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Sistem as naturais versus agroecossistem as

As doenças de plantas ocorrem na natureza com o objetivo de, em parte, m a n te r o equilíbrio biológico e a ciclagem de nutrientes, sendo, desse ponto de v is ta , benéfica s. 0 que se observa é que as doenças e as pragas ocorrem na fo rm a endêm ica. Não ocorrem epidemias que poderiam destruir as espécies vegetais, haja v ista que colocaria em risco a sobrevivência dos patógenos e das pragas. Porém, as epidem ias são freqüentes em agroecossistemas, pois com a in te rfe rê n cia hum ana, há alteração do equilíbrio da natureza. Uma das condições que fa vo re ce m o aum ento da população de patógenos e pragas de form a epidêm ica é o c u ltiv o de plantas geneticam ente homogêneas, o que é contrário à diversidade de variedades (Bergamin et al., 1995).

o resgate dos princípios e mecanismos que operam nos sistemas da natureza pode auxiliar a obtenção de sistemas agrícolas mais sustentáveis (Colégio, 1 9 9 6 ; R eijntjes et al., 1992). Por isso, os sistemas de cu ltivo caracte­ rizados pela m istura de c u ltu ra s (policulturas ou consórcios) apresentam diver­ sas vantage ns na pro te çã o de plantas. A freqüência de insetos-praga é menos abundante nas p o licu ltu ra s do que nas m onoculturas, além do que vários m eca­ nism os que dim inuem a ocorrência de doenças operam favoravelm ente na pro­ teção de plantas das p o licu ltu ra s. Por exem plo, as espécies suscetíveis podem ser cu ltiva d a s em densidades menores, e o espaço entre elas pode ser ocupado por plantas resistentes que interessam ao produtor. A menor densidade de plan­ tas suscetíveis e a barreira oferecida pelas plantas resistentes d ificultam a disse­ m inação do p a tóge no, reduzindo a quantidade de inóculo no campo (Liebman, 1 9 8 9 ). E feito sem elhante é o b tid o com o uso de m ultilinhas, isto é, a m istura de linhagens a g ro n o m ica m e n te sem elhantes, mas que diferem entre si por apresen­ tarem d ife re n te s genes de resistência vertical. Além do aum ento da diversidade no espaço, o aum e n to da diversidade no tem po, por meio da rotação de c u ltu ­ ras, tam bém faz com que os processos biológicos auxiliem a proteção de plan- P ro te ção de p la n ta s em s is te m a s ag ríco la s a lte rn a tiv o s 8 3

tas, como por exem plo, no controle de diversos fito p a tó g e n o s veiculados pelo solo (van Bruggen, 1995).

Uma outra form a de aum entar a diversidade, e conseqüentem en­ te a com plexidade do sistem a, é o cu ltivo em faixas. As cu ltu ra s devem ser de famílias diferentes, assim, os patógenos e as pragas de um a não atingem a outra e há uma redução da ocorrência dos problemas relacionados com a proteção de plantas. Essa seqüência pode ser usada nos c u ltiv o s de inverno, verão e, no ciclo seguinte as áreas são invertidas para fu n cio n a r com o rotação de cultura no tem po e no espaço. No caso de plantas perenes, esse c o n ce ito pode ser até mais am plo, cultivando -se diferentes espécies flo re s ta is e form ando-se uma agrofioresta. 0 uso dessa prática, além de trazer vantage ns da redução do uso de agrotóxicos, reduz o risco econôm ico, pois há m aior d ive rsifica çã o da renda. Nesse caso, precisa-se tam bém utilizar adequadam ente as plantas invasoras, selecionando as que poderão ser benéficas do p o n to de vista nutricional e de equilíbrio biológico. As entrelinhas devem sempre estar cobertas por vegetação. Um exemplo desse manejo é o cu ltivo de seringueira na Am azônia consorciado com espécies nativas. Nesse sistem a, a principal doença da seringueira, o mal- das-folhas, é controlada com o manejo integrado, isto é, a com binação dos controles genético, cultural e biológico. O controle g e n é tico ocorre devido ao uso de diversos clones de seringueira; o cultu ra l, pelo pla n tio de espécies d ife ­ rentes, com o dendê, m ogno, entre outros, e o b iológico , pela m ultiplicação e/ou aplicação de m icrorganism os antagônicos {H ansfordia p u lv in a ta (Berk. & Curt) Hugues) ao M icrocyclus ulei (P. Henn.) v. A rx., agente causal da doença.

Trenbath (1993) explica que vários m e canism os podem estar associados à redução da ocorrência de pragas e doenças em c u ltiv o s consorci­ ados, sendo os principais: (1) alterações nas ca ra cte rística s da planta hospedei­ ra, tornando-as menos atraentes para as pragas ou reduzindo as chances de infecção, devido às alterações no crescim ento da planta e no m icroclim a; (2) e feitos diretos nas pragas ou patógenos devido às co n d içõ e s im postas pela

m enor co n ce n tra çã o de hospedeiros, que resultam em chances menores de encontrarem plantas suscetíveis e, portanto, na redução da sua sobrevivência e fecundid ade; (3) e fe ito s indiretos nas pragas ou patógenos devido às maiores diversidade e q u a n tid a d e de inim igos naturais ou antagonistas que possuem chances de s o b re vive r nos m icrohabitats disponíveis.

A d ive rsifica çã o de culturas nas propriedades rurais, além dos benefícios a g ro n ô m ico s e econôm icos, traz benefícios sociais, pois estende a estação de tra b a lh o dos em pregados rurais, sendo esse aspecto parte integrante da suste n ta b ilid a d e . E n tre ta n to , a indiscrim inada diversificação da vegetação dentro de um agroecossiste m a pode não resultar na redução do risco de ocor­ rência de pragas e doenças. Os efeitos de com binações planejadas de plantas devem ser estudad os criteriosam ente antes da sua aplicação em programas de m anejo.