vigente nas ciências naturais (idem), destacando-se como consequências para a avaliação:

• o reducionismo da multiplicidade de condições envolvidas no contexto em que se realizam as avaliações para, assim, poder garantir o controlo das condições exigidas pelos dispositivos experimentais, constitui uma das razões que conduziram à irrelevância das avaliações quando confrontadas com o terreno concreto devido à inutilidade prática das suas conclusões;

• o comprometimento com o paradigma científico parece ter levado a uma dependência excessiva com as medições quantitativas que eram o garante do rigor da avaliação. Para os dados serem seguros tinham que ser medidos com precisão e analisados com potentes instrumentos matemáticos e estatísticos. As predições e o controlo eram mais seguros se fossem baseados em dados quantificáveis. Assim, passou a considerar-se que o que não podia ser medido não podia ser real;

• o uso do método científico impede formas alternativas de pensar os objectos da avaliação. Como a ciência tem autoridade para descobrir a verdade da forma como as coisas realmente são e realmente funcionam, todas as alternativas têm de ser erradas. O uso do método científico

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permite o acesso a leis universais, existentes por uma espécie de direito divino, o que permite que a avaliação, assim realizada, não possa ser contaminada pelos valores do avaliador, do cliente, ou de quem quer que seja. A avaliação produz a verdade e esta não é passível de negociação.

• dado a ciência ser vista como isenta de valores, a adesão ao paradigma científico isenta o avaliador de qualquer responsabilidade moral para as suas acções. Daqui decorre que as utilizações e consequências que a avaliação possa vir a ter (ou não ter) são completamente alheias ao avaliador que se limita a explicar a realidade tal como ela é e como funciona.

Em oposição às abordagens das anteriores gerações avaliativas, Guba & Lincoln, 1989, propõe uma abordagem alternativa que denominam de respondente ("responsive") e construtivista.

"O íem70 respondente é usado para designar uma diferente forma de

focalizar uma avaliação, isto é, decidindo no que temos vindo a chamar os seus parâmetros ou fronteiras^ [...] através dum processo interactivo e negociado que envolve todos os 'stakeholders' (v. nota 5 p. 5) e que consome uma considerável quantidade de tempo e de ."ecursos disponíveis. É por esta razão, entre outras, que o 'design' de uma avaliação respondente é dito ser emergente." (idem,

pp.38-39). Por comparação, podemos considerar que nas gerações anteriores os parâmetros e fronteiras da avaliação eram pré-ordenados ou definidos a priori através de negociação entre os avaliadores e os clientes.

Nesta abordagem respondente o algoritmo consiste no facto de iniciar o processo avaliativo com um método destinado a determinar as questões a serem colocadas e as informações a ser recolhidas. Estas consistem nas reivindicações (claims) - "qualquer defesa de um direito que um 'stakeholder"

possa introduzir e que seja favorável ao objecto da avaliação." (idem, p.40 -

tradução do autor), preocupações (concerns) - "qualquer defesa de um direito

que um 'stakeholder" possa introduzir e que seja desfavorável ao objecto da avaliação." eproblemáticas (issues) - "qualquer tipo de situação acerca da qual as pessoas razoáveis devem discordar." (idem). Estas diferentes reivindicações,

" Os parâmetros e fronteiras são entendidos como as questões que devem ser colocadas e as informações que devem ser recolhidas nas intervenções avaliativas.

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preocupações e problemáticas determinadas pelos vários 'stakeholders' serão utilizadas para definir o tipo de informações a serem posteriormente recolhidas.

Uma das principais tarefas do avaliador é conduzir o processo avaliativo de tal forma que cada grupo deva tomar contacto e confrontar as suas construções com as construções de todos os outros, num processo hermenêutico e dialéctico. Se não se chegar a conclusões consensuais em relação às reivindicações, preocupações e problemáticas dos diversos 'stakeholders' - como idealmente seria desejável, mas na prática pouco provável - o avaliador deve recolher informações sobre os aspectos divergentes para, com base nestas informações, empreender e liderar sessões de negociação, em que desempenha o papel de moderador, no intuito de resolver as divergências ainda existentes entre os 'stakeholders'. Depois desta tentativa mediada de obter consensos não surtir efeito, continuando a persistir itens divergentes, estes serão alvo preferencial de próximas avaliações que possam eventualmente vir a ser realizadas quando o tempo, recursos e interesses o permitirem.

"O termo construtivista é usado para designar a metodologia actualmente

utilizada na realização da avaliação. Tem as suas raízes num paradigma de investigação que é alternativo ao paradigma científico, a que decidimos chamar construtivista mas que tem muitas outras designações incluindo interpretativista e hermenêutico." (idem, p.38 - tradução do autor).

As metodologias adoptadas pela abordagem construtivista são vistas por estes autores como alternativas destinadas a substituir as propostas pelo método científico, que consideram ter "virtualmente caracterizado as avaliações

empreendidas este século." (idem, p.43 - tradução do autor). Para caracterizar o

paradigma que sustenta a abordagem construtivista descrevem-se as suas suposições fundamentais nos planos ontológico, epistemológico e metodológico

(idem. pp.43-44 - tradução do autor):

• no plano ontológico, o paradigma construtivista "nega a existência de

uma realidade objectiva, sustentando pelo contrário que as realidades são construções sociais da mente e que existem tantas construções quantos os indivíduos existentes (embora, evidentemente, muitas construções possam ser partilhadas). Argumentamos que a própria ciência é uma dessas construções; podemos admiti-lo independentemente do panteão de construções que apenas estipulam

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correcta ou verdadeira. Salientamos que, se as realidades são construções, então não pode haver, excepto através de imputação mental, leis naturais que governem as construções, como as leis de causa e efeito";

• no plano epistemológico, "o paradigma construtivista nega a

possibilidade do dualismo sujeito - objecto, sugerindo pelo contrário que as conclusões de uma investigação existem precisamente porque há uma interacção entre o observador e o observado que literalmente criam o que emerge da investigação";

• no plano metodológico, "em consequência das suposições ontológicas e

epistemológicas atrás referidas, o paradigma naturalista rejeita a abordagem controladora, manipulative (experimental) que tem caracterizado a ciência e substituem-na pelo processo hermenêutico/dialéctico que dá completa saliência, e tem em conta, à relação observador/observado na criação de uma realidade construída que é tão informada e sofisticada quanto pode ser num momento particular do tempo."

A forma respondente construtivista de conceptualizar e de implantar a avaliação pode contribuir para a emsrgência de uma mudança de paradigma na avaliação nos contextos da educação e da formação (v. Rodrigues, 1998), marcando a evolução para construções mais esclarecidas e complexas que possam responder às exigências dos constrangimentos determinados pela evolução histórica dos contextos sociais que originam, gerem e utilizam a avaliação.

Uma das evoluções que este novo paradigma permite, consiste em substituir a certeza pela relatividade, evitando assim que a nossa preocupação com a descoberta de soluções universais nos impeça de ver como construir soluções práticas com utilidade e significado para as situações concretas. Assim, é possível contrapor a compreensão dos significados e utilidades da avaliação para as vivências pessoais nas situações práticas concretas em detrimento da explicação técnica das relações de causa e efeito e das leis universais que supostamente regem a natureza e o funcionamento dos objectos da avaliação.

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Depois desta análise da evolução das formas de abordar a avaliação de programas no contexto social e educacional, importa agora ver como tem sido enfrentado o problema da avaliação de programas de formação profissional contínua realizados em contexto empresarial. É disso que trata o ponto seguinte.