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Da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 105-112)

CAPÍTULO III – DO CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

3.4. Da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários

Uma vez definido o valor do salário de benefício, torna-se possível fixar a ren- da mensal inicial das prestações previdenciárias em geral, valor inicial da prestação previden- ciária, apurado mediante a aplicação do coeficiente de cálculo estabelecido por lei sobre o salário de benefício.

A identificação do valor da renda mensal inicial do benefício tem como ponto de partida o estabelecimento da data de início do benefício – DIB, aplicando-se a legislação vigente nesta data para fins de definição dos critérios de cálculo a serem utilizados185.

No período anterior à Constituição Federal de 1988, o coeficiente de cálculo dos benefícios era definido pelo Decreto nº 77.077/79 e, posteriormente, pelo Decreto nº 89.312/84 que, em síntese, determinavam a aplicação das seguintes bases de cálculo e coefici- entes para fins de identificação da renda mensal inicial:

Tabela nº 04– Critérios de apuração da RMI, período anterior à Constituição Federal.

Benefício Base de cálculo

(período básico de cálculo) Coeficiente base Acréscimos

Auxílio-acidente Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12)

40% -

Auxílio-doença por acidente de traba-

lho

Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12)

92% -

Aposentadoria por invalidez acidentá-

ria

Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12)

100% -

Auxílio- suplementar

Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12)

20% -

Auxílio-doença Salário de benefício (1/12)

70% 1% para cada 12 contri- buições, limitado a 20% Aposentadoria por

Invalidez

Salário de benefício (1/12)

70% 1% para cada 12 contri- buições, limitado a 30% Aposentadoria por

idade

Salário de benefício (1/36)

70% 1% para cada 12 contri- buições, limitado a 25% Aposentadoria

Especial

Salário de benefício (1/36)

70% 1% para cada 12 contri- buições, limitado a 25% Aposentadoria por

tempo de serviço

Salário de benefício (1/36)

80% 3% para cada ano além do tempo mínimo, limi- tado a 15%

Aposentadoria Salário de benefício 95% -

185 A utilização de regras de regime jurídico anterior é reconhecida nas hipóteses em que o beneficiário preenchia

à época os requisitos para a concessão do benefício, porém não exerceu seu direito no período. Neste sentido: RE 416.827 e 415.454, do STF.

106

professor (1/36)

Salário- maternidade

Salário integral ou média dos 6 últimos meses, no caso de

remuneração variável

100% (sem limitação

ao teto) Salário-família Salário mínimo regional 5% por filho até

14 anos ou invá- lido de qualquer

idade

Auxílio-natalidade Parcela única igual ao valor-de-referência (artigo 430 do Decreto nº 83.080/79)

Auxílio-funeral Parcela única igual a dois valores-de-referência (artigo 430 do Decreto nº 83.080/79) Abono de perma- nência em serviço Salário de benefício (1/36) 20% ou 25% (de acordo com o tempo de ser-

viço) Auxílio-reclusão Salário de benefício

(1/12)

50% 10% por dependente, até o limite de 5

Pensão por morte Salário de benefício (1/12)

50% 10% por dependente, até o limite de 5

Fonte: Decreto nº 83.080/79 e Lei nº 6.367/76

Observa-se que neste período não havia a previsão constitucional de que todos os benefícios de caráter substitutivo não teriam valor inferior a um salário mínimo, de forma que era possível a existência de benefícios substitutos da renda com valor abaixo do salário mínimo186.

A base de cálculo, por outro lado, sofria as limitações previstas na legislação infraconstitucional, relativas à inexistência de correção dos 12 últimos salários de contribui- ção integrantes do período básico de cálculo, ao menor valor-teto, à vedação de reajustes ex- traordinários no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, entre outras. Para os benefícios de natureza acidentária, destacava-se a possibilidade de opção, como base de cálculo do benefício, do salário de benefício ou da remuneração da data do acidente.

Quanto ao coeficiente de cálculo, destaque deve ser dado à distinção entre os critérios de cálculo dos benefícios de natureza acidentária e previdenciária, e a vinculação de parcela do coeficiente de cálculo de alguns benefícios previdenciários à quantidade de contri- buições vertidas pelo segurado, correspondente a um mecanismo de equilíbrio financeiro do regime.

186 Neste sentido dispunha o Decreto nº 83.080: Art 41. § 4º A renda mensal do benefício não pode ser inferior a:

a) 90% (noventa por cento) do salário-mínimo mensal de adulto de localidade da trabalho do segurado, para a aposentadoria; b) 75% (setenta e cinco por cento) do mesmo salário-mínimo, para o auxílio-doença; c) 60% (sessenta por cento) do mesmo salário-mínimo, para a pensão ou o auxílio-reclusão.

107 No período posterior à Constituição Federal de 1988, especialmente após o ad- vento da Lei nº 8.213/91, observa-se uma unificação dos critérios de cálculo do salário de benefício previdenciários, adotando-se como período básico de cálculo as últimas 36 contri- buições. O cálculo da renda mensal inicial passou a ser disciplinado nos seguintes termos:

Tabela nº 05 – Critérios de apuração da RMI – Lei nº 8.213/91

Benefício Base de cálculo

(período básico de cálculo) Coeficiente base Acréscimos

Auxílio-acidente Salário do dia do acidente ou

Salário de benefício (1/36) cf. grau de inca-30, 40 ou 60% pacidade

-

Auxílio-doença por acidente de trabalho

Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/36)

92% -

Aposentadoria por invalidez acidentária

Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/36)

100% -

Auxílio-doença Salário de benefício

(1/36) 80% 1% para cada 12 contribui-ções, limitado a 12% Aposentadoria por

Invalidez

Salário de benefício (1/36)

80% 1% para cada 12 contribui- ções, limitado a 20% Aposentadoria por

idade

Salário de benefício (1/36)

70% 1% para cada 12 contribui- ções, limitado a 30% Aposentadoria Espe-

cial

Salário de benefício (1/36)

85% 1% para cada 12 contribui- ções, limitado a 15% Aposentadoria por

tempo de serviço

Salário de benefício (1/36)

70% 6% para cada ano além do tempo de serviço mínimo, limitado a 30% Aposentadoria pro- fessor Salário de benefício (1/36) 100% -

Salário-maternidade Renda mensal igual a sua remuneração integral. Não trata da hipótese de remu- neração variável

Salário-família Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do segura- do.

Abono de permanência em serviço (revogado

pela lei nº 8.870/94)

Aposentadoria por tempo de serviço que o segurado teria

direito

25% Auxílio-reclusão Aposentadoria que o segurado

teria direito na data da reclusão 80% 10% por dependente até o limite de dois

Pensão por morte Aposentadoria que o segura- do teria direito na data do

óbito ou a que recebia

80% 10% por dependente até o limite de dois

Fonte: Lei nº 8.213/91

O primeiro destaque quanto a lei nº 8.213/91 diz respeito a extinção de três be- nefícios, o auxílio-suplementar, o auxílio-natalidade e o auxílio-funeral.

Os benefícios acidentários permaneceram com sistemática distinta de cálculo do salário de benefício e, especificamente quanto ao benefício auxílio-acidente, destaca-se a

108 possibilidade de distintos coeficientes de cálculo, de acordo com o grau da incapacidade labo- ral consolidada.

Com o advento da Lei nº 9.032/95 (D.O.U. 29/04/1995), o cálculo adquiriu a seguinte formatação:

Tabela nº 06 – Critérios de apuração da RMI – Leis nº 8.213/914 e 9.032/95

Benefício Base de cálculo

(período básico de cálculo) Coeficiente base Acréscimos

Auxílio-acidente Salário de benefício

(1/36) 50% - Auxílio-doença por acidente de trabalho Salário de benefício (1/36) 91% - Aposentadoria por invalidez acidentária Salário de benefício (1/36) 100% -

Auxílio-doença Salário de benefício

(1/36) 91% - Aposentadoria por Invalidez Salário de benefício (1/36) 100% - Aposentadoria por idade Salário de benefício (1/36) 70%

1% para cada 12 contribu- ições, limitado a 30% Aposentadoria Espe- cial Salário de benefício (1/36) 100% - Aposentadoria por

tempo de serviço Salário de benefício (1/36) 70% 6% para cada ano além tempo de serviço mínimo, limitado a 30%

Aposentadoria pro- fessor

Salário de benefício

(1/36) 100% -

Salário-maternidade Renda mensal igual a sua remuneração integral. Não trata da hipótese de re- muneração variável

Salário-família Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do segura- do.

Auxílio-reclusão Aposentadoria que o segurado

teria direito na data da reclusão 100% - Pensão por morte Aposentadoria que o segurado

teria direito na data do óbito ou aquela que estava em gozo

100% -

Fonte: Lei nº 8.213/91 e Lei nº 9.032/95

Dentre as alterações introduzidas pela lei nº 9.032/95, destaca-se: a unificação dos critérios de cálculo dos benefícios previdenciários e acidentários; a unificação do coefici- ente de cálculo do auxílio-acidente em 50% do salário de benefício; a fixação do coeficiente- base desvinculado do tempo contributivo do segurado, com exceção da aposentadoria por

109 idade e tempo de serviço; e, por fim, a majoração do coeficiente de cálculo dos benefícios em geral.

Outro ponto que merece atenção foram as alterações introduzidas pela lei nº 9.528/97, que deu nova redação aos artigos 31 e 86 da Lei nº 8.213/91, estabelecendo o auxí- lio-acidente como salário de contribuição de qualquer aposentadoria posteriormente concedi- da ao segurado e vedando sua acumulação com qualquer aposentadoria.

A partir das alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 20/98, es- pecialmente a extinção da aposentadoria proporcional, estabeleceu-se regra transitória para aqueles que ingressaram no sistema no período anterior à publicação de referida emenda, pos- sibilitando a concessão de aposentadoria proporcional nos seguintes termos:

Tabela nº 07 – Critérios de apuração da RMI – Emenda Constitucional nº 20

Benefício Base de cálculo

(período básico de cálculo) Coeficiente base Acréscimos

Aposentadoria por tempo de serviço

Salário de benefício (1/36)

70% 5% para cada ano que ultra- passe o tempo de pedágio187.

Fonte: Emenda Constitucional nº 20/98

Por fim, a partir da Lei nº 9.876/99, o critério de cálculo do salário de benefício sofreu grande alteração, passando a utilizar, para a maior parte dos benefícios, base de cálculo com base em 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo.

187 Art. 9º - Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o direito de opção a aposentadoria pelas

normas por ela estabelecidas para o regime geral de previdência social, é assegurado o direito à aposentadoria ao segurado que se tenha filiado ao regime geral de previdência social, até a data de publicação desta Emenda, quando, cumulativamente, atender aos seguintes requisitos:

I - contar com cinquenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; e II - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:

a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e

b) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior.

§ 1º - O segurado de que trata este artigo, desde que atendido o disposto no inciso I do "caput", e observado o disposto no art. 4º desta Emenda, pode aposentar-se com valores proporcionais ao tempo de contribuição, quan- do atendidas as seguintes condições:

I - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e

b) um período adicional de contribuição equivalente a quarenta por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior;

II - o valor da aposentadoria proporcional será equivalente a setenta por cento do valor da aposentadoria a que se refere o "caput", acrescido de cinco por cento por ano de contribuição que supere a soma a que se refere o inciso anterior, até o limite de cem por cento.

§ 2º - O professor que, até a data da publicação desta Emenda, tenha exercido atividade de magistério e que opte por aposentar-se na forma do disposto no "caput", terá o tempo de serviço exercido até a publicação desta Emen- da contado com o acréscimo de dezessete por cento, se homem, e de vinte por cento, se mulher, desde que se aposente, exclusivamente, com tempo de efetivo exercício de atividade de magistério.

110 O cálculo dos benefícios previdenciários em geral passou a ser disciplinado nos seguintes termos:

Tabela nº 08 – Cálculo da RMI – Leis nº 8.213/91 e 9.876/99

Benefício Base de cálculo Coeficiente-

base Acréscimos

Auxílio-acidente Salário de Benefício 50% - Auxílio-doença Salário de Benefício 91% - Aposentadoria por

invalidez

Salário de Benefício 100% - Aposentadoria por

idade Salário de Benefício 70% limitado a 30%. Fator Pr. facul-1% para cada 12 contribuições, tativo Aposentadoria Espe- cial Salário de Benefício 100% - Aposentadoria por tempo de contribui- ção

Salário de Benefício 100% Aplicação obrigatória de fator previdenciário

Aposentadoria pro- fessor

Salário de Benefício 100% Aplicação obrigatória de fator previdenciário

Salário-maternidade Renda mensal igual a sua remuneração integral.

Salário-família Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do se- gurado.

Auxílio-reclusão (segurado de baixa

renda)

Ap. Invalidez que o segurado teria direito na

data da reclusão

100% -

Pensão por morte Ap. Invalidez que o segurado teria direito na

data do óbito ou aquela que estava em gozo

100% -

Fonte: Lei nº 8.213/91 e Lei nº 9.876/99. Salário de benefício apurado com base em 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo, a contar de 07/1994 ou da data de ingresso no RGPS, se poste- rior.

Esta sistemática de cálculo nos permite identificar a renda mensal inicial – RMI do benefício, valor da primeira prestação paga ao segurado ou dependente. Em razão do disposto no artigo 33 da Lei nº 8.213/91, a renda mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário de contribuição ou o rendimento do trabalhador ficará sujeita aos limi- tes mínimo e máximo previstos para o salário de contribuição, ressalvada as exceções previs- tas para o acréscimo de 25% à aposentadoria por invalidez (artigo 45) e para a concessão do salário maternidade para a segurada empregada e trabalhadora avulsa (artigo 72).

111 Uma vez definido este valor e observado os limites legais, os benefícios previ- denciários adquirem sua formatação.

No capítulo seguinte, ingressaremos no estudo do Regime Geral de Previdência Social sob uma perspectiva qualitativa, através da verificação dos efeitos concretos dos crité- rios de cálculos dos benefícios, estudados no presente capítulo, sobre o valor mensal da pres- tação previdenciária.

Analisaremos também os critérios de reajustes dos benefícios ao longo do tem- po, buscando verificar se estes cumprem o comando constitucional de preservação do valor real do benefício.

112

CAPÍTULO IV - ANÁLISE QUALITATIVA DA PROTEÇÃO SOCIAL PREVIDEN-

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 105-112)