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Julgamento dos embargos

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2009 (páginas 126-131)

3. OS EMBARGOS À EXECUÇÃO CÍVEL DE TÍTULO EXECUTIVO

3.2 Do processamento dos embargos

3.2.6 Julgamento dos embargos

Analisadas as hipóteses em que os embargos são recebidos com efeito suspensivo e sem este efeito e constatadas as implicações decorrentes de cada caso, cumpre-nos agora analisar os efeitos do julgamento dos embargos em caso de procedência e improcedência.

Observe-se que, na hipótese da sentença aplicar multa ou indenização decorrentes de litigância de má-fé, a cobrança será promovida no próprio processo de execução, em autos apensos, operando-se por compensação ou por execução.

3.2.6.1. Embargos improcedentes

Improcedentes os embargos, a execução segue seu curso e se ainda não houve expropriação do patrimônio do devedor em decorrência do curso do processo que ainda não possibilitou tal ato, agora ela terá curso próprio de execução definitiva.

293 Manual da execução, p. 702.

127 No entanto, na hipótese em que pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo, a execução considerar-se-á como sendo provisória, a teor do que determina o art. 587, do Código de Processo Civil. Ou seja, nesse caso, a execução terá seu curso, mas com as mesmas restrições e sujeições da execução da decisão provisória, conforme observam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart:

Neste caso, a execução não apenas se submete às restrições dos incisos do art. 475-O, como também se subordina aos §§ 2.º e 3.º deste mesmo artigo. A execução de título executivo extrajudicial, quando os embargos são recebidos com efeito suspensivo e julgados improcedentes, não permite ―o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade‖ sem a prestação de ―caução suficiente e idônea‖. Ademais, nesta hipótese, a execução de título extrajudicial ―corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a sentença [de improcedência dos embargos] for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido‖ (art. 475-O, I, do CPC). Pela mesma razão, a execução ―fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da execução [rectius: a sentença de improcedência dos embargos], restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento‖ (art. 475-O, II, do CPC).294

Caso os embargos, a par de serem julgados improcedentes, ainda sejam considerados manifestamente protelatórios, nos termos do art. 740, parágrafo único, o juiz imporá, em favor do exequente, multa ao embargante em valor não superior a 20% (vinte por cento) do valor em execução.

Deve-se tomar cautela, todavia, na aplicação desse dispositivo, de modo a impedir eventual limitação ao direito de defesa do executado. O caráter protelatório dos embargos precisa ser manifesto e inequívoco para a aplicação da multa em referência, consoante pondera Humberto Theodoro Junior:

Uma coisa, porém, deve ser ressalvada: não se pode aplicar a multa apenas porque os embargos foram rejeitados. O direito de embargar a execução corresponde à garantia de contraditório e ampla defesa, assegurada constitucionalmente. Para que seu exercício mereça punição é necessário que tenha sido praticado de forma abusiva, ou seja, contra os objetivos próprios do remédio processual utilizado, e apenas com o nítido propósito de embaraçar a execução.

A norma legal não se contenta em serem protelatórios os embargos, exige que sejam ―manifestamente protelatórios‖. Todos os embargos de alguma forma protelam a execução. O que justifica a repressão legal é não terem outro propósito senão o de embaraçar e protelar a execução. E este aspecto tem de ser

294 Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart. Curso de processo civil, vol 3: Execução, p. 455.

128 manifesto, ou seja, tem de estar visível impossível de ser negado ou ocultado, tem, em suma, de ser evidente ou notório. Erro de direito ou de fato, por si só, não é, em regra, suficiente para impor ao embargante a pecha de litigante de má- fé, sob pena de diminuir muito, ou mesmo anular, a garantia de ampla defesa assegurada constitucionalmente.295

3.2.6.2. Embargos procedentes

Situação diversa é a propiciada pela procedência dos embargos. Se a estes havia sido concedido efeito suspensivo, então não haverá grandes dificuldades eis que não terão sido realizados os atos de expropriação dos bens do devedor. Sobrevindo apelação nesta hipótese, o efeito suspensivo continua a surtir efeito, conforme salienta Elpidio Donizeti:

Se os embargos forem julgados procedentes, reconhecendo, por exemplo, a inexistência da dívida, o efeito suspensivo continua a surtir efeito durante o julgamento da apelação, impedindo a prática de qualquer ato expropriatório. Vale lembrar que a apelação interposta contra sentença que julga procedentes os embargos é dotada de efeito suspensivo (art. 520, V, a contrario sensu). Entretanto, mesmo afastada a imediata incidência do julgamento de procedência, o efeito suspensivo concedido aos embargos tem aptidão para paralisar a execução.296

Por outro lado, caso o mencionado efeito não tenha sido conferido, então alguns problemas podem surgir. Primeiramente, cumpre observar que, a teor do que prescreve o art. 694, do CPC, assinado o auto de arrematação, considerar-se-á perfeita, acabada e irretratável a arrematação, ainda que os embargos venham a ser julgados procedentes. Tal previsão encontra justificativa no sobreprincípio da segurança jurídica e, ainda, ao princípio da boa-fé do adquirente, conforme elucida Fabiano Carvalho:

A justificativa da atual sistemática, que impede o retorno do bem ao patrimônio do executado, está na garantia da segurança jurídica nos negócios que envolvam atos de transmissão da propriedade. A boa doutrina conclui que, ―em respeito à segurança jurídica estabelecida pela confiança nos atos estatais, o arrematante não sofrerá prejuízo, mesmo que os embargos provoquem o reconhecimento de não sujeição do devedor ao crédito exeqüendo‖. Além disso, o primado da certeza do direito confere previsibilidade, no sentido de que o terceiro adquirente sabe com antecedência necessária que os efeitos da decisão dos embargos não afetarão sua esfera jurídica. Acrescente-se, ainda, o argumento da boa-fé do terceiro adquirente.297

295 Humberto Theodoro Júnior. Alguns problemas pendentes de solução após a reforma da execução dos títulos extrajudiciais (Lei 11.382/2006). Revista de Processo, p. 23.

296 Curso didático de direito processual civil, p. 755.

297 Fabiano Carvalho. Decisão de procedência dos embargos à execução e a eficácia dos atos expropriatórios. Revista de Processo, p. 209.

129 No entanto, o mesmo dispositivo legal que atribui definitividade à arrematação, prescreve, em seu § 2º, o direito do executado haver do exequente o valor por este recebido como produto da arrematação; e, caso inferior o valor do bem, haverá do exequente também a diferença. Esta norma, contudo, ―não retira o dever de o exeqüente ressarcir o

executado pelos danos que este último tiver sofrido nos exatos termos do art. 574 do CPC‖.298

Determina o supra citado art. 574 que o credor ressarcirá ao devedor os danos que este sofreu, quando a sentença, passada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação que deu lugar à execução. Nesse sentido, entendemos que os danos que o exequente suportará podem abranger, inclusive, danos de ordem moral, quando, por exemplo, no processo de execução é alienada uma joia de família, que a par do valor de mercado, apresenta, ainda, um significado emotivo indiscutível.

Caso o exequente seja o próprio adjudicante do bem, o retorno do bem adjudicado ao patrimônio do executado/embargante caracteriza-se como um direito potestativo deste, que poderá haver do exequente o valor da avaliação do bem adjudicado ou, ainda, o próprio bem. Afinal, ―se o exeqüente é o próprio adjudicante, não parece ser adequado, ao

menos em tese, falar em segurança jurídica e, conseqüentemente, na impossibilidade do desfazimento da adjudicação‖.299

Igualmente, se mostra possível o provimento parcial dos embargos, hipótese em que o retorno do bem adjudicado ao patrimônio do devedor não será possível. Afinal, a procedência, ainda que parcial, demonstra que o ato expropriatório deveria ocorrer, para satisfazer o crédito devido. Nesse caso, o executado dever ser indenizado na medida da procedência parcial dos embargos.

Não há dúvidas, portanto, de que uma vez julgado procedentes os embargos, surge o direito do embargante de ser ressarcidos pelos prejuízos que teve com o prosseguimento da execução, os quais não se restringem aos danos materiais, mas abarcando, também, danos morais porventura existentes. No entanto, o Código de Processo Civil, embora preveja esse direito, não estabelece que a apuração do quantum devido se dará no mesmo processo, de

298 Fabiano Carvalho. Decisão de procedência dos embargos à execução e a eficácia dos atos expropriatórios, Revista de Processo, p. 211.

130 forma que, dependendo do ato expropriatório que se verificou, será necessário um outro processo, a fim de se efetivar seu direito.

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No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2009 (páginas 126-131)