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O btenção de sistem as alternativos

A com preensão da natureza som ente é possível num enfoque h o lístico , observando-se ciçlos, trabalhando-se com sistem as e respeitando-se as inter-relações e proporções. Todos os fatores são interdependentes. Com o enfoque te m á tic o -a n a lític o que vem predom inando na agricultura, perdeu-se a visão geral do sistem a e, assim, aum entaram os problemas relacionados com a proteção de plantas, devido a um manejo inadequado dos solos, da natureza e do próprio c o n tro le desses problemas.

O processo evolutivo para a conversão dos agroecossistem as em sistemas agrícolas de alto grau de sustentabilidade possui duas fases distintas: 1) melhora da eficiência do sistema convencional, com a substituição dos insumos e das práticas agrícolas e 2) redesenho dos sistemas agrícolas. A primeira fase vem sendo trabalhada de form a relativam ente organizada, com a redução do uso de insumos, controle e manejo integrado, técnicas de cultivo mínimo do solo, previsão da ocorrên­ cia de pragas e doenças, controle biológico, variedades adequadas, ferom ônios, integração de culturas, cultivos em faixa ou intercalados, desenvolvimento de técni­ cas de aplicação que visem apenas o alvo e conscientização dos consumidores, entre outros. Em relação ao redesenho dos sistemas agrícolas há a necessidade de se co­ nhecer a estrutura e o funcionamento dos diferentes sistemas, seus principais proble­ mas e, conseqüentemente, desenvolver técnicas “ limpas” para resolvê-los (Edwards, 1989). Devido à com plexidade dessa tarefa, esforços vêm sendo dispendidos por diferentes correntes da pesquisa, mas todas consideram a mínima dependência ex­ terna de insumos, a biodiversidade, o aproveitam ento dos ciclos de nutrientes, a e xp lo ra çã o das a tivid a d e s b io ló g ica s, o uso de té c n ic a s n ã o -p o lu e n te s, o reaproveitamento de todos os subprodutos (reciclagem) e a integração do homem no processo. Essa form a de agricultura vem sendo denominada agricultura alternativa, onde diferentes correntes se destacam: agricultura orgânica, agricultura ecológica, a g ric u ltu ra n a tu ra l, a g ric u ltu ra b io d in â m ic a , e n tre o u tro s . Em re la ç ã o à sustentabilidade, pode-se afirmar que tanto os sistemas encontrados na primeira fase, quanto na segunda, apresentam maior grau de sustentabilidade que o convencional, mas não a auto-sustentabilidade.

0 cu ltivo de dendê no sul de Belém/PA é um exemplo da e vo lu ­ ção observada na primeira fase do processo e volutivo. Como o Elaeidobios (bi­ cho nanico), polinizador da cultura, é essencial para a produção, ele não poderia ser elim inado com o uso de agrotóxicos para o controle de desfolhadores e de doenças. Assim , é realizado um m onitoram ento constante sobre a ocorrência de doenças, pragas e seus inim igos naturais. 0 controle é realizado de form a bioló­

gica, isto é, nos focos são aplicados agentes de controle biológico ou fe ito o monitorannento para verificar a presença de inim igos naturais no local. Quando se ve rifica a presença desses organism os, é aguardada a m orte dos insetos, é fe ita a coleta e, após a tritu ra çã o , o produto resultante é pulverizado sobre as plantas. Quando necessário, lança-se mão do Bacilius thuringiensis. A adubação nitrogenada é realizada pelo c u ltiv o de uma leguminosa (puerária) que deposita no solo entre 3 0 0 e 4 0 0 kg de N por hectare por ano. Essa leguminosa, além do fornecim ento do N, protege o solo e impede o desenvolvim ento de outras inva­ soras. O utra praga, a broca do coqueiro, transm issora do anel verm elho, é controlada exclusivam ente com o uso de ferom ônios. Assim , o sistema tem se m antido estável.

Os cu ltivos orgânicos estão se expandindo rapidamente, ta n to em países desenvolvidos, com o em desenvolvim ento, onde os produtos orgâni­ cos freqüentem ente são destinados ao m ercado externo. Os novos produtores, de modo geral, ingressam no negócio a partir de inform ação de outros agriculto­ res orgânicos. Esse fa to ocorre porque a pesquisa encontra-se atrasada em relação às p rá tic a s a g ríco la s a d o ta d a s pelos p ro d u to re s o rg â n ic o s , e s p e c ia l­ m e n te com relação à p ro te ç ã o de p la n ta s. Há ainda m u ita s questõe s a serem re s p o n d id a s sobre o d e s e n v o lv im e n to de d o e n ç a s na a g ric u ltu ra o rg â n ic a . M u ita s delas não podem ser re s o lv id a s em c u rto espaço de te m p o , em e xp e ­ rim e n to s re d u c io n is ta s , mas n e c e s s ita m de um m a io r grau de in te g ra ç ã o . É necessária a e s tre ita c o la b o ra çã o entre os vá rio s e s p e cia lista s, com o da área de B iologia M o le c u la r, para o d e s e n v o lv im e n to de fe rra m e n ta s para d e te rm i­ nação da b io d ive rsid a d e , ou da área de E pidem iolo gia, para o d e s e n v o lv im e n ­ to de e s tra té g ia s para o e s tu d o da d is trib u iç ã o e s p a c ia l e te m p o ra l de p a tó g e n o s em c u ltu ra s e em a m b ie n te s s e m in a tu ra is . A pesquisa em a g ric u l­ tu ra o rg â n ica ta m b é m requer a e s tre ita c o la b o ra çã o e n tre agrô n o m o s, e c o lo ­ g is ta s , e s p e c ia lis ta s em so lo s e p ro te ç ã o de p la n ta s e e c o n o m is ta s (van B ruggen, 2 0 0 1 ).

Dos trabalhos de pesquisa realizados que comparam a severidade de doenças de plantas em sistem as orgânicos e convencionais, de modo geral, as doen­ ças radiculares são m enos severas nos cu ltivo s orgânicos, enquanto que as doenças foliares podem ser m ais ou m enos severas ou similares, dependendo da reação do pa tóge no, do estado n u tricio n a l da pla n ta (principalm ente o teor de nitrogênio) e condições clim áticas. G eralm ente, há m aiores dificuldades de controle de doenças foliares do que das radiculares por meio de m étodos biológicos e culturais, especial­ m ente em regiões de clim a úm ido (van Bruggen, 2001).

Uma abordagem sistêm ica foi adotada por Gliessman et al. (1996), que conduziram estu d o s para v e rific a r as lim itações durante a conversão da produção de m orangos para o sistem a orgânico. Foi avaliada a eficiência dos m étodos a lte rn a tiv o s , alterações nas características do solo, ocorrência de pra­ gas, doenças e populações benéficas (antagonistas e predadores), respostas da c u ltu ra , além de avaliação e co n ô m ica . Trabalho com abordagem semelhante vem sendo d e se n vo lvid o na U niversidade da Califórnia (Estados Unidos), para a cu ltu ra da m açã (Caprile, 1 9 9 4 ). Em am bos os estudos, dem onstrou-se que a ag ricu ltu ra orgânica conduz ao aum e n to da biodiversidade, melhora as caracte­ rísticas físicas, quím icas e biológica s do solo e o retorno econôm ico ainda de­ pende do m anejo de pragas e doenças.

O uso da in fo rm a çã o , por meio de ferram entas com o modelos m a te m á tico s, é fu n d a m e n ta l para a to m a d a de decisão em todos os tipos de sistem as. A reduzida capacidade de processar inform ações, no passado, restrin­ giu a habilidade de redesenhar sistem as alternativos. Estudos epidem iológicos são fu n d a m e n ta is para um a m aior com preensão da estrutura e do funciona m e n­ to dos sistem as de produção em relação ao com portam ento das doenças e das pragas no cam po e a o tim iza çã o dos seus controles. Com o conhecim ento da e s tru tu ra e do fu n c io n a m e n to dos sistem as de produção, pode-se entender m e­ lhor a saúde das plantas e não so m e n te os fatores relacionados às pragas e d oenças de cada cu ltu ra .

Considerações finais

o desenvolvim ento da p ro te çã o de plantas em sistem as a lte rn a ­ tiv o s de c u ltiv o com maior grau de s u s te n ta b ilid a d e requer e stu d o s sobre a estrutura e o funcionam ento dos agroecossiste m as, com atenção especial às condições nutricionais e à biota do solo, à biodiversidade fu n c io n a l, à elevação dos teores de m atéria orgânica do solo e o u tro s fa to re s que perm itam um ade­ quado manejo dos sistemas produtivos.

0 conceito absoluto de a g ricu ltu ra su ste n tá ve l pode ser im possí­ vel de ser obtido na prática, e n tre ta n to é fu n ç ã o da pesquisa e da extensão oferecer opções para que sistemas m ais s u ste n tá ve is sejam adotad os. Para ta n ­ to , os projetos de pesquisa pontuais e de c u rta duração são de pouca utilidade. As discussões dem onstram a necessidade da in te rd iscip lin a rid a d e dos projetos de pesquisa, pois som ente estudos que incluam o m o n ito ra m e n to de sistem as de produção nas diversas áreas do co n h e c im e n to fo rn e ce rã o in fo rm a çõ e s s u fic i­ entes para o entendim ento das d iferentes interações.

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Controle biológico de pragas