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A teoria adotada pelo Código Civil brasileiro

1. ELEMENTOS ESSENCIAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1.3. Relação de causalidade ou nexo causal

1.3.4. A teoria adotada pelo Código Civil brasileiro

O nexo de causalidade é abordado no art. 403 do CC de 2002115, a teor do reproduzido a seguir:

“Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual”.

Em face de a legislação não ser autoexplicativa, coube à doutrina analisar qual seria o embasamento teórico adotado pelo Código Civil brasileiro.

Saliente-se que, como ocorre frequentemente com os assuntos que oferecem certa complexidade, não há consenso entre os autores pátrios acerca da teoria adotada pelo Diploma legal em comento. Os doutrinadores dividem-se, basicamente, em duas correntes:

115 Conforme salientado, o Código Civil de 1916 continha a mesma disposição em seu art. 1.060, salvo no que tange à expressão “sem prejuízo do disposto na lei processual”, que foi acrescida no Código de 2002.

a que entende ter sido adotada a teoria da causalidade adequada e a que advoga pela teoria do dano direto e imediato (ou causalidade direta e imediata).

No rol daqueles que defendem a tese da causalidade adequada, observam-se, em caráter exemplificativo, Luiz Roldão de Freitas Gomes116, Silvio de Salvo Venosa117, Flávio Tartuce118 e Fernando Noronha119. Destaque-se, dentre esses, o jurista Fernando Noronha, que, justificando com mais argumentos seu posicionamento, sustenta que a aludida teoria comporta a interpretação mais pertinente do art. 403 do CC, sendo flexível o suficiente para explicar por que danos indiretos também são ressarcíveis a despeito da redação desse dispositivo. Seu entendimento encontraria sustentáculo também no art. 335 do Código de Processo Civil (CPC), o qual, embora disponha apenas sobre a apreciação de prova pelo magistrado, que deverá aplicar “as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece”, consagra o brocardo id quod plerumque

accidit120.

É oportuno salientar, entretanto, que a teoria da causalidade direta e imediata também admite a indenização de danos indiretos ou em ricochete, como esclarecido há

116 GOMES, Luiz Roldão de Freitas. Elementos de responsabilidade civil, p. 75-76: “A orientação predominante, pelo menos em certos países, é o da causa adequada, em que aquela será apenas a condição adequada à produção do dano. Deve como tal ser considerada, em princípio, toda e qualquer condição do prejuízo. Mas uma condição deixará de ser a causa adequada, tornando-se pois juridicamente indiferente, desde que seja irrelevante para a produção do dano segundo as regras da experiência, dada sua natureza e atenta as circunstâncias conhecidas do agente, ou suscetíveis de serem conhecidas por uma pessoa normal no momento da prática da ação”. Arremata seu entendimento da seguinte maneira: “Parece compatibilizar-se, na verdade, mais esta orientação com o Direito brasileiro, a partir das regras inscritas nos arts. 159, 1.069 e seu parágrafo único, 1.060 e 956 do Código Civil, como pondera o Prof. Antunes Varela: é a que melhor se coaduna com o pensamento ético-jurídico latente nas disposições reguladoras da responsabilidade fundada na culpa do ofensor”. Os artigos mencionados pelo autor referem-se ao Código Civil de 1916. Surpreendentemente, o art. 1.069 da referida legislação não possui parágrafo único. Ademais, os dispositivos citados pelo autor, com exceção do art. 1.060, não parecem ter qualquer relação com o tema do nexo da causalidade.

117 VENOSA, Silvio de Salvo. Responsabilidade civil, p. 39-40.

118 TARTUCE, Flávio. Direito Civil – direito das obrigações e responsabilidade civil. 5. ed. São Paulo: Método, 2010. v. 2, p. 368: “Em nosso parecer o Código Civil de 2002 adotou, em melhor sentido, a teoria

da causalidade adequada, eis que a indenização deve ser adequada aos fatos que a cercam. Essa conclusão

pode ser retirada dos arts. 944 e 945 do CC, já comentados. Nesse sentido, o Enunciado 47 da I Jornada de

Direito Civil prevê que o último dispositivo não exclui a teoria da causalidade adequada. É imperioso dizer

que a adoção desta teoria não afasta a investigação dos fatores que excluem ou obstam o nexo de causalidade”.

119 NORONHA, Fernando. Direito das obrigações: fundamentos do direito das obrigações – introdução à responsabilidade civil.

120 Ibidem, p. 609-610. A expressão id quod plerumque accidit pode ser traduzida como “aquilo que ocorre com mais frequência” ou o “caso mais provável” (MORWOOD, James (Ed.). Oxford Latin Minidictionary. Oxford: Oxford University Press, 1995; QUEIROZ, O. A. Pereira de. Dicionário Latim-Português. 5. ed. São Paulo: Lep, 1958).

pouco. A interpretação do doutrinador ao art. 335 do referido Diploma legal121 denota ser exagerada e pouco condizente com seu propósito original, que é o de ser aplicada, na esfera probatória processual, somente em caso de ausência de normas jurídicas particulares.

Na corrente oposta, posicionando-se a favor da adoção da tese da causalidade direta e imediata, além, obviamente, de Agostinho Alvim122, verificam-se, também a título exemplificativo, Carlos Roberto Gonçalves123, Gisela Sampaio da Cruz124, Arnaldo Rizzardo125, Maria Helena Diniz126, bem como Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho127.Estes últimos sustentam seu posicionamento nos próprios termos empregados pelo mencionado art. 403, isto é, “efeito dela direto e imediato”128. Ressaltam, ademais, que é esta a teoria empregada pela jurisprudência, ainda que, muitas vezes, esteja sendo invocada a da causalidade direta129.

A despeito da argúcia na defesa do ponto de vista eleito, a verdade é que os doutrinadores pré-citados estão equivocados no tocante a essa matéria, uma vez que os termos ínsitos no dispositivo legal são interpretados, pela própria teoria que advogam, com significado diverso daquele considerado o óbvio. De fato, conforme salientado, a expressão “efeito direto e imediato” é entendida como “efeito necessário”.

121 O dispositivo legal do Código de Processo Civil tem a seguinte redação: “Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial”.

122 ALVIM, Agostinho. Da inexecução das obrigações e suas conseqüências, p. 354. O autor, em seu trabalho, fazia referência ao Código Civil de 1916. No entanto, tendo em vista que não houve alteração substancial entre os dispositivos da legislação de 1916 e a atual, pode-se valer dos mesmos ensinamentos. 123 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil, p. 523-526: “Ao legislador, portanto, quando adotou a teoria do dano direto e imediato, repugnou-lhe sujeitar o autor do dano a todas as nefastas conseqüências do seu ato, quando já não ligadas a ele diretamente”.

124 CRUZ, Gisela Sampaio da. O problema do nexo causal na responsabilidade civil, p. 107-110: “A Teoria do Dano Direto e Imediato mostra-se, como se vê, mais apta a enfrentar o problema da causalidade múltipla do que a maioria das teorias expostas anteriormente que quase sempre conduzem o julgador a soluções injustas. É a teoria adotada no Brasil segundo grande parte da doutrina, não obstante a jurisprudência ainda vacile, invocando sem precisão científica outras teorias [...]. A Teoria do Dano Direto e Imediato não tem, como reconhece o próprio Agostinho Alvim, o condão de resolver todas as dificuldades práticas que o tema suscita, mas é a que de modo mais simples traduz a expressão “dano direto e imediato”, disposta no art. 403 do Código Civil. Além disso, o cerne desta teoria está relacionado à idéia de interrupção do nexo causal que é tão útil para se aferir, no caso concreto, quem deve responder pelo dano que já vem sendo adotada pelos defensores mais modernos da Teoria da Causalidade Adequada”.

125 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 76. 126 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil, p. 107.

127 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil – responsabilidade civil, p. 93.

128 Ibidem, loc. cit.

129 Ibidem, p. 94. Gisela Sampaio da Cruz faz a mesma observação acerca do engano conceitual observado na jurisprudência (O problema do nexo causal na responsabilidade civil, p. 83/84).

No tocante aos equívocos observados na jurisprudência, deve-se considerar que, de fato, com relação à matéria, esta vem se mostrando bastante vacilante. Nota- se a invocação tanto da teoria da causalidade adequada130 como da teoria do dano direto e

130 A título de demonstração, verifiquem-se: STJ. 2. T. REsp 669258/RJ. Rel. Min. Humberto Martins. j. 27.02.2007. v.u. DJe 25.03.2009. “ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO – ATO COMISSIVO – ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO CAUSADO POR DETENTO QUE, NA HORA DO EVENTO, DEVERIA ESTAR RECLUSO EM PRISÃO-ALBERGUE – AGENTES ESTATAIS QUE POSSIBILITAVAM, REITERADAMENTE, QUE O CONDENADO DORMISSE FORA DA PRISÃO – INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 07/STJ – VALORAÇÃO JURÍDICA DOS FATOS – ART. 160 DO CC/16 – ART. 403 DO CC/02 – FUNDAMENTO INFRACONSTITUCIONAL – TEORIA DOS DANOS DEPENDENTES DE SITUAÇÃO PRODUZIDA PELO ESTADO DIRETAMENTE PROPICIATÓRIA – DOUTRINA – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO. 1. A moldura fática estabelecida na instância ordinária dá conta de que o acidente – dano – ocorreu diretamente por culpa do condutor do veículo, que deveria estar, naquele momento, recluso, porque cumpria prisão-albergue, em progressão de pena privativa de liberdade; e só não estava recolhido ao sistema prisional em razão de agentes estatais possibilitarem, quotidianamente, que o causador do dano dormisse fora. 2. Saber se o ato do agente policial que permitiu, propositadamente, a saída do causador do dano da custódia estatal, por si só, é apto a estabelecer ou não a correlação lógica entre o alegado ato e o sobredito dano é questão que diz respeito à qualificação jurídica dos fatos já assentados na instância ordinária, não revolvimento da matéria fática. Não incidência do enunciado n. 07 da Súmula do STJ. 3. A questão federal está em saber se, para configuração do nexo causal no âmbito do fato do serviço, basta a atuação estatal correlacionada, ainda que mediata, ao dano, somada à ausência das excludentes do nexo – culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior. 4. Análise da doutrina de Celso Antonio Bandeira de Mello (in Curso de Direito Administrativo; Malheiros, 21a ed.; 0. 971-4) dos danos dependentes de situação produzida pelo Estado diretamente propiciatória, o que faz surgir a responsabilidade objetiva do Estado por ato comissivo. 5. Ainda que se possa afirmar que existe, nesses casos, a possibilidade de configuração de um nexo causal indireto, é importante ter em mente que, mesmo diante da situação fática criada pelo Estado, ou seja, impor-se ao condenado que durmisse (sic) fora do local a ele destinado pelo sistema penitenciário, o acidente automobilístico realmente está fora do risco criado, não guardando a lesão sofrida pela vítima, em local distante do ‘prédio onde sedia a fonte do risco’, nexo lógico com o fato do serviço. 6. Inexiste, in caso, nexo causal, porque a causa não é idônea para o dano produzido. Correta, portanto, a tese do acórdão recorrido, que pode ser assim resumida: “Análise essencial do nexo de causalidade. A lei brasileira (antiga e atual) adotou a teoria da causalidade adequada. Assim, somente o fato idôneo ou adequado para produzir o dano é de ser levado em consideração para o estabelecimento de responsabilidade. Inteligência do art. 1.060, hoje do art. 403 do Código Civil”. 7. Alínea “c”. Dissídio jurisprudencial não configurado. Existe similitude fática apenas com um acórdão paradigma, mas que traz fundamentação eminentemente constitucional (Constituição Federal de 1967) para a resolução da controvérsia. Recurso especial parcialmente conhecido e, na parte conhecida, improvido”. No mesmo sentido, STJ. 4a T. REsp 326.971-AL. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar. j. 11.06.02. v.u. No âmbito dos Tribunais Estaduais, observem-se: TJSP. 26a Câm. de Direito Privado. Apelação com revisão n. 990.10.195605-5. Rel. Carlos Alberto Garbi. j. 08.06.10. v.u, o qual possui a seguinte ementa: “Acidente de veículo. Ação de reparação de danos causados por acidente de trânsito julgada procedente. Automóvel que saiu do estacionamento de supermercado para realizar conversão à esquerda, onde havia um caminhão irregularmente estacionado, e atingiu motociclista que trafegava na rua. Culpa da motorista do automóvel. Aplicação da teoria da causalidade adequada. Tinha a motorista do automóvel melhores condições de evitar o dano. Cabia à apelante, em respeito ao dever de cuidado, reduzir a velocidade e efetuar a conversão com cautela, de modo a não interceptar a trajetória do motociclista. Determina o Código de Trânsito Brasileiro que o condutor que for ingressar numa via, procedente de um lote lindeiro a essa via, deverá dar preferência aos veículos e pedestres que por ela estejam transitando (art. 36). Sentença mantida. Recurso não provido”; e TJSP. 35a Câm. de Direito Privado. Apelação no 990.09.365559- 4. Rel. Artur Marques. j. 05.04.10. v.u., o qual possui a seguinte ementa: “CIVIL – ACIDENTE DE TRÂNSITO – RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR EM RELAÇÃO AOS DANOS CAUSADOS PELO EMPREGADO – CULPA DO CONDUTOR CARACTERIZADA – CULPA CONCORRENTE DO PEDESTRE AFASTADA – TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA – INDENIZAÇÃO BEM ARBITRADA – CORREÇÃO MONETÁRIA DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL – DATA DO ARBITRAMENTO – SÚMULA No 362, STJ – DECAIMENTO PREPONDERANTE DA ACIONADA – SÚMULA No 326, STJ – RECURSOS IMPROVIDOS. A causa adequada para a ocorrência do acidente não

imediato131, aparentemente, com igual frequência, além de não serem raros os casos em

foi a conduta da pedestre, mas a ação imprudente do condutor profissional que, impaciente, não aguardou o prosseguimento natural do fluxo de trânsito, preferindo ingressar marcha-ré para se adiantar aos demais veículos. Cumpre ressalvar que o açodamento se revelou desnecessário porque, como apurado, o ponto final distava poucos metros do local”. No mesmo sentido, TJSP. 37a Câm. de Direito Privado. Apelação no 7370541-0. Rel. Tasso Duarte de Mello. j. 7.10.09. v.u.; TJRJ. 2a Câm. Civ. Ap. Civ. 1528/97. Rel. Sérgio Cavalieri Filho. j. 29.04.97. v.u. DORJ 28.06.1997; TJRJ. 17a Câm. Civ. Ap. Civ. 2009.001.32119. Rel. Maria Inês da Penha Gaspar. j. 15.07.09. v.u. DJRJ 23.07.09; TJRJ. 10a Câm. Civ. Ap. Civ. 2002.001.22269. Rel. Bernardo Moreira Garcez Neto. j. 12.11.02. v.u. DORJ 27.02.03; TJMG. 15a Câm. Civ. Ap. Civ. 1.0040.05.019366-5/001. Rel. Bitencourt Marcondes. j. 18.10.07. v.m. DJMG 06.11.07; e TJRS. 9a Câm. Civ. Ap. Civ. 70007090798. Rel. Luís Augusto Coelho Braga. j. 19.11.03. v.u.

131 Nessa toada, é de se observar: STF. 1. T. RE 130.764-1-PR. Rel. Min. Moreira Alves. j. 12.05.1992. v.u. DJU 07.08.1992, publicado na RT 688/230, com a seguinte ementa: “Responsabilidade civil do Estado. Dano decorrente de assalto por quadrilha de que fazia parte preso foragido vários meses antes. A responsabilidade do Estado, embora objetiva por força do disposto no art. 107 da EC 1/69 (e, atualmente no § 6o do art. 37 da Carta Magna), não dispensa, obviamente, o requisito, também objetivo, do nexo de causalidade entre a ação ou omissão atribuída a seus agentes e o dano causado a terceiros. Em nosso sistema jurídico, como resulta do disposto no art. 1.600 do CC, a teoria adotada quanto ao nexo de causalidade e a teoria do dano direto e imediato, também denominada teoria da interrupção do nexo causal. Não obstante aquele dispositivo da codificação civil diga respeito à impropriamente denominada responsabilidade contratual, aplica-se a ele também à responsabilidade extracontratual, inclusive a objetiva, até por ser aquela que, sem quaisquer considerações de ordem subjetiva, afasta os inconvenientes das outras duas teorias existentes: a da equivalência das condições e a da causalidade adequada. No caso, em face dos fatos tidos como certos pelo acórdão recorrido, e com base nos quais reconheceu ele o nexo de causalidade indispensável para o reconhecimento da responsabilidade objetiva constitucional, é inequívoco que o nexo de causalidade inexiste e, portanto, não pode haver a incidência da responsabilidade prevista no art. 107 da EC 1/69, a que corresponde o § 6o do art. 37 da atual Constituição. Com efeito, o dano decorrente do assalto por uma quadrilha de que participava um dos evadidos da prisão não foi o efeito necessário da omissão da autoridade pública que o acórdão recorrido teve como causa da fuga dele, mas resultou de concausas, como a formação da quadrilha, e o assalto ocorrido cerca de 21 meses após a evasão. Recurso extraordinário conhecido e provido. [...]. Essa teoria [do dano direto e imediato], como bem demonstra Agostinho Alvim (Da

Inexecução das Obrigações, 5a ed., n. 226, p. 370, ed. Saraiva, São Paulo, 1980), só admite o nexo de

causalidade quando o dano é efeito necessário de uma causa, o que abarca o dano direto e imediato sempre, e, por vezes, o dano indireto e remoto, quando, para a produção deste, não haja concausa sucessiva. Daí, dizer Agostinho Alvim: ‘Os danos indiretos ou remotos não se excluem, só por isso; em regra, não são indenizáveis, porque deixam de ser efeito necessário, pelo aparecimento de concausas. Suposto não existam estas, aqueles danos são indenizáveis”. Utilizando a lição de Moreira Alves, verifiquem-se: STF. 2. T. RE 369.820-6-RS. Rel. Min. Carlos Velloso. j. 04.11.2003. v.u. DJU 27.02.2004. Publicado na RT 825/172; STJ. 1. T. REsp 719738/RS. Rel. Min. Teori Albino Zavascki. J. 16.09.2008. v.u. DJe 22.09.2008; STJ. 1. T. REsp 858511/DF. Rel. Min. Luiz Fux. J. 19.08.2008. v.u. DJe 15.09.2008; STJ. 3. T. REsp 594.962/RJ. Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro. j. 09.11.2004. v.u. DJU 17.12.2004. no âmbito estadual, ressalta-se: TJSP. 1a Câm. de Direito Privado. Apelação no 994.04.073525-7. Rel. Luiz Antonio de Godoy. j. 02.03.10. v.u., cuja ementa é assim redigida: “RESPONSABILIDADE CIVIL – Venda de imóvel inexistente pelo réu ao genitor da autora verificada – Ocorrência de morte deste, por força de queda de avião que alugou, na tentativa de localização de referido bem – Adoção tanto pelo Código Civil de 1916 quanto pelo de 2002 da teoria do dano direto e imediato – Impossibilidade de sujeitar o autor do dano a todas as nefastas conseqüências do seu ato, quando já não ligadas a ele diretamente – Necessidade de existência de uma relação de causa e efeito direta e imediata entre o fato e o dano – Ocorrência de fato (venda de imóvel inexistente) que não foi apta a produzir o dano (morte do genitor da autora) – Nexo causal inexistente – Honorários advocatícios – Ocorrência de plena observância dos comandos pertinentes da lei processual – Redução ou majoração indevidas – Recursos desprovidos”; e TJRJ. 10a Câm. Civ. Ap. Civ. 000058/98. Rel. Des. João Nicolau Spyrides. j. 23.03.1999. v.u. DORJ 30.09.99. Publicado na RDPriv 03/296, com a ementa a seguir transcrita: “Pedido dos três primeiros julgado parcialmente procedente e improcedência do pedido do quarto autor. Paciente que chega morto no posto de Assistência Médica. Embora recomendada, não foi realizada autópsia. Não obstante, o médico que preenche a declaração de óbito, constando ter examinado o corpo, lança como causa mortis o enfarte agudo do miocárdio e cardiopatia hipertensiva sendo acrescentado tabagismo na certidão de óbito, irregularmente quando deveria constar na declaração ‘causa indeterminada’ ou ‘morte súbita’ tornando inevitável a autópsia. Histórico médico apontando numerosos fatores de risco do paciente – hipertensão

que são confundidas ou tomadas como sinônimo132.

De qualquer modo, nem sempre é salutar tentar enquadrar o caso concreto em determinada teoria jurídica. O magistrado deve utilizar o critério que entender mais

grave, hipertrofia do ventrículo esquerdo, doença coronariana, personalidade estressada, vida sedentária, além de inúmeras recomendações não atendidas para reduzir e parar com o hábito do fumo ou ainda de observar medicação recomendada para hipertensão. Inexistência de anotação relativa a enfisema que tem maior incidência entre fumantes. Teoria da interrupção do nexo causal, adotada pela sistemática de nosso Código Civil – art. 1.060. Omissão e equívocos da sentença – Prova produzida fora dos autos. Interpretação errônea e oposta a afirmação de trabalho médico invocado. Inocorrência de atividade ilícita da R. Inexistência de propaganda enganosa. Licitude da atividade e controle da publicidade pelo Estado. Inexistência de qualquer modalidade ou nível de culpa atribuível a atividade da empresa R. Inexistência manifesta de nexo causal. Pareceres dos mestres da medicina e de comunicações. Procedência do apelo da empresa. Improcedência do apelo do pai. Reforma de sentença. Improcedência do pedido”. No mesmo sentido, TJSP. 35a Câm. de Direito Privado. Ap. 992.09.084159-9. Rel. Clóvis Castelo. j. 26.10.09. v.u; TJSP. 8a Câm. de Direito Privado. Ap. 379.458-4/4-00. Rel. Ribeiro da Silva. j. 30.09.09. v.u.; TJSP. 32a Câm. de Direito Privado. Ap. 1136264-0/0. Rel. Kioitsi Chicuta. j. 30.07.09. v.u.;TJSP. 7a Câm. de Direito Público. Ap. 990.10.166119-5. Rel. Guerrieri Rezende. j. 14.06.10. v.u.; e TJMS. 5a T. Cível. Ap. Civ. 2006.021397-3/0000-00. Rel. Sideni Sonani Pimentel. j. 08.01.09. v.u. DJe-MS 04.02.09.

132 A fim de demonstrar os equívocos, analisem-se: STJ. 4. T. REsp. 325.622/RJ. Rel. Min. Carlos Fernando Mathias (juiz federal conv. do TRF-1a Reg.). j. 28.10.2008. v.u. DJE 10.11.2008. Publicado na Revista de Direito Privado 36/320. O acórdão possui a seguinte ementa: “Civil. Recurso especial. Responsabilidade civil. Acidente de trânsito. Danos materiais e morais. Empresa de estacionamento que permite a retirada de veículo pelo filho da proprietária do mesmo, sem a apresentação do comprovante de estacionamento. Acidente de trânsito ocorrido horas mais tarde em cidade diversa. Nexo de causalidade. Inexistência. 1. À luz do comando normativo inserto no art. 1.060 do CC/1916, reproduzido no art. 403 do vigente Codex, sobre nexo causal em matéria de responsabilidade civil – contratual ou extracontratual, objetiva ou subjetiva –

vigora no direito brasileiro, o princípio da causalidade adequada, também denominado princípio do dano direto e imediato. 2. Segundo referido princípio ninguém pode ser responsabilizado por aquilo a que não tiver

dado causa (art. 159 do CC/1916 e art. 927 do CC/2002) e somente se considera causa o evento que produziu direta e concretamente o resultado danoso (art. 1.060 do CC/1916 e 403 do CC/2002). E. A imputação de responsabilidade civil, portanto, supõe a presença de dois elementos de fato, quais: a conduta do agente e o resultado danoso; e de um elemento lógico-normativo, o nexo causal (que é lógico, porque consiste num elo referencial, numa relação pertencialidade, entre os elementos de fato; e é normativo, porque tem contornos e limites impostos pelo sistema de direito, segundo o qual a responsabilidade civil só se estabelece em relação aos efeitos diretos e imediatos causados pela conduta do agente. 4. In casu, revela-se inequívoca a ausência de nexo causal entre o ato praticado pela ora recorrida (entrega de veículo ao filho da autora e seus