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A liquidação da obrigação e as dificuldades enfrentadas pelo credor do

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2009 (páginas 152-156)

4. BREVE ANÁLISE SOBRE A RESPONSABILIDADE DO ESTADO PELA

4.4 A responsabilidade do Estado pelo ajuizamento de execução fiscal indevida

4.4.2 A liquidação da obrigação e as dificuldades enfrentadas pelo credor do

Estabelecido o dever de indenizar, cumpre-nos analisar como se procederá à liquidação da obrigação. No entender de Marçal Justen Filho, o Estado tem o dever de promover espontaneamente a liquidação do dano, sob pena de caracterização de uma segunda infração. São deles as seguintes palavras:

Configurados os pressupostos da sua responsabilização civil, a remessa do interessado à via judicial configurará uma segunda infração pelo Estado a seus deveres. A primeira infração se consumou quando o Estado deu oportunidade à concretização do dano. A segunda ocorre quando se recusa a arcar com a responsabilização daí derivada. Aliás e nesse ponto, tem-se de reconhecer como ilegítimo o condicionamento do pagamento à quitação integral de eventuais pretensões do terceiro. Se estiverem presentes os pressupostos da responsabilização civil e tal for reconhecido pelo Estado, cabe-lhe promover a indenização correspondente. Eventualmente, haverá divergência com o particular lesado a propósito da extensão das perdas e danos. Nesse caso, o Estado tem o dever de pagar o valor que reputar adequado, mesmo se o particular se recusar a fornecer-lhe a quitação e anunciar intenção de demanda judicial. É que a divergência entre as partes se referirá à diferença a maior pretendida pelo particular: há um valor mínimo incontroverso, o qual tem de ser liquidado. Se o Estado condicionar a liquidação da indenização à quitação, configura-se desvio de finalidade e abuso de poder. Logo, cabe-lhe observar o princípio da moralidade, o que exclui condutas tais como a ora descrita.340

Em que pese às observações do ilustre administrativista, com as quais, aliás, concordamos inteiramente, até mesmo porque o Estado deve ser o primeiro a cumprir suas leis, em decorrência do princípio da supremacia do interesse público, fato é que, na prática, dificilmente vemos o Estado sponti própria liquidando os prejuízos ocasionados por ele

340 A responsabilidade do Estado, p. 245.

153 ocasionados. Via de regra, compete ao suposto devedor e legítimo credor do Estado ajuizar uma nova ação, agora de indenização, para ter seu direito cumprido.

Não obstante o fato de o executado necessitar ajuizar uma nova ação para ser indenizado pelos prejuízos advindos da injusta execução que contra ele foi movida, cumpre atentar para uma particularidade própria das ações movidas contra a Fazenda Pública: ela possui uma execução própria, com rito diferenciado em relação à execução cível de forma geral.

Enquanto o executado em um processo de execução cível que teve seus bens expropriados indevidamente vê na sentença transitada em julgado que lhe reconheceu o direito à indenização um título executivo dotado de exequibilidade, o mesmo não se verifica em relação ao credor do Estado. Afinal, o credor de um particular poderá promover a execução de seus bens tanto quanto bastem para satisfazer o crédito devido. Já o credor do Estado não. Uma vez estabelecido o valor da reparação, o processo de execução contra a Fazenda Pública é bem diferente daquele a que ela faz jus para execução de seus créditos.

Com efeito, na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo legal, I – o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal; II – far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do respectivo crédito. Caso o credor seja preterido no seu direito de preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem, poderá, depois de ouvido o chefe do Ministério Público, ordenar o sequestro da quantia necessária para satisfazer o débito, hipótese esta que, na prática, dificilmente se verifica.

Outra não é a norma prevista na Constituição Federal, que acresce além das previstas pelo CPC, outras exigências para satisfação do crédito devido pelo Estado:

Art. 100. À exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. § 1º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários, apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente. (Redação da EC n. 30/00)

154 § 1º-A Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou invalidez, fundadas na responsabilidade civil, em virtude de sentença transitada em julgado

§ 2º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exeqüenda determinar o pagamento segundo as possibilidades do depósito, e autorizar, a requerimento do credor, e exclusivamente para o caso de preterimento de seu direito de precedência, o seqüestro da quantia necessária à satisfação do débito. (Redação da EC n. 30/00)

§ 3º O disposto no caput deste artigo, relativamente à expedição de precatórios, não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em lei como de pequeno valor que a Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal deva fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. (Redação da EC n. 30/00) Percebe-se, pois, que, via de regra, o Contribuinte que sofreu constrição patrimonial indevida, e que, porventura, teve seu patrimônio expropriado, por força do prosseguimento da execução só terá direito a receber eventual indenização pelo dano que isso lhe causou após o trânsito em julgado de decisão reconhecendo seu direito e; ainda, assim, terá que aguardar a requisição do pagamento pelo Presidente do Tribunal que tenha proferido a decisão, sendo que os precatórios precisam ser apresentados até 1º de julho de cada ano, para que o credor possa vir a receber o que lhe é devido até o final do exercício seguinte, observada a ordem cronológica de sua apresentação.

Tendo em vista, essa particularidade da execução contra a Fazenda Pública, Candido Rangel Dinamarco a qualifica como uma demanda impossível, uma execução

aparente. São suas as seguintes palavras:

Uma conhecidíssima impossibilidade executiva de fundo político-institucional é a da execução por quantia certa contra a Fazenda Pública (infra, n. 1.729). Essa ―execução‖ é tão pobre de meios executivos, que não passa de uma execução aparente, visto como em princípio não inclui medida alguma de sub-rogação (penhora, alienação forçada de bens), regendo-se pelo sistema dos precatórios segundo as disposições contidas na Constituição Federal (art. 100) e no Código de Processo Civil (art. 730). O seqüestro do valor devido é medida que a ordem jurídica só admite em caso de o credor ter sido preterido na ordem de preferência resultante dos precatórios (art. 731) – e só nisso consistem as atividades propriamente executivas em face da Fazenda Pública.341

Existe, é bem verdade, a possibilidade de requisição de pequeno valor, que todavia, igualmente se sujeita ao requerimento por parte do Presidente do Tribunal. Nesse sentido, observa Araken de Assis que ―a EC 37/2002 definiu obrigação de pequeno valor, até que

sobrevenha lei local dispondo em sentido contrário, no art. 87 do ADCT: quarenta

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salários mínimos, perante as Fazendas dos Estados e do Distrito Federal; e trinta salários mínimos, perante as fazendas dos Municípios‖.342 A Lei Federal 10.259/2001,343 por sua vez, estabeleceu o valor de sessenta salários mínimos. Ultrapassados tais limites, imperiosa se faz a expedição de precatório.

Vê-se, portanto, que as dificuldades para o Contribuinte reaver da Fazenda Pública indenização em decorrência de perdas e danos por esta causados mostra-se inversamente proporcional aos privilégios que a Fazenda possui quando figura no polo ativo do executivo fiscal. E é com base nesse entendimento que caminharemos rumo ao próximo capítulo.

342 Manual da execução, p. 958.

343 ―Art. 17, § 1º – Para os efeitos do § 3º do art. 100 da Constituição Federal, as obrigações ali definidas como de pequeno valor, a serem pagas independentemente de precatório, terão como limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a competência do Juizado Especial Federal Cível (art. 3º, caput).

―Art. 3º. Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.‖

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5.

O EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS À EXECUÇÃO

FISCAL APÓS O ADVENTO DA LEI 11.382/2006

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