CAPÍTULO III – DO CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS
3.4. Da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários
Uma vez definido o valor do salário de benefício, torna-se possível fixar a ren- da mensal inicial das prestações previdenciárias em geral, valor inicial da prestação previden- ciária, apurado mediante a aplicação do coeficiente de cálculo estabelecido por lei sobre o salário de benefício.
A identificação do valor da renda mensal inicial do benefício tem como ponto de partida o estabelecimento da data de início do benefício – DIB, aplicando-se a legislação vigente nesta data para fins de definição dos critérios de cálculo a serem utilizados185.
No período anterior à Constituição Federal de 1988, o coeficiente de cálculo dos benefícios era definido pelo Decreto nº 77.077/79 e, posteriormente, pelo Decreto nº 89.312/84 que, em síntese, determinavam a aplicação das seguintes bases de cálculo e coefici- entes para fins de identificação da renda mensal inicial:
Tabela nº 04– Critérios de apuração da RMI, período anterior à Constituição Federal.
Benefício Base de cálculo
(período básico de cálculo) Coeficiente base Acréscimos
Auxílio-acidente Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12)
40% -
Auxílio-doença por acidente de traba-
lho
Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12)
92% -
Aposentadoria por invalidez acidentá-
ria
Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12)
100% -
Auxílio- suplementar
Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12)
20% -
Auxílio-doença Salário de benefício (1/12)
70% 1% para cada 12 contri- buições, limitado a 20% Aposentadoria por
Invalidez
Salário de benefício (1/12)
70% 1% para cada 12 contri- buições, limitado a 30% Aposentadoria por
idade
Salário de benefício (1/36)
70% 1% para cada 12 contri- buições, limitado a 25% Aposentadoria
Especial
Salário de benefício (1/36)
70% 1% para cada 12 contri- buições, limitado a 25% Aposentadoria por
tempo de serviço
Salário de benefício (1/36)
80% 3% para cada ano além do tempo mínimo, limi- tado a 15%
Aposentadoria Salário de benefício 95% -
185 A utilização de regras de regime jurídico anterior é reconhecida nas hipóteses em que o beneficiário preenchia
à época os requisitos para a concessão do benefício, porém não exerceu seu direito no período. Neste sentido: RE 416.827 e 415.454, do STF.
106
professor (1/36)
Salário- maternidade
Salário integral ou média dos 6 últimos meses, no caso de
remuneração variável
100% (sem limitação
ao teto) Salário-família Salário mínimo regional 5% por filho até
14 anos ou invá- lido de qualquer
idade
Auxílio-natalidade Parcela única igual ao valor-de-referência (artigo 430 do Decreto nº 83.080/79)
Auxílio-funeral Parcela única igual a dois valores-de-referência (artigo 430 do Decreto nº 83.080/79) Abono de perma- nência em serviço Salário de benefício (1/36) 20% ou 25% (de acordo com o tempo de ser-
viço) Auxílio-reclusão Salário de benefício
(1/12)
50% 10% por dependente, até o limite de 5
Pensão por morte Salário de benefício (1/12)
50% 10% por dependente, até o limite de 5
Fonte: Decreto nº 83.080/79 e Lei nº 6.367/76
Observa-se que neste período não havia a previsão constitucional de que todos os benefícios de caráter substitutivo não teriam valor inferior a um salário mínimo, de forma que era possível a existência de benefícios substitutos da renda com valor abaixo do salário mínimo186.
A base de cálculo, por outro lado, sofria as limitações previstas na legislação infraconstitucional, relativas à inexistência de correção dos 12 últimos salários de contribui- ção integrantes do período básico de cálculo, ao menor valor-teto, à vedação de reajustes ex- traordinários no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, entre outras. Para os benefícios de natureza acidentária, destacava-se a possibilidade de opção, como base de cálculo do benefício, do salário de benefício ou da remuneração da data do acidente.
Quanto ao coeficiente de cálculo, destaque deve ser dado à distinção entre os critérios de cálculo dos benefícios de natureza acidentária e previdenciária, e a vinculação de parcela do coeficiente de cálculo de alguns benefícios previdenciários à quantidade de contri- buições vertidas pelo segurado, correspondente a um mecanismo de equilíbrio financeiro do regime.
186 Neste sentido dispunha o Decreto nº 83.080: Art 41. § 4º A renda mensal do benefício não pode ser inferior a:
a) 90% (noventa por cento) do salário-mínimo mensal de adulto de localidade da trabalho do segurado, para a aposentadoria; b) 75% (setenta e cinco por cento) do mesmo salário-mínimo, para o auxílio-doença; c) 60% (sessenta por cento) do mesmo salário-mínimo, para a pensão ou o auxílio-reclusão.
107 No período posterior à Constituição Federal de 1988, especialmente após o ad- vento da Lei nº 8.213/91, observa-se uma unificação dos critérios de cálculo do salário de benefício previdenciários, adotando-se como período básico de cálculo as últimas 36 contri- buições. O cálculo da renda mensal inicial passou a ser disciplinado nos seguintes termos:
Tabela nº 05 – Critérios de apuração da RMI – Lei nº 8.213/91
Benefício Base de cálculo
(período básico de cálculo) Coeficiente base Acréscimos
Auxílio-acidente Salário do dia do acidente ou
Salário de benefício (1/36) cf. grau de inca-30, 40 ou 60% pacidade
-
Auxílio-doença por acidente de trabalho
Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/36)
92% -
Aposentadoria por invalidez acidentária
Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/36)
100% -
Auxílio-doença Salário de benefício
(1/36) 80% 1% para cada 12 contribui-ções, limitado a 12% Aposentadoria por
Invalidez
Salário de benefício (1/36)
80% 1% para cada 12 contribui- ções, limitado a 20% Aposentadoria por
idade
Salário de benefício (1/36)
70% 1% para cada 12 contribui- ções, limitado a 30% Aposentadoria Espe-
cial
Salário de benefício (1/36)
85% 1% para cada 12 contribui- ções, limitado a 15% Aposentadoria por
tempo de serviço
Salário de benefício (1/36)
70% 6% para cada ano além do tempo de serviço mínimo, limitado a 30% Aposentadoria pro- fessor Salário de benefício (1/36) 100% -
Salário-maternidade Renda mensal igual a sua remuneração integral. Não trata da hipótese de remu- neração variável
Salário-família Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do segura- do.
Abono de permanência em serviço (revogado
pela lei nº 8.870/94)
Aposentadoria por tempo de serviço que o segurado teria
direito
25% Auxílio-reclusão Aposentadoria que o segurado
teria direito na data da reclusão 80% 10% por dependente até o limite de dois
Pensão por morte Aposentadoria que o segura- do teria direito na data do
óbito ou a que recebia
80% 10% por dependente até o limite de dois
Fonte: Lei nº 8.213/91
O primeiro destaque quanto a lei nº 8.213/91 diz respeito a extinção de três be- nefícios, o auxílio-suplementar, o auxílio-natalidade e o auxílio-funeral.
Os benefícios acidentários permaneceram com sistemática distinta de cálculo do salário de benefício e, especificamente quanto ao benefício auxílio-acidente, destaca-se a
108 possibilidade de distintos coeficientes de cálculo, de acordo com o grau da incapacidade labo- ral consolidada.
Com o advento da Lei nº 9.032/95 (D.O.U. 29/04/1995), o cálculo adquiriu a seguinte formatação:
Tabela nº 06 – Critérios de apuração da RMI – Leis nº 8.213/914 e 9.032/95
Benefício Base de cálculo
(período básico de cálculo) Coeficiente base Acréscimos
Auxílio-acidente Salário de benefício
(1/36) 50% - Auxílio-doença por acidente de trabalho Salário de benefício (1/36) 91% - Aposentadoria por invalidez acidentária Salário de benefício (1/36) 100% -
Auxílio-doença Salário de benefício
(1/36) 91% - Aposentadoria por Invalidez Salário de benefício (1/36) 100% - Aposentadoria por idade Salário de benefício (1/36) 70%
1% para cada 12 contribu- ições, limitado a 30% Aposentadoria Espe- cial Salário de benefício (1/36) 100% - Aposentadoria por
tempo de serviço Salário de benefício (1/36) 70% 6% para cada ano além tempo de serviço mínimo, limitado a 30%
Aposentadoria pro- fessor
Salário de benefício
(1/36) 100% -
Salário-maternidade Renda mensal igual a sua remuneração integral. Não trata da hipótese de re- muneração variável
Salário-família Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do segura- do.
Auxílio-reclusão Aposentadoria que o segurado
teria direito na data da reclusão 100% - Pensão por morte Aposentadoria que o segurado
teria direito na data do óbito ou aquela que estava em gozo
100% -
Fonte: Lei nº 8.213/91 e Lei nº 9.032/95
Dentre as alterações introduzidas pela lei nº 9.032/95, destaca-se: a unificação dos critérios de cálculo dos benefícios previdenciários e acidentários; a unificação do coefici- ente de cálculo do auxílio-acidente em 50% do salário de benefício; a fixação do coeficiente- base desvinculado do tempo contributivo do segurado, com exceção da aposentadoria por
109 idade e tempo de serviço; e, por fim, a majoração do coeficiente de cálculo dos benefícios em geral.
Outro ponto que merece atenção foram as alterações introduzidas pela lei nº 9.528/97, que deu nova redação aos artigos 31 e 86 da Lei nº 8.213/91, estabelecendo o auxí- lio-acidente como salário de contribuição de qualquer aposentadoria posteriormente concedi- da ao segurado e vedando sua acumulação com qualquer aposentadoria.
A partir das alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 20/98, es- pecialmente a extinção da aposentadoria proporcional, estabeleceu-se regra transitória para aqueles que ingressaram no sistema no período anterior à publicação de referida emenda, pos- sibilitando a concessão de aposentadoria proporcional nos seguintes termos:
Tabela nº 07 – Critérios de apuração da RMI – Emenda Constitucional nº 20
Benefício Base de cálculo
(período básico de cálculo) Coeficiente base Acréscimos
Aposentadoria por tempo de serviço
Salário de benefício (1/36)
70% 5% para cada ano que ultra- passe o tempo de pedágio187.
Fonte: Emenda Constitucional nº 20/98
Por fim, a partir da Lei nº 9.876/99, o critério de cálculo do salário de benefício sofreu grande alteração, passando a utilizar, para a maior parte dos benefícios, base de cálculo com base em 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo.
187 Art. 9º - Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o direito de opção a aposentadoria pelas
normas por ela estabelecidas para o regime geral de previdência social, é assegurado o direito à aposentadoria ao segurado que se tenha filiado ao regime geral de previdência social, até a data de publicação desta Emenda, quando, cumulativamente, atender aos seguintes requisitos:
I - contar com cinquenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; e II - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:
a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e
b) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior.
§ 1º - O segurado de que trata este artigo, desde que atendido o disposto no inciso I do "caput", e observado o disposto no art. 4º desta Emenda, pode aposentar-se com valores proporcionais ao tempo de contribuição, quan- do atendidas as seguintes condições:
I - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e
b) um período adicional de contribuição equivalente a quarenta por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior;
II - o valor da aposentadoria proporcional será equivalente a setenta por cento do valor da aposentadoria a que se refere o "caput", acrescido de cinco por cento por ano de contribuição que supere a soma a que se refere o inciso anterior, até o limite de cem por cento.
§ 2º - O professor que, até a data da publicação desta Emenda, tenha exercido atividade de magistério e que opte por aposentar-se na forma do disposto no "caput", terá o tempo de serviço exercido até a publicação desta Emen- da contado com o acréscimo de dezessete por cento, se homem, e de vinte por cento, se mulher, desde que se aposente, exclusivamente, com tempo de efetivo exercício de atividade de magistério.
110 O cálculo dos benefícios previdenciários em geral passou a ser disciplinado nos seguintes termos:
Tabela nº 08 – Cálculo da RMI – Leis nº 8.213/91 e 9.876/99
Benefício Base de cálculo Coeficiente-
base Acréscimos
Auxílio-acidente Salário de Benefício 50% - Auxílio-doença Salário de Benefício 91% - Aposentadoria por
invalidez
Salário de Benefício 100% - Aposentadoria por
idade Salário de Benefício 70% limitado a 30%. Fator Pr. facul-1% para cada 12 contribuições, tativo Aposentadoria Espe- cial Salário de Benefício 100% - Aposentadoria por tempo de contribui- ção
Salário de Benefício 100% Aplicação obrigatória de fator previdenciário
Aposentadoria pro- fessor
Salário de Benefício 100% Aplicação obrigatória de fator previdenciário
Salário-maternidade Renda mensal igual a sua remuneração integral.
Salário-família Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do se- gurado.
Auxílio-reclusão (segurado de baixa
renda)
Ap. Invalidez que o segurado teria direito na
data da reclusão
100% -
Pensão por morte Ap. Invalidez que o segurado teria direito na
data do óbito ou aquela que estava em gozo
100% -
Fonte: Lei nº 8.213/91 e Lei nº 9.876/99. Salário de benefício apurado com base em 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo, a contar de 07/1994 ou da data de ingresso no RGPS, se poste- rior.
Esta sistemática de cálculo nos permite identificar a renda mensal inicial – RMI do benefício, valor da primeira prestação paga ao segurado ou dependente. Em razão do disposto no artigo 33 da Lei nº 8.213/91, a renda mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário de contribuição ou o rendimento do trabalhador ficará sujeita aos limi- tes mínimo e máximo previstos para o salário de contribuição, ressalvada as exceções previs- tas para o acréscimo de 25% à aposentadoria por invalidez (artigo 45) e para a concessão do salário maternidade para a segurada empregada e trabalhadora avulsa (artigo 72).
111 Uma vez definido este valor e observado os limites legais, os benefícios previ- denciários adquirem sua formatação.
No capítulo seguinte, ingressaremos no estudo do Regime Geral de Previdência Social sob uma perspectiva qualitativa, através da verificação dos efeitos concretos dos crité- rios de cálculos dos benefícios, estudados no presente capítulo, sobre o valor mensal da pres- tação previdenciária.
Analisaremos também os critérios de reajustes dos benefícios ao longo do tem- po, buscando verificar se estes cumprem o comando constitucional de preservação do valor real do benefício.
112
CAPÍTULO IV - ANÁLISE QUALITATIVA DA PROTEÇÃO SOCIAL PREVIDEN-