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Dos limites mínimo e máximo dos salários de contribuição

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 79-86)

CAPÍTULO III – DO CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

3.2. O salário de contribuição

3.2.2. Dos limites mínimo e máximo dos salários de contribuição

A legislação previdenciária, dentro do seu propósito de tutela de seus benefici- ários, estabelece um limite contributivo mínimo e um limite contributivo máximo, com refle- xo no cálculo dos benefícios e na própria proteção previdenciária.

Esta limitação, no âmbito da relação jurídica de custeio, define uma faixa con- tributiva para os segurados sobre a qual incidirá a respectiva alíquota. No âmbito da relação jurídica de proteção previdenciária, reflete nas parcelas que integrarão o período básico de cálculo do benefício, nos limites do salário de benefício e também na renda mensal do benefí- cio.

80 A existência destes limites se fundamenta no princípio constitucional da distri- butividade e nos próprios fundamentos da Previdência Social, enquanto subsistema da Segu- ridade Social.

Segundo Aguinaldo Simões:

A fim de não ficar reduzido a um indesejável ‘subseguro’, o seguro social deve garantir prestações adequadas, que evitem graves desajustamentos eco- nômicos, psicológicos e até males patológicos. Isto significa que a quantia das prestações em dinheiro precisa situar-se entre um limite mínimo (flat ra-

te of subsistence benefit) mais ou menos equivalente ao menor salário de

contribuição, e um limite máximo, que corresponda a um razoável nível de subsistência da classe média. Se uma quantia muito baixa pode causar os de- sajustamentos e outros males a que acima nos referimos, uma quantia muita alta, além de falsear o mutualismo do seguro social e encarecer-lhe o custo, desvia a instituição de sua verdadeira finalidade, porque cria atrativos para aposentadorias prematuras e enfraquece a vontade de voltar ao trabalho nos casos de auxílio-doença e nos de removível incapacidade de trabalho pela reabilitação profissional149.

O limite mínimo dos salários de contribuição dentro do RGPS está previsto § 3º do artigo 28 da Lei nº 8.212/91 nos seguintes termos:

Art. 28 §3º: O limite mínimo do salário-de-contribuição corresponde ao piso salarial, legal ou normativo, da categoria ou, inexistindo este, ao salário mí- nimo, tomado no seu valor mensal, diário ou horário, conforme o ajustado e o tempo de trabalho efetivo durante o mês.

No âmbito dos benefícios previdenciários, o artigo 135 da Lei nº 8.213/91 es- tabelece que os salários-de-contribuição utilizados no cálculo do valor de benefícios serão considerados respeitando-se os limites mínimo e máximo vigentes nos meses a que se refe- rem.

O limite mínimo do regime corresponde ao valor do salário mínimo nacional vigente em cada competência. A referência ao piso salarial, legal ou normativo é relevante apenas para o segurado empregado, avulso e doméstico. Nesta hipótese, uma vez estabelecido pela categoria profissional ou por um Estado da Federação um piso salarial em valor superior ao fixado para o salário mínimo nacional, este montante deverá ser considerado como o piso mínimo do salário de contribuição.

81 No período de 07/08/1987 a 06/1989 foi criado um mecanismo duplo de salá- rio mínimo, cada um com uma função específica, com reflexos distintos no âmbito previden- ciário: o primeiro mecanismo, denominado piso nacional de salário, era destinado a regular o valor da contraprestação mínima devida e paga a título de salário. O segundo mecanismo, o salário mínimo de referência, era utilizado para fins de reajuste de valores que estavam vincu- lados ao salário mínimo. Estes dois institutos estavam disciplinados pelo Decreto-Lei nº 2.351/87 que estabelecia:

Art. 1º Fica instituído o Piso Nacional de Salários, como contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador, como tal definido na Consolidação das Leis do Trabalho, a todo trabalhador, por dia normal de serviço.

§ 1º O valor inicial do Piso Nacional de Salários será de Cz$ 1.970,00 (hum mil novecentos e setenta cruzados) mensais.

§ 2º O valor do Piso Nacional de Salários será reajustado em função do disposto no "caput" deste artigo e da conjuntura sócio-econômica do País, mediante decreto do Poder Executivo, que estabelecerá a periodicidade e os índices de reajustamento. § 3º Ao reajustar o Piso Nacional de Salários, o Poder Executivo adotará índices que garantam a manutenção do poder aquisitivo do trabalhador e proporcionem o seu aumento gradual.

Art. 2º O salário mínimo passa a denominar-se Salário Mínimo de Referência. § 1º Ficam vinculados ao Salário Mínimo de Referência todos os valores que, na data de publicação deste Decreto-lei, estiverem fixados em função do valor do salá- rio mínimo, especialmente os salários-profissionais de qualquer categoria, os salá- rios normativos e os pisos salariais fixados em convenção ou acordo coletivo de trabalho, bem assim salários, vencimentos, vantagens, soldos e remunerações em geral de servidores públicos civis e militares da União, dos Estados, do Distrito Fe- deral, dos Territórios e dos Municípios e respectivas autarquias e, ainda, pensões e proventos de aposentadoria de qualquer natureza, penalidades estabelecidas em lei, contribuições e benefícios previdenciários e obrigações contratuais ou legais. § 2º O valor do Salário Mínimo de Referência é de Cz$ 1.969,92 (hum mil nove- centos e sessenta e nove cruzados e noventa e dois centavos) mensais.

§ 3º O Salário Mínimo de Referência será reajustado em função da conjuntura só- cio-econômica do País, mediante decreto do Poder Executivo, que estabelecerá a periodicidade e os índices de reajustamento.

§ 4º Ao reajustar o Salário Mínimo de Referência, o Poder Executivo adotará índi- ces que garantam a manutenção do poder aquisitivo dos salários.

Art. 3º Será nula, de pleno direito, toda e qualquer obrigação contraída ou expres- são monetária estabelecida com base no valor ou na periodicidade ou índice de rea- justamento do Piso Nacional de Salários.

Este divisão gerou diversas discussões quanto à forma de sua aplicação nos be- nefícios previdenciários, tendo influência sobre a fixação do limite mínimo dos salários de contribuição e critérios de reajuste dos benefícios.

Durante a vigência do Decreto-Lei nº 2.351/87, os benefícios previdenciários foram reajustados pelo salário-mínimo de referência, pois a este estavam vinculados as pen- sões e proventos de aposentadoria de qualquer natureza, a teor do parágrafo 1º, do art. 2º. No

82 mesmo período, o limite mínimo dos salários de contribuição ficou atrelado ao piso nacional de salários.

Esta sistemática de duplo salário mínimo se manteve até a edição da Lei nº 7.789, de 03/07/1989, que extinguiu o salário mínimo de referência e o piso nacional de salá- rios, vigorando, a partir de então, apenas o salário mínimo nacional.

Opondo-se ao limite mínimo, encontramos em nossa legislação o limite máxi- mo do salário de contribuição, aplicável às contribuições sociais devidas pelos segurados do Regime Geral de Previdência Social, bem como na hipótese em que integra o período básico de cálculo para fins de apuração do salário de benefício150.

Segundo Mario L. Deyeali,

No estudo objetivo dos princípios que devem reger a atividade estatal no campo da previdência, não há necessidade de impor restrições quanto ao va- lor dos benefícios a conceder, mas é preciso não esquecer alguns limites que dizem respeito à essência da previdência social, pelo menos segundo a con- cepção que dela tem os países de civilização ocidental.

A previdência social não deve anular o sentido de previdência social e soli- dariedade familiar. (...) Do ponto de vista econômico cabe considerar que os recursos da previdência social são necessariamente limitados; daí a necessi- dade de utilizá-los somente em casos justos. (...) Além do mais, a observân- cia desse limite reduz grandemente, por motivos óbvios, o perigo de abusos de parte dos segurados.

Um excesso de seguridade anula o sentido de responsabilidade pessoal e, portanto, reduz, quando não anula, não somente o desejo de economizar, mas também o estímulo para melhorar a posição pessoal e familiar151.

O limite máximo dos salários de contribuição, portanto, se respalda na própria função do modelo protetivo vigente, que não se propõe a resguardar um elevado poder aquisi- tivo dos segurados, mas protege-los, dentro de um padrão econômico adequado, das necessi- dades sociais eleitas pelo legislador.

No período anterior à Constituição Federal de 1988, o limite máximo dos salá- rios de contribuição era atrelado a um determinado número de salários mínimos. A Lei nº 3.807/60152 estabelecia como limite máximo do salário de contribuição cinco salários míni-

150 Referido limite não se aplica quando analisamos o salário de contribuição enquanto base de cálculo da contri-

buição social devida pela empresa, conforme preceitua o artigo 22, incisos I e II da Lei nº 8.212/91.

151 DEYEALI, Mário L. Lineamientos de Derecho del Trabajos 3ª ed. Buenos Aires: TEA, p.109.

152 Art. 69. O custeio da previdência social será atendido pelas contribuições: a) dos segurados, em geral, em

porcentagem de 6% (seis por cento) a 8% (oito por cento) sobre o seu salário de contribuição, não podendo inci- dir sôbre importância cinco vezes superior ao salário mínimo mensal de maior valor vigente no país.

83 mos. O Decreto-lei nº 66/66153 ampliou o limite máximo para o valor de 10 (dez) salários mí- nimos e a Lei nº 5.890/73 majorou o teto dos salários de contribuição para 20 (vinte) salários mínimos154, sistemática mantida pelas Leis nº 6.332/76 e 6.950/81155.

No período de vigência do mecanismo duplo de salários mínimos, o teto previ- denciário ficou vinculado ao salário mínimo de referência, vinculação que se manteve até 30.06.1989, quando foi revogado pela Lei nº 7.787/89, que reduziu o teto de 20 para 10 salá- rios mínimos (tendo como base o piso nacional de salários), sujeitando-se, a partir de então, a atualização de acordo com índices oficiais de inflação, nos termos de artigo 20 de citada lei.

A Lei nº 8.212/91, de 24/07/1991, regulamentou o limite máximo dos salários de contribuição em seu artigo 28 §5º156, elevando o teto contributivo ao patamar de 10 (dez) salários mínimos, mas desindexando-o do mínimo para efeitos de reajustamento. O teto pre- videnciário passou a se sujeitar a reajustes na mesma data e com os mesmos índices dos bene- fícios previdenciários.

A Emenda Constitucional nº 20, de 16/12/1998, e a Emenda Constitucional nº 41, de 31 de dezembro de 2003 estabeleceram dois reajustes extraordinários ao limite máximo dos salários de contribuição vigentes à época de suas edições, de modo distinto daquele esta- belecido no artigo 28 da Lei nº 8.212/91.

Referida mudança reajustou os limites máximos dos salários de contribuição em percentual superior ao reajuste dos benefícios em geral, fixando-se, respectivamente, em R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) e R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais). Os reajusta- mentos subsequentes mantiveram a sistemática prevista do artigo 28 da Lei nº 8.212/91157.

Cumpre-nos analisar, ainda, uma peculiaridade quanto ao limite máximo do sa- lário de contribuição estabelecida na lei nº 8.212/91, em sua redação original, aplicada aos segurados trabalhadores autônomos e equiparados, empresários e segurados facultativos.

153 Art. 18. O artigo 69 da Lei nº 3.807, passa a ter a seguinte redação: Art. 69. O custeio da previdência social

será atendido pelas contribuições: I - dos segurados, em geral, na base de 8% (oito por cento) do respectivo salá- rio-de-contribuição, não podendo incidir sobre importância que exceda de (10) dez vezes o salário-mínimo men- sal de maior valor vigente no país;

154 O artigo 1º de citada lei deu nova redação ao art. 76 da lei nº 3.807/60, nos seguintes termos: Entende-se por

salário-de-contribuição: I - a remuneração efetivamente percebida, a qualquer título, para os segurados referidos nos Itens I e II do artigo 5º, até o limite de 20 (vinte) vezes o maior salário mínimo vigente no País.

155 O art. 4º de referida lei dispunha que: “O limite máximo do salário-de-contribuição, previsto no art. 5º da Lei n. 6.332/76, é fixado em valor correspondente a 20 (vinte) vezes o maior salário-mínimo vigente no país”. 156 O limite máximo do salário-de-contribuição é de Cr$ 170.000,00 (cento e setenta mil cruzeiros), reajustados a

partir da data da entrada em vigor desta lei, na mesma época e com os mesmos índices que os do reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social.

84 Conforme dispunha o artigo 28, inciso III da Lei nº 8.212/91, que repetia re- gramento legal constante no artigo 137 do Decreto nº 89.312/84, para o trabalhador autônomo e equiparado, empresário158 e facultativo o salário de contribuição consistia no salário-base.

Conforme leciona Wladimir Novaes:

O salário-base é o regime contributivo de certos segurados obrigatórios e fa- cultativos da Previdência Social. O legislador adotou esse título salário-base para exprimir a medida do fato gerador da cotização desses segurados. Não se trata, porém, de salário e sim de valor base que se presta ao cálculo da contribuição159.

Segundo Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior, até o adven- to da Lei nº 9.876/99 a escala de salário-base correspondia a uma espécie autônoma de salário de contribuição, uma ficção legal, não constituindo um mero limite ao salário de contribui- ção160.

Este instituto era regulamentado pelo artigo 29 da Lei nº 8.212/91 que, em sua redação original, estabelecia uma escala que deveria ser observada pelo trabalhador autôno- mo, empresário e facultativo para fins de apuração do limite máximo do salário de contribui- ção, nos seguintes termos:

Art. 29. O salário-base de que trata o inciso III do art. 28 é determinado con- forme a seguinte tabela:

ESCALA DE SALÁRIOS-BASE161

Classe Salário-Base Número mínimo de meses de permanência em cada classe (Interstícios)

1 1 salário-mínimo 12 2 Cr$ 34.000,00 12 3 Cr$ 51.000,00 12 4 Cr$ 68.000,00 12 5 Cr$ 85.000,00 24 6 Cr$ 102.000,00 36 7 Cr$ 119.000,00 36 8 Cr$ 136.000,00 60 9 Cr$ 153.000,00 60 10 Cr$ 170.000,00 -

Segundo o parágrafo 1º do dispositivo, estes valores seriam reajustados, a partir da entrada em vigor da Lei, na mesma data e com os mesmos índices que os utilizados para fins de reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social.

158 A contar da Lei nº 9.876/99, estas três categorias foram transformadas em contribuintes individuais. 159 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Salário-base dos Contribuintes Individuais. São Paulo: Ltr, 1999, p. 19. 160 Comentários à Lei de benefícios da Previdência Social. 7ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 161 Tabela referente à competência 07/91, data da publicação da lei nº 8.212/91.

85 O segurado autônomo, empresário ou facultativo que se filiasse ao Regime Ge- ral de Previdência Social enquadrava-se na classe inicial da tabela, sujeitando-se aos prazos por ela estabelecidos para fins de fixação do limite máximo do seu salário de contribuição. Não era admitido o pagamento antecipado de contribuição para suprir o interstício entre as classes. Além disso, não se acumulava o tempo de uma classe para fins de progressão para as demais.

Uma vez cumprido o tempo mínimo estabelecido em cada classe, permitia-se o acesso à classe seguinte ou a permanência na classe em que se encontrava; era vedado o des- locamento a outra classe que não a imediatamente superior para fins de progressão. Permitia- se, porém, o regresso às classes anteriores.

A não observância da escala de salários-base não trazia reflexos sob o prisma tributário, ou seja, a não observância não gerava qualquer ilegalidade pelo contribuinte. No entanto, analisado a partir do cálculo da renda mensal inicial, a não observância da escala, o erro no enquadramento ou o avanço sem o cumprimento dos interstícios mínimos estabeleci- dos gerava cortes nos salários de contribuição recolhidos, até adequarem-se ao patamar im- posto pelo artigo 29 da Lei de Custeio.

O segurado empregado, inclusive o doméstico, e o trabalhador avulso que pas- sassem a exercer atividade sujeita a salário-base poderiam enquadrar-se em qualquer classe até a equivalente ou à mais próxima da média aritmética simples dos seus 6 (seis) últimos salários de contribuição, observando, para acesso às classes seguintes, os interstícios respecti- vos.

O artigo 29 da Lei nº 8.212/91 foi revogado pela Lei nº 9.876, de 28 de no- vembro de 1999, que, por sua vez, estabeleceu uma regra de transição para os segurados que se sujeitavam ao salário-base até então (artigo 4º da Lei nº 9.876/99). A medida provisória nº 83/02, convertida na Lei nº 10.666/03, extinguiu a escala transitória, passando a ser aplicado para os contribuintes individuais os limites mínimo e máximo de salários de contribuição es- tabelecido para os demais segurados162.

Em razão da existência destes limites contributivos mínimo e máximo, Mozart V. Russomano pondera que “o salário de contribuição está desvinculado da remuneração con- tratual efetivamente auferida pelo segurado: fica jungido aos limites mínimo e máximo fixa-

162 A contar de 2004, o Instituto Nacional de Seguro Social deixou de adotar a escala de salário-base para fins de

apuração do salário de contribuição dos contribuintes individuais, inclusive com relação a contribuições vertidas antes da Lei nº 9.876/99.

86 dos”163. Ao mesmo tempo, estes limites correspondem às balizas que definem os limites da tutela garantida pelo Regime Geral de Previdência Social, sua faixa protetiva.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 79-86)