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CAPÍTULO IV: REVELANDO OS POLICIAIS

4.5 ABORDAGEM POLICIAL

Tabela 13

A abordagem policial segue o mesmo padrão independente do local de abordagem e das pessoas

e/ ou veículos abordadas? OFICIAIS% PRAÇAS% TOTAL%

SIM 11 21 14

NÃO 67 62 65

Deveria seguir um padrão único 11 4 9

Outros 11 13 12

TOTAL 100% 100% 100%

Gráfico 18 Gráfico 19

A abordagem policial segue o mesmo padrão independente do local de abordagem e das pessoas e/ ou veículos abordadas?

OFICIAIS 11% 67% 11% 11% SIM NÃO

Deveria seguir um padrão único

Outros

A abordagem policial segue o mesmo padrão independente do local de abordagem e das pessoas e/ ou veículos abordadas?

PRAÇAS 21% 62% 4% 13% SIM NÃO

Deveria seguir um padrão único

Outros

[...] Não, inclusive cada caso é um caso.

(PM 05 – CAP QOA - 31 anos, 03 meses e 26 dias)..

[...] A pergunta é sobre o que deveria ser ou o que acontece na prática? Se for sobre o que acontece na prática, então a resposta é de que ela tem ocorrido de maneira diferente conforme o local e as pessoas, ainda há discriminação sem dúvida.

(PM 01 – MAJ - 16 anos de serviço).

[...] Não, porque não há padrão definido institucionalmente para esse fim, então, para cada formação acadêmica e muitas vezes de acordo com a vontade de cada gestor surge uma nova maneira de abordagem.

(PM 02- CEL RR - 23 anos de serviço).

[...] Somos formados para atuar em diversas situações e não devemos fazer distinção de cor, sexo ou raça. (grifos meus).

(PM 03 - CB Feminino-17 anos de serviço)

Nessa questão, volto à reflexão para as linhas abissais de Santos (2009) que dividem o espaço onde há regulação e emancipação; e o outro onde há apropriação e violência,

transfigurando no direito moderno que há espaços onde deve haver o predomínio da lei e de respeito aos direitos e outro onde a lei pode ser suspensa ou violada, tornando-se o território fora da lei ou sem lei.

[...] Infelizmente “todos são iguais perante a lei” é uma utopia, por isso, algumas classes são quase intocáveis.

(PM 12 – CAP - 15 anos).

Os espaços coloniais eram os espaços privilegiados dos sem lei, antes demarcados como territoriais, hoje, se pode indicar que eles não apenas territoriais e, que, para determinados segmentos da sociedade, como: os jovens pobres no Brasil, os imigrantes em Portugal, onde quer que estejam um olhar os acompanha, indicando que eles não são iguais aos outros, não possuem os mesmos direitos e, por isso, recebem um tratamento diferenciado. Um colonial que persiste mesmo em tempos democráticos, como elucida Santos (2009):

Na sua constituição moderna, o colonial representa, não o legal ou o ilegal, mas antes o sem lei. Uma máxima que então se populariza, “para além do Equador não há pecados” [...] o colonial é o estado de natureza onde as instituições da sociedade civil não têm lugar. Hobbes refere-se explicitamente aos “povos selvagens em muitos lugares da América” como exemplares do estado de natureza (1985: 187), e Locke pensa da mesma forma ao escrever em Sobre o Governo Civil: “No princípio todo o mundo foi América” (1946, §49 apud SANTOS, 2009, p.06, grifos do autor).

Dessa forma, configura-se no pensar de Santos (2007a, p.12): “[...] na sociedade moderna, o regresso do colonial e do colonizador, que assume segundo ele três formas principais: o terrorista, o imigrante indocumentado e o refugiado”. De formas distintas, cada um deles traz consigo a linha abissal global que define a exclusão radical e inexistência jurídica.

Essa linha abissal também demarca diferentes procedimentos policiais, e quanto maior for a falta de informação e de conhecimento jurídico dos limites da ação policial, maior o risco de ser vítima de abusos e/ ou violência policial. Como expõe a policial em sua resposta sobre o seguimento de um padrão único de abordagem.

[...] Não, pois infelizmente a diferença de estilos no que diz respeito as desigualdades sócias que acaba dificultando o acesso das pessoas mais carentes à consciência de seus direitos.

[...] Para mim, a abordagem que feita em local mais economicamente elevado não é igual a da favela, pois ainda há muita discriminação, nossos policiais ainda levam muito pelo lado emocional do que pelo que está escrito nos manuais.

(PM 22 – CB - 15 anos e 3 meses de serviço).

[...] Claro que não, como sempre trabalhei na operacionalidade, e em varias Zpols, em áreas nobres a guarnição faz a abordagem com toda educação, mas invasões e chamando palavrão, jogando o elemento no muro e ate agredindo os abordados.

(PM 27 – SD - 1 ano de serviço)

Pinheiro (1997) alerta que a percepção das elites de que os pobres são perigosos é reforçada pelo sistema judiciário que acusa e pune apenas os crimes praticados pelos indivíduos das classes mais baixas, enquanto os crimes praticados pelas elites ficam sem punição.

Entre os mais vitimizados por uma abordagem policial violenta estão os jovens. Sobre a violência juvenil, Cárdia (1998), em seus estudos, mostra que a faixa etária de maior risco de vida no Brasil é de 15 a 24 anos, possuindo como características serem jovens pobres, não- brancos, moradores de área sem infra-estrutura e sem empregos. Esses jovens entram nas estatísticas criminais tanto como vítimas quanto como agressores. A situação atinge tal proporção

que “[...] a estratificação etária da população apresenta um déficit de jovens do sexo masculino

apenas comparável ao que se verifica nas sociedades que se encontram em guerra.77”

Considero importante pensar a incompatibilização entre essa vitimização juvenil e a construção de esferas democráticas, sendo urgente redimensionar o espaço social dessas mortes e os padrões de policiamento discriminatórios e violentos dirigidos para esse grupo etário.

Segundo o banco de dados do Núcleo de Violência da Universidade de São Paulo (NEV- USP- Brasil) sobre uso abusivo da força pela polícia (violência policial), a imprensa nacional noticiou 6.003 casos de uso abusivo de força por agentes policiais, em âmbito nacional, entre 1º de janeiro de 1980 e 31 de dezembro de 2000, e cada caso resultou em pelo menos uma morte (CARDIA, 2003). Isso mostra os altos índices de letalidade da ação policial, incompatíveis com um país em paz e em regime democrático.

É preciso lembrar Milton Santos (2007, p.151) expressando que “[...] o cidadão é o indivíduo num lugar. A República somente será realmente democrática quando considerar todos

os cidadãos como iguais, independente do lugar onde estejam”.

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