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Do primeiro reajuste dos benefícios previdenciários

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 165-168)

CAPÍTULO IV ANÁLISE QUALITATIVA DA PROTEÇÃO SOCIAL

4.3. Do Reajustamento dos benefícios previdenciários – análise qualitativa

4.3.2. Dos reajustes dos benefícios com valor superior ao salário mínimo

4.3.2.1. Do primeiro reajuste dos benefícios previdenciários

O estudo do primeiro reajuste dos benefícios previdenciários merece especial atenção em razão da forma com que dará a incidência da correção da renda mensal inicial do benefício, bem como em razão da existência de regras específicas destinadas a adequar a ren- da do benefício em decorrência de limitações incidentes quando da apuração da Renda inicial.

A primeira questão reside na forma que se dará o primeiro reajuste da presta- ção: integral ou proporcional. Antes da Constituição Federal de 1988, por força de entendi- mento consolidado pelo Tribunal Federal de Recursos273 através da súmula nº 260, restou pa- cificado que “no primeiro reajuste do benefício previdenciário deve-se aplicar o índice inte- gral do aumento verificado, independentemente do mês de concessão, (...)”.

Este critério de reajustamento se deve ao fato de que na sistemática anterior à Constituição de 1988 os 12 (doze) últimos salários de contribuição não eram corrigidos mone- tariamente, sendo o mecanismo de reajuste integral uma forma de minimizar a perda em face da inflação, não configurando dupla recomposição monetária.

A utilização integral do critério de correção monetária no primeiro reajuste foi aplicada tão somente aos benefícios concedidos antes da Constituição Federal de 1988. A partir de então, o primeiro reajuste dos benefícios previdenciários passou a ser proporcional (pro rata) ao tempo decorrido entre a data de início do benefício (DIB) e a data do reajusta- mento, tendo em vista a correção monetária de todos dos salários de contribuição integrantes

273 O Tribunal Federal de Recursos foi extinto com a Constituição de 1988 e, em seu lugar, criados cinco

166 do período básico de cálculo, matéria que atualmente está disciplinada no artigo 41-A da Lei nº 8.213/91274. Aos reajustes subsequentes se aplica o índice integral.

Segundo ponto de destaque quanto ao primeiro reajuste dos benefícios previ- denciários diz respeito às regras específicas estabelecidas pelas Leis nº 8.870/94 e 8.880/94.

A Lei nº 8.870/94, além de promover diversas alterações na Lei nº 8.213/91, trouxe no artigo 26 a seguinte norma:

Art. 26. Os benefícios concedidos nos termos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, com data de início entre 5 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993, cuja renda mensal inicial tenha sido calculada sobre salário-de- benefício inferior à média dos 36 últimos salários-de-contribuição, em de- corrência do disposto no § 2º do art. 29 da referida lei, serão revistos a partir da competência abril de 1994, mediante a aplicação do percentual corres- pondente à diferença entre a média mencionada neste artigo e o salário-de- benefício considerado para a concessão.

Referido dispositivo, conforme explica Hermes Arrais Alencar,

não teve o condão de afastar os limites previstos no parágrafo 2º do art. 29 da Lei nº 8.213/91, mas, sim, estabelecer como teto limitador dos benefícios concedidos no período de 5 de abril de 1991 a 31 de dezembro de 1993 o sa- lário-de-contribuição vigente na competência de abril de 1994. No mês de abril de 1994 vigorou o limite-teto de URV 582,86, e, a incidência do índice- teto poderá majorar a renda mensal até esse máximo, não podendo ultrapas- sá-lo.275

De acordo com referida norma, não obstante a limitação inicial do salário de benefício ao teto previdenciário no momento da concessão do benefício, a diferença entre a média aritmética dos salários de contribuição e o limite-teto, a contar de 1994, passou a ser incorporada no primeiro reajuste do benefício, respeitando-se o novo teto vigente nesta data.

Em suma, o artigo 26 da Lei nº 8.870/94 promoveu uma revisão nos benefícios concedidos entre 05 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993, desconsiderando-se, a contar de 04/1994, o teto-limite do salário de benefício aplicado quando da sua concessão, adotando- se como limite máximo o valor de URV 582,86 a partir de então (teto dos salários de benefí- cios para a competência 04/1994).

274 Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do

salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

167 A lei nº 8.880/94, que dispunha sobre o Programa de Estabilização Econômica e o Sistema Monetário Nacional e instituiu a Unidade Real de Valor (URV), trouxe regra se- melhante em seu artigo 21 § 3º, nos seguintes termos:

Art. 21 - Nos benefícios concedidos com base na Lei nº 8.213, de 1991, com data de início a partir de 1º de março de 1994, o salário-de-benefício será calculado nos termos do art. 29 da referida Lei, tomando-se os salários-de- contribuição expressos em URV.

(...)

§ 3º - Na hipótese da média apurada nos termos deste artigo resultar superior ao limite máximo do salário-de-contribuição vigente no mês de início do be- nefício, a diferença percentual entre esta média e o referido limite será in-

corporada ao valor do benefício juntamente com o primeiro reajuste do mesmo após a concessão, observado que nenhum benefício assim reajusta-

do poderá superar o limite máximo do salário-de-contribuição vigente na competência em que ocorrer o reajuste.

Referido dispositivo, sem desconsiderar o teto-limite vigente na data da con- cessão dos benefícios, possibilitou a recomposição da renda mensal nos casos de benefícios que tiveram o seu valor inicial limitado pelo teto do salário de benefício.

As causas desta diferença entre a média contributiva e o teto previdenciário vi- gente na data da concessão do benefício são derivadas de uma série de fatores, dentre os quais destacamos a oscilação do limite contributivo ao longo do tempo, os critérios distintos de cor- reção dos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo e do teto previden- ciário e, por fim, da ausência de um reajuste mensal do teto contributivo.

Assim, no primeiro reajuste subsequente à concessão do benefício (e tão so- mente neste), o legislador possibilitou, além do reajuste devido a título de correção monetária, fixado de forma proporcional, o acréscimo do percentual que ficou limitado pelo teto vigente na data da concessão do benefício, observando-se, como novo limite, o teto vigente a partir de então.

Em termos qualitativos, estas duas normas possibilitam a recomposição da mé- dia contributiva do segurado que foi limitada no ato da concessão do benefício. Sua aplicação, como exposto, restringe-se aos beneficiários que tiveram média dos salários de contribuição superior ao teto contributivo na data da concessão do benefício, ficando o benefício limitado a este patamar.

168 No entanto, da forma como aplicada, esta revisão recompõe apenas parcial- mente as perdas verificadas na limitação do salário de benefício, tendo em vista a nova limita- ção ao teto previdenciário quando do reajuste.

A norma estabelecida no artigo 21 da Lei nº 8.880/94 encontra-se em vigor até a presente data, de forma que é cabível sua aplicação nos casos em que a média aritmética simples dos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo foi limitada ao teto previdenciário na data de início do benefício. Sua função é recompor, ainda que parcial- mente, as perdas derivadas da aplicação do teto contributivo à média contributiva do segura- do.

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