• Nenhum resultado encontrado

Das principais revisões judiciais relativas aos salários de contribuição

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 137-142)

CAPÍTULO IV ANÁLISE QUALITATIVA DA PROTEÇÃO SOCIAL

4.2. Da Renda Mensal Inicial do benefício – Análise qualitativa

4.2.2. Dos critérios de correção dos salários de contribuição

4.2.2.1. Das principais revisões judiciais relativas aos salários de contribuição

A existência desta diversidade de índices de correção dos salários de contribui- ção demonstrada no item anterior, aliada às constantes alterações na legislação de regência da matéria, hiperinflação e diversos planos econômicos, gerou nos últimos anos diversos questi- onamentos doutrinários e jurisprudenciais quanto aos critérios de correção dos salários de contribuição, analisados a seguir:

Da correção pela ORTN/OTN. Dentre os inúmeros questionamentos judiciais

no período que antecedeu a Constituição Federal de 1988, o mais relevante diz respeito à apli- cação da Lei nº 6.423/77, que criou a Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN), na correção dos salários de contribuição.

A Lei nº 6.423/77, em seu artigo 1º, dispunha que a correção em virtude de disposição legal ou estipulação de negócio jurídico da expressão monetária de obrigação pe- cuniária somente poderia ter por base a variação nominal da Obrigação Reajustável do Tesou- ro Nacional (ORTN), posteriormente substituída pela OTN.

Entre as exceções à regra o legislador estabeleceu no § 1º de referido dispositi- vo que não se aplicava aquela lei aos reajustamentos salariais, bem como ao reajustamento dos benefícios da Previdência Social, nada dispondo, no entanto, quanto a correção dos salá- rios de contribuição integrantes do período básico de cálculo.

Diante deste fato, o judiciário reconheceu ser ilegal a utilização de critérios dis- tintos da ORTN para fins de correção dos salários de contribuição dos benefícios concedidos após a data de início de vigência da lei nº 6.423/77 (D.O.U. 21/06/1977), pacificando o enten- dimento de que a renda mensal inicial dos benefícios deveria ser apurada, a partir de citada lei, pela variação nominal da ORTN/BTN, aplicada aos 24 (vinte e quatro) salários de contri- buição anteriores aos 12 (doze) últimos.

Este entendimento beneficiou os titulares de aposentadoria por velhice, por tempo de serviço e especial, bem como de abono de permanência em serviço concedidos entre a publicação da Lei n.º 6.423/77 e a Constituição Federal de 1988.

Para os benefícios auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão, auxí- lio-reclusão e benefícios acidentários calculados com base no salário de benefício, que eram apurados com base nos 12 (doze) últimos salários de contribuição imediatamente anteriores

138 ao mês do afastamento da atividade sem qualquer correção, não restou reconhecido o direito a esta revisão.

Na prática, o que se observa neste período é que a revisão dos benefícios tor- nou-se casuística. Isto porque, firmou-se o entendimento de que a aplicação da ORTN somen- te seria cabível nas hipóteses em que este índice de correção fosse superior ao aplicado admi- nistrativamente. Esta revisão somente foi realizada para os segurados que ingressaram com ações judiciais e foi limitada a parcela dos benefícios concedidos no período de 17/06/1977 a 04/10/1988.

Da Gratificação Natalina. A lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº

8.870/94, de 16 de abril de 1994, dispõe em seu artigo 29 §3º que:

Serão considerados para cálculo do salário de benefício os ganhos habituais do segurado empregado, a qualquer título, sob forma de moeda corrente ou de utilidades, sobre os quais tenha incidido contribuições previdenciárias, exceto o décimo-terceiro salário (gratificação natalina).

Não há dúvida que a contar da entrada em vigor da Lei nº 8.870/94 a gratifica- ção natalina não integra o salário de contribuição para fins de cálculo da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários, sendo considerada tão somente para fins tributários.

A controvérsia que ainda persiste, no entanto, diz respeito ao cômputo da grati- ficação natalina como salário de contribuição para os benefícios concedidos entre a promul- gação da Constituição Federal e o dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Lei nº 8.870/94. Isto porque, não havia qualquer ressalva quanto ao aproveitamento da gratificação na apuração do salário de benefício pela lei de benefícios.

A matéria, neste período, era disciplinada exclusivamente pelo artigo 28 §7º da Lei nº 8.212/91, que fazia referência ao regulamento da Previdência Social para fins de disci- plina da questão. Especificamente quanto a utilização da gratificação natalina para fins de cálculo de benefícios, o Decreto nº 357/91, regulamentando a lei de benefícios, dispunha que:

Art. 30. § 6º Não será considerada no cálculo do salário-de-benefício a re- muneração anual - 13º (décimo terceiro) salário.

139 Posteriormente, o Decreto n. 611, de 21 de julho de 1992 alterou o Decreto nº 357/91 e previu em seu art. 30, §§ 4º e 6º o seguinte:

Art. 30. O salário-de-benefício consiste na média aritmética simples de todos os últimos salários-de-contribuição relativos aos meses imediatamente ante- riores ao do afastamento da atividade ou da data da entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não superior a 48 (quarenta e oito) meses. (...)

§ 4º Serão considerados para cálculo do salário-de-benefício os ganhos habi- tuais do segurado empregado, a qualquer título, sob forma de moeda corrente ou de utilidades, sobre os quais tenha incidido contribuição previdenciária. (...)

§ 6º A remuneração anual (13º salário) somente será considerada no cálculo do salário-de-benefício quando corresponder a 1 (um) ano completo de ati- vidade.

Da leitura dos dispositivos, conclui-se que a gratificação natalina deve ser con- siderada para fins de apuração do salário de benefício para os benefícios requeridos entre a data da publicação do Decreto nº 611, de 21/07/1992 até a entrada em vigor da Lei nº 8.870/94, produzindo reflexos na renda mensal inicial (RMI) dos benefícios cujo período bá- sico de cálculo alcance tais competências, desde que o segurado tenha exercido atividade du- rante todo o respectivo ano. Por afetar benefícios concedidos tão somente até 1997, a matéria, atualmente, não encontra grande ressonância no judiciário.

Do IRSM – Fev/94. Outra grande controvérsia levada ao judiciário diz respeito

a não aplicação do reajuste de 39,67% na correção dos salários de contribuição anteriores à competência 03/1994. Esta controvérsia foi derivada da incorreta aplicação do disposto no artigo 21 da Lei nº 8.880/94227 pelo Instituto Nacional de Seguro Social - INSS.

No processo de apuração da RMI dos benefícios requeridos a partir de março de 1994, ao proceder a correção dos salários de contribuição referentes às competências anteriores a esta data, o Instituto Nacional do Seguro Social os atualizou até o mês de feverei- ro de 1994 e os converteu pela Unidade Real de Valor prevista para a competência março de 1994, sem computar o índice de inflação verificado no mês de fevereiro, que no caso foi de 39,67%.

227 Art. 21. § 1º - Para os fins do disposto neste artigo, os salários-de-contribuição referentes às competências

anteriores a março de 1994 serão corrigidos, monetariamente, até o mês de fevereiro de 1994, pelos índices previstos no art. 31 da Lei nº 8.213, de 1991, com as alterações da Lei nº 8.542, de 1992, e convertidos em URV, pelo valor em cruzeiros reais do equivalente em URV do dia 28 de fevereiro de 1994.

140 A ausência de correção monetária entre os meses de fevereiro e março de 1994 gerou diferenças na atualização de todos os salários de contribuição anteriores a esta data, com reflexos nos benefícios concedidos a partir de então, desde que tivessem em seu período básico de cálculo salários de contribuição referentes às competências anteriores a março de 1994.

A jurisprudência é pacífica quanto ao direito à revisão da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários incorporando-se o IRSM de fevereiro de 1994 aos critérios de correção dos salários de contribuição228.

Esta revisão, no entanto, não se estende aos benefícios concedidos em data an- terior a março de 1994 e mantidos na competência 02/1994, pois estes tiveram regramento de atualização distinto, definido pela Lei nº 8.880/94 em seu artigo 20229.

Em 2004, em razão da jurisprudência pacífica quanto ao tema, o governo Fede- ral editou a Medida Provisória nº 201/04, convertida na Lei nº 10.999/04, que autorizou a re- visão dos benefícios previdenciários concedidos com data de início posterior a fevereiro de 1994, recalculando-se o salário de benefício original, mediante a inclusão, no fator de corre- ção dos salários de contribuição anteriores a março de 1994, do percentual de 39,67% referen- te ao Índice de Reajuste do Salário Mínimo. O pagamento dos valores em atraso seria efetua- do através de parcelamento e condicionado à assinatura de termo de adesão ao acordo pelos segurados até o dia 31 de julho de 2005.

Artigo 29, inciso II da Lei nº 8.213/91. Outros questionamentos relativos aos

critérios de correção dos salários de contribuição foram levados ao judiciário, versando majo- ritariamente sobre os critérios inadequados de eleição ou correção dos salários de contribui-

228 Neste sentido: PREVIDENCIÁRIO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. VERBETE 343/ STF.

INCABÍVEL. REVISÃO DE BENEFÍCIO. SALÁRIOS-DE-CONTRIBUIÇÃO. INCLUSÃO DO IRSM DE FEVEREIRO DE 1994. PERCENTUAL DE 39,67%. APLICÁVEL. AGRAVO IMPROVIDO. (...) 2. Este Su- perior Tribunal de Justiça tem asseverado que, na atualização dos salários-de-contribuição de beneficio concedi- do após março de 1994, deve ser incluído o IRSM de fevereiro do mesmo ano, no percentual de 39,67%, antes da conversão em URV, sob pena de violação ao artigo 21, § 1º, da Lei 8.880/94. 3. Agravo regimental improvi- do. (AGA 200701842856, MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, STJ - SEXTA TURMA, 13/09/2010). No âmbito dos Juizados Especiais Federais a Turma Nacional de Uniformização editou a súmula nº19, nos seguintes termos: “Para o cálculo da renda mensal inicial do benefício previdenciário, deve ser considerada, na atualização dos salários de contribuição anteriores a março de 1994, a variação integral do IRSM de fevereiro de 1994, na ordem de 39,67% (art. 21 § 1º da Lei nº 8.880/94).”

229 Art. 20 - Os benefícios mantidos pela Previdência Social são convertidos em URV em 1º de março de 1994,

observado o seguinte: I - dividindo-se o valor nominal, vigente nos meses de novembro e dezembro de 1993 e janeiro e fevereiro de 1994, pelo valor em cruzeiros reais do equivalente em URV do último dia desses meses, respectivamente, de acordo com o Anexo I desta Lei; e II - extraindo-se a média aritmética dos valores resultan- tes do inciso anterior.

141 ção. Dentre estas demandas, destaca-se a revisão dos benefícios por incapacidade calculados administrativamente sem a observância do disposto no artigo 29, inciso II da Lei nº 8.213/91. Conforme dispunha o § 20 do artigo 32 do Decreto nº 3.048/99, com redação dada pelo De- creto nº 5.545/05:

§ 20. Nos casos de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez, contan- do o segurado com menos de cento e quarenta e quatro contribuições men- sais no período contributivo, o salário-de-benefício corresponderá à soma dos salários-de-contribuição dividido pelo número de contribuições apurado.

No mesmo sentido, o § 4º do artigo 188-A, com redação dada pelo decreto nº 3.265/99, dispunha:

§ 4o Nos casos de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez, contando

o segurado com salários-de-contribuição em número inferior a sessenta por cento do número de meses decorridos desde a competência julho de 1994 até a data do início do benefício, o salário-de-benefício corresponderá à soma dos salários-de-contribuição dividido pelo número de contribuições mensais apurado.

Referido regramento se mostrava incompatível com o comando expresso do ar- tigo 29, inciso II da Lei nº 8.213/91, pois deixava de excluir os 20% menores salários de con- tribuição do cálculo dos benefícios auxílio-doença e aposentadoria por invalidez.

Esta sistemática de cálculo foi alterada pelo Decreto nº 6.939, de 18 de agosto de 2009, que revogou os dispositivos supramencionados, adequando a redação do decreto aos comandos legais estabelecidos pela Lei nº 8.213/91, qual seja, na apuração da média aritméti- ca dos salários de contribuição, deverá ser considerado os 80% maiores salários de contribui- ção, independentemente do número de contribuições vertidas ao regime pelo segurado, per- manecendo, no entanto, a ilegalidade na apuração da média contributiva nos benefícios con- cedidos no período de 1999 a 2009.

A questão, não obstante pacificada no âmbito da legislação e administrativa- mente, tem gerado grande número de ações judiciais em que se postula eventuais diferenças derivadas da ilegalidade dos critérios de cálculo adotados pelo Regime.

142

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 137-142)