• Nenhum resultado encontrado

Dos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 51-57)

CAPÍTULO II – A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL O MODELO DE PROTEÇÃO

2.2. O Regime Geral de Previdência Social – RGPS

2.2.1. Dos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social

O atual Regime Geral de Previdência Social - RGPS tem como beneficiários diretos os segurados e seus dependentes, conforme dispõem os artigos 10 e seguintes da Lei nº 8.213/91. De acordo com referidos dispositivos, os segurados subdividem-se em: a) obri-

gatórios (art. 11), enquadrando-se nesta categoria o empregado, empregado doméstico, con-

tribuinte individual, trabalhador avulso e o segurado especial; e b) facultativos, previstos no artigo 13 do mesmo diploma legal.

102 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de e LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 8ª ed.

Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p.75.

103 Opondo-se a esta forma de custeio dos sistemas previdenciários, encontramos o chamado regime de capitali-

zação, no qual as contribuições são pagas pelos trabalhadores e acumuladas em poupanças individuais ou coleti- vas para o pagamento de benefícios futuros ao próprio segurado. Neste regime a cotização do segurado é cons- tante e definida, garantindo um melhor equilíbrio financeiro-atuarial do sistema.

52 O reconhecimento da condição de segurado, como regra, é condição fundamen- tal para a configuração da proteção previdenciária104. A aquisição desta condição se dá por meio da filiação, vínculo jurídico que se estabelece entre pessoas se enquadrem na condição de segurados da Previdência Social e esta, do qual decorrem direitos e obrigações.

Segundo Castro e Lazzari, a filiação decorre automaticamente do exercício de atividade remunerada para os segurados obrigatórios e da inscrição formalizada, com o paga- mento da primeira contribuição, para o segurado facultativo105.

Tendo em vista a infinidade de questões que envolvem a matéria, e dentro dos propósitos do presente estudo, faremos apenas breves considerações quanto aos beneficiários do Regime, de forma a situar o leitor quanto ao tema e nos dar suporte para o estudo mais aprofundado dos salários de contribuição no capítulo seguinte.

Os segurados obrigatórios, primeira categoria de beneficiários do regime, são aquelas pessoas que se encontram em uma relação de trabalho legalmente admitido, ressalva- das aquelas vinculadas a um regime próprio de Previdência Social.

Na lição de Mauricio Godinho Delgado106, relação de trabalho refere-se a todas as relações jurídicas caracterizadas por terem sua prestação essencial centrada em uma obri- gação de fazer consubstanciada em labor humano. Relaciona-se, pois, a toda modalidade de contratação de trabalho humano modernamente admissível. A relação de trabalho englobaria, desse modo, a relação de emprego, a relação de trabalho autônomo, a relação de trabalho e- ventual, de trabalho avulso e outras modalidades de pactuação de prestação de labor107.

Valentin Carrion108 observa que o direito social ampara apenas o trabalho hu- mano pessoal; os serviços prestados por pessoa jurídica não podem ser objeto de um contrato de trabalho, não se enquadrando, desta forma, na condição de segurado.

104 Exceção deve ser feita ao regramento contido no artigo 102 da lei nº 8.213/91, que dispõe no §1º: A perda da

qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sido preenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que estes requisitos foram atendidos. Outra exce- ção está prevista no artigo 3º da Lei nº 10.666/03, nos seguintes termos: A perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão das aposentadorias por tempo de contribuição e especial. §1º. Na hipótese de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão desse benefí- cio, desde que o segurado conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data do requerimento do benefício.

105 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, e LAZZARI, João Batista; Manual de Direito previdenciário. 8ª ed.

Florianópolis: Conceito Editorial, 2007 p.177.

106 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 3ª ed. São Paulo: Ltr, 2004. 107 Ibidem, p.285.

108 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das leis do trabalho. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.

53 A prestação de trabalho e consequente caracterização da figura do segurado o- brigatório podem emergir de diversas relações prestacionais, o que nos indica a existência de distintas figuras jurídicas, seja no âmbito da relação de trabalho, seja perante a previdência social, conforme veremos a seguir.

O empregado, primeira modalidade de segurado obrigatório, é a pessoa física que presta serviço de natureza não eventual a empregador urbano ou rural, sob a dependência deste e mediante salário, nos termos do artigo 3º da Consolidação das Leis trabalhistas – CLT.

O que o distingue dos demais trabalhadores não é o conteúdo da prestação, mas sim o modo de concretização da obrigação de fazer, que possui como características: a) pres- tação de trabalho por pessoa física a um empregador; b) prestação efetuada com pessoalidade pelo trabalhador; c) não-eventualidade; d) subordinação jurídica do tomador do serviço e; e) onerosidade.

No âmbito previdenciário, a figura jurídica do empregado está prevista no arti- go 12, inciso I da lei nº 8.212/91 que apresenta uma extensa relação das situações que se en- quadram no conceito de vínculo empregatício. Dentre os pontos de destaque do dispositivo legal supramencionado temos a equiparação entre a prestação de serviço de natureza urbana ou rural e proteção destas duas categorias pelo mesmo regime, o que era inexistente no perío- do anterior à Constituição Federal de 1988.

O empregado doméstico, segunda categoria de segurado obrigatório, é uma modalidade especial da figura jurídica empregado. Sua conceituação engloba os cinco ele- mentos fático-jurídicos característicos da relação jurídica de emprego, somado à continuidade e à finalidade não lucrativa do serviço, prestado no âmbito residencial do tomador, que se limita a pessoa física ou família109.

O seu enquadramento como segurado obrigatório do Regime Geral de Previ- dência Social está previsto no artigo 12, inciso II da Lei nº 8.212/91 que define empregado doméstico como aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbi- to residencial desta, em atividades sem fins lucrativos.

O contribuinte individual corresponde a categoria de segurado obrigatório criada pela Lei nº 9.876/99, englobando o segurado empresário, autônomo e equiparados a

109 Nos termos do artigo 1º da Lei nº 5.859/72: Art. 1º Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que

presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas, aplica-se o disposto nesta lei.

54 autônomo. De acordo com a Lei nº 8.212/91, artigo 12, inciso V, são contribuintes individu- ais:

a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 10 e 11 deste artigo; b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mi- neral - garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;

c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consa- grada, de congregação ou de ordem religiosa;

e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial interna- cional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contra- tado, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social;

f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidá- rio, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remu- neração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associa- do eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remune- ração;

g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego;

h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de na- tureza urbana, com fins lucrativos ou não;

Segundo Maurício Godinho Delgado110, os diversificados vínculos de trabalho autônomo existentes afastam-se da figura técnico-jurídica da relação de emprego essencial- mente pela falta do elemento fático-jurídico da subordinação ou da pessoalidade. Para Sarai- va111, no trabalho autônomo o trabalhador assume o risco da atividade desenvolvida.

O trabalhador avulso, nos termos da legislação previdenciária, é a pessoa que, sindicalizada ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural a diversas empresas, sem vín- culo empregatício com qualquer delas, com intermediação obrigatória do órgão gestor de mão-de-obra ou do sindicato da categoria.

110 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 3ª ed. São Paulo: Ltr, 2004, p. 334. 111 SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2011, p. 39.

55 Segundo Maurício G. Delgado112, o obreiro chamado avulso corresponde a modalidade de trabalhador eventual que oferta sua força de trabalho por curtos períodos de tempo a distintos tomadores sem se fixar especificamente a qualquer deles.

O que distingue este trabalhador do chamado trabalhador eventual, entretanto, é a circunstância de sua força de trabalho ser ofertada através de entidade intermediária. Esse ente intermediador é que realiza a interposição da força de trabalho avulsa em face dos distin- tos tomadores de serviço, sendo essa entidade responsável pela arrecadação do valor corres- pondente à prestação de serviços e pagamento ao trabalhador envolvido.

Por fim, o segurado especial constitui categoria autônoma de segurado do Regime Geral de Previdência Social e não se confunde com as demais figuras de trabalhado- res rurais, que englobam o empregado rural e o trabalhador avulso rural.

A categoria dos segurados especiais está disciplinada nas Leis nº 8.212/91 e 8.213/91 que, em síntese, o definem como a pessoa física residente em imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua colaboração, na con- dição de produtor (seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais), que explore atividade agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; de seringueiro; de extrativista vegetal e de pescador artesa- nal.

Esta qualificação também se estende ao cônjuge ou companheiro, bem como fi- lho maior de 16 (dezesseis) anos de idade desde que comprovado o efetivo trabalho em con- junto com seu grupo familiar, em regime de economia familiar.

Segundo o parágrafo 1º do artigo 12 da Lei nº 8.212/91, entende-se como re- gime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispen- sável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é e- xercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes.

Ao lado dos segurados obrigatórios do Regime Geral, o legislador estabelece a figura do segurado facultativo.

56 No período anterior à lei nº 8.213/91, a figura do segurado facultativo era limi- tada a hipóteses muito restritas previstas pelo legislador. Conforme dispunha o artigo 9º da Lei Orgânica da Previdência Social – Lei nº 3.807/60, somente era cabível a manutenção da condição de segurado de forma facultativa para os trabalhadores que deixassem de exercer atividade abrangida pelo regime e desde que passassem a efetuar o pagamento mensal da con- tribuição em dobro, figura conhecida com contribuinte em dobro.

Os decretos nº 77.077 e 89.312/84 ampliaram a possibilidade de ingresso facul- tativo aos ministros de confissão religiosa e membros de congregação religiosa.

Apenas com a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91 foi universalizado o ingres- so na condição de segurado facultativo, possibilitando a inscrição de pessoa no regime ainda que não se enquadrem em nenhuma situação que a lei considera como obrigatória, desde que seja maior de 16 anos, não esteja vinculado a outro regime previdenciário e efetue as respecti- vas contribuições, nos termos estabelecidos por lei113.

A ampliação do rol de segurados facultativos corresponde a um avanço na téc- nica de proteção previdenciária, sendo expressão do princípio da universalidade de atendi- mento, um dos princípios da seguridade social. A existência desta categoria de segurado não afronta o caráter contributivo do regime previdenciário, na medida em que há sujeição desta classe de segurado ao recolhimento de contribuição social e a concessão de benefício está condicionada à comprovação destes recolhimentos e do cumprimento dos demais requisitos legais.

Ao lado dos segurados, são também beneficiários do RGPS os seus dependen-

tes, pessoas que, embora não contribuam para a Seguridade Social nesta condição, estão pro-

tegidos diante de determinados eventos114, em razão de uma subordinação econômica ao segu- rado. Conforme preceitua o artigo 16 da Lei nº 8.213/91:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condi- ção de dependentes do segurado:

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente inca-

113 O art. 14 da Lei nº 8.212/91 dispõe: É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos de idade que se

filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 21, desde que não incluído nas disposições do art. 12. No entanto, em razão da alteração do artigo 7º, inciso XXXIII da CF, por meio da EC nº20/98, a idade mínima passou a ser de 16 anos (vide artigo 11 do Decreto nº 3048/99).

114 Para esta classe de beneficiários, a legislação prevê a concessão dos benefícios pensão por morte, auxílio-

57 paz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)

II - os pais;

III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)

§ 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes.

§ 2º .O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma es- tabelecida no Regulamento.

§ 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casa- da, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal.

§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada.

Segundo Miguel Horvath Junior,

a legislação previdenciária trata de dependentes presumidos e comprovados. Os dependentes presumidos são aqueles que não precisam demonstrar a de- pendência econômica, apenas o liame jurídico entre eles e o segurado. Já os dependentes comprovados são aqueles que devem provar que vivem às ex- pensas do segurado115.

Dentro do estudo proposto no presente trabalho, estas considerações são sufici- entes para a uma compreensão base da matéria em nosso ordenamento jurídico.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 51-57)