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A Lei nº 9.876/99

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 96-101)

CAPÍTULO III – DO CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

3.3. O salário de benefício

3.3.5. A Lei nº 9.876/99

A edição da Lei nº 9.876, de 26 de novembro de 1999, em sua essência, decor- re das alterações introduzidas no ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional nº 20/98 e seu objetivo foi integrar à sistemática de cálculo dos benefícios previdenciários o caráter contributivo e manter o equilíbrio financeiro e atuarial do regime, de forma a estabelecer uma correção mais afinada entre as contribuições vertidas ao sistema, tempo de filiação, idade do segurado e o valor do benefício. Estes elementos constituem a essência de grande parte das questões a serem estudadas a partir da edição da lei nº 9.876/99.

97 A primeira grande inovação introduzida no ordenamento jurídico por esta lei foi a alteração do período básico de cálculo, modificando sistemática até então vigente de utilização dos últimos 36 (trinta e seis) salários de contribuição, apurados em um período não superior a 48 (quarenta e oito) meses. Nos termos da nova redação dada ao artigo 29 da Lei nº 8.213/91:

Art. 29. O salário-de-benefício consiste:

I - para os benefícios de que tratam as alíneas b e c do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspon- dentes a oitenta por cento de todo o período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário;

II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição corres- pondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo.

Como se observa, a partir da edição da Lei 9.876/99 a renda inicial dos benefí- cios previdenciários passou a ser obtida com base nas contribuições vertidas em todo o perío- do contributivo do segurado.

A lei nº 9.876/99 estabeleceu também norma transitória para os segurados fili- ados ao Regime Geral de Previdência Social até a data de início de sua vigência, fixando um tratamento mais equilibrado aos direitos em transição, através de uma forma especial de apu- ração do salário de benefício:

Art. 3o Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data

de publicação desta Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei no

8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei.

Com a finalidade de evitar distorções nos casos em que os segurados possuís- sem direito adquirido ao cálculo da renda nos termos do art. 3º da Lei 9.876/1999, mas con- tassem com um número muito pequeno de contribuições, foi instituído pelo parágrafo 2º177 deste artigo um divisor mínimo de 60% para apuração da média das contribuições vertidas à

177 §-2o No caso das aposentadorias de que tratam as alíneas b, c e d do inciso I do art. 18, o divisor considerado

no cálculo da média a que se refere o caput e o § 1o não poderá ser inferior a sessenta por cento do período

decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do benefício, limitado a cem por cento de todo o período contributivo.

98 Previdência Social, limitado ao cálculo dos benefícios aposentadoria por tempo de contribui- ção, aposentadoria por idade e aposentadoria especial.

O preceito inserido no § 2º supramencionado, em sua essência, manteve o re- gramento legal até então vigente, previsto no § 1º do artigo 29 da Lei nº 8.213/91, que fixava o divisor mínimo no caso de aposentadoria por tempo de serviço, especial e por idade. Quanto ao tema, o Superior Tribunal de Justiça – STJ em Acórdão proferido no Recurso Especial nº 929.032/RS178 declarou a legalidade da aplicação deste divisor na apuração da renda mensal inicial de benefícios concedidos com base na regra de transição estabelecida no art. 3º da Lei 9.876/1999.

Para os segurados que se filiaram à Previdência Social a partir da vigência da Lei nº 9.876/99 (D.O.U. 29/11/1999), o salário de benefício a ser considerado corresponderá à média aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo, ou seja, 80% das contribuições existentes desde a data da filiação até a data de entrada do requerimento administrativo – DER, não existindo qual- quer previsão de divisor mínimo (fato este que não desobriga o segurado ao cumprimento dos demais requisitos para a concessão do benefício, dentre os quais encontramos a carência, que acaba se tornando o número mínimo de contribuições a integrar o período contributivo dos segurados).

3.3.5.1. O fator previdenciário.

Uma das maiores alterações introduzidas pela Lei nº 9.876/99 no ordenamento jurídico foi o fator previdenciário, criado como um mecanismo de fomento do equilíbrio fi- nanceiro e atuarial do sistema, princípio expressamente previsto na Constituição Federal de 1988 a contar da Emenda Constitucional nº 20/98.

178 PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. REVISÃO. PERÍODO BÁSICO DE CÁLCULO.

AMPLIAÇÃO. EC N. 20/1998 E LEI N. 9.876/1999. LIMITE DO DIVISOR PARA O CÁLCULO DA MÉDIA. PERÍODO CONTRIBUTIVO. (...) 6. O período básico de cálculo dos segurados foi ampliado pelo disposto no artigo 3º, caput, da Lei n. 9.876/1999. Essa alteração legislativa veio em benefício dos segurados. Porém, só lhes beneficia se houver contribuições. 7. Na espécie, a recorrente realizou apenas uma contribuição desde a competência de julho de 1994 até a data de entrada do requerimento - DER, em janeiro de 2004. 8. O

caput do artigo 3º da Lei n. 9.876/1999 determina que, na média considerar-se-á os maiores salários-de-

contribuição, na forma do artigo 29, inciso I, da Lei n. 8.213/1991, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo desde julho de 1994. E o § 2º do referido artigo 3º da Lei n. 9.876/1999 limita o divisor a 100% do período contributivo. 9. Não há qualquer referência a que o divisor mínimo para apuração da média seja limitado ao número de contribuições. 10. Recurso especial a que se nega provimento. (STJ - Recurso Especial nº 929.032/RS)

99 O fator previdenciário surgiu como alternativa à rejeição da inclusão do critério da idade mínima para a obtenção de aposentadoria durante o processo de discussão da Refor- ma Previdenciária de 1998. A idade não foi eleita como requisito de elegibilidade, mas sim um critério atuarial. Buscou-se com a introdução do fator previdenciário estabelecer uma rela- ção direta entre tempo de contribuição, a idade e a expectativa de sobrevida, com o valor do benefício.

Segundo Castro e Lazzari, na prática, a Lei nº 9.876/99 instituiu, por via trans- versa, a idade mínima para a aposentadoria, uma forma indireta encontrada pelo Governo para implantar um limite mínimo para a aposentação179.

Miguel Horvath Júnior aponta que,

o que ocorre a partir de então é que quem se retirar do mercado de trabalho mais cedo terá seu benefício com valor menor, já que contribuiu menos e irá receber o benefício por mais tempo. O menor valor do benefício serve para aliviar o sistema deste ônus.180

Conforme estabelece o artigo 29 da Lei nº 8.213/91 com redação dada pela Lei nº 9.876/99, o fator previdenciário tem aplicação obrigatória tão somente no benefício apo- sentadoria por tempo de contribuição, inclusive a do professor, sendo facultada sua utilização na apuração da renda mensal inicial da aposentadoria por idade caso seja mais vantajoso para o segurado.

O pressuposto lógico-jurídico da Lei n. 9.876/99 foi, justamente, alcançar o equilíbrio do Plano de Benefícios do Regime Geral de Previdência Social. O objetivo desta lei a médio prazo era eliminar o déficit da Previdência Social, estabelecendo uma correlação di- reta entre as contribuições vertidas (expressa por um salário de benefício apurado com base em todo o período contributivo do segurado) e o benefício, levando em consideração a expec- tativa média de vida aferida estatisticamente quando da aposentação através de levantamentos oficiais elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Sob outra perspectiva, a Lei nº 9.876/99 trouxe para dentro do regime de previ- dência pública o principal elemento do sistema previdenciário privado: a lógica da capitaliza-

179 CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito previdenciário. 11ª ed. Floria-

nópolis: Conceito Editorial, 2009, p.498/499.

100 ção. Manteve-se, no entanto, um modelo de repartição, baseado na lógica do pacto entre ge- rações.

Sobre o tema, o Secretário de Previdência Social Vinícius Carvalho Pinheiro publicou artigo no “Informe de Previdência Social”, nº 11 de novembro de 1999, dispondo que:

No novo método de cálculo o sistema continua operando com base na lógica da repartição, onde a atual geração de trabalhadores ativos financia os atuais inativos, mas o valor do benefício guarda estreita relação com as contribui- ções realizadas que passam a ser capitalizadas escrituralmente conforme taxa que varia em razão do tempo de contribuição e a idade dos segurados. A primeira parte da fórmula [do Salário de benefício], representada por M, a- pura o salário médio de contribuição entre julho de 1994 e a data da aposen- tadoria, considerando-se os 80% maiores salários observados neste período. Nota-se que, gradualmente, o período de referência irá se estender de modo a abarcar toda a vida laboral dos segurados que ingressarem no sistema após a promulgação da Lei. Portanto, a base para o cálculo do benefício deverá cor- responder gradualmente à remuneração média do segurado (sob a qual inci- diu a contribuição) durante todo o período contributivo, equiparando contri- buições e benefícios em termos de valor (...)

No numerador do primeiro componente da equação, a multiplicação do salá- rio de contribuição médio (M), pela alíquota (a) e pelo tempo de contribui- ção (Tc) indica o montante de recursos acumulados por cada segurado em sua conta individual. Ao dividirmos este ‘fundo nacional’ pela expectativa de sobrevida, encontra-se o valor do benefício para uma taxa de juros igual a zero. O segundo componente da equação funciona justamente como uma ta- xa de juros implícita que aumenta conforme a idade e tempo de contribuição dos segurados. Ao se adicionar o prêmio definido pela idade e tempo de con- tribuição, pode-se dizer, por aproximação, que o prêmio representa uma taxa de juros, apropriada de forma endógena pelo sistema e que será tanto maior quanto mais tarde o indivíduo decidir se aposentar181.

Segundo Miguel Horvath Júnior:

o Brasil baseando-se na experiência da capitalização escritural, introduziu o fator previdenciário, que foi denominado pelos técnicos como “capitalização virtual”, já que permite o atrelamento dos valores trazidos ao sistema pelos segurados aos valores dos benefícios sem a necessidade imediata da troca do regime de repartição (que é o regime adotado pelo sistema previdenciário brasileiro, também conhecido como regime de caixa).182

181 PINHEIRO, Vinícius Carvalho. Informe de Previdência Social nº 11, MPS, 11/1999.

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