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John Kenned Lima Leite Rosilda Veríssimo Silva

1. Diferentes estilos de organização do cuidado no hospital

1.1 A seleção de um método para a organização do cuidado ao pa ciente

Durante a execução de atividades gerenciais o enfermeiro tem como ações, se- gundo Felli e Peduzzi (2014), a organização do trabalho assistencial e o gerencia- mento de recursos humanos de enfermagem. Instrumentos que o auxiliam são o dimensionamento de pessoal e, o planejamento, recrutamento e seleção de profis- sionais de enfermagem desenvolvido em atuação com o serviço de educação conti- nuada. Complementam essas atividades a avaliação de desempenho e a supervisão. As instituições geralmente utilizam diferentes modos de organização do cuida- do. Para a seleção daquele a ser utilizado estão os custos, a satisfação dos pacientes e família e a satisfação dos funcionários da enfermagem, entre outros. Definida a equipe e o modelo de cuidado, realizar a distribuição de trabalho entre eles é outra função do enfermeiro no gerenciamento do cuidado. Destaque-se que esse processo está subordinado às escolhas institucionais e traduz as políticas públicas ou priva- das no sentido de garantir a realização de atividades correspondentes às finalidades da instituição.

Portanto, como apontam Felli e Peduzzi (2014), a gerência é uma ferramenta do processo de cuidado que está orientada por finalidades imediatas, tais quais a or- ganização do trabalho, bem como mediatas, que se relacionam com o provimento de condições necessárias à realização do processo de cuidar. Nesse aspecto, as escalas de atividades diárias envolvem ambas as finalidades.

A escala de distribuição do pessoal de enfermagem é diária e realizada pelo enfermeiro do turno. Sua execução depende da função e cuidado que o enfermei- ro realiza, desde o grau de dependência até a complexidade dos cuidados exigidos pelos pacientes. Além disso, tem como foco a distribuição das atividades de enfer- magem entre os integrantes da equipe de modo equitativo. É função do enfermeiro responsável em cada turno de trabalho considerar o número e a qualificação dos integrantes da equipe, a área física, complexidade e volume de cuidados necessários para cada paciente, bem como o tipo de atividade a ser realizada (FELLI; PEDUZZI, 2014).

Considerando a apresentação dos três métodos de cuidado que influenciam as decisões na elaboração da escala de atividades diárias para o cuidado, vale lembrar que no método funcional a distribuição de atividades por funcionário se dá confor- me as funções a serem desempenhadas. Por exemplo, em uma unidade de clínica médica-cirúrgica, as atividades de aferição de sinais vitais, a administração de me- dicamentos, os cuidados com higiene e conforto e os curativos são executados, cada um, por um profissional para todos os pacientes. Como desvantagem desse méto- do está a fragmentação do cuidado, desqualificando a assistência e possibilitando eventos adversos e erros, uma vez que potencializa que o paciente ora fique sem o cuidado necessário e/ou o receba duplamente.

pacientes, ou seja, cada funcionário é responsável por ministrar todos os cuidados necessários ao paciente durante o seu turno de trabalho. Assim, cada trabalhador é responsabilizado por realizar todos os cuidados necessários para cada um dos pa- cientes sob sua responsabilidade. Já a designação de um grupo para prestar cuida- dos durante um turno de serviço se refere à delegação de um grupo de profissionais para prestar cuidados integrais a determinado número de pacientes.

Com as escalas mensais e de férias de pessoal de enfermagem, acredita-se que a escala diária de distribuição das atividades deva seguir, em sua elaboração, alguns princípios: a não sobrecarga de funcionários e a equidade na distribuição de tare- fas. Algumas vezes, na prática diária, nota-se que há funcionários muito atarefados enquanto outros estão sem atividades e, nem mesmo, procuram ajudar os demais. Por que isso acontece? Como dito anteriormente, a escala de atribuições é a divisão das atividades de enfermagem diária e, em cada turno, entre os elementos da equipe de enfermagem com a finalidade de prestar assistência com qualidade. Ela deve ser organizada de modo a evitar sobrecarga e ou a ociosidade dos membros da equipe.

Massarolo (1991), ao abordar o dimensionamento de pessoal de enfermagem, já ressaltou que a elaboração das escalas é uma atividade complexa que requer do enfermeiro gestor conhecimentos específicos do perfil da clientela envolvida, da di- nâmica dos processos existentes na unidade, das características dos integrantes da equipe de enfermagem e das leis trabalhistas. Somado a estes fatores, a distribuição da escala de trabalho deve ser realizada de maneira racional para assegurar a prática do cuidado integral com excelência. Dessa forma, embora de menor complexidade, expandimos esses princípios para a distribuição de atividades na escala diária de atribuições.

Dentre as recomendações para a sua elaboração deve-se observar: a seleção dos métodos de prestação de cuidados; o quantitativo e o qualitativo dos elementos da equipe de enfermagem. Informações como o espaço físico, volume e complexidade da assistência; bem como o tipo de atividade a ser desenvolvida. Ainda, a divisão equitativa das atividades e a avaliação contínua com vistas a desenvolver rodízio entre os funcionários na perspectiva de evitar automatismo e obter maior preparo da equipe (GAIDZINSKI, 1991; MASSAROLLO, 1991; FELLI; PEDUZZI (2014).

Sine qua non nesse processo é considerar as características dos pacientes, das

necessidades dos serviços de enfermagem bem como as da equipe. Fator não menos importante a ser efetivado na organização e distribuição das atribuições de cuidado é a discussão permanente com a equipe para a avaliação dos resultados e debates sobre a cooperação no trabalho.

A utilização da escala e serviço favorece diversificadas ações no gerenciamen- to do cuidado desenvolvido pelo enfermeiro. Destacamos entre elas: agilidade no atendimento das necessidades do paciente e facilidade na supervisão e controle do

serviço executado pelo integrante da equipe com o acompanhamento e orientação. Em síntese, a escala é um instrumento para a organização do trabalho assistencial.

A confecção da escala de atribuição deve ter distribuição equitativa das funções de cuidado entre os membros da equipe, o que implica avaliar o grau de complexi- dade do cuidado exigido pelo paciente. Deve ser elaborado um instrumento próprio, o que contribui na confecção e visualização e, embora ela apresente a distribuição diária, pode ser confeccionada para a semana ou mesmo para o mês. Compõem ain- da atribuições na distribuição de atividades de cuidado indireto como, por exemplo, a organização da unidade, dos materiais e solicitação de recursos para o cuidado direto. Recomenda-se que o enfermeiro estabeleça a melhor forma de execução e elaboração desse instrumento após a discussão com a equipe.

Em unidades de clínica médico-cirúrgica algumas atribuições envolvem cui- dados higiênicos, preparo e administração de medicamentos, execução de trocas de curativos, mudanças de decúbito, aspiração de vias aéreas, controles de sinais vitais e de balanço hídrico, monitoramentos e alimentação dos pacientes. Também inte- gram essas ações o encaminhamento e preparo do paciente para exames e cirurgias, dentre outros. Conforme o método, essas ações serão desempenhadas por um ou mais elementos para um mesmo paciente. Embora a escala possa ser elaborada para a semana ou o mês, ela precisa ser constantemente avaliada e modificada. Conside- ramos que a manutenção de escalas fixas tem o potencial de desarticular a equipe integração, a qual entendemos favorecer o atendimento holístico dos cuidados aos pacientes.

Tendo em vista a necessidade da dinamicidade da unidade, o cuidado envolvi- do e a clientela atendida, a manutenção de escalas fixas, nas quais não existe a pos- sibilidade de dimensionar a distribuição dos cuidados aos pacientes considerando o seu grau de complexidade, não parece viável. Entendemos que ela pode acarretar em sobrecarga de parte dos integrantes da equipe de enfermagem, pois há a possibi- lidade de concentrar pacientes extremamente graves ou dependentes dos cuidados de enfermagem para um único funcionário; ou ainda podemos ter pacientes mais independentes, levando a ociosidade de alguns trabalhadores.

Na prática observa-se que o uso de escalas fixas acarreta sobrecarga aos fun- cionários diretamente ligados à assistência. Nessas ocasiões há enfermeiros que realizam o redimensionamento da escala de atividades e outros não. Isso parece estar relacionado também com a falta de compreensão do enfermeiro sobre a sua responsabilidade ética no gerenciamento do cuidado. Nesse sentido, o profissional está colocando em risco a assistência de qualidade que o paciente tem direito.

Concordamos com Gaidzinski (1991, p. 91) quando ele chama a atenção para o fato de que “na enfermagem, os aspectos quantitativos e qualitativos dos recursos humanos têm requerido a atenção dos enfermeiros responsáveis pela administra-

ção dos serviços de enfermagem”. Entendemos que neste contexto o enfermeiro é o protagonista principal na elaboração das escalas de atividades e deve considerar o dimensionamento de pessoal equitativo “em virtude das implicações que o dimen- sionamento inadequado desses recursos causa sobre o resultado da qualidade da assistência de enfermagem prestada à clientela” (GAIDZINSKI, 1991, p. 91).

Certamente a qualidade da prestação dos cuidados de enfermagem prejudicará o cliente/paciente, a equipe de enfermagem e a própria instituição. É sem dúvida o enfermeiro o profissional capaz de identificar e reavaliar continuamente a elabora- ção das propostas dos recursos existentes frente às necessidades da clientela, a fim de fornecer uma assistência coerente (GAIDZINSKI, 1991).