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Tell el-Fûl no Ferro I-IIA

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CULTURA MATERIAL E O PLATÔ DE BENJAMIM NO FERRO I-IIA

Artefato 3.4 Estatueta de cavalo, L65, Et-Tell

3. Locais escondidos para emboscada (Js 7-8) Talvez (não adequa ao texto) Sim

3.3.2.8.3 Tell el-Fûl no Ferro I-IIA

O Período do Ferro I-IIA em Tell el-Fûl é caracterizado por vestígios cerâmicos do séc. 12 aEC, até o séc. 10 aEC e, talvez, 9 aEC. Há consenso que o sítio tenha sido abandonado nesse período final, permanecendo inabitado até o século 7 aEC (cf. GRAHAM, 1981c, p. 29; cf. ALBRIGHT, 1923, p. 7-9; FINKELSTEIN, 2011b, p. 111; GRAHAM, 1981b, p. 26). Além desse fato, não há acordo. Enquanto Albright (1923, p. 7-11; cf. ALBRIGHT, 1923, pl. XXII) e Graham (1981b, p. 24) mantém que teriam existido dois fortes no período, Finkelstein (2011b, p. 109-111) diz que a cerâmica encontrada no forte no período se deve às construções do forte em períodos posteriores, que teriam modificado sua composição e as deixado com estratigrafia prejudicada.

Além desses motivos, é importante assinalar que o histórico habitacional da região não traz fortes ou mesmo muralhas casamatas de mesma configuração que Tell el-Fûl, Ing.: “wich continued uninterrupted into the early phase of the Iron IIA period and were then abandoned 209

sendo, assim, altamente problemática sua existência se não comprovada seriamente via estratigrafia. Assim, concordo com a hipótese de Finkelstein sobre a movimentação dos resíduos. Isso significaria um assentamento pequeno, sem construções monumentais (ao menos não descobertas), que se igualaria à outras cidades do período. Isso seria demonstrado, segundo Finkelstein (2011b, p. 110) por um grande número de cacos de potes de cozimento com um aro extrovertido, enquanto a ininterrupção da habitação até o Período do Ferro IIA seria representada por cacos polidos à mão (ing. hand-burnished sherds), duas vasilhas com alças de barra, fragmentos de cânforas negras e uma cânfora de cozimento arredondada. As evidências de destruição argumentadas por Albright, Sinclair e Graham, não tendo sido encontradas in situ, não foram consideradas por Finkelstein e não cooperam conosco.

É desnecessário dizer que tal panorama de assentamento não é capaz de prover evidências para a história religiosa de el-Fûl e, consequentemente, ao platô benjaminita. Não há planejamento urbano discernível, artefatos cúlticos e, tampouco, coleções rituais. Entretanto, é útil observar o panorama regional a partir das relações de Tell el- Fûl com Khirbet Raddana, et-Tell, Khirbet ed-Dawwara e el-Jîb. Talvez isso possa supor um padrão no estabelecimento de cidades. Embora seja diferente de ed-Dawwara (cf. §3.3.2.5.2), que seria um posto avançado de posição estratégica, Tell el-Fûl parece ser uma vila que atinge os limites sócio-políticos da região do platô benjaminita.

3.3.2.9 Tell en-Nasḅeh (Mispa) (MR 1706.14355) 3.3.2.9.1 Explorações em Tell en-Nasḅeh

O sítio de Tell en-Nasḅeh, geralmente associado a Mispa, foi escavado por W. F. Badè , da Pacific School of Religion in Berkeley, em 1926-1927, 1929, 192 e 1935. Os resultados foram publicados em 1947 em dois volumes por, respectivamente Joseph Carson Wampler (1947) e Chester Charlton McCown (1947) (cf. ALBRIGHT, 1948). As expedições, tas quais as publicações, teriam sido custeadas por “amigos da Pacific School of Religion”, além de amigos de Badè e sua esposa, estes que também contribuíram financeiramente para o projeto. As publicações finais foram patrocinadas pela American Schools of Oriental Research (ASOR). Os métodos de escavação, entretanto, fizeram com que a estratigrafia do sítio ficasse comprometida, o que levou Thomas McClellan (1984) e, mais recentemente, Jeffrey R. Zorn (1993a, 1993b, 1997, 2000) a tentar reestabelecer a estratigrafia do sítio de acordo com análises

contemporâneas. Zorn também se preocupou em republicar antigos textos de Badè. Aaron Brody (2007, 2009, 2011, 2014a, 2014b, 2014c, 2014d, 2015, 2018), atual Robert and Kathryn Riddell Associate Professor of Bible and Archaeology na Pacific School of Religion in Berkeley e, também, atual diretor do Badè Museum, na mesma universidade, iniciou um projeto de pesquisa para investigar as “vivências [ing. lifeways] numa vila fortificada” utilizando como estudo de caso o sítio de Tell en-Nasḅeh.

A escavação teve uma série de problemas metodológicos, estes que foram analisados por Jeffrey R. Zorn (1993b, p. 72-76). Em primeiro lugar, os resíduos (ing. debris) não foram separados e catalogados (cf. §3.1.1.2.1). A estratégia de escavação foi abrir trincheiras de 10 x 10 m, como faixas (ing. strips) de recorte, como as chamava Badè. Assim, apenas é possível observar os artefatos no nível do solo e, hoje em dia, a partir de relações tipológicas estabelecidas em outros sítios. Em segundo lugar, a escavação segue o contorno de cômodos, o que os fez identificar apenas muralhas de pedra, não de tijolos. Um terceiro problema é a assimetria de catalogação da arquitetura, sendo que as fotografias não eram feitas de maneira sistemática. De igual modo, a nomenclatura utilizada foi alterada (BRODY, 2009, p. 48). Estes problemas influenciaram a catalogação e interpretação dos dados das escavações.

3.3.2.9.2 Histórico de interpretações

Segundo Muilenburg (1947a, p. 14), foi Abbé Raboisson o primeiro a sugerir a identificação de Tell en-Nasḅeh com Mispa. Edward Robinson teria visto a colina, mas a teria identificado com Atarote. O primeiro a realmente defender a identificação teria sido Albrecht Alt. Para Alt (apud MUILENBURG, 1947a, p. 15), entretanto, embora o caso estivesse aparentemente claro entre en-Nasḅeh e el-Bireh, “não há motivos decisivos a favor de Tell en-Nasḅeh e contra el-Bireh, mas tais motivos decisivos serão realizados por intermédio de escavações” . William F. Albright a identificou como Atarote-Adar. 210

Muilenburg (1947b, p. 43-44) defendeu que Tell en-Nasḅeh seria Mispa, visto a similaridade semântica entre o nome hebraico e árabe, com a mudança entre o /m/ e / n/. Elitzur (2004, p. 383) embora concorde com a identificação, não vê como possível a mudança no nome. Para ele, é possível que algum dentre os viajantes do séc. 19 tenha usado o nome em correspondência à vegetação, visto que nasḅeh seria “broto” ou “planta”. A mudança linguística entre do pê para /b/ e do mem para /n/ são incomuns.

Ing.: “that there are no decisive grounds for Tell en-Nasḅeh and against el-Bireh, but such decisive 210

Jeffrey R. Zorn (1993b, p. 34-69) a identificou como a bíblica Mispa, embora tenha argumentado que uma palavra definitiva não pode ser dada pela arqueologia, visto não terem sido achados elementos inequívocos, como inscrições. Sobre os textos, Zorn faz um panorama sobre os períodos bíblicos e as respectivas descrições sobre Mispa. Do período pré-exílico, ele defende que a cidade teria sido fundada por israelitas (Jz 18.25-26; Jz 20.1, 3; 21.1, 5, 8) e que atos ritualísticos na conquista da terra teriam fornecido status especial à cidade (1Sm 7.5-7). A eleição de Saul seria o ponto alto (1Sm 10.17-21). Da “Monarquia Unida”, é interessante notar que Mispa não surge na lista de cidades de Sheshonq I em Karnak. Do período da “Monarquia Dividida”, Mispa seria espaço de disputa entre Israel e Judá (p.ex., 2Rs 15.29-30; Is 10.28-32).

A maioria dos autores contemporâneos concordam com a associação de Tell en- Nasḅeh com Mispa (cf., p.ex., BROSHI, 1992; KELLEY, 2016b), o que pode se dever principalmente à falta de achados do segundo principal concorrente, Nebi Samwil. Nebi Samwil apresentou traços apenas do Período do Ferro II em diante (cf. §3.3.2.10.4) e, por esse fator, Zorn (2000, p. 908-909), disse que “o único outro possível candidato Nebī Ṣamwil não rendeu vestígios arqueológicos que correspondessem com Mispa” . 211

Embora a identificação não seja definitiva, minha inclinação é concordar com Zorn. 3.3.2.9.3 Tell en-Nasḅeh no Ferro I-IIA

Segundo Zorn (1993b, p. 89), o sítio esteve abandonado de Bronze Antigo I (c. 3300-3050 aEC) até o Período do Ferro I que, para Zorn (1993b, p. 89) corresponderia a 1200 até 1000 aEC. O Stratum 4, corresponderia a um assentamento simples, com poucas (mas existentes) muralhas, que abriram silos e cisternas na pedra. Essa fase teria “pithoi de colarinho” e cerâmica filistéia. Essa vila teria sido completamente obliterada pelo Stratum 3C, onde instalou-se um assentamento com uma muralha casamata circundando uma área de 1.7 hectares e, provavelmente, um portão no canto noroeste. A casamata, que seguia o formato do tell, conectava-se às salas amplas traseiras de casas de três ou quatro cômodos (cf. ZORN, 1993, p. 121s; McCOWN, 1947, p. 180s). Duas torres pertenceriam ao estrato (ZORN, 1993b, p. 89-90). O planejamento urbano da cidade do Stratum 3C é claro: os construtores seguem o contorno do tell para criar uma muralha casamata, essa composta a partir das salas

Ing.: “The only other possible candidate, Nebī Ṣamwil, has not yielded archaeological remains matching 211

amplas traseiras de casas de três e quatro cômodos que, ao centro do sítio, abrem uma rua em formato de anel que emoldura o centro da cidade (ZORN, 1993b, p. 148).

A datação dessas duas muralhas, entretanto, não são tão claras. Segundo Finkelstein (2012, esp. p. 18, 23), a estrutura de casamata conhecida como “Grande Muralha” (ing. Great Wall), que seria a expansão de uma antiga muralha, a chamada “Muralha Interna” (ing. Inner Wall), fruto apenas do final do Período do Ferro IIA, enquanto a “Muralha Interna”, mais antiga, pertencendo ao final do Ferro I ou início do Ferro IIA (cf. ZORN, 1993b, p. 23; McCOWN, 1947, p. 180, fig. 43). Os argumentos de Finkelstein (2012, p. 18) são principalmente tipológicos, visto que a muralha de Tell en- Nasḅeh teria uma casamata irregular, i.e., é diferente das casamatas do norte (p.ex., Hazor e Jezrael) e, também, distinta das casamatas do Ferro IIB do sul (p.ex., Berseba II, Tel Ira, Tel Halif, Tell Beit Mirsim Stratum A). Isso corresponderia ao período de outros sítios da região, como Khirbet ed-Dawwara, et-Tell e Khirbet Raddana. Entretanto, ao contrário desses sítios, en-Nasḅeh teria sobrevivido além do Período do Ferro IIA.

Figura 3.6 Área AB-AC 15-17, Room 616/622, Tell en-Nasḅeh

O Room 616 ocupa o espaço central de uma casa de três cômodos (Building 142.04 = R. 616; 619; 622; 623, ZORN, 1993b, p. 653-656) e pode ser interpretado como lugar de culto (ALBERTZ; SCHMITT, 2012, p. 157-159; ZORN, 1993b, p. 655) do do Ferro IIA/C (ALBERTZ; SCHMITT, 2012, p. 157-159; ZORN, 1993b, p. 1589). Segundo a estratigrafia de Zorn (1993b, p. 1589) corresponderia ao Stratum 3C até 3A. O cômodo rendeu (a) um suporte de superfície alaranjada queimado verticalmente com centro cinzento contendo diversos grãos esbranquiçados” (McCOWN, 1947, p. 233, 212

pl. 84:2); (b) uma caveira situada no chão próximo a uma lareira (McCOWN, 1947, p. 254, pl. 95:2); (c) um morteiro “cosmético” (McCOWN, 1947, p. 303, pl. 106:6; ZORN, 1993b, p. 654); (d) tigelas (WAMPLER, 1947, pl. 53:1159; pl. 59:1360); (f) um prato (WAMPLER, 1947, pl. 68:1549); (g) um suporte fenestrado (WAMPLER, 1947, pl. 77:1774 ); (h) fragmento de duas estatuetas de Astarte com “rosto-apertado” (ing. 213 214

pinched-face) ou “similar à pássaro” (ing. bird-like) (McCOWN, 1947, p. 235; ZORN, 1993b, p. 655); (i) lâmpadas de “pé-alto” (ing. high-footed) (McCOWN, 1947,p. 235). Também teria sido encontrada uma inscrição de um único caractere, jamais decifrada.

Abaixo, apresento os artefatos de R616/622, com breve descrição de tipologia, materialidade e datação, além de uma pequena descrição e possíveis paralelos.

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