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Período Básico de cálculo

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 129-131)

CAPÍTULO IV ANÁLISE QUALITATIVA DA PROTEÇÃO SOCIAL

4.2. Da Renda Mensal Inicial do benefício – Análise qualitativa

4.2.1. Período Básico de cálculo

O período básico de cálculo corresponde ao lapso temporal dentro do qual são extraídos os salários de contribuição utilizados na obtenção do salário de benefício. O estudo dos seus reflexos na prestação pecuniária previdenciária pode ser dividido, ao menos, em três períodos distintos: a) período anterior à Constituição Federal de 1988; b) da Constituição Fe- deral de 1988 até a Lei nº 9.876/99 e; c) período posterior à Lei nº 9.876/99.

No período anterior à Constituição Federal de 1988, para os benefícios aposen- tadoria por idade, especial, tempo de serviço e para o abono de permanência em serviço, o período básico de cálculo compreendia um período máximo de 48 meses, apurado retroativa- mente a contar da data do afastamento da atividade ou a data de entrada do requerimento, den- tro do qual eram selecionados os 36 salários de contribuição mais recentes.

Para os benefícios acidentários219, auxílio-doença e aposentadoria por invali- dez, o período básico de cálculo compreendia um período máximo de 18 meses, apurado re- troativamente a contar da data do afastamento da atividade ou a data de entrada do requeri- mento, dentro do qual eram selecionados os 12 salários de contribuição mais recentes.

A lei nº 8.213/91, aplicada com força retroativa à data da promulgação da Constituição Federal de 1988 em razão do disposto em seu artigo 144, unificou a sistemática de definição do período básico de cálculo, adotando como regra o período máximo de 48 me- ses, dentro do qual eram selecionados os 36 salários de contribuição mais recentes.

A Lei nº 9.032/95 unificou a sistemática de cálculos dos benefícios previdenci- ários e acidentários, estabelecendo que o valor do benefício de prestação continuada, inclusive o regido por norma especial e o decorrente de acidente do trabalho, exceto o salário-família e o salário-maternidade, seria calculado com base no salário-de-benefício.

Esta sistemática se alterou sensivelmente com a Lei nº 9.876, de 26 de novem- bro de 1999, que ampliou o período básico de cálculo, passando este a corresponder a todo o

219 Especificamente quanto aos benefícios previdenciários, a legislação estabelecia a possibilidade de opção entre

130 período contributivo do segurado, dentro do qual serão apuradas 80% das maiores contribui- ções.

Para os segurados já inscritos na Previdência Social antes de 26 de novembro de 1999, foi estabelecido no artigo 3º da lei nº 9.876/99 regramento específico, fixando como termo inicial do período básico de cálculo a competência 07/1994 (ou a data de filiação do segurado, caso posterior a 07/1994) e como termo final a data de afastamento da atividade ou a data de entrada do requerimento, apurando-se 80% das maiores contribuições existentes neste período para fins de cálculo do salário de benefício.

A partir de então, segundo Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Ju- nior, “o período de apuração, seguindo tendência mundial, acabou significativamente amplia- do, passando a considerar todo o período de filiação”220

.

Em nosso entendimento, a ampliação do período básico de cálculo imprimiu maior racionalidade ao sistema, que se via obrigado a se valer de diversos artifícios legais para evitar fraudes, tais como as regras de limitação de reajustes acima da inflação no período básico de cálculo (artigo 29 § 4º da Lei nº 8.213/91), a existência da escala de salários-base (artigo 29, caput, redação original, da Lei nº 8.213/91, que impunha limites às contribuições dos segurados autônomos e facultativos), regras específicas para os casos de exercício de ati- vidades concomitantes (artigo 32 da Lei nº 8.213/91) e, num período mais remoto, a existên- cia do menor valor teto, que limitava o cálculo do benefício a determinado patamar, condicio- nando o avanço da renda para além deste limite à comprovação de um dado número de con- tribuições acima do menor valor teto.

Além disso, a ampliação do período básico de cálculo para todo o período con- tributivo veio acompanhada de regra que permitiu a exclusão dos 20% menores salários de contribuição do período contributivo, o que representa maior segurança econômica para o segurado, proporcionando, ainda, uma correlação mais adequada entre a contribuição e o va- lor do benefício.

Por outra vertente, a ampliação do período básico de cálculo pôs fim a uma ló- gica até então existente de equilíbrio entre as últimas remunerações do segurado e o salário de benefício. A apuração da renda mensal inicial com base em um curto período imediatamente

220 ROCHA, Daniel Machado da e BALTAZAR JR. José Paulo. Comentários à Lei de Benefícios da previdência Social. 9ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 138.

131 anterior ao requerimento do benefício possibilitava uma correlação mais afinada entre a re- muneração do segurado e a renda mensal inicial do benefício.

Destaca-se, ainda, que para os benefícios de natureza acidentária, até a entrada em vigor da lei nº 9.032/95, havia a opção de cálculo do benefício com base no último salário de contribuição (valor da remuneração na data do acidente), conforme preconizava o artigo 28 §§ 1º e 2º da Lei nº 8.213/91.

Com a ampliação do período básico de cálculo, observa-se uma importante mudança na própria concepção da renda inicial dos benefícios, que deixa de refletir a remune- ração recebida no período imediatamente anterior à concessão do benefício, passando a se pautar pela média contributiva do segurado, gerando uma reformulação na própria noção de natureza substitutiva das prestações previdenciárias.

Deste particular ponto de visto, portanto, a renda mensal inicial das prestações previdenciárias, a contar da lei nº 9.876/99, deixou de ter como base o reflexo da remuneração do segurado no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, passando a ser um reflexo da média contributiva de toda vida laboral, com reflexos diretos na renda mensal, de acordo com o histórico contributivo de cada segurado.

Com isto, parcela significativa da população, especialmente para as pessoas sem emprego fixo duradouro, intervalado com períodos de desemprego, trabalho informal ou serviços de baixa renda, acaba por ter uma média contributiva muito inferior à remuneração efetiva durante os períodos de emprego. Por esta razão, Wagner Balera destaca que, “ainda que os valores sejam corrigidos, como comanda a Constituição, é evidente que quanto maior o período, menor será a média e, consequentemente, o valor da prestação a ser concedida ao beneficiário”221.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 129-131)