• Nenhum resultado encontrado

Beitin no Ferro I-IIA

No documento Download/Open (páginas 128-137)

CULTURA MATERIAL E O PLATÔ DE BENJAMIM NO FERRO I-IIA

Mapa 3.2 Sítios do Ferro I-IIA escavados em Benjamim (cor cinza escura)

3.3.2 Escavações de Benjamim no Ferro I-IIA

3.3.2.1.3 Beitin no Ferro I-IIA

As áreas I e II, localizadas do centro ao noroeste do sítio, trariam a melhor representação do Ferro I (cf. KELSO, 1968, pl. 4, 5, 120) e, segundo a tipologia, também do Ferro IIA (cf. FINKELSTEIN; SINGER-AVITZ, 2009, p. 38-39). Essa vila é descrita por Kelso (1968, p. 32) como uma vila sob forte decadência cultural, visto que os edifícios teriam aspecto rude e cerâmica pobre, o que teria decaído ainda mais nas fases 2 e 3 (KELSO, 1968, p. 33, n. 2). Teria havido, de igual modo, a decadência do uso de plaquetas de Astarte (KELSO, 1993, p. 194). Entretanto, segundo Kelso (1968, p. 34), os habitantes teriam cessado o uso religioso de um templo do Bronze Tardio, demonstrando “que os israelitas não tinham medos supersticiosos de objetos cúlticos canaanitas”, visto que “o uso de tais ítens era estritamente utilitarista” . Embora a 183

interpretação de Kelso se origine de uma leitura acrítica do texto bíblico, é possível que sua asserção corresponda a um empobrecimento de artefatos ritualísticos no período.

Kelso (1993, p. 193) defendeu que a cidade do Ferro I e II teria sido murada, o que seria particularmente evidente no desenho da cidade acompanhando o tell e nas áreas de escavação I e II, de 1934. Entretanto, os muros estariam em alinhamentos diferentes, embora os arqueólogos acreditassem que partes da muralha do Ferro I teriam sido reutilizadas no Ferro II (KELSO, 1968, p. 36, pl. 86; 1993, p. 193). As casas estariam próximas às muralhas da cidade, talvez acopladas à própria muralha.

Ing.: “the Israelites had no superstitious dread of Canaanite cult objects […] their use of such items was 183

A falta de organização na catalogação dos elementos dificulta a visualização dos conjuntos ritualísticos. O Locus 315, p.ex., traria elementos típicos de um edifício cúltico (ALBERTZ; SCHMITT, 2012, p. 84-85). Entretanto, além de ser impossível encontrar o cômodo nos planos do sítio, provavelmente por ter tido seus resíduos retirados por fazendeiros da região antes das escavações de 1954 (KELSO, 1968, p. 87-88), não há desenhos ou fotografias da maioria dos itens descritos (cf. KELSO, 1968, p. 113, 115-116, 118, 121, 127). A única exceção é de um objeto em forma de taco (ing. club shape) provavelmente feito de osso (KELSO, 1968, pl. 114:9). É possível supor, pela lógica da numeração, que o local se encontrava na parte norte do sítio, Área E (KELSO, 1968, pl. 86, 120). O Locus 315 rendeu três figuras antropomórficas, um cálice, dois pingentes, três tigelas e uma jarra de armazenamento, com objetos metálicos (ALBERTZ; SCHMITT, 2012, 84-85). Os dados são avaliados na tabela abaixo: Tabela 2.3 Possível função ritual dos artefatos de L315, Beitin

Os dados são fragmentários e ambíguos, se não pelos elementos, pela datação. As estatuetas, nesse sentido, seriam os objetos mais facilmente identificáveis. A descrição de Kelso (1968, p. 88, p. 116) diz que encontrou: (a) um torso de Astarte de 6 cm de altura (catálogo n. 1011); (b) a parte traseira e rabo de um touro (n. 1004), esta seria parecida com o pl. 45:16; (c) duas partes dianteiras de animais, provavelmente touros (n. 1008, 1028). Embora seja difícil argumentar pela descrição, o que podemos dizer quanto a parte traseira e rabo de touro (b) é que se for equivalente ao pl. 45:16, o corpo fino e amplo, além do pescoço alongado parecem refletir um equino, provavelmente um cavalo, e não um touro. A estatueta de cavalo de et-Tell L65 (cf. abaixo), nesse aspecto, traria maior semelhança com a figura de pl. 45:16 de Beitin. Parece que o ambiente é doméstico e, se for aceita a hipótese de um local com práticas religiosas, elas muito provavelmente estariam ligadas a esse ambiente.

Artefatos Função Profana Possível função ritual

Pingentes Adorno pessoal Votivo; apotropaico. Cálices Bebida; status pessoal Bebida ritual; libações.

Cerâmica Tigelas; jarra armazenamento. Pratos e tigelas para uso ritual especializado. Estatueta Valor pessoal Votivo; magia; apotropaico.

Figura 3.1 Área I (escavação 1934), L42/44, Beitin

Outro possível local de culto no sítio do Ferro I é o Locus 44, onde o fragmento do que parece ter sido uma estatueta de um Baal com braço estendido (KELSO, 1968, 84, cf. p. 116, pl. 45:14), foi encontrado. É peculiar, porém, que não hajam descrições de outros objetos adjacentes ao local no relatório. Isso porque o conjunto de salas (Locus 32, 34, 35, 37, 38, 42) parece ter composto uma casa de quatro cômodos. A única sala desse conjunto que trouxe um número significativo de achados foi o Locus 42, alocada em paralelo ao que parece ser um forno (cf. Locus 37), que parece ter sido espaço de armazenamento, visto terem encontradas: duas alças de jarra (KELSO, 1968, p. 112; pl. 72); uma tigela mal polida (KELSO, 1968, p. 103; pl. 60:16); treze potes de cozimento sob acabamentos e tamanhos diversos (KELSO, 1968, p. 101-102) ; quatro jarras de 184

KELSO, 1968, pl. 4

Transcrição da descrição de Kelso dos potes: (1) sem descrição (pl. 58:8), (2) brownish red to black 184

ware, coarse grits, dark red surface, smoked (pl. 58:11), brownish red to black ware, coarse grits, red surface, smoked (pl. 58:11), (3) brownish red to black ware, coarse grits, dark red surface, smoked (pl. 58:14), (4) dark grey ware, coarse grits, reddish brown surface (pl. 58:16), (5) brownish red to black ware, coarse grits, red surface, smoked (pl. 58:18), (6) Brownish grey ware, coarse grits, pinkish buff surface (pl. 58:26), (7) reddish brown ware, coarse grits, red surface smoked (pl. 57:12), (8) brownish to grey ware, coarse grits, red surface smoked (pl. 57:13), (9) brownish to dark grey ware, coarse grits, dark red surface, smoked (pl. 57:14), (10) Reddish brown to dark grey ware, gritty, brownish red surface, smoked (pl. 57:16), (11) Dark grey ware, white grits, brownish black surface (pl. 57:19), (12) Dark grey ware, coarse grits, brownish grey surface, smoked (pl. 57:20), (13) sem descrição (pl. 57:22).

armazenamento (KELSO, 1968, p. 100-101) ; além de duas sovelas de calcário (ing. 185

limestone awls) (KELSO, 1968, p. 85, 126). O L44, nesse aspecto, seria uma sala central da casa, onde talvez possam ter sido realizados ritos. Entretanto, sob achados tão fragmentários, seria imprudente supor algo além ou incluí-la dentre as evidências.

3.3.2.2 El-Jîb (Gibeão) (MR 1676.1397) 3.3.2.2.1 Explorações em el-Jîb

Houve três expedições arqueológicas na vila árabe de el-Jîb. O local foi inicialmente escavado por Awni Dajani (1953, p. 66) em 1950, sendo financiado pelo Department of Antiquities of Jordan. Nos anos seguintes, James B. Pritchard, patrocinado pela University Museum of the University of Pennsylvania e Church Divinity School of the Pacific at Berkeley, além da cooperação com a American Schools of Oriental Research, realizou cinco expedições nos anos de 1956, 1957, 1959, 1960, 1962 (cf. PRITCHARD, 1959, 1961, 1964, 1975, 1993). Hanan Eshel (1987) realizou entre 1983-1984 um levantamento arqueológico no local que fora anteriormente escavado por Dajani para averiguar cinco tumbas que haviam sido invadidas e, por isso, não consideradas pelo projeto anterior. O projeto de Eshel foi financiado pelo Israel Cave Research Centre e o Ofra Field School of the Society for the Protection of Nature in Israel e encontrou outras tumbas, fazendo o levantamento de 14 tumbas no total .186

3.3.2.2.2 Histórico de interpretações

James Pritchard tinha como grande objetivo escavar uma cidade bíblica. A princípio, ele pensou na “cidade de Ai”, i.e., Et-Tell, que já havia sido escavada por Marquet-Krause nos anos 1930. Foi Lankester Harding, diretor do Department of Antiquities of Jordan, que sugeriu que ele escavasse um sítio ainda inexplorado. Pritchard (1962, p. 5) prontamente sugeriu “Gibeão”, bem antes da confirmação de sua relação com o texto bíblico. A vila já havia sido identificada por F. F. Von Troilo, R. Pococke e, por fim, Robinson e Smith (1856, Vol. I, p. 454-457). Assim, seus esforços de pesquisas estavam intimamente ligados à sua curiosidade histórico-religiosa.

Transcrição da descrição das jarras de armazenamento de Kelso (1968, p. 100-101: (1) grey ware, buff 185

at edges, grey grits, buff surface (pl. 56:13), (2) coarse grey ware, buff surface (pl. 56:14), (3) grey ware, coarse but infrequent grits, buff surface (pl. 56:16), (4) coarse grey ware, pink buff surface (pl. 56:18). Além dos relatórios originais, outras artigos e verbetes foram publicados resumindo ou interpretando os 186

Devido ao encontro da vitivinícola e dos sistemas de água, Pritchard (1962, p. 99) considerou que a cidade deveria ser uma grande produtora e exportadora de vinho, o que o levou ao paradoxo de que “somente se pode conjecturar sobre a razão de uma cidade tão proeminente no registro dos primeiros dias de Israel desaparecer das páginas da história religiosa desse povo” e, também, na decorrente questão: “[os gibeonitas] não estavam nem preocupados e nem envolvidos nas lutas religiosas e nacionais documentada pelos escritores bíblicos?” . Além desses elementos, a 187

muralha da cidade também chamou atenção de Pritchard (1962, p. 100-108), assim como as casas do Ferro II (séc. 7 aEC). De igual modo, a “abundância de águas” da cidade, pelos dois sistemas de água, foi considerada como um indício da veracidade do texto bíblico, que os chama de “tiradores de água” (heb. shoave-mayim, Js 9.21; cf. também 2Sm 2.13; Jr 41.12) (PRITCHARD, 1962, p. 53; SCHNIEDEWIND, 2000, p. 502).

Pritchard (1962, p. 105, 107) também descreveu o que seria o cotidiano na cidade:

Mulheres visitavam com suas vizinhas a fonte da vila, como fazem hoje em el-Jîb; e homens se reuniam para negócios e conversas no portão da cidade ou em algum outro lugar aberto dentro da cidade. Em todas as estações, exceto nos meses chuvosos de inverno, pessoas passavam muito de seu tempo nos campos e pomares sentados sob vinhedos e figueiras. Na temporada de colheita, a família frequentemente vivia em cabanas temporárias para manter vigia sob suas lavouras. […] A comida era armazenada e preparada dentro dos cômodos da casa, mas a culinária de verdade era realizada no quintal aberto. Há clara evidência de fogo em um ponto no quintal da casa. Alhures, dentro da escavação nós encontramos fornos bem construídos, construções circulares de argila e pedaços de cerâmica quebrada […]. 188

A vivacidade do relato deriva-se de interesses histórico-religiosos. Pritchard (1962, p. 1000) queria preencher as lacunas dos eventos significativos da história da cidade bíblica. Ao contrário de outros casos frustrados, ele foi um dos únicos a escavar um sítio identificado por indícios arqueológicos. Pritchard (1993, p. 511-514) encontrou 31 frascos com o termo gb’n, além de 6 frascos descobertos posteriormente (HI, 167-179;

Ing.: “One can only conjecture as to why a city so prominent in the record of the early days of Israel 187

should disappear from the pages of the religious history of the people […] were [the Gibeonites] neither concerned with nor involved in the religious and national struggles recorded by the biblical writers?”. Ing.: “Women visited with their neighbors at the village spring, as they do today at el-Jîb; and men 188

gathered for business and conversation at the city gate or in some other open space within the city. In all seasons except the rainy winter months, people spent much of their time in the fields and orchards sitting under the vine and the fig tree. At the harvest season families often lived in temporary booths in order to keep a watch over their crops. […] Food was stored and prepared within the rooms of the house, but the actual cooking was done in the open court- yard. There was clear evidence of a fire at one spot in the court of the house. Elsewhere within the excavation we found well-built ovens, circular constructions of clay and bits of broken pottery […].”.

cf. §5.3.1.2). Segundo Pritchard (1962, p. ix) “os resultados das escavações em el-Jîb são únicos pois eles podem ser relacionados com um alto grau de segurança para determinar eventos descritos no Antigo Testamento” o que seria, em suas palavras, 189

“a primeira vez na história da arqueologia científica na terra da Bíblia que um real nome de uma cidade bíblica, simplesmente inscrito em argila, foi encontrada sob circunstâncias nas quais torna-se certa a identificação do nome com as ruínas” .190

Hanan Eshel (1987) da Universidade Hebraica de Jerusalém voltou ao local anteriormente escavado por Dajani para averiguar cinco tumbas (n. 6-10 em ESHEL, 1987) que teriam sido roubadas e, por isso, não escavadas em 1950. Eshel encontrou 14 tumbas de “bancada” (cf. §3.1.2.1.3) na encosta ocidental do monte. As tumbas de bancada de el-Jîb foram consideradas ligadas à Judá por Bloch-Smith (1992, p. 149) e como produtos de alto refinamento no trabalho em alvenaria, como poucas do período. 3.3.2.2.3 El-Jîb no Ferro I-IIA

As escavações de Pritchard (1993, p. 512) renderam três áreas: (1) dois sistemas de água, o primeiro cilíndrico cortado na rocha (11.8 m dia.; 10.8 m prof.), que abastecia a cidade, escavado em 1956, pertencendo provavelmente ao final do Período do Ferro; (2) a chamada vitivinícola (ing. winery), com sessenta e três adegas cortadas nas rochas que mantinham o vinho a constantes 18ºC, nas escavações de 1959 e 1960, provavelmente pertencentes aos séculos 8 e 7 aEC; e (3) dezoito túmulos na necrópoles na escavação de 1960, provavelmente abrangendo do Bronze Antigo até o Período Romano. Pela associação com a muralha nordeste, Pritchard (1961, p. 22) sugeriu que o “tanque/piscina com degraus” (ing. pool-and-starway) teria sido construído durante o século 12 aEC, embora tenha assentido que a datação da muralha pudesse ser modificada em novas pesquisas. O túnel foi construído posteriormente.

É possível que el-Jîb tenha tido uma cidade murada no final do Período do Ferro I, contendo uma casamata (FINKELSTEIN, 2015a, p. 59; PRITCHARD, 1964, p. 35, fig. 19, 21; 1963, fig. 1), embora Pritchard (1962, p. 158-159) descreva a cultura do período como “decadência artística e até pobreza” . A cerâmica parece concordar com essa 191

datação e interpretação, o que daria ao “tanque/piscina com degraus”, segundo a Ing.: “The results of the excavations at el-Jîb are unique in that they can be related with a high degree of 189

certainty to specific events described in the Old Testament”.

Ing.: “For the first time in the history of scientific archaeology in the land of the Bible an actual place 190

name of a biblical city, neatly incised on clay, has been found under circumstances which make certain the identification of the name with the ruins”.

Ing.: “artistic decadence and even poverty”. 191

lógica de Pritchard demonstrada acima, uma datação segundo a baixa cronologia da primeira metade do século 10 aEC (cf. FINKELSTEIN, 2015a, p. 59). O planejamento urbano, se confirmada a muralha casamata, pode sugerir a relação com o padrão intitulado “planejamento urbano israelita” de Yigal Shiloh (1978, cf. §3.1.2.1.1). Pritchard (1962, p. 160), diz que ao redor da área do “tanque com degraus”, não foram encontradas habitações, ao que ele atribui às estratégias defensivas. Um aspecto notável é que Pritchard não encontrou traços da destruição de Sheshonq I, ao redor de 926 aEC, conforme consta na lista de Sheshonq em Karnak (cf. §5.3.1.11).

Com relação às práticas religiosas no sítio, os resultados não são suficientes para organizar coleções de artefatos rituais, visto que grande parte dos itens identificados como “cúlticos” vieram de depósitos, como a vitivinícola (p.ex., cabeça de estatueta de cavalo, PRITCHARD, 1964, p. 128, fig. 50:6; estatueta de bronze, PRITCHARD, 1964, p. 128, fig. 50:1). Os edifícios residenciais da área 17 (PRITCHARD, 1964, p. 47-51) pertencem ao Ferro IIB/C, como as alças inscritas e estratigrafia denotam.

Os elementos das tumbas parecem ser mais promissores para a análise religiosa, entretanto, pelo fato de serem inter-geracionais (cf. §3.1.2.1.3), devem ser vistos tipologicamente. A tumba n. 3 de Pritchard (1963, p. 10; DAJANI, 1953; = tumba 11 em ESHEL, 1987, p. 10-11) parece ser a única representação da cultura material do Ferro I- IIA (cf. DAJANI, 1953; PRITCHARD, 1964, p. 79-96; cf. PRITCHARD, 1964, p. 154-155), visto que o restante das tumbas listadas por Eshel (1987) representam o início do Ferro IIB e as tumbas analisadas na necrópoles de Pritchard (1964, p. 66) pertencem ao período do Bronze Tardio ou anterior, não sobrevivendo até o Período do Ferro.

A “tumba n. 3” foi escavada em 1950 por Awni Dajani (1953, p. 66) graças a Mahmoud Husein, da vila de al-Jib, que teria comunicado ao Department of Antiquities of Jordan a descoberta da abertura de uma caverna cárstica retangular (aprox. 8.30 x 192

7.30 m, respectivamente de leste-oeste e norte-sul), onde teria encontrado originalmente 36 vasilhames. Durante as escavações o local demonstrou-se uma tumba utilizada durante o Ferro I/II e financiadas pelo Ministério de Antiguidades da Jordânia. A tumba tem duas câmaras com entradas individuais, embora estejam conectadas por uma passagem (cf. fig. 2.2). Dajani (1953, p. 66-67) relata 500 vasilhames encontrados de formatos e estados de preservação diversos, além de ossos humanos, dentre os quais havia dois crânios humanos em bom estado, um masculino de aprox. 30 anos de

I.e., uma caverna formada pela corrosão natural das rochas. 192

idade e um feminino de 20 anos. Essa tumba foi classificada por Gunnar Lehmann e Oz Varoner (2018, p. 264) como caverna simples.

Figura 3.2 Tumba n. 3, el-Jîb

Dajani (1953, p. 66) catalogou os itens encontrados na tumba e, entre os registrados, completos e quebrados (i.e.: x.y.z), foram encontrados: (1) 77 tigelas (ing. bowls) (56.2.18); (2) 223 lâmpadas (ing. lamps) (21.77.125); (3) 8 cálices (ing. chalices, pedestal bowls) (4.0.4); (4) 92 botelhas (ing. juglets) (35.26.31); (5) 45 botelhas pretas largas (ing. squat black juglets) (8.14.23); (6) 35 pyxis (27.4.4); (7) 6 cântaros com bico com filtro (ing. spouted strainer jugs) (6.0.0); (8) 5 botelhas de bico (ing. spouted juglets) (2.1.2); (9) 9 decantadores de água (ing. water-decanters) (5.2.2); (10) 2 frascos (ing. flasks); (11) 9 canecos (ing. mugs) (5.0.4); (12) 11 cântaros (ing. pitchers) (7.0.4); (13) 1 garrafa de peregrino (ing. pilgrim bottle ) (1.0.0); (14) 2 ânforas (ing. amphoras) (2.0.0); 193 (15) 1 pote de cozimento (ing. cooking pots) (1.0.0); (16) 7 brincos (ing. earrings) (5.0.2); (17) 11 anéis (ing. rings) (7.1.3); (18) 44 braceletes (ing. bracelets) (16.16.12); (19) 11 tornozeleiras (ing. anklets) (8.3.0); (20) 1 pinça (ing. tongs) (1.0.0); (21) 3 pregadeiras/ broches (lat. fibulae) (2.0.1); (22) 13 fechos de roupa (ing. toggle-pints) (12.0.1); (23) 2 agulhas (ing. needles) (2.0.0); (24) 2 cabeças de flechas (ing. spear-heads or arrow-

ESHEL, 1987, p. 11, fig. 11

Também chamados “fracos fenícios” (ing. Phoenician flasks) cf. Lehmann e Varoner (2018, p. 258). 193

heads) (2.0.0); (25) 4 alças de lanças (ing. dagger-handles) (3.0.1); (26) 2 selos (2.0.0); (27) 6 (6.0.0). O número de lâmpadas foi considerado especialmente significativo para James Pritchard (1962, p. 128-129). Os selos pertencentes ao Período do Ferro I-IIA serão discutidos no capítulo seguinte (cf. §4.3.1.2, el-Jîb 1-8, 10-15).

3.3.2.3 Et-Tell (Ai?) (MR 175.147) 3.3.2.3.1 Explorações em Et-Tell

O sítio de et-Tell teve quatro expedições arqueológicas. A primeira foi feita por John Garstang, no outono de 1928, e foi publicada em um sumário de três páginas . A 194

segunda foi feita pela Rotshschild Expedition, sob direção de Judith Marquet-Krause (1949), que escavou a parte superior de Et-Tell, entre 1933-1935, mas com sua morte, apenas relatórios preliminares foram publicados. A terceira expedição, financiada pelo American Schools of Oriental Research, junto a outras entidades, foi realizada sob a direção de John Callaway entre 1964-1970, com publicações dispersas (CALLAWAY, 1976, 1992, 1993a; cf. COOLEY, 1997; DeVRIES, 2000; NEGEV, 1990). Em 2016 tive a chance de visitar o sítio in loco e ver o início de uma nova expedição, agora preocupada em traçar a história do período do Bronze Médio e Tardio no sítio e realizada sob auspícios do Palestinian Department of Antiquities and Cultural Heritage. Infelizmente, não tive acesso às informações oficiais sobre essas novas expedições. 3.3.2.3.2 Histórico de interpretações

Em sua exploração pela Palestina, Robinson e Smith (1856, v.1, p. 463-464) assinalaram que a cidade bíblica de Ai estaria nos arredores de Deir Dûwan (= Deir Diwân), o que levou à posterior identificação de et-Tell por Sir Charles Wilson e Rev. G. Williams (ALBRIGHT, 1923, p. 142). Albright (1923, p. 141-149) teria construído o maior caso em defesa da identificação da cidade em seu levantamento arqueológico da região, a partir de, principalmente, dois argumentos: (1) pelo posicionamento a leste de Betel, que ele considerava correlata à Burj Beitin, e a norte ou noroeste de Micmás; (2) pela característica topográfica, sendo Ai considerada um monte (tell). Esse apontamento direcionou tanto as escavações de Garstang como as de Judith Marquet- Krause, (1949, p. 7-9). Albright (1923, p. 142), entretanto, apontou que os estudiosos ingleses e alemães estavam em sua época divididos entre et-Tell e Khirbet Hayian. O

Infelizmente, não conseguimos acesso ao sumário de Garstang. 194

problema para a identificação de Ai nessa época teria sido principalmente a presença de pedras não trabalhadas junto às muralhas da cidade (CALLAWAY, 1992, v.1, p. 126).

A motivação visivelmente histórico-religiosa para as escavações influenciou principalmente a datação relativa do sítio, alinhada cronologicamente à datação da “Conquista da Terra” (cf. FINKELSTEIN, 2007, p. 110-112), o que levou Callaway (1992, v. 1, p. 130) a dividir o assentamento do Ferro em dois períodos distintos, uma atitude discutível ao se considerar apenas a cerâmica publicada (FINKELSTEIN, 1988, p. 72; cf. FINKELSTEIN, 2007). Entretanto, ao mesmo tempo, visto a fraca presença do período conhecido como “pós-conquista de Canaã”, isso não altera significativamente a interpretação dos achados. Isso só ocorreu em certos casos que a datação da conquista fosse diametralmente oposta. Um caso conhecido são as inúmeras tentativas de David Livingstone (1989, 1990, 2002, 2012; cf. BRANDL, 2002), que, para fazer coincidir a entrada na terra com a narrativa bíblica, deslocou a cidade de Ai em função da falta de artefatos do período para Khirbet Nisieh (cf., LIVINGSTONE, 1989).

No documento Download/Open (páginas 128-137)