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A valiação da situação atual Considerações gerais

A necessidade de utilização de agrotóxicos com o prática de con­ tro le de pragas, doenças e plantas invasoras causadoras de danos econôm icos e sociais, é um a realidade irrefutável no cu rto prazo, na medida em que as técnicas e m é to d o s alternativos de controle já desenvolvidos não são ainda suficientes para o atendim ento de todas as necessidades.

0 consum o mundial de agrotóxicos aum entou cerca de trin ta vezes entre as décadas de 60 e 90, atingindo um m ontante de US$ 26 bilhões

(Bank ro llin g su cce sse s: a p o rtfo lio o f sustainable developm ent projects. Friends

o f the Earth a n d N W F, 1995). Por sua vez, o consum o anual de agrotóxicos no

Brasil que, em 1 9 9 5 , atingia 1 51,8 mil toneladas de produto comercial e repre­ sentava um m ercado de US$ 1,5 bilhão, está atualm ente acima de US$ 2 bi­ lhões. Por exem plo, a dependência do uso de agrotóxicos contribuiu para que o P ro p o s ta p a ra o P ro g ra m a N a cio n a l de R aciuonalização do Uso de A g ro tó x ic o s .... 5 5

5 6 M é to d o s A lte rn a tiv o s de C ontrole F itossa n itá rio consum o passasse de 16 ,0 mil ton em 1 96 4 , para 6 0 ,2 mil ton em 1 992. Nesse mesmo período, a área ocupada com lavouras expandiu de 2 8 ,4 para 5 0 ,0 m i­ lhões de ha (aumento de 7 6 % ), o que m ostra que o aum ento de 2 7 6 ,2 % no consum o de agrotóxicos deveu-se em grande medida à expansão da fronteira agrícola no período considerado.

A despeito do aum ento intensivo no uso desses produtos, as perdas atribuídas à pragas e doenças e à com petição com plantas invasoras não sofreram reduções significativas. Além disso, os ganhos de produtividade foram relativam ente baixos, com o pode ser visto na Tabela 1, onde é com parada a produtividade de algumas culturas alim entícias na década dos 90 em relação a

Tabela 1. P ro d u tiv id a d e de algum as c u ltu ra s a lim e n tíc ia s , em 1 9 8 5 e no p eríodo de 1 9 9 2 - 1 9 9 7 . C u ltu ra 1985 Amplitude no período 1992- 1997 Média no período 1992-1997 % de aumento (média de 1992/97 em relação a 1985) Arroz 1.7 3 7 2 .1 3 4 - 2 .7 3 0 2.461 4 1 ,6 8 Feijão 3 7 7 5 4 3 - 6 4 5 60 0 5 9 ,1 5 M ilho 1.4 7 6 2 .2 8 2 - 2 .6 2 2 2 .4 8 0 6 8 ,0 2 Soja 1.7 7 3 2 .0 3 5 - 2 .2 9 7 2 .1 7 8 2 2 ,8 4 (F o n te ; IBGE)

1985. Neste período, a produtividade do arroz aum entou aproxim adam ente 4 2 % , a do feijão 5 9 % , a do milho 68% e a produtividade da soja, 2 3 % . Mesmo considerando o crescimento do mercado de agrotóxicos em um período mais pró­ ximo (1992 a 1997) e o aumento de produtividade das culturas, constata-se que, embora o aumento de mercado desses produtos tenha sido de 1 31 % (ver Capítulo

1, deste livro), os aumentos de produtividade foram de aproximadamente 28%

Por outro lado, os problemas de contam inação de alim entos e do meio am biente, e os casos de intoxicação de agricultores e trabalhadores rurais, aum entaram significativam ente.

0 baixo nível de educação e de conscientização ambiental da nossa população, aliado às dificuldades encontradas pelas instituições públicas para a fiscalização e controle desses produtos, assim com o para a im plem entação de ações abrangentes de orientação a usuários e com erciantes, permitem dizer que resta m uito a ser fe ito no in tu ito de se reduzir os danos provocados pela utilização dos agrotóxicos e afins: além do mais, os danos à saúde, às e s tru tu ­ ras genéticas, à reprodução e à qualidade das águas, solo e ar, no longo prazo, são ainda pouco conhecidos.

Neste co n te xto , embora caiba ao setor empresarial im portante papel ju n to aos usuários na prom oção do uso correto dos produtos dentro das recom endações técnicas, ao Poder Público, indiscutivelm ente, com petirá reali­ zar as ações necessárias para mudar a situação existente, até porque ainda é crescente a demanda pelo uso de agrotóxicos. Esse processo de envolvim ento governam ental se inicia com o registro, seguindo-se a inspeção, a fiscalização e o controle do uso dos produtos, envolvendo as atividades de: im portação, ex­ portação, produção, com ércio, armazenamento, transporte e utilização.

Ao Poder Público cabe ainda a responsabilidade pelos procedi­ m entos de assistência m édico-am bulatorial e/ou hospitalar a intoxicados, recu­ peração de áreas contam inadas, realização de avaliações sobre a contam inação am biental e levantam entos epidem iológicos, assim com o o fom ento à realização de pesquisas diversas relacionadas aos agrotóxicos e às conseqüências de suas utilizações.

Os tra d ic io n a lm e n te esca sso s re c u rs o s fin a n c e iro s para a im plem entação dessas ações governam entais, assim com o as deficientes capa­ cidades operacionais dos órgãos envolvidos, têm ocasionado um acúm ulo de sinais de ineficiência do Poder Público no cum prim ento de suas atribuições. Isso P ro p o sta para o Program a N a cio n a l de fía ciu on a liza çã o do Uso de A g ro tó x ic o s iii: ; 5 7

se verifica através do agravam ento do quadro de contam inação am biental, do desequilíbrio ecológico, da contam inação de alim entos e intoxicação hum ana, e de práticas irregulares de com ércio e uso de agrotóxicos.

Reconhece-se que, entre os diversos instrum entos que integram o processo de controle governam ental sobre esses produtos, os órgãos federais têm desenvolvido uma ação mais intensa em torno do instrum ento básico, qual seja, o do seu registro; os órgãos setoriais vêm assumindo a incum bência de estudar e avaliar as peculiaridades agronôm icas, to xicológica s e am bientais de cada produto, para a tom ada de decisão quanto à conveniência ou não da sua concessão, e para o estabelecim ento das restrições e recom endações de usos que se façam necessários, visando a maior segurança no seu emprego e a de fe ­ sa dos interesses da coletividade.

0 uso de agentes biológicos e m étodos alternativos para o co n ­ trole de pragas e doenças agropecuárias ainda é lim itado devido, entre outras causas, ao pouco interesse m anifestado pela indústria e por grupos econôm icos em geral para a sua produção. Isso porque geralmente esses m étodos são espe­ cíficos e apresentam um mercado pequeno, e não há alocação de recursos ou outros incentivos pelos órgãos públicos que fom entem essa atividade. A lém do mais, há a necessidade de adequação dos instrum entos legais para p e rm itir o registro dos novos agentes, de form a ágil e com baixo custo, por se tra ta r de produtos ainda pouco conhecidos.

Levantam ento da situação atual

Para estruturar e im plem entar um Programa que atenda às prio ri­ dades mais prementes do im pacto am biental e dos danos à saúde hum ana resul­ ta n te s do uso descontrolado de agrotóxicos, é necessário dispor-se de uma avaliação, o mais abrangente possível, dos seguintes tem as:

a) situação atual e tendências de uso de agrotóxicos, por cultura e região, e sua correlação com a evolução da produtividade agrícola e flo re s ta l;

b) situação atual e tendências de uso de produtos químicos na prevenção de vetores de doenças humanas, inclusive aqueles de uso dom iciliar;

c) grau de divulgação e utilização de produtos alternativos já disponibilizados bem c o m o de fo rm a s de m a n e jo in te g ra d o de p ra g a s e d o e n ç a s agropecuárias, e dos obstáculos à sua maior participação na agricultura, devendo-se abordar aqueles de ordem econômica e tecnológica, de carên­ cia de assistência técnica, de oferta disponível e de inform ação acessível aos produtores;

d) passivos am bientais atuais e seus ritm os evolutivos para os principais com partim entos de recursos naturais, renováveis ou não, e sua relação direta ou indireta com o uso de agrotóxicos;

e) fo n te s de recursos atualm ente disponíveis, na área pública e privada, que são ou poderiam ser utilizados em ações ligadas ao disciplinam ento do uso de agrotóxicos e à difusão de produtos alternativos na agricultura e saúde pública;

f) situação atual e tendências dos diferentes tipos de agressão à saúde hum a­ na que o uso indevido de agrotóxicos vem provocando, por tipo de produ­ to /cu ltu ra e sua distribuição espacial;

g) disponibilidade de resultados de pesquisas realizadas sobre técnicas e produtos alternativos e necessidade de sua im plem entação.

Quanto à questão do registro de agrotóxicos, os docum entos produzidos pelo Departam ento de Qualidade Am biental - Deamb (Dicof - Ibama), “ o sistem a brasileiro de registro de defensivos agrícolas” e “ avaliação am biental de agrotóxicos - situação atual (1 2 /0 9 /1 9 9 6 )” , oferecem uma visão atual e abrangente dessa questão, apresentando, inclusive, sugestões para o “ aprim o­ ram ento dos instrum entos de controle sobre produtos químicos e o fo rta le c i­ m ento da capacidade nacional para sua im plem entação” .

No que se refere aos levantamentos iniciados e a programar pode-se elencar os que seguem:

Fontes de dados

Foi iniciado o le v a n ta m e n to das “ fo n te s de in fo rm a ç ã o sobre a g ro tó xico s no Brasil” , que co n té m os seguintes ite n s: leg isla çã o ; dados sobre registros; produção, com ercialização e uso; mídia, b oletins e in fo rm a tivo s; m a te ­ riais para treinam ento e divulgação; sociedades e e ve n to s cie n tífic o s ; outras pu­ blicações 8 referências té c n ic o -c ie n tífic a s . Esse le v a n ta m e n to precisa ser c o n ­ cluído e atualizado periodicam ente para que possa ser usado com segurança.

Intoxicações diretas e indiretas (resíduos em alim entos)

0 Sistema de Vigilância Epidemiológica de Intoxicações Agudas por A grotóxicos foi iniciado pela Organização Pan-Am ericana de Saúde (Opas) e o M inistério da Saúde/Secretaria de Vigilância Sanitária, e iniciou a im plantação em cinco estados onde foram notificado s e investigados casos de intoxicação decorrentes do uso de substâncias tó xica s, tendo a m etodolog ia sido colocada à disposição do Sistema Único de Saúde (SUS).

Espera-se que essa m e to d o lo g ia ven h a a ser um a fe rra m e n ta a mais na análise dos riscos para a saúde humana advindos dos agrotóxicos, dando subsídios para políticas a serem adotadas no seu re g is tro p ré v io . No e n ta n to , a im plantação desse sistem a encontra-se sem coordenação na esfera nacional, es­ tando em curso, inclusive, um rem anejam ento interno re la tiv o às áreas ligadas à ecologia hum ana e m eio am b ie n te . M esm o sem essa d e fin iç ã o , os E stados de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e S anta Catarina c o n tin u ­ am coletando dados e os enviando ao Centro Nacional de Epidem iologia da Funda­ ção Nacional de Saúde, em Brasília.

P ro p o s ta para o P ro g ra m a N a c io n a l de R aciuonalização do Uso de A g ro tó x ic o s --- ~ 61

M onitoram ento de resíduos em vegetais e produtos derivados

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está conduzin­ do, pela Secretaria de Defesa Agropecuária, um programa (PNCRV) de quantificação de resíduos em frutas, tanto de exportação como de consumo interno, com o apoio de um técnico que o Grupo de Exportadores colocou à disposição, remunerado pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq).

Este programa tem implicado a tom ada de medidas punitivas a produtores devido à detecção do uso de agrotóxicos não registrados ou recomen­ dados para uma determ inada cultura. É fundamental que este programa não só tenha continuidade, mas que seja ampliado para outras culturas além das frutas.

Passivo am bientai devido ao uso abusivo de agrotóxicos

Com base nas recomendações advindas de um “ workshop” realiza­ do em novem bro de 1 9 9 7 , com a participação de especialistas em m onitoramento de resíduos nos recursos hídricos e pedológicos, foi desenhado um projeto-piloto para levantam ento da situação do passivo ambiental em área de Cerrado do entor­ no de Brasília, de exploração agrícola com o uso de agrotóxicos.

Levantam ento da Codevasf

Esta empresa estatal, que deverá ser incorporada às ações do PNRUA em curto prazo, vem se preocupando com a evolução do uso de agrotóxicos, tendo realizado levantam entos sistem áticos do seu im pacto em perímetros de irri­ gação sob sua jurisdição, confirm ando a oportunidade de um esforço conjunto na racionalização do uso desses produtos. Os resultados dos levantamentos, em vá­ rias áreas do Vale do Rio São Francisco, serão de grande importância para o diag­ nóstico que o PNRUA deverá realizar, no âmbito nacional.

Tecnologias e procedim entos alternativos

A Embrapa Meio Am biente está conduzindo um levantam ento abrangente de te cn o lo g ia s de defesa vegetal baseado em produtos não ou pouco

agressivos ao meio ambiente e à saúde pública, e procedimentos de manejo cultural, interativos com a diversidade biológica dos biomas preservados, em áreas circundantes àquelas cultivadas.