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Dos critérios de cálculo do salário de benefício no período anterior à Constituição

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 87-91)

CAPÍTULO III – DO CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

3.3. O salário de benefício

3.3.1. Dos critérios de cálculo do salário de benefício no período anterior à Constituição

No período anterior à Constituição Federal de 1988, as regras de cálculo do sa- lário de benefício eram estabelecidas pelo Decreto nº 89.312, de 23 de janeiro de 1984, que vigorou até a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91. Segundo os regramentos previstos no arti- go 26 do Decreto, o salário de benefício era calculado nos seguintes termos:

O benefício de prestação continuada, inclusive o regido por normas especi- ais, terá seu valor calculado tomando-se por base o salário-de-benefício, as- sim entendido:

I – para o auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, a pensão e o auxí- lio-reclusão, 1/12 (um doze avos) da soma dos salários-de-contribuição ime- diatamente anteriores ao mês do afastamento da atividade, até o máximo de 12 (doze), apurados em período não superior a 18 (dezoito) meses;

II – para as demais espécies de aposentadoria, 1/36 (um trinta e seis avos) da soma dos salários-de-contribuição imediatamente anteriores ao mês do afas- tamento da atividade, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em perío- do não superior a 48 (quarenta e oito) meses;

88 III – para o abono de permanência em serviço, 1/36 (um trinta e seis avos) da soma dos salários-de-contribuição imediatamente anteriores ao mês da en- trada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em perí- odo não superior a 48 (quarenta e oito) meses.

Observa-se que neste período o cálculo do valor do salário de benefício era es- tabelecido de acordo com o benefício requerido. O período básico de cálculo era fixado a par- tir da data do afastamento da atividade ou a partir da data de entrada do requerimento, nas hipóteses em que não havia cessação da atividade laboral.

Para o segurado autônomo, empregado doméstico ou para o contribuinte em dobro167 o período básico para apuração do salário de benefício era delimitado pelo mês da data da entrada do requerimento e não pela data do afastamento da atividade.

Identificada esta data, apuravam-se, no caso dos benefícios auxílio-doença, a- posentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-reclusão, os 12 (doze) últimos salários de contribuição, dentro de um período não superior a 18 (dezoito) meses. Para os demais be- nefícios, o período básico de cálculo correspondia aos 36 (trinta e seis) últimos salários de contribuição, apurados dentro de um período não superior a 48 (quarenta e oito) meses.

Uma vez identificados os salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo, efetuava-se a correção monetária destes valores até a data de início do benefício, observado os regramentos estabelecidos no Decreto.

Neste ponto, dispunha o Decreto nº 89.312/84 que os salários de contribuição utilizados no cálculo dos benefícios auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, a pensão e o auxílio-reclusão, apurados com base nos últimos 12 (doze) salários de contribuição, não seriam corrigidos monetariamente. Para os demais benefícios, calculados com base nas últi- mas 36 (trinta e seis) contribuições mensais, atualizava-se os 24 (vinte e quatro) salários de contribuição mais distantes, não se aplicando aos 12 (doze) últimos salários de contribuição qualquer correção. Os coeficientes de reajustamento dos benefícios eram estabelecidos pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social.

O divisor empregado pelo legislador para fins de apuração da média aritmética era fixo, de forma que, independentemente do número de contribuições existentes dentro do

167 O contribuinte em dobro estava previsto no artigo 11 do Decreto nº 77.077/76, nos seguintes termos: Aquele

que deixar de exercer atividade abrangida pelo regime desta Consolidação poderá manter a qualidade de segurado, desde que passe a efetuar em dobro o pagamento mensal da contribuição de que trata o item I do artigo 128 (contribuição devida pelos segurados).

89 período básico de cálculo, utilizava-se para fins de apuração da média aritmética das contribu- ições o valor 12 ou 36, de acordo com o benefício requerido.

Uma vez apurada a média dos salários de contribuição, efetuava-se mais uma operação, tendo como referência o menor e maior valor teto.

O menor valor teto foi criado pela Lei nº 5.890/73168 como verdadeiro limita- dor do salário de benefício e da renda mensal inicial dos benefícios. Originalmente, seu valor correspondia a 10 salários mínimos. Posteriormente, o art. 14 da Lei nº 6.708/79 dispôs que o menor valor teto passaria a ser atualizado pelo INPC. Nos termos do artigo 28 do Decreto 77.077/76, a aplicação do menor valor teto era realizada nos seguintes termos:

O valor de benefício de prestação continuada será calculado da seguinte forma:

I - quando o salário de benefício for igual ou inferior ao menor valor-teto (artigo 225, § 3º) serão aplicados os coeficientes previstos nesta Consolida- ção;

II - quando for superior ao menor valor-teto, o salário de benefício será divi- dido em duas parcelas, a primeira igual ao menor valor-teto e a segunda cor- respondente ao que exceder o valor da primeira, aplicando-se,

a) à primeira parcela os coeficientes previstos no item I,

b) à segunda um coeficiente igual a tantos 1/30 (um trinta avos) quantos fo- rem os grupos de 12 (doze) contribuições acima do menor valor-teto, respei- tado, em cada caso, o limite máximo de 80% (oitenta por cento) do valor dessa parcela.

III - na hipótese do item II o valor da renda mensal será a soma das parcelas calculadas na forma das letras "a" e "b", não podendo ultrapassar 90% (no- venta por cento) do maior valor-teto (artigo 225, § 3º)169.

Desta forma, o cálculo dos benefícios no período anterior à Constituição Fede- ral de 1988 era dividido em duas etapas, consistente em uma base limitada ao menor valor teto, e outra parcela baseada no volume de contribuições mensais superiores ao menor-valor

168 Em seu artigo 5º a Lei nº 5.890/73 dispunha: Art. 5º Os benefícios a serem pagos sob a forma de renda mensal

terão seus valores fixados da seguinte forma: I - quando o salário de benefício for igual ou inferior a 10 (dez) vezes o maior salário mínimo vigente no País, aplicar-se-lhe-ão os coeficientes previstos nesta e na Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960. II - quando o salário de benefício for superior ao do item anterior. será ele dividido em duas parcelas: a primeira igual a 10 (dez) vezes o maior salário mínimo vigente no País; a segunda, será o valor excedentes ao da primeira. a) sobre a primeira parcela aplicar-se-ão os coeficientes previstos no item anterior; b) sobre a segunda, aplicar-se-á um coeficiente igual a tantos 1/30 (um trinta avos) quantos forem os grupos de 12 (doze) contribuições acima de 10 (dez) salários mínimos, respeitado, em cada caso, o limite máximo de 80% (oitenta por cento) do valor da parcela. III - o valor da renda mensal no caso do item anterior será a soma das parcelas calculadas na forma das alíneas "a" e "b", não podendo ultrapassar o valor correspondente a 90% (no- venta por cento) de 20 (vinte) vezes o maior salário mínimo vigente no País.

169 Art. 225 § 3º Para os efeitos do disposto no § 4º do artigo 26, nos itens I, II e III do artigo 28, no § 3º do

artigo 30, nos itens I e II do artigo 41 e no artigo 121, os valores correspondentes aos limites de 10 (dez) e 20 (vinte) vezes o maior salário mínimo vigente no País, fixados pela Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973, serão reajustados de acordo com o disposto nos artigos 1º e 2º da Lei nº 6.147, de 29 de novembro de 1974, e constituirão, respectivamente, o menor valor-teto e o maior valor-teto do salário de benefício.

90 teto. Na prática, este mecanismo vinculava a concessão de benefícios com renda inicial acima do menor valor teto à comprovação de um expressivo número de contribuições acima deste valor.

Esta regra buscava, de certa forma, relacionar o valor do benefício ao volume contributivo do segurado, tendo em vista a impossibilidade desta vinculação tão somente a partir do período básico de cálculo, relativamente curto.

O cálculo dos benefícios acidentários no período anterior à Constituição Fede- ral era regido pela Lei nº 6.367/76, que adotava sistemática distinta daquela prevista para os benefícios em geral, garantindo ao segurado a concessão de prestação tendo como base de cálculo a última remuneração ou o salário de benefício, nos termos previstos em lei. Prevale- cia o maior valor:

Art. 5º Os benefícios por acidente do trabalho serão calculados, concedidos, mantidos e reajustados na forma do regime de Previdência Social do INPS, salvo no tocante aos valores dos benefícios de que trata este artigo, que serão os seguintes:

I - auxílio-doença: valor mensal igual a 92% do salário de contribuição do empregado, vigente no dia do acidente, não podendo ser inferior a 92% de seu salário de benefício;

II - aposentadoria por invalidez: valor mensal, igual ao do salário de contri- buição vigente no dia do acidente, não podendo ser inferior ao de seu salário de benefício.

III - pensão: valor mensal igual ao estabelecido no item II, qualquer que seja o número inicial de dependentes. (...)

§ 4º No caso de empregado de remuneração variável e de trabalhador avulso, o valor dos benefícios de que trata este artigo, respeitado o percentual previs- to no seu item I, será calculado com base na média aritmética:

I - dos 12 (doze) maiores salários de contribuição apurados em período não superior a 18 (dezoito) meses imediatamente anteriores ao acidente, se o se- gurado contar, nele, mais de 12 (doze) contribuições;

II - dos salários de contribuição compreendidos nos 12 (doze) meses imedia- tamente anteriores ao do acidente ou no período de que trata o item I, con- forme for mais vantajoso, se o segurado contar 12 (doze) ou menos contribu- ições nesse período.

Para todos os benefícios, de natureza acidentária ou previdenciária, calculados com base no salário de benefício a legislação vedava a utilização dos aumentos salariais exce- dentes aos limites legais ocorridos nos 36 (trinta e seis) meses imediatamente anteriores ao início do benefício, preceito legal que permanece em vigor até os dias atuais, porém sem qualquer efeito prático.

91 Esta limitação legal do valor dos salários de contribuição, essencialmente, era derivada do reduzido período básico de cálculo utilizado na apuração da renda mensal inicial dos benefícios e tinha por objetivo limitar os aumentos salariais abusivos no período imedia- tamente anterior ao requerimento.

O período anterior à Constituição Federal de 1988 foi marcado por inúmeros descompassos entre os regulamentos, instruções e atos normativos do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS e a legislação então vigente, gerando inúmeros questionamentos judiciais.

O que se observa neste período é a existência de inúmeros mecanismos que li- mitavam o cálculo do valor do benefício, tais como: a) inexistência de correção monetária de todos os salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo; b) inexistência de lei disciplinando os critérios de reajuste de benefícios e atualização dos salários de contribui- ção; c) a existência de dois limitadores para os salários de benefício – menor e maior valor teto; d) coeficientes de cálculo da renda mensal inicial com valores reduzidos (conforme ve- remos no tópico relativo à Renda Mensal Inicial dos benefícios); e) possibilidade de conces- são de benefícios abaixo do valor do salário mínimo, etc.

Diante deste quadro fica explícita a fundamental importância da Constituição Federal de 1988 como instrumento saneador de inúmeros critérios de cálculo prejudiciais aos segurados e seus dependentes.

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