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Para a realização da oficina, os convidados acadêmicos de um mesmo curso, independentemente do período que estavam cursando, foram reunidos em uma sala de aula. No espaço havia acomodações para todos e, ainda, recursos audiovisuais que possibilitaram a utilização de tecnologia de som e imagem. Todas as oficinas foram realizadas com a mediação de pelo menos duas professoras coordenadoras do projeto em parceria com os acadêmicos de enfermagem monitores da pesquisa (das quais uma é autora deste artigo).

Como estratégia de sensibilização foram apresentados slides com fotos, vídeos e frases que faziam referência a situações que: ora apresentavam a equidade, ora faziam menção à iniquidade, dados estatísticos demonstrando a influência de situa- ções de iniquidade na saúde. A seguir alguns exemplos:

“Existe equidade, nos vários níveis de atendimento, no sistema único de saúde do Brasil?”

“A desigualdade social é uma condição que não possibilita àqueles menos pri- vilegiados de encontrar saídas por eles mesmos”.

- Rendimento médio salarial: mulher branca: R$ 1.025,44. Mulher negra: R$ 760,00. POR QUÊ?

- EQUIDADE = IGUALDADE ?????

Os exemplos acima citados foram apresentados juntamente com outras ima- gens e perguntas que demonstravam situações, geralmente de iniquidade, com co- munidades indígenas, ciganas, população negra, pessoas com deficiência, em situ- ações de rua e de pobreza extrema, entre outras. A finalização desta primeira fase se deu com a seguinte pergunta: “Por que investir em ações específicas para esta

população?”. A escolha desta pergunta objetivou nortear as discussões no pequeno

grupo.

2ª fase - Aprendendo:

Com a pergunta norteadora o grande grupo foi dividido, aleatoriamente, em quatro grupos, que contavam com a participação de pelo menos dois acadêmicos monitores. Os participantes foram convidados à leitura de um artigo, cada grupo ficou com um artigo que abordava um tema específico. Os textos adotados para as oficinas foram:

1. WITT, R.R.; BACKES, D.L.; STREIM, C.; RODRIGUES, R. Enfermagem ru- ral. R. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, v.21, n.1, p.22-30, jan. 2000.

2. ALMEIDA, M.G; SILVA, T.M.; SANTOS, J.L.P. Saúde de povos ciganos

no Brasil: uma revisão integrativa. Universidade Federal do Piauí. Convibra Saú-

de. Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção de saúde (s/data). 3. CARDOSO, M.C.R.; FERRO, L.F. LGBT: demandas e especificidades em questão. Psicologia, ciência e profissão, n.32, v.3, p.552-563, 2012.

4. ROSA, A.S. da; CAVICCHIOLI, M.G.S.; BRÊTAS, A.C.P. O processo saúde- -doença-cuidado e a população em situação de rua. Rev. Latino-Am Enferma-

gem. V.13, n.4, p.576-82, julho-agosto, 2005.

5. NEGRI, M. D. X.; LABRONICI, L. M.; ZAGONEL, I. P. S. O cuidado inclu- sivo de enfermagem ao portador da síndrome de Down sob o olhar de Paterson e Zderad. Rev Bras Enferm, Brasília, v. 56, n.6, p. 678-682, nov/dez. 2003.

6. LEAL,M.C.;GAMA, S.G.N.; CUNHA, C.B. Desigualdades raciais, sociodemo- gráficas e na assistência ao pré-natal e ao parto, 1999-2001. Rev Saúde Pública, v.39, n.1, p. 100-7, 2005.

Assim sendo, após aproximadamente 40 minutos de leitura e debate no peque- no grupo, os acadêmicos posicionaram-se em uma grande roda para que juntamen- te com os monitores expusessem as principais ideias por eles discutidas.

3ª fase – Somando Conhecimentos:

Com a mediação dos monitores, os pequenos grupos apresentaram para o grande grupo maior as discussões pertinentes a cada tema abordado.

No grande grupo eles puderam falar sobre as discussões, sentimentos, ideias e projetos futuros enquanto profissionais da saúde. Cada grupo, auxiliado pelo mo- nitor, fez um breve relato de todos os aspectos discutidos, ressaltando pontos po- sitivos e negativos, concordando ou discordando de algumas ações de equidade em favor de populações historicamente excluídas. Aqueles que discordaram julgaram-

-nas não merecedoras de tais ações; afirmaram que são valores que já trazem de suas famílias.

Este foi um dos aspectos que gerou debates calorosos entre os participantes, muitos defenderam que argumentos como este reforçam a necessidade de outras oportunidades para debates sobre os temas. Eles expuseram conceitos que já ti- nham e afirmaram que obtiveram novos por meio dos esclarecimentos que naquela oportunidade estavam adquirindo. Foram discussões ricas em conteúdo e conheci- mento, de forma bastante subjetiva, com relatos de experiências pessoais. Isso tudo demonstrou o início de uma sensibilização frente a um assunto que ainda necessi- tava de profundidade.

4° fase – O que eu aprendi?

Ao final das discussões, dois participantes voluntários responderam a um ques- tionário (o mesmo do diagnóstico situacional) para estudar o impacto da ação que, neste caso, foram às discussões dos temas durante a oficina de aprendizagem; entre- tanto, este tema será abordado em outro artigo.

O detalhamento do número de acadêmicos da área da saúde que participaram das oficinas pode ser observado no quadro abaixo:

Foram realizadas quatro oficinas com duração aproximada de três horas cada, ambas configuraram uma participação expressiva quanto à totalidade de acadê- micos matriculados da área da saúde da Instituição na qual foram desenvolvidas as oficinas. Embora as metodologias ativas-participativas preconizem realizações com números reduzidos de participantes, avaliou-se que não houve prejuízos no desenvolvimento, uma vez que houve tempo suficiente para ampla participação. O resultado positivo também se deve à participação das docentes responsáveis pelo projeto e dos monitores que, como descrito anteriormente, já estavam preparados e também facilitaram o debate.

Quadro 1. Quadro demonstrativo do número de participantes nas oficinas, segundo o curso

Curso Número de alunos participantes Número de monitores

Enfermagem Educação Física Fonoaudiologia Nutrição Total 33 31 17 46 127 6 7 5 11 29 Fonte: Elaboração das autoras.

Considerações finais

Durante a realização das oficinas, as docentes que atuaram como mediadoras centraram-se no grupo respeitando suas características e, a partir da motivação e canalização da atenção, procuraram direcioná-los de maneira a facilitar a compre- ensão dos temas debatidos. Para tanto, procurou-se manter a atenção aos diálogos, respeitando seus limites, bem como sua maneira de pensar e agir, utilizando o relato de suas experiências nas discussões pertinentes e incentivando a participação de cada jovem durante as abordagens.

Outro aspecto importante a ser considerado foi a intensa participação dos aca- dêmicos de enfermagem como monitores das oficinas. Após o término dos grupos, eles se reuniram com as docentes e se preocuparam em fazer uma avaliação de toda a discussão, inclusive retomando seus próprios conceitos, valores e atribuições de sentidos aos fatos relatados durante as discussões.

É preciso considerar que a escolha desta metodologia proporcionou a todos os participantes, acadêmicos, monitores e professoras a possibilidade de levar adiante essas discussões com novas perspectivas, ampliando o discurso e posicionando os temas para futuras discussões, visando cessar a violação dos direitos humanos das populações socialmente mais vulneráveis.

Finalmente, é preciso considerar que o sucesso da ação se deu também porque em todos os grupos, durante a realização das oficinas, as docentes coordenadoras da pesquisa dedicaram-se em manter um clima de roda de conversa. Espaço em que os participantes puderam sentir que eles eram os protagonistas da ação, para que assim pudessem pensar novos caminhos para as situações discutidas e que, como futuros profissionais da saúde responsáveis pela atenção e pelo cuidado, agissem de forma diferenciada, com menos preconceitos e maior valorização do ser humano com todos os requisitos da diversidade de nossa espécie. E também, para que pos- sam atuar pela promoção da saúde destes grupos, que há muito tempo passam por situações de exclusão.

Referências

ALMEIDA, M.G; SILVA, T.M.; SANTOS, J.L.P. Saúde de povos ciganos no Brasil: uma revisão integrativa. Universidade Federal do Piauí. Convibra Saúde. Congresso Virtual Brasileiro de Educação, gestão e promoção de saúde (s/data).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Depar- tamento de Apoio à Gestão Participativa. Políticas de promoção da equidade em saú-

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BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes para Avaliação das Instituições de

Ensino Superior. Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior (CONAES), 2004.

Disponível em: <portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/diretrizes.pdf>. Acesso em: 14 Out 2005. CARDOSO, M.C.R.; FERRO, L.F. LGBT: demandas e especificidades em questão. Psi-

cologia, ciência e profissão, n.32, v.3, p.552-563, 2012.

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LEAL, M.C.; GAMA, S.G.N.; CUNHA, C.B. Desigualdades raciais, sociodemográficas e na assistência ao pré-natal e ao parto, 1999-2001. Rev Saúde Pública, v.39, n.1, p. 100-7, 2005.

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NEGRI, M.D.X.; LABRONICI, L.M.; ZAGONEL, I.P.S. O cuidado inclusivo de enfer- magem ao portador da síndrome de Down sob o olhar de Paterson e Zderad. Rev Bras

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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDADAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CUL- TURA. Declaração Universal Dos Direitos Humanos, 1948. Brasília, 1988. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423/pdf>. Acesso em: 24 jun 2107.

ROSA, A.S. da; CAVICCHIOLI, M.G.S.; BRÊTAS, A.C.P. O processo saúde-doença- -cuidado e a população em situação de rua. Rev. Latino-Am Enfermagem. V.13, n.4, p.576-82, julho-agosto, 2005.

SOARES, L.Q. FERREIRA, M.C. Pesquisa participante como opção metodológica para a investigação de práticas de Assédio Moral no Trabalho. Psicologia (Florianópolis). V.6, p.85-110, 2006.

WITT, R.R, BACKES, D.L., STREIM, C., RODRIGUES, R. Enfermagem rural. R. Gaú-

cha Enferm., Porto Alegre, v.21, n.1, p.22-30, jan. 2000.

Sobre as autoras

Solange Abrocesi: Enfermeira, Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade IELUSC. Beatriz Schumacher: Enfermeira, Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade IELUSC. Vanessa Cardoso Pacheco: Enfermeira, Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade IELUSC. Isabela Soter Correa: Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade IELUSC.