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Abū-Musarraḥ no Ferro I-IIA

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CULTURA MATERIAL E O PLATÔ DE BENJAMIM NO FERRO I-IIA

Artefato 3.4 Estatueta de cavalo, L65, Et-Tell

3.3.2.4.3 Abū-Musarraḥ no Ferro I-IIA

Segundo Peleg e Yezerski (2004), a caverna escavada tinha quatro cômodos. O chamado Room 1, é uma caverna natural ampla de formato irregular com, aprox. 15.10 m de profundidade e 9.20 m de largura, sob 2.4 m de altura. Por ter sido utilizada como local de sepultamentos moderno e como aprisco para ovelhas e caprinos, não foram encontrados muitos ossos do Período do Ferro, apenas 7 indivíduos, 3 adultos e 4 crianças (de 1.5 até 10/17 anos de idade) (PELEG; YEZERSKI, 2004, p. 107-112).

O Room 2 é uma caverna de 3.01 m de diâmetro e altura de 1.85 m. Os achados desse cômodo estão mais relacionados ao Período Bizantino e Árabe, tendo alguns indícios mesclados do Ferro até o Período Romano (PELEG; YEZERSKI, 2004, p. 112).

O Room 3 é uma câmara redonda com 2.05 m de diâmetro, escavada do Room 2. Os achados do cômodo pertencem ao Período Helenístico, embora alguns cacos cerâmicos do Ferro tenham sido encontrados (PELEG; YEZERSKI, 2004, p. 113).

O Room 4 é uma câmara de 1.62 x 2.05 m elíptica talhada na rocha. Ela foi encontrada completamente preenchida de areia e terras até o teto. Os corpos estavam virados com os pés ao oeste e cabeça ao leste. Abaixo dos esqueletos uma camada do Período do Ferro foi encontrada (PELEG; YEZERSKI, 2004, p. 113).

3.3.2.5 Khirbet ed-Dawwara (MR 17865.17000) 3.3.2.5.1 Explorações em Khirbet ed-Dawwara

O sítio de Khirbet ed-Dawwara, no limite desértico de Benjamim, foi primeiramente sondado por Kallai em 1967, durante o Judaea, Samaria and Golan Survey. Em 1968 o sítio foi examinado por Mazar, Amit e Ilan, em seu levantamento da Judéia, Samaria e de Golan (FINKELSTEIN, 1993, p. 332). Entre 1985 e 1986 o sítio foi escavado por Israel Finkelstein, numa empreitada conjunta entre a Bar-Ilan University, Department for the Land of Israel Studies e a Society for the Preservation of Nature. O financiamento foi feito pelo National Council for Research and Development, Archaeological Staff Officer for Judaea and Samaria, Mateh Binyamin Regional Council e Ophra Field School. Os resultados foram compilados por Finkelstein (1990, 1993) na revista Tel Aviv (FINKELSTEIN, 1990) e em verbete da NEAEHL . Para Finkelstein (1990, p. 165), uma 197

série de fatores tornavam sua escavação desejável: (1) o formato peculiar do sítio; (2) a impressionante preservação dos vestígios do Período do Ferro; (3) a possibilidade de Não há muitas interpretações do sítio além do artigo recente de Nadav Na’aman (2012), que defendeu a 197

expor uma área maior, visto não haver habitações de outros períodos; (4) sua locação numa região que teve papel decisivo nos primeiros dias da monarquia.

3.3.2.5.2 Histórico de interpretações

O sítio foi, desde as primeiras incursões em levantamentos, visto como um assentamento que teria ocupado a segunda metade do século 11 aEC, até o final do século 10 aEC. Construído sobre um outeiro de calcário, na ponta de uma encosta, a 600m acima do nível do mar. Antes mesmo das escavações, era possível ver as ruínas com um desenho circular, com uma cerca de pedras de 1.1 a 1.2 m de largura, delimitando o outeiro, o que foi desde o princípio interpretado como um sítio típico israelita do Período do Ferro I (FINKELSTEIN, 1993, p. 332).

A primeira pergunta sobre o sítio a ser respondida parece ter sido a questão da preservação dos vestígios do Ferro. Finkelstein (1990, p. 166), demonstrou que a coleção cerâmica do sítio rendeu poucos vasilhames completos, apenas fragmentos, indicando o abandono do sítio, que teria se dado de forma ordenada e sem sinais de conflagração ou destruição. O período do sítio, sécs. 11-10 aEC, seria proposto tanto pelo padrão de fortificações da cidade, quanto pela cerâmica presente no sítio, tendo modelos típicos do séc. 10 (p.ex., crateras e potes de cozimento), mas não modelos dos últimos estágios do Período do Ferro II (FINKELSTEIN, 1993, p. 333). No que remete aos padrões de assentamentos, Finkelstein (1990, p. 199-201) demonstrou que a região de Khirbet ed-Dawwara seria uma das mais densamente ocupadas no Ferro I, tendo 24 sítios encontrados, sendo 11 (46%) na margem desértica (ing. desert fringe) e o restante alocado no platô central. Entretanto, o autor demonstra ser difícil a identificação dos habitantes como fazendeiros locais ou filisteus, pela distância do local, pelo tamanho do assentamento e sua muralha e pela falta de silos (FINKELSTEIN, 1990, p. 201-202; cf. NA’AMAN, 2012, p. 6).

Sua interpretação como sítio “israelita”, portanto, deu-se pela construção da muralha alinhada a cômodos amplos em edifícios de quatro cômodos (i.e., a “casa de quatro cômodos israelita”), além da localização. Entretanto, duas peculiaridades de ed- Dawwara devem ser assinaladas. Em primeiro lugar, algumas casas foram encontradas em paralelo à muralha externa, não em posição perpendicular como em outros sítios (p.ex., et-Tell, Siló, ‘Izbet Sartah Stratum III). Em segundo lugar, a muralha externa de ed-Dawwara tinha espessura incomum à arquitetura “israelita” do período (cf. FINKELSTEIN, 1988, p. 250-254). Isso fez com que Finkelstein (1988, p. 254) sugerisse

que tal configuração fosse resultado de fatores históricos ou ecológicos. Para Finkelstein (1990, p. 202), o fato de ser um sítio na região desértica de Benjamim, seu layout fortificado e isolado, e a ausência de silos típicos do Ferro I, poderiam sugerir três cenários: (a) que ed-Dawwara foi um centro israelita durante a luta contra os filisteus; (b) um sítio estabelecido após a vitória sobre os filisteus; (c) um forte filisteu próximo a vilas israelitas. Enquanto não haveria motivos para o estabelecimento de uma fortificação saulida na região após a derrota filistéia, o que exclui a segunda alternativa (b); a ausência de cerâmica filistéia, em contraposição a outros sítios (p.ex., Beitin, en-Nasḅeh, Bete-Zur), excluiria a terceira opção (c). Para Finkelstein (1990, p. 202-203), isso significaria que ed-Dawwara foi um sítio israelita construído para resistir às incursões dos filisteus na região, sendo abandonado gradualmente.

Nadav Na’aman (2012) defendeu recentemente a pertença filistéia do forte de ed- Dawwara. Para o historiador, não existem motivos para se construir um forte para proteger a região do Vale do Jordão, se a luta com os filisteus estava direcionada para o lado ocidental (NA’AMAN, 2012, p. 3). Segundo Na’aman (2012, p. 4-5), o fragmento de uma taça com a cabeça de leão remeteria à cerâmica filistéia — similar a Asdode, Ecrom, Tell es-Safi, Tell el-Qasile, Tel Zeror, Dor, Megido, e Nahal Pattis —, o que significaria que o forte teria sido construído imediatamente após a conquista do distrito de Benjamim e com o objetivo de controlar todo o território o leste, especialmente a estrada entre Micmás-Jericó. O autor argumenta, pelo texto bíblico, que os habitantes do forte teriam sido ‘Apiru contratados por filisteus para servir em seu exército e que os retratos anacrônicos presentes em 1Sm 14.21, da batalha de Micmás — próxima a ed- Dawwara —, fruto do longo período até a escrita da narrativa (NA’AMAN, 2012, p. 6-7).

Na’aman reagiu principalmente à publicação de Finkelstein e Piasetzky (2006, p. 50; cf. FINKELSTEIN, 2007), que defendeu que Khirbet et-Tell, Khirbet ed-Dawwara e Khirbet Raddana, três sítios de um único período, teriam sido abandonados ao mesmo tempo, embora ed-Dawwara tenha se estabelecido um pouco depois. Para Na’aman (2012, p. 7), isso significa que os sítios não tinham função para o novo reino (saulida) que nascia na região e que, por isso, foram abandonados na sequência da vitória sobre os filisteus. Finkelstein (2015a, p. 60-65), argumentando pela baixa cronologia e priorizando o registro arqueológico, disse que isso ocorreu devido às incursões do faraó Sheshonq I, que teria sido um dos primeiros e únicos a se aventurar nas regiões

das montanhas central, nesse caso, devido a uma unidade política que começava a reluzir na região do platô localizado benjaminita (cf. §5.3.1.11).

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