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Resumo

A Política de Promoção de Equidade em Saúde visa diminuir as iniquidades em saúde. Pensar na formação acadêmica como um tempo marcante é também falar sobre a for- mação de conceitos que vão interferir no modo de refletir e agir de cada pessoa em seu exercício profissional. Assim, este estudo procurou atender as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das relações-étnico racial para o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena (Lei 11.645/2008) e para a efetivação dos Direitos Humanos (Res. no. 1/2012), a fim de promover a educação para mudança e transformação social, fundamentadas na valorização e reconhecimento das diferenças e das diversidades. O objetivo da pesquisa é sensibilizar estudantes da área da saúde no reconhecimento da Política Nacional de Promoção da Equidade como uma ferramenta de inclusão, a fim de possibilitar diferentes práticas atitudinais de convívio social e do exercício profissio- nal. O local de aplicação é uma Instituição Educacional de Ensino Superior do norte de Santa Catarina. Participaram das oficinas estudantes matriculados nos cursos de graduação em Enfermagem, Educação Física, Fonoaudiologia e Nutrição. Adotou-se como estratégia pedagógica de ensino-aprendizagem metodologias ativas e participa- tivas. O desenvolvimento deu-se em quatro etapas, nomeadas como: Sensibilização; Aprendendo; Somando Conhecimentos; e O que eu aprendi? A escolha desta metodo- logia proporcionou a todos os participantes, acadêmicos, monitores e professoras, a possibilidade de levar adiante essas discussões com novas perspectivas, ampliando o discurso visando cessar a violação dos direitos humanos das populações socialmente mais vulneráveis atuando como defensores da promoção da saúde destes grupos.

Introdução

Os direitos humanos garantem às pessoas a liberdade na sua mais ampla con- cepção e são protegidos sob o direito internacional, fundamentados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nela está descrito que todos têm o direito de viver com dignidade e para tal [...] “têm o direito de viver com liberdade, segurança e um padrão de vida decente” (ONU, 1948). Portanto, impedir que qualquer pessoa, por qualquer condição pessoal, tenha o seu direito de escolha vedado é infringir os di- reitos humanos básicos. Direitos estes que não precisam ser conquistados por uma suposta maioria, que sempre foi dominante, mas que de modo nenhum expressa a realidade do povo brasileiro.

Todos os seres humanos deverão ter garantidos seus direitos, simplesmente porque são humanos, não pela imposição de critérios que classificam as pessoas sob qualquer ponto de vista imposto por aqueles que desfrutam de condições diferentes.

Conforme a Constituição Federal Brasileira (1988), a desigualdade social é si- nônimo de injustiça, assim, a promoção de ações afirmativas e de equidade como ferramenta de redução das desigualdades existentes fomenta a justiça social e o exercício da verdadeira igualdade.

Neste contexto, as políticas públicas de saúde e caráter social precisam incluir aspectos mais amplos da vida em sociedade, é preciso lutar pela redução das desi- gualdades sociais, assim como as iniquidades em saúde.

A política de promoção de equidade na saúde foi construída visando atender as questões de saúde especificamente das populações negras, do campo e da floresta, lésbicas, bissexuais e transexuais (LGBT), em situação de rua e cigana, que formam um conjunto de ações e serviços de saúde que devem ser priorizados em função da vulnerabilidade histórica vivenciada por estes atores; e, assim, ajudar a alcançar de forma igualitária e universal o desafio maior do SUS: a garantia de acesso resolutivo, em tempo oportuno e com qualidade, às ações e serviços de saúde (BRASIL, 2013).

Diante disso, é preciso pensar na formação acadêmica como um período dis- tinto na vida estudantil e também falar sobre a formação de conceitos que vão inter- ferir de maneira marcante no modo de refletir e de agir de cada pessoa. O trabalho acadêmico, desenvolvido com objetivo de contribuir com a formação profissional e para gerar novos conhecimentos e aptidões, tem na graduação um forte aliado, uma vez que este apresenta uma diversidade conceitual e prática que interfere expressi- vamente no “pensar” e no “fazer”.

É urgente transpor os conhecimentos para a prática diária de sala de aula. Nes- se contexto, uma possibilidade é promover espaços de discussão sobre as políticas de promoção de equidade em saúde como uma estratégia de auxiliar na criação de novos caminhos para alcançar a equidade, principalmente se tratando de jovens

que futuramente serão responsáveis pela atenção e cuidado com a saúde, pois, se- rão profissionais enfermeiros, educadores físicos, nutricionistas e fonoaudiólogos. A etapa de formação universitária é um dos espaços privilegiados para a construção de momentos de reflexão sobre temáticas que, segundo Garrafa, Kottow e Saada, (2006), são denominadas bioética persistente ou cotidiana.

Assim, este estudo procurou atender as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das relações-étnico racial (BRASIL, 2004) para o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena (Lei 11.645/2008) e para a efetivação dos Direitos Humanos (Res. no. 1/2012), a fim de promover a educação para a mudança e trans- formação social, fundamentada na valorização e reconhecimento das diferenças e das diversidades.

É importante ressaltar que os temas abordados pelas oficinas não faziam parte do conteúdo programático das disciplinas dos cursos de graduação de Educação Física, Fonoaudiologia e Nutrição de uma Instituição Educacional sem fins lucrati- vos do norte de Santa Catarina, e se tornaram objeto de estudo das pesquisadoras porque houve a constatação da fragilidade na discussão dos temas em questão. Essa constatação deu-se pelas professoras em diversas oportunidades experienciadas em aulas com os acadêmicos dos primeiros semestres do Curso de Graduação de En- fermagem, nos quais eles demonstraram falta de conhecimento da realidade vivida por aquelas populações. Outro ponto é que os acadêmicos apresentavam conceitos baseados em preconceitos, fato que gerou preocupação, uma vez que num futuro muito próximo, como profissionais da área da saúde, esta postura causa interfe- rência negativa na atuação profissional. Foram estas constatações que geraram a curiosidade em saber se os alunos dos outros cursos da área da saúde da presente Instituição também tinham as mesmas lacunas na aprendizagem de conteúdos que são essenciais a um profissional da saúde.

1. Objetivos

1.1 Objetivo geral

Sensibilizar os estudantes matriculados nos cursos de graduação da área da saú- de de uma Instituição Educacional de Ensino Superior do norte de Santa Catarina, para reconhecer a Politica Nacional de Promoção da Equidade como uma ferramenta de inclusão, a fim de possibilitar diferentes práticas atitudinais de convívio social e do exercício profissional.

1.2 Objetivos específicos

• Discutir com os estudantes os conceitos inseridos na política nacional de pro- moção da equidade;

• Sensibilizar os estudantes para utilizar a política de promoção da equidade como uma ferramenta de inclusão, convívio social e promoção da saúde;

2. Caminhos metodológicos para o desenvolvimento das oficinas

Este é o relato de parte de uma pesquisa participativa que foi desenvolvida du- rante os meses de junho a dezembro de 2016, com os estudantes matriculados nos cursos de Graduação em Enfermagem, Educação Física, Fonoaudiologia e Nutrição de uma Instituição Educacional de Ensino Superior sem fins lucrativos do norte de Santa Catarina.

A pesquisa foi desenvolvida em três etapas distintas: na primeira foi realizado o diagnóstico situacional; na segunda as oficinas de aprendizagem e na terceira o diag- nóstico do impacto da ação.

Com a realização de uma pesquisa participativa busca-se simultaneamente o re- conhecimento sobre o tema que gerou a curiosidade investigativa e a pretensa reso- lução do problema (LABAKI, 2011; SOARES; FERREIRA, 2006). Nesta experiência a ação proposta foi a realização de oficinas nas quais procurou-se suprir as carências de conhecimento dos acadêmicos convidados, sobre os temas que fazem parte da Política de Promoção da Equidade.

Para a realização das oficinas foram adotadas metodologias ativas participativas como estratégia de ensino-aprendizagem, nas quais foram utilizados artigos científi- cos como parte da problematização.

As metodologias participativas visam motivar o estudante, que diante de um pro- blema se detém, examina, reflete, relaciona a sua história e passa a ressignificar suas descobertas. Contempla ações direcionadas para que o estudante aprofunde e amplie os significados construídos mediante sua participação. Requer do mediador o exer- cício permanente do trabalho reflexivo, da disponibilidade para o acompanhamen- to, da pesquisa e do cuidado, que pressupõe a emergência de situações imprevistas e desconhecidas. Além disso, favorece o desenvolvimento de novas habilidades, como a vontade e a capacidade de permitir ao estudante participar ativamente de sua apren- dizagem, como facilitador deste processo no ensino-aprendizagem (LOPES, 2001).

Assim, as oficinas são vistas como uma proposta para resolver o problema em questão, percebido no cotidiano com os acadêmicos e relatado na introdução deste artigo. Após a aplicação das oficinas deve ser analisado se houve ampliação de pensa- mentos e conhecimentos sobre um dos princípios norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, que tem na equidade um dos princípios doutrinários do seu eixo norteador.

Com este enfoque participativo valoriza-se a experiência do grupo, permitindo seu envolvimento nas discussões e na busca de outras concepções. O diálogo propor-

ciona aos participantes a oportunidade de construir novos conhecimentos e oferece ao jovem a possibilidade de transformar a realidade nos diversos espaços em que vivem e atuam.

Embora, como dito anteriormente, esta pesquisa tenha sido composta de três etapas, neste artigo será relatada somente a segunda, ou seja, a realização das oficinas de aprendizagem.

Este estudo teve início após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer no. 1.193.558/2015), o qual respeitou todos os princípios da Resolução 466/12 (BRA- SIL, 2012).

3. Desenvolvimento das Oficinas

Como estratégia de planejamento primeiramente houve um contato com os co- ordenadores dos cursos de graduação da Instituição. Nesta reunião foram esclareci- dos os temas, objetivos e metodologias das oficinas; além disso, foram consultados sobre os melhores dias e horários para a realização das mesmas. Após o estabele- cimento das datas, foi encaminhada uma carta convite para que as secretarias dos cursos pudessem enviar nos e-mails dos acadêmicos dos cursos de graduação da área da saúde. Posteriormente, como forma de potencializar a divulgação, as moni- toras (acadêmicas de enfermagem) da pesquisa foram pessoalmente às salas de aula das turmas de todas as fases dos cursos para fazer o convite e estimular a participa- ção dos acadêmicos dos demais cursos.

É preciso ressaltar que antes da efetivação das oficinas os acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem, voluntários da pesquisa, foram capacitados pelas professoras, que também são autoras deste artigo, para também fazer parte da me- diação dos debates. Mesmo com esta capacitação, como um dos critérios para atuar como monitor voluntário, o aluno necessitava ter como prerrogativa ter cursado o segundo semestre do curso de graduação em enfermagem - Que é quando o currí- culo deste curso contempla, por meio de leituras de textos, artigos e elaboração de seminários, a Política de Promoção da Equidade; ampla discussão sobre os temas da oficina.

Para esta capacitação, que teve duração de aproximadamente duas horas, os monitores participaram de uma discussão com o objetivo de rememorar a abor- dagem pretendida com a discussão dos temas das oficinas, e também para o reco- nhecimento e desenvolvimento da metodologia proposta. Eles foram divididos em pares e cada dupla ficou responsável por ler os artigos adotados como uma forma de fomentar as discussões nas oficinas.

Antes de iniciar as oficinas, pensando nas questões éticas que envolvem o traba- lho acadêmico, houve a preocupação de anunciar aos participantes o método ao qual

seriam submetidos. Os convidados foram informados sobre a pesquisa e os temas que seriam discutidos, bem como a metodologia utilizada. Igualmente abordou-se sobre o aspecto voluntário e a liberdade de participação, assim como a autonomia e o direito de sair da oficina no momento em que considerasse pertinente, sem que houvesse nenhum tipo de prejuízo.

Dessa forma, somente após o fornecimento destas informações, considerando que todos os presentes haviam concordado em participar, deu-se início a oficina de aprendizagem centrada nos temas contemplados na Política de Promoção da Equi- dade.

Com este direcionamento, as oficinas foram planejadas e realizadas a partir de quatro fases: 1°. Sensibilização; 2°. Aprendendo; 3°. Somando Conhecimentos; 4°. O que eu aprendi?