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CAPÍTULO III – DO CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

3.2. O salário de contribuição

3.2.1. Benefícios previdenciários como salários de contribuição

3.2.1.1. Auxílio-acidente

A Lei nº 5.316/67, que integrou o seguro de acidentes de trabalho à Previdência Social, previa em seu artigo 7º os requisitos para a concessão do benefício auxílio-acidente138. O parágrafo único deste artigo dispunha que “respeitado o limite máximo estabelecido na le- gislação previdenciária, o auxílio de que trata este artigo será adicionado ao salário de contri- buição, para o cálculo de qualquer outro benefício não resultante do acidente”.

Assim, originalmente, o auxílio-acidente era considerado salário de contribui- ção para fins de apuração de outro benefício previdenciário inacumulável com esta prestação, salvo se derivado do mesmo acidente.

Com o advento da Lei nº 6.367/76, o auxílio-acidente se tornou vitalício e a- cumulável com outros benefícios não relacionado ao mesmo fato que deu ensejo a sua con- cessão, conforme dispunha o artigo 6º, §1º139, não sendo o valor recebido mensalmente utili- zado no cálculo de qualquer benefício concedido ao segurado em momento posterior.

Na eventualidade de concessão de benefício aos dependentes, o parágrafo 2º do mesmo artigo apontava que metade do valor do auxílio-acidente seria incorporada ao valor da pensão quando do falecimento do seu titular não resultasse de acidente do trabalho. Não havia um enquadramento do benefício como salário de contribuição, mas a soma de 50% do seu valor à renda mensal da pensão por morte.

O artigo 9º do mesmo diploma legal disciplinava a concessão do extinto bene- fício auxílio-suplementar, nos seguintes termos:

Art. 9º O acidentado do trabalho que, após a consolidação das lesões resul- tantes do acidente, apresentar, como sequelas definitivas, perdas anatômicas ou redução da capacidade funcional, constantes de relação previamente ela- borada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), as quais, embora não impedindo o desempenho da mesma atividade, deman- dem, permanentemente, maior esforço na realização do trabalho, fará jus, a partir da cessação do auxílio-doença, a um auxílio mensal que corresponderá

138 Art. 7º A redução permanente da capacidade para o trabalho em percentagem superior a 25% (vinte e cinco

por cento) garantirá ao acidentado, quando não houver direito a benefício por incapacidade ou após sua cessação, e independentemente de qualquer remuneração ou outro rendimento, um "auxílio-acidente" mensal, reajustável na forma da legislação previdenciária, calculado sobre o valor estabelecido no item II do art. 6º e correspondente à redução verificada.

139Artigo 6º § 1º O auxílio-acidente, mensal, vitalício e independente de qualquer remuneração ou outro

benefício não relacionado ao mesmo acidente, será concedido, mantido e reajustado na forma do regime de previdência social do INPS e corresponderá a 40% (quarenta por cento) do valor de que trata o inciso II do Art. 5º desta lei, observado o disposto no § 4º do mesmo artigo.

75 a 20% (vinte por cento) do valor de que trata o inciso II do Artigo 5º desta lei, observando o disposto no § 4º do mesmo artigo.

O auxílio-suplementar, ao contrário do auxílio-acidente, não era vitalício, ces- sando com a aposentadoria do segurado. Além disso, seu valor não era integrado ao cálculo de benefício concedido ao segurado ou seus dependentes, conforme dispunha o parágrafo único do artigo 9º. O auxílio-suplementar foi extinto com a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91, que não o incluiu no rol de benefícios previdenciários.

A Lei nº 8.213/91, em seu artigo 86 §1º, manteve a vitaliciedade e a acumulati- vidade do benefício auxílio-acidente140 até ser derrogada pela Medida Provisória nº 1.596- 14/97 (DOU 11/11/1997), convertida na Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de 1997. Este di- ploma legal, que deu nova redação aos artigos 31 e 86 da Lei nº 8.213/91, estabeleceu a ina- cumulatividade do benefício auxílio-acidente com qualquer aposentadoria do RGPS141.

O artigo 31 da Lei nº 8.213/91, com redação dada pela lei nº 9.528/97, apontou que o valor mensal do auxílio-acidente integra o salário de contribuição para fins de cálculo do salário de benefício de qualquer aposentadoria142, observado o limite máximo do salário de contribuição.

Desta forma, a contar de 11 de novembro de 1997, o auxílio-acidente passou a ser considerado salário de contribuição para fins de apuração do salário de benefício de qual- quer aposentadoria, sendo seu valor somado à remuneração do segurado em cada competência integrante do período básico de cálculo deste novo benefício143. Evidentemente que com a concessão da aposentadoria há a cessação do auxílio-acidente.

Esta sistemática, no nosso entendimento, acabou por prejudicar a maior parte dos segurados titulares de auxílio-acidente quando de sua aposentação. Isto porque, uma vez incorporado o auxílio-acidente ao salário de benefício, fica este valor sujeito às limitações

140 Neste sentido dispunha o artigo 86 §1º em sua redação original: O auxílio-acidente mensal e vitalício

corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do salário-de-benefício do segurado.

141 Nova redação do artigo 86 §1º: § 1º O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinqüenta por cento do

salário-de-benefício e será devido, observado o disposto no § 5º, até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado.

142 Art. 31. O valor mensal do auxílio-acidente integra o salário-de-contribuição, para fins de cálculo do salário-

de-benefício de qualquer aposentadoria, observado, no que couber, o disposto no art. 29 e no art. 86, § 5º.

143 A identificação da legislação vigente para fins de verificação da possibilidade de acumulação do benefício

com aposentadoria foi recentemente disciplinada pela Advocacia-Geral da União nos seguintes termos: SÚMU- LA Nº 65, DE 5 DE JULHO DE 2012 (Altera a súmula AGU nº 44) "Para a acumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria, a lesão incapacitante e a concessão da aposentadoria devem ser anteriores as alterações inseridas no art. 86 § 2º, da Lei 8.213/91, pela Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/97."

76 impostas pela legislação ao salário de contribuição e restrito às competências do período bási- co de cálculo em que houve a percepção do benefício.

Importante consignarmos que o auxílio-acidente é considerado salário de con- tribuição tão somente na relação jurídica previdenciária de proteção, não se caracterizando como salário de contribuição para fins tributários, ou seja, este benefício não constitui hipóte- se de incidência de contribuições sociais, em razão de sua natureza indenizatória. Esta é a razão de não haver qualquer referência ao auxílio-acidente como salário de contribuição na Lei de Custeio – Lei nº 8.212/91.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 74-76)